segunda-feira, 14 de maio de 2012

UM TREM DENTRO DO CORAÇÃO - Maysa Machado




Hoje é segunda- feira, e não sei porque (!) lembrei do conhecido poema de Ascenso Ferreira - poeta pernambucano (1895 - 1965).

Hora de comer — comer!

Hora de dormir — dormir!

Hora de vadiar — vadiar!

Hora de trabalhar?

— Pernas pro ar que ninguém é de ferro!    


E aqui, no meu quieto lugar...descobri:

UM TREM DENTRO DO CORAÇÃO

                                                   Maysa Machado
Lembrança puxa lembrança
com elas desfiadas, desenroladas
cheguei aos sons da minha infância...
Quem não tem, bem guardado,
em sua recordação
o apito insistente de um trem?
Querendo ou não, ele leva você,
como passageiro pra outra estação!

Santa Teresa 14 de maio de 2012


Nasci e me criei em Botafogo - na zona sul do Rio. Minha mãe, em Vila Isabel, bairro que dispensa apresentação. Meu pai, nos cafundós das Alagoas, em uma fazenda, na divisa com Pernambuco - município de Mata Grande.
O apito do trem fica por conta da imaginação que nos leva, nos transporta. Por conta, ainda, da grande admiração materna pela cantora e compositora Inezita * - artista que sempre valorizou a cultura popular brasileira, o folclore.
Tive uma amiga, paulistana, que morava numa casa, bem perto da linha do trem. Nunca entendi como ela podia dormir!
Seu sorriso alegre me contava, sem precisar de palavra, que era feliz...



  *Inezita Barrozo, fez a música para esse outro poema do Ascenso. "O trem de Alagoas".
E reparem na interpretação maravilhosa.  

http://www.youtube.com/watch?v=oCixgGxcV0k

Um grande abraço a todos.
Maysa

sábado, 5 de maio de 2012

LUA CHEIA DE MAIO - Maysa Machado




Foto:Roberto Machado Alves - Reflexos- praia do Leme/ Rio

LUA CHEIA DE MAIO


                                      Maysa Machado


Maio, lua cheia. 
Sussurram que é de Buda. 
Pairam mistérios.


Um hai-cai para a lua cheia de hoje.

Abraço a todos.
Santa Teresa , 5 de maio de 2012
Maysa

quinta-feira, 26 de abril de 2012

BORBOLETA AMARELA E PRIMAVERA CARMIM - Maysa Machado



BORBOLETA AMARELA POUSA NA PRIMAVERA CARMIM


                                                                                                 


Maysa Machado




          Desde sempre borboletas encantam, colorem as manhãs, os olhares atentos e os corações leves. Agora mesmo, uma serelepe amarelinha pousou na primavera carmim, que cismou em florir na janela do segundo andar. Magra e esguia é minha conhecida há muitos anos. Fui eu que a plantei num vaso grande. Econômica floresce, fazendo a festa em meu coração. Criou condições para um ninho, e nem a tempestade forte, nem seus galhos finos, derrubaram a real construção de uma passarinha.
          As duas se encontraram porque a primeira é curiosa e tem asas. A segunda, perfume e seiva de  vida. Alimento puro - flor que é.
  Coloridas e vibrantes, cada qual tem seu mistério pra existir. Ambas, alegram e devolvem–me não a dimensão embotada, escondida,  de viver o dia a dia. Trazem-me, realimentando o espírito, a beleza do momento. O fugaz, que mágico devolve essência e esperança. Solidão fértil.
Nesse encontro presenciado por mim, reacende a energia e um novo olhar pra perceber o caminho entre o Ser e o Outro, que está do lado de fora.



Santa Teresa, 25 de abril de 2012 

Um abraço a todos! Em pleno outono carioca, temperaturas amenas...

segunda-feira, 16 de abril de 2012

CORAÇÃO POETA - Paulinho Tapajós e Nelson Cavaquinho








Nosso cancioneiro é rico, precioso. Ouçam com alegria esta linda melodia, poética, suave.

Sugestão: Se puderem saiam cantarolando...



