sábado, 31 de agosto de 2013

DESPEDIDA - Maysa Machado

La Vierge, l'Enfant Jésus et sainte Anne/ by Leonardo da Vinci.



















À cada dia tem a vida sua agenda. A morte imita-a com perfeição.


DESPEDIDA

                                                      Maysa Machado

Sai morte. Desguia.
Já levastes quem queria.
Vai carpir noutro terreiro
Tua ronda de insucesso e dor.
Avança. Sem perdão
Avisa-nos o tempo.
Ah! Deus quanta arrogância
Em dado momento
A gente acreditar
Que tem a vida
Algum pertencimento
E dos seus se adonar.
Não há troca possível.
Sai morte. Desguia
Em teu glorioso dia.
Um ente querido parte
Empobrecida segue a rotina
 Através do espanto
Do sentimento doído.
Acostumar não há.
Quem ama a vida
Morrer não devia.
Inda mais em claro
E lindo dia.
De Azul inteiro celeste
 No inverno tropical
 ... Do Rio.
Santa Teresa, 31 de agosto de 2013.

Para aceitar a morte é preciso entender a vida. E estar pronto para a despedida.
Abraço
Maysa


domingo, 25 de agosto de 2013

SÁBADO À NOITE EM SANTA TERESA - Maysa Machado

foto maysa machado by cel./ Santa Teresa/agosto 2013



















SÁBADO À NOITE EM SANTA TERESA

                                                            
                                                                  Maysa Machado


Se aos sábados os embalos tardam, e colhem as madrugadas, nem sempre o som escolhido, ou o volume em que é ouvido, merece aplausos.
Dá pra concluir pelos altos decibéis, necessários à quase toda manifestação de euforia contemporânea, como as pessoas estão ficando surdas.
Estamos vivendo numa sociedade de surdos? Distraídos? Egoístas? Desmedidos?
A dúvida me inquieta. O que hoje é considerado de bom tom? Desculpem-me o trocadilho. O que está acontecendo com a espécie humana nas sociedades moldadas pelo verbo ter?
Arrisco: Perdeu-se o espírito festivo. Festa é festa, só pode alegrar, ou melhor, juntar alegrias. Pessoas em clima de comemoração, não deviam incomodar. Será que desaprendemos, por completo, o caminho do bem estar?
 Precisamos do exagero para sermos vistos. Carros, aparelhagem de som, muitos homens de preto fazendo segurança, buzinas, impaciência.
Ontem, passando um pouco das 23 horas, fiquei presa num engarrafamento na subida de Santa Teresa. Gente engarrafar na ladeira é mais desconfortável que em túnel. Conheço as duas modalidades.
Depois, descalça em casa, ansiosa para jogar o corpo no sofá da sala, ver um filmezinho na TV... O cheiro e a fumaça de churrasco brega das redondezas invade, junto com a voz de um comunicador festeiro distorcida por um alto falante, o precioso silêncio a que pensava ter direito.
Fecho rápido as janelas e portas naquela direção. Atravesso confiante até a sala. Assumo meu lugar no sofá, a programação da TV paga não oferece alternativa e, pelo flanco da área social da casa entra novo som, sem pedido de licença... Me impaciento , lembro do engarrafamento, das buzinas e... Admito que o  último som me é mais familiar, embora não escolhido.
Sucumbo. Acordo as três da madruga, entortada por dores e câimbras, com a coluna em péssimo estado.
 Fora embalada pelo rock pesado e autêntico dos anos 50, da outra festa, com altos decibéis e tudo, fazer o quê?
Agradeço em silêncio, subo para o quarto, e já no segundo andar, agradeço de novo. Clarice me espera com crônicas soberbas, em total silêncio aparente. Ajeito os óculos de leitura. Minha alma grita, chora, ri e aprende a ser feliz de qualquer maneira nos embalos de um sábado à noite.

Santa Teresa, 25 de agosto de 2013.

Com um abraço de Domingo.
Maysa

quarta-feira, 21 de agosto de 2013

LUAR DE AGOSTO - Maysa Machado

foto de custódio coimbra/recortes do rio/ galeria tempo /2010














LUAR DE AGOSTO

                                                                       Maysa Machado


O brilho da lua invade minha janela, entra no quarto que não estava iluminado pela luz elétrica.
O momento mágico se instala no silêncio da noite, sorrio em direção à luz fria, suave, porém carregada de esplendor.
A lua está quase cheia, falta um “naquinho” de nada, para que a plenitude se complete. Amanhã brilhará em toda sua completude.
Raridade em nosso fragmentado mundo, mas uma demonstração inequívoca, que beira o espanto quando acontece.
Desde o nascimento convivemos com as noites de luar, e por mais que saibamos como são, não banalizamos a convivência. Parecem-nos sempre únicas.
Luar prateando o mar, clareando a mata, fazendo quadrados emoldurados pelas janelas nos chãos dos quartos, apontando caminhos para o desconhecido.
Inspirando poetas e enamorados. Luar que tece sonhos mais leves e arrefece brigas passageiras.
Essa pitada de magia não se repete, e nos visita a cada mês, e se anuncia.
Mudamos o humor, renovamos a esperança. Sonhamos de olhos abertos, desejamos alcançar na terra a magia presa aos céus.
Corro à janela, e me torno a mulher mais feliz do mundo naquele instante. É lua cheia.
Se estivesse próxima à praia dançaria feliz por entre as pequenas ondas que beijam a areia  tecendo, em relevo, um rendado de prata fina.


Santa Teresa, 21 de agosto de 2013.

Um abraço de plenilunio pra todos.
Maysa

Crédito: A bela imagem do Custódio Coimbra foi a foto de divulgação de sua exposição, Recortes do Rio, em 2010, na Galeria Tempo,Rio.
http://www.cultura.rj.gov.br/materias/recortes-do-rio-pelas-lentes-de-custodio-coimbra

terça-feira, 13 de agosto de 2013

AGOSTO... - Maysa Machado




















Um poema é assim chega devagar ou de súbito. Depende do dia, do tempo, da vida. Do sentimento.


Agosto...

                        
                              Maysa Machado



Inverno de folhas mortas
Brumas e lembranças.
Agosto... Dos Nós distantes
Do eu desperto.
Rosto. Mãos.
Por onde jorra a água fria
Passado o afeto
Um gélido vento
Algum perigo no ar?
Desde o claro da manhã.
Agosto de histórias
 E... História.
Um mês, um ano.
Qual o tempo
Do esquecimento?


Santa Teresa, 13 de agosto de 2013.


Um abraço para quem passa.
Maysa