PRIMAVERA SE APROXIMA
Maysa M.
Cigarra não canta.
Formiga trabalha pouco.
Na estação ... das flores.
Santa Teresa, 18 de setembro 2011
Abraço a todos.
Maysa
Um blog que valoriza a poesia. Buscando-a nas imagens, nos sons, nas artes plásticas...na angústia demasiadamente humana.
PRIMAVERA SE APROXIMA
Maysa M.
Cigarra não canta.
Formiga trabalha pouco.
Na estação ... das flores.
Santa Teresa, 18 de setembro 2011
Abraço a todos.
Maysa
SAUDADE DE QUÊ?
Maysa Machado
Talvez, gasta, repetida... essa palavra, que dizem única, ainda, sirva para expressar o significado, em língua portuguesa de falta, vontade de chegar, aproximar. Vem em ondas ilustrando coisas e circunstâncias vividas. Vem acompanhada de boas lembranças.
Você não sente saudade do que foi desconforto, mas pode aparecer no pacote de algum amor não, definitivamente, enterrado. Aliás, amores são enterrados? Creio que não. Pela experiência obtida os amores voam como pássaros, podem ir de vez, ou voltar em estações certas. Não existe o para sempre.
Saudade de quê, então?
Da vida desperdiçada ou do leite derramado? É difícil aceitar. O alimento líquido, geralmente contido num recipiente, e posto a ferver, demora.
É nosso cálculo do tempo errado, acrescido de ansiedade, que nos faz afastar e descuidar. Vida, também, se esparrama por descuido. Lamento, mas não há quem não a tenha desperdiçado.
Quando o fato consumado nos avisa que o leite queimou e derramou, sem solução, a gente percebe o tempo perdido, estragado.
Apenas isso, o sentimento de não ter mais jeito... nos faz sentir saudade do tempo que passou solitário, sem nos apercebermos dele.
Santa Teresa, 12 de setembro de 2011
Um abraço,
Maysa
Sete de setembro
Independência ou morte!
O brado pendente.
Santa Teresa, 07 de setembro de 2011
Pendências morais, implícitas nesse haicai republicano. Os desaparecidos e mortos não devolvidos à pátria-mãe. Morreram pelo Brasil. Patriazinha querida, minha , tua.
Do Vinícius, poeta ... releiam Pátria Minha, aqui:
Maysa
O MAIS PURO IMPROVISO
Maysa M.
Vai num último sopro
a vida percorrida
em sobressaltos
perdas e gozos.
Sabe-se tão pouco
da próxima parada.
No futuro só a poeira
se assentará
em algumas memórias.
Ai de todos nós.
Sobreviventes de
única certeza:
A morte virá
nos colher... Em premeditado
improviso.
Santa Teresa, 3 de setembro de 2011
Abraço carinhoso aos que por aqui passam.
Maysa
ALMA LIBERTA
Maysa M.
Corpo-cela inerte
não mais reclama
dores, vazios.
Não lhe afetam
Perdidas ilusões.
Alma liberta
Ocupa-se
da eternidade.
Em que todos
Estarão
Um dia.
Santa Teresa, 3.09.2011
Com imenso carinho pelos que continuam...
Dedicado à Alaíde, querida amiga, que partiu.
Maysa
ENTRE PARÊNTESES - SANTA TERESA, BAIRRO ATRAVESSA O LUTO
Para os moradores do bairro tristeza, desolação, revolta. Para as autoridades competentes (?) acreditamos que a omissão atingiu o limite.
Esperamos que os responsáveis, ainda, que não assumam as atribuições que os cargos públicos lhes conferem, sejam identificados, e responsabilizados diante da opinião pública.
Não foi acidental, foi descaso criminoso, gestão após gestão.
Querem privatizar tudo para enriquecerem impunemente. A conspurcada relação entre o poder público e os empresários dos transportes é, apenas, um aspecto da costumeira sujeira. Não dá mais para varrer pra debaixo do tapete.
Uma auditoria, em toda a Secretaria de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, pode contribuir para a explicação dos atuais fatos.
O bondinho atende ao bairro há 115 anos! As comemorações pela data, em meio às reclamações antigas sobre a segurança, serão substituídas por mais reivindicações! Bem tombado merece ser tratado como patrimônio da história de uma cidade.
Com pesar,
Maysa
PS: Para quem quiser acompanhar visite o blog do Maurício
http://blogdomauricioporto.blogspot.com/2011/08/acidente-com-o-bonde-de-santa-teresa-o.html
Ou o Caderno Aquariano da Martha Pires Ferreira
http://cadernoaquariano.blogspot.com/2011/08/santa-teresa-de-luto.html
CHÃO DE BARRO
Maysa M.
O barro vermelho iluminava o trecho do caminho, vegetação rala, um pouco de sombra. Subida íngreme, irregular, toda atenção necessária.
O vento cuidava de despentear seus cabelos que beijavam os ombros, enquanto as pernas, bem torneadas, sob a saia rodada, apareciam nos gestos mais largos, e não premeditados, que a pressa impunha.
Ela era jovem e corajosa. Morava desde pequena naquele lugar de acesso difícil, sem vizinhança próxima. Por perto, a casa da tia. Ia muito. Amigas e fãs amorosas.
Lá a paisagem imobilizava a todos. O mar imenso e aberto abrigava céu, ar, nuvens, pássaros, raios, trovões. E os navios cargueiros, presença constante, deslizavam por longos momentos, no enquadramento perfeito, que a porta da cozinha fazia... do lado de fora era tudo céu e mar.
A tardinha caía, com a envergonhada tristeza de um dia banal. Previsível, nos conformes. O coração da adolescente queria emoções, um príncipe encantado e prometido, descrito pelo universo feminino. Por aquela época iniciava, sem saber, uma longa espera.
Muitos anos depois, essa paralisia existencial seria substituída nas constantes buscas, por entre descobertas e aproximações, do que a vida lhe trazia e revelava.
Distâncias e proximidades seriam os paradoxos diários, os desafios para a perspectiva do íntimo em construção, e a identificação dos estranhamentos que podiam ser, ou não, recusados. Uma criatura insurgindo-se ao estabelecido ressurgia.
Santa Teresa, 12 de agosto de 2011
Viver um tantinho a mais, no mínimo dá nisso: Poder de escolha maior. Na pior da hipóteses, lidar confuso com a multivariedade exposta, se iludir tentando escolher... tudo!
Assim, a bela composição de Gilberto Gil - É preciso aprender a só ser - dos anos setenta, me encantou tanto.
Talvez, um pouco mais que a canção de Marcos Valle, cujo título nos leva para outras viagens. É preciso aprender a ser só - foi, e é um standart do inspirado compositor.
Fico com a do Gil, na interpretação de Zizi. Música linda.
Uma amiga bem próxima, lembra que precisamos aprender a aguardar, e ouvir o outro. Domar ansiedades, mantendo o coração aberto. Exercício difícil nos dias atuais, rsrs.
Fique com a pétala.
DATA CENTENÁRIA
Maysa Machado
A vida quase sempre, em meio às lembranças, oferece paisagens, sons, cheiros, frases. Não são apenas sensações renovando momentos percorridos... são pequenas e sábias repetições.
Corria a década de 70. Morávamos na Urca. O casal e seus dois filhos. No apartamento pequeno, de sala, dois quartos, árvores e pássaros, além do suave ranger do bondinho do Pão de Açúcar, ainda, pintado de vermelho — subindo e descendo o morro — as cigarras cantavam, e enlouqueciam o despertar, tornando-o compulsivo, às cinco e meia da manhã.
Nesse trecho do bairro, incrustado entre a Praia Vermelha e a enseada da Baía de Guanabara, o asfalto ficava atapetado por minúsculas flores amarelas, que os garis, um pouco mais tarde, varriam e colocavam na caçamba.
Continua até hoje pacato, bucólico, um paraíso para quem gosta de viver em tranqüilidade. Um pouco mais adiante, a pracinha do Quadrado com seus barcos de pequeno porte. Chama-se, de fato, Praça Cacilda Becker.
Em 74, Caetano gravara Lupicínio, a canção ecoava. “Felicidade foi-se embora/ a saudade no meu peito inda mora/ É por isso que eu gosto lá de fora/ porque sei que a falsidade não vigora... A melodia nostálgica invadia nossas almas, em grande parte, doídas pelo cotidiano sem liberdades, de expressão, ir e vir, reunião.
Algumas tardes, vinha nos visitar um dos avós das crianças. Elegante, discreto, num tom quase cerimonioso, ficava ali conversando com os netos, e tomando o chá inglês, aroma de bergamota, que lhe era servido, com amor.
Meu sogro era uma pessoa encantadora. Reservado, porém solícito; de quando em quando um comentário leve, irônico.
A canção rodava num LP, em suas 78 rpm.
Sabia trechos da letra, repetindo-os como quem filosofa:
...O pensamento parece uma coisa à toa/ mas como é que a gente voa/ quando começa a pensar...”
Assim, fiquei sabendo de sua predileção pelas composições do autor — Lupicínio Rodrigues — gaúcho, como ele se sentia.
Hoje, nesta data, se ainda entre nós estivesse, espalhando com habilidade e sabedoria tudo que descobriu e conheceu, havíamos de comemorar seus cem anos de forma suave e bem humorada. Relembro com saudade sua importante passagem por minha vida. Repetiria o gesto e colocaria as músicas lindas, de seu compositor preferido para tocar, no cd. Quem sabe não o ouviria repetindo frases melódicas, enquanto ia sorvendo, no chimarrão, goles de esperança? Compartilhando causos e notícias dos bastidores políticos, da sofrida época.
Rio, 8 de agosto de 2011