Deus me deu um coração poeta
E a alma inquieta de um cantor
Pra que eu vigiasse a madrugada
Acordasse o sol e o Beija-Flor
Cantar me faz viver bem mais
Soltar a voz que nem um passarinho
Que ninguém prenderá jamais
Se eu sou feliz ou infeliz
São lindas minhas penas
Vale a pena ser quem sou
Se eu tenho o céu aqui no chão
Se eu tenho o mel no coração



O violão é do Luís Filipe de Lima, seis cordas e sete cordas. Foi sua primeira gravação, em 1996, no disco de Paulinho Tapajós, cujo título é CORAÇÃO POETA. Na faixa título essa linda canção .Na gravação cantam João Nogueira, Paulinho Tapajós e Chico Buarque. Um luxo!!!!
O site oficial do Autor Paulinho Tapajós é http://www.paulinhotapajos.com.br/home.php

Uma escuta carinhosa, então!
Abraço
Maysa

terça-feira, 10 de abril de 2012

O PRIMEIRO QUARTO MINGUANTE DE OUTONO - Maysa Machado





O PRIMEIRO QUARTO MINGUANTE DO OUTONO

Maysa Machado


Júpiter e Vênus estão presentes e próximos

ao que meus olhos vêem, nesta noite carioca.

Zona sul... Aquém e além.

Lua, recém minguante, enforma-se em D

Estende véus e cavalga o negro céu.

Tudo silente, mudando passo a passo

Olho a olho.

Ilumina firmamento e terra.

Empresta seu brilho às nuvens cativas que ordenha.

Os aviões chegam e partem, deixam a nós a cidade.

O céu de Santa é pródigo em luzes, imagens e sons.

Não sei de horários permitidos para voar nas noites...

Sei dos espaços infindos em que vivo, observo e amo.

O céu habitado por planetas, estrelas, aviões e ruídos...

Por figuras estranhas e passageiras

É meu particular companheiro.

Inusitado traz seus sons bárbaros e humanos.

Em sua imensidão ameniza a dor de existir

que sinto.

E o silêncio fortuito repõe a vida

em seu lugar único.

Santa Teresa, 10 de abril de 2012


Um abraço


Maysa

sexta-feira, 6 de abril de 2012

SEXTA FEIRA SANTA - Maysa Machado

SEXTA FEIRA SANTA

Maysa Machado

Pintura de Giotto - Compianto sul cristo morto, Cappella degli Scrovegni, Padova.


(Para Eva)


Uma amiga, de fé judaica, me pergunta:

— Para vocês qual a data mais importante: O Natal ou a Páscoa?

Respondo:

— O Natal. Nele você comemora o nascimento de Jesus.

No entanto, é estranho que para a maioria, com quem convivo, aquela é uma data de celebração de nascimento e de ausência. Há um vazio, um buraco. No entorno, quase sempre, faltam muitos entes queridos.

O Natal, então, transmuta-se em celebração infantil. Carinhos e lembranças dirigem-se às crianças. A figura do Papai Noel avulta. É data muito importante nas celebrações cristãs.

A Semana Santa é mais complexa. Aceitar a Ressurreição é para poucos. Só mesmo com fé e espírito evoluído... A Sexta Feira Santa, então, nem se fala... Mesmo. Um convite ao silêncio, à reserva e cuidado interior.

Na minha infância, um dia de grandes tormentos. Ia à Igreja de Santa Terezinha do Menino Jesus, próximo ao Túnel Novo, em Botafogo, com minha mãe. Acompanhava a procissão e rezava pelo senhor morto. A imagem esculpida era tão verossímil que a achava verdadeira. Sofria na fila, a lenta agonia, e depois, com cada gota de sangue... Escorrido do rosto santo, os cravos às mãos, o corpo desnudo, acabavam de vez com minha alegria de menina.

Hoje, percebo em minha experiência de vida, que a representação primeira da imagem masculina é de um mártir.

Mas são doces aflições, avalio... Nos dias que correm a violência - tão intensa- em imagens difusas ou concretas que subvertem qualquer conceito, ou expectativa humanista. Há um Cristo imolado a cada dia. Uma Páscoa solene, em cada vida, que alcança o dia seguinte.

Então, minha amiga, confesso que me enganei. Um equívoco, doloroso e simples. Nos dias que correm, na Semana Santa, o ensinamento bíblico se reafirma. Embora a sociedade de Consumo de ênfase ao Natal. Precisamos do fato, do acontecimento, da lembrança.

Ressurreição a cada dia. É sempre um recomeço. Para os bons e leves de espírito... E para todos. Amém.

FELIZ PÁSCOA! À TODOS.


Um abraço


Maysa

quarta-feira, 14 de março de 2012

CAI A CHUVA -Maysa Machado




Cai a chuva. Final de tarde, de um final de verão carioca.

Cai com uma suave presença, um jeito maneiro de vir chegando. O calor intenso, abafado, mandou avisar. E a cidade escaldante precisava dessa lavagem. Do frescor de um banho de chuva.

Trovoadas esparsas, a brisa sorrateira entrando pela janela, sem bater portas, e até agora, nenhum raio. Uma chuva que o beiral das casas agradece, em que o barulho das grossas gotas inebria, parecendo sons de notas musicais, pausa, alegro ma troppo... Ronco suave de motor do avião das cinco, saindo do Santos Dumont.

Sonho com uma casa à beira mar, e as ondas encrespadas qual cabelos encaracolados subindo, descendo, espumando de alegria o espaço. Uma casa de praia pra ninguém querer sair, porque a chuva chegou. Uma chuva daquelas que o Tom cantou; uma chuva na roseira, “que só da rosa, mas não cheira a frescura das gotas úmidas... Ah! Você é de ninguém!”
E eu sou da chuva, do banho de alma que ela me traz. E vai saber o poder de quem tem a alma lavada! Só o balanço preguiçoso da rede pode contar.

Um abraço

Maysa


sábado, 10 de março de 2012

CIDADE PERIGOSA - MAYSA MACHADO





CIDADE PERIGOSA


Maysa Machado

Nasci e vivo aqui. Posso dizer que convivo, desde a infância, com as expressões mais legítimas da nossa cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro.

A primeira delas é a alegria, seguida pela irreverência, e logo acompanhada pela criatividade. Essas características humanas fazem a cidade mais bela. A natureza exuberante agradece nos brindando com dias maravilhosos e noites mágicas, quase sempre. Mas não é só isso!
A cidade tem mais, os governos fazem pouco, e a população - residente ou flutuante - precisa ser mais consciente, solidária, atenta. Um pouco mais civilizada.

Com certa tristeza, acompanho a crescente desinformação, a pouca educação passeando pelas ruas, calçadas, praças, praias, locais públicos em geral. No trânsito quase ninguém respeita placa, sinal, a velocidade permitida.

Campanhas públicas podem minimizar os problemas urbanos, mas o que resolveria, lá adiante mesmo, seria o compromisso de recuperar a escola pública de qualidade, o exercício de cidadania desde a primeira infância.

Enquanto isso não acontece, somos obrigados a conviver com a arrogância de toda ignorância. Ontem, uma amiga e eu, quase fomos cuspidas de uma calçada, bastante movimentada, no Largo do Machado. O jovem ciclista ia “costurando”, sem exagero, por entre pernas e braços de jovens, velhos, crianças, cadeirantes, pedintes, ambulantes...
Indaguei:

— Nem à calçada mais temos direito?

O rapaz fez um ar bastante incomodado com meu protesto, em forma de pergunta, e soltou essa pérola:

— Por que você não se orienta? Se oriente, mulher!

E seguiu orgulhoso... Para o meio fio.

Eu e minha amiga estamos de fato precisando de orientação. Na altura desse campeonato de grosserias urbanas, irresponsabilidades individuais e coletivas somos quase sempre alvos. Nós os cidadãos.
Hoje, leio o jornal e recolho sugestões oportunas e práticas para ciclistas em nossa cidade. As medidas de segurança servem para todos. Pedestres, motoristas, ciclistas. Abaixo o individualismo grotesco!


Um abraço de sábado carioca

Maysa


Para os que se interessam na matéria lida no jornal acessem aqui

quinta-feira, 8 de março de 2012

8 DE MARÇO de 2012 - NISE DA SILVEIRA UMA BRASILEIRA DE VALOR

Nise por Di Cavalcanti/1958

















Nise , jovem em Maceió/Al.















Dra Nise da Silveira, alagoana, mulher corajosa, estudiosa, digna, uma revolucionária.

Transformou as práticas de saúde mental no Brasil, desenvolveu o conceito terapêutico sobre a emoção de lidar.
A Dra. é uma referência em minha vida, desde a infância. Prima de primos de meu pai, também, alagoano. Foi a primeira mulher em Alagoas a se formar em medicina.
Presa política da Era Vargas, esteve na Cela 4, a primeira prisão política feminina brasileira. Em sua companhia algumas ilustres brasileiras, como ela, lutavam por liberdade e democracia.

Eneida- a cronista paraense, Beatriz Bandeira - a poetisa e professora do Conservatório Nacional de Teatro, Maria Werneck - advogada carioca, Olga Benário - militante comunista, Haydée Nicolucci, Elvira Cupello, Elisa Berguer, Eugênia Álvaro Moreyra - jornalista.


" SENHORA DAS IMAGENS INTERNAS”, como Martha Pires Ferreira, organizadora de Escritos dispersos de Nise, em Cadernos da Biblioteca Nacional, a chamou.
“ARQUEÓLOGA DOS MARES", título de livro de Bernardo Carneiro Horta. O autor conta-nos um pouco de sua história, por biografemas - conceito usado por Roland Barthes, e utilizado por Bernardo, para "narrar a existência de forma fragmentada, criativa, vital".


“A dama do inconsciente" é a brasileira que homenageio neste 8 de março de 2012.
Com ela aprendemos muito, e teremos sempre o que aplicar em nosso cotidiano com o outro. Sua obra contém lições que estão, ainda, por serem aprendidas.
Convido a todas e todos: Descubram com NISE A EMOÇÃO DE LIDAR!

Nise é responsável pela criação do Museu de Imagens do Inconsciente, em 1952.
Em 1955 cria o Grupo de Estudos Carl Gustav Jung - GECGJ- que existe até hoje, e se reúne duas quartas-feiras por mês, em Botafogo, na Casa das Palmeiras. Fundada, em 1956.
Instituição pioneira, de portas abertas, realiza acolhimento-dia e atividades em terapia ocupacional, visando a inclusão dos clientes, através da emoção de lidar. Expressão criada por Nise para definir novos conteúdos terapêuticos que transformaram a área de saúde mental.
Ver link abaixo:
http://casadaspalmeiras.blogspot.com/

UM FELIZ DIA DAS MULHERES! UM 8 DE MARÇO SEM VIOLÊNCIA! COM PAZ E PAIXÃO PELA VIDA.

Maysa

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

HOJE, AMANHÃ OU SEMPRE? Maysa Machado

foto andré lazaroni








HOJE, AMANHÃ OU SEMPRE?

Maysa Machado







— Hoje, amanhã ou sempre?
Assim de supetão a pergunta saiu. O silêncio ajeitou palavras e sentimentos. Venceu a modesta verdade.
Hoje.
— Aí te peguei! Viu só? Maria sorria um sorriso doce, e sem compromisso.
— Gostei da pergunta, disse o acanhado José.
Assim, quem sabe o jogo de palavras os ajudasse a se comunicarem? Eram dois tímidos irrecuperáveis. Ela disfarçava bem, falante, antenada. Enquanto ele se lixava para o que as palavras podiam fazer com o seu confuso sentimento. Era esquivo, silente e de pouca entrega. Obstinado e voluntarioso.
Encontro marcado, remarcado, adiado, antecipado, José chegou - com atraso pontual- às 7 h, do horário de verão. A tarde linda, o coração de Maria apaixonado. Nada o demoveu de estar ali. Nem o compromisso às 8 h, no Leblon, ao qual ela não podia faltar.
Os percursos dos amores não necessariamente são linhas perfeitas que se completam. Correm em cursos paralelos ou tangentes, muitos esbarros, mais encontrões que encontros. O hoje espremido entre o ontem e o amanhã, sempre será assim. Por vezes o queremos longe, em outras circunstâncias muito perto e, nem seria pedir muito eternizá-lo.
Hoje. A resposta honesta, possível, para quem precisa que a vida esteja sob controle, mesmo que por um fio.
Por um fio estamos todos, desde que aqui vindos.
Amanhã. É muito tempo de espera, ansiedade, e pode não chegar. O amanhã não nos é garantido. O tempo escapa e vai continuar a fugir de nós.
Ah! O que dizer e pensar, e mais ainda sