terça-feira, 16 de novembro de 2010

PENSAMENTO PERSA











Há um caminho que vai do seu coração ao meu, e meu coraçao o conhece porque é claro e puro como a água. Quando a água esta plácida como um espelho, abraça a lua." Rumi,1307-87, Persia


domingo, 14 de novembro de 2010

DA MINHA INFÂNCIA SOBRAM LEMBRANÇAS...

" Brincando com os aneis da vovó." foto by cel fev.2010








DA MINHA INFÂNCIA SOBRAM LEMBRANÇAS.



Por Maysa Machado


Da minha infância sobram lembranças...

Não saudades.

Boas ou más. Curiosas, instigantes

Duras e acachapantes.As deliciosas

Da infância protegida

Por pai, mãe, única avó e madrinha.

Tia.

E muita fantasia...

Histórias do afeto

Encantamento com o mundo

Ainda não conhecido.

E depois... Metamorfoseado

Foi ficando pequeno

Igual ao pátio do jardim de infância

Revisitado.

Mundo que a 2000 não chegaria!

Da minha...

Sobram ensinamentos

Não certezas.

Somente alguns caminhos:

Ter coragem. Continuar lutando.

Ser digna, generosa.

Resistir à vilania.

Da minha infância sobram afetos

Misturados a ordens severas

Nem sempre bem cumpridas

Sobram culpas e tristezas

Mas fazer o que?

De saudades a minha infância não foi feita.

Elas não sobram. Foram todas reunidas

Num pacote único escrito:

Vida!



Santa Teresa, 14 de novembro de 2010


Com um abraço de Domingo!



Maysa

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

IPÊ AMARELO


Foto by cel Maysa Machado.11.2010





IPÊ AMARELO


Maysa Machado




Luzes e sombras

Do amarelo ao ouro

O Ipê se basta

Reluz tanto!

Seduz em seu canto.

Toma os verdes e azuis

Das terras e dos céus.

Singular entre tantos.

Vizinha a sombra

Guarda o frescor

Dos umbrais.


Santa Teresa, 11 de novembro de 2010.


Um abraço carinhoso aos que passam por aqui.

PS: Este IPÊ florido encanta a todos no Clube Itanhangá -Rio

Maysa

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ROSE- MARIE MURARO FAZ ANIVERSÁRIO






ROSE MARIE MURARO

FELIZ ANIVERSÁRIO COMPANHEIRA!



Por Maysa Machado*


Mulher corajosa. Obstinada. Bem resolvida e bem humorada. Convivemos em meados dos anos setenta, quando muitas mulheres empunharam a bandeira do feminismo.
Fomos todas, igualmente, corajosas pois não havia liberdade, nem Direitos Humanos.
O bipartidarismo não dava conta das questões políticas, havia o partido dos golpistas - ARENA e o MDB, uma frente.
Lutávamos, ainda, pela redemocratização, pela Anistia aos presos políticos do regime militar brasileiro. Nossa luta específica e a luta geral.
Aqui no Rio, no primeiro grupo, fundamos o Centro da Mulher Brasileira (CMB).
Discutíamos, refletíamos, criávamos nossas pautas de reivindicações.
ROSE estava lá, criativa, inquieta, sedutora, um pensamento sedutor!
Juntas, reconstruíamos nossos papéis sociais, os papéis sociais femininos, a igualdade na diferença.
MOEMA, BRANCA, SANTINHA, JAQUELINE, DIVA, EUNICE, BIA, CARMEN, ELI, BETH,LOURDINHA, MAYSA, HELONEIDA, NEOMI, COMBA, LEONOR, LUCIA, ÂNGELA, RITA ANDRÉA, HILDETE, ANA, LÚCIA HELENA, BERENICE, BERTINE, EVA, ADÉLIA, MARIA PAULA, SUELY, MARIA THERESA e tantas mais se conheciam e se descobriam nos grupos de reflexão, informais. Nossos prenomes nos bastavam.
ROSE sempre ativa.
O Movimento Feminista participou, construiu e ampliou a proposta de transformação da sociedade.
Nos anos 80, os partidos políticos custaram, mas incorporaram nossas propostas. Fazíamos a cada eleição a divulgação, no auditório da ABI, do ALERTA FEMINISTA PARA AS ELEIÇÕES.
O movimento só apoiava os candidatos que se comprometiam, prèviamente, com a pauta das mulheres organizadas.
Lutávamos, éramos felizes na luta. O mundo parecia nosso.
Fui uma das poucas a participar da fundação do PDT. Companheiras do movimento feminista se encantaram com o, também recém criado, PT e muitas já filiadas ao MDB, continuaram no então PMDB, que abrigava a maioria das mulheres comunistas.
Mais tarde ROSE teve uma passagem curta pelo PDT, até saiu candidata, mas não logrou eleger-se. Dizia que foi o tempo em que “se sentiu homem”!

ROSE faz aniversário hoje! Onze de novembro. Oitenta anos!
Os tempos gloriosos em que sonhávamos, e acreditávamos estar mudando o mundo passaram! As lembranças não, tampouco as vivências.
O que temos hoje em matéria de campanha eleitoral exitosa é a supremacia vencedora dos marqueteiros!
O militante devotado é um dado em extinção! Entrou em cena o assalariado ao dia! Aquele que com semblante desvitalizado, despossuído, empunha parado nas esquinas, das grandes cidades, um cartaz imenso com a foto gigante do candidato (a).
Nossas pautas tão completas estão feitas desde àquela época. Ousamos propostas igualitárias, socialistas. O processo aponta avanços e ameaçadores recuos.
O mundo mudou, encaretou e se expandiu! O pensamento humano mostra essa mudança no individualismo, no alheamento, na excludente competitividade.
A geléia geral, não só confunde como se apropria de reivindicações da luta social e tenta apagar o processo de conscientização e as margens que já se tinha sido atingido.
Somos uma nação consciente ou um continente de consumidores ansiosos?
Estamos aí para ver.
Já temos uma Presidente Mulher! Desejo que nossos sonhos e nossas lutas, também, a acompanhem em suas decisões e compromissos, na investidura do cargo que ocupará.

Quanto a nossa companheira, aniversariante, mulher impossível, escritora, editora, ativista política, mãe, amiga e cidadã brilhante: À ROSE O QUE É DE ROSE.

Saúde, alegria, amigos, amor e muitos livros para ler e escrever.

Com meu abraço afetuoso,

FELIZ ANIVERSÁRIO ROSE-MARIE

Maysa
Santa Teresa, 11.11.10




*A autora é socióloga. Foi militante no movimento social de mulheres e uma das precursoras do Movimento Feminista, no Rio de Janeiro; é uma das fundadoras do Centro da Mulher Brasileira - CMB; do Partido Democrático Trabalhista - PDT; membro do Comitê Brasileiro pela Anistia - CBA; membro do Grupo Tortura Nunca Mais - GTNM-RJ.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF OU DONA VIVI FAZ 101 ANOS.





BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF

OU

DONA VIVI FAZ 101 ANOS.


por Maysa Machado


Está lá. Repousa no mesmo quarto do seu apartamento no Leblon. Cabelos lisos e alvos, arrumados num gracioso rabo-de–cavalo, no alto da cabeça. Toda de branco. Poucos gestos. Econômicas respostas.

Encontrei-a, nesta manhã, ainda dormindo. Depois sonolenta, não estava para conversas, ouviu-me, nada comentou, nem sorriu.

Senti saudade dos olhos castanhos atentos a tudo e a todos, do sorriso brejeiro, encantador. Da mulher inquieta, apaixonada. Senti falta até da severa interlocutora, uma comunista das antigas, que muitas vezes assisti e convivi.

Da poetisa que viveu de braços dados ora como Vivi, a menina, ora como Beatriz, a mulher. Corajosa, lutadora, espirituosa com uma pitada amarga. Mas sempre solidária.Nunca a vi indiferente aos sofrimentos humanos ou aos sonhos e utopias. Jamais omissa aos anseios de uma sociedade fraterna, igualitária, socialista.

Recolhida, os olhos fechados, uma figura anciã, absorta em seu mundo interior. Um rico mundo sabemos nós.

Pensei: Muitas vezes ficamos assim, quer ouvindo uma sinfonia ou mesmo repensando fatos, histórias. Nada daqui de fora pode nos interessar. Quem alcançou a marca de 101 anos. Um século e mais 365 dias... Pode tudo!

Fui atraindo-a com canções, histórias dos bisnetos, devagarzinho fui trazendo notícias:

- Dona Canô está com 103, Oscar ( Niemayer, seu amigo) também! Você sempre em boa companhia... Hein?

Nada. Silêncio. Então, indaguei:

-Você sabe que temos uma mulher Presidente?

Ela me responde, sem abrir os olhos, mas com voz firme:

-Não.

Discorri sobre o desfecho da campanha.

Ficou mais atenta.

Falei sobre a candidata vitoriosa, sua história de vida e luta. Ambas presas políticas.

Fiz conjeturas sobre o que poderá significar uma mulher na direção de nosso país.

Ouviu-me. Serena e ausente já não mais se agita pelos fatos corriqueiros ou ao que emprestamos importância.

Cumpriu com garbo, com coragem, o seu papel de cidadã, de brasileira, de militante comunista. Cumpriu com integral solidariedade os seus papéis de mulher, mãe, esposa, amiga, avó, tia, irmã. Professora, poetisa. Foi além: Transformou.

Não se queixa de nada, não se cansa por nada. Esvai-se, deixando plantadas sementes. Algumas recolhi.

As outras vão continuar se espalhando para os jovens recolherem e replantarem.

É de uma vida cheia de sonhos, poesia, ideais, perdas e coerência o legado de BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF

Com curiosidade e alegria os cinco bisnetos - idades entre oito anos e quase dois anos- repetem:

- Minha bisa faz 101 anos!

Reforço a notícia com o delicioso detalhe:

-Ela diz que foi amamentada com música e alfabetizada com poesia.

Deixo para contar depois, junto aos meus netos, a história da menina ligada em poesia e em transformação social. A mulher-menina que conduziu granadas sorrindo. A última presa política, do período Vargas(1935), viva.

Amiga de tantas e tantas pessoas que amaram, como ela, seu país e lutaram por mudanças, por novos dias, por olhares de igualdade. Algumas deram suas vidas. Não erraram em suas escolhas, mas há muito por continuar a fazer.

Militante comunista, viúva do companheiro, de toda a vida, Raul Ryff. Apaixonada por ele tanto quanto por seus ideais. Uma mulher pioneira.

Assim, Beatriz ou Dona Vivi chega aos 101 anos.

Santa Teresa, 08 de novembro de 2010


A todos meu carinhoso abraço

Maysa





terça-feira, 2 de novembro de 2010

AUGUSTO DOS ANJOS - O FIM DAS COISAS -














O Fim das Coisas

de

Pode o homem bruto, adstrito à ciência grave,
Arrancar num triunfo supreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo dorbe, invente
A lâmpada aflogística de Davy!

Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio…

E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!


É, Augusto dos Anjos , assusta e encanta nossos fantasmas. Quem de nós não ficou com a respiração ofegante em cada estrofe, em cada cilada que a vida arma e a vida desmonta?

Abraço neste feriado criado para a íntima reflexão.

Maysa

sábado, 30 de outubro de 2010

SEM MEMÓRIA - MAYSA MACHADO







Sem Memória


Maysa Machado



O vento forte aqui não sopra, nem uiva.

Bate portas, janelas, derruba plantas

Quebra-as nos frágeis vasos.

Levanta poeiras, dobra centenárias palmeiras

Subjuga, captura e agita

Pássaros em seus vôos.

Diverte-se, e como vingança

Empresta asas às folhas.

Recolhe num único instante

desejos e sonhos de liberdade.

O vento paralisa anseios.

Ciclone ou qual nome tenha

Está lá para os lados do alto mar.

Meu coração engalfinha-se

Turbulência passageira?

Vem a mim teu rosto

Semblante apreensivo

Tua voz ...só melodia.

A tarde de sábado se aquieta

Nublada como meus sentimentos

Recebe o conhecido canto.

Ousados pássaros

Repetem solitários: Bem-te-vi.

O fim de tarde se apronta

Suave e manso sem memória

Nem tormento.


Santa Teresa, 30 de outubro de 2010


Aos que por aqui chegam, um abraço amigo


Maysa

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

LOS HERMANOS - ATAHUALPA YUPANQUI




Essa canção de Atahualpa Yupanqui, sempre me comove. Creio que muitos outros sentem a mesma emoção.

Em tempos de ditaduras ela embalou nossos sonhos, e desejos legítimos de LIBERDADE.

Portanto, trago-a até ao Ninho, para lembrar que não mais se pode aceitar qualquer manifestação de intolerância ou patrulhamento, que tentam ressurgir nos tempos atuais - esses mesmos - de uma imperfeita democracia -, mas construída por todos nós, para não mais deixar o arbítrio entrar. A letra diz tudo que não podemos esquecer.


(Milonga)

Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
En el valle, la montaña,
en la pampa y en el mar.
Cada cual con sus trabajos,
con sus sueños, cada cual.

Con la esperanza adelante,
con los recuerdos detrás.
Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
Gente de mano caliente
por eso de la amistad,

Con uno lloro, pa llorarlo,
con un rezo pa rezar.

Con un horizonte abierto
que siempre está más allá.

Y esa fuerza pa buscarlo
con tesón y voluntad.
Cuando parece más cerca
es cuando se aleja más.

Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
Y así seguimos andando
curtidos de soledad.

Nos perdemos por el mundo,
nos volvemos a encontrar.
Y así nos reconocemos
por el lejano mirar,
por la copla que mordemos,
semilla de inmensidad.
Y así, seguimos andando
curtidos de soledad.

Y en nosotros nuestros muertos
pa que nadie quede atrás.
Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar,

Y una novia muy hermosa
que se llama ¡Libertad!



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PONTO DE INTERROGAÇÃO

foto maysa by cel/flor da fruta pão/
manhã no caminho da Lapa/2010















Ponto de Interrogação



Maysa Machado



É tudo passado!
O sonho de ser feliz.
A coragem para mudar o mundo.
A bolsa de estudos em Paris
Está tudo no lixo. Do passado?

Tua vida fincou aqui mesmo
No Rio onde nascestes!
Emudecida, calada,
Exilada dentro do teu próprio país.
Na tua pátria amada.

Menina nova precisou
rápido ficar experiente.
Atenta, arisca, calada.
Assim, sem perceber
Foi tudo indo parar no lixo...

Casamento, família, amigos.
Mesmo desqualificada
A vida teima em voltar.
Brotar, brotar...Como assim?
Sem sonho, sem coragem, sem amor.

Sem fantasia?
Brotou.
E ainda brota todo dia.
Qualquer dia, sem nenhum favor.
Vai saber o que te reservou
...O Criador!

Santa Teresa, 01.03.08



Um abraço.

Maysa

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

INSTANTES

do meu pé de jasmin do cabo/maysa by cel/2010



Instantes

Maysa Machado





Preciso desse sorriso
Que não mostra os dentes
Mas a alma triste.
Preciso da tua pele
Ou mais ainda... das tuas mãos
Descobrindo meu corpo.
Desse olhar múltiplo e de esguelha
sonso, econômico...
Desses nãos
Em que são feitos os teus desejos
E os meus...
De tanto precisar e não dispor
Já não preciso mais.
Posso ir vivendo
Sem teu calor, sem tua presença
Invadida pela insônia
Por uma tristeza imensa
Fotografo a vida
Coleciono instantes
Deles não fujo
Só de mim.


Santa Teresa, 01 de outubro de 2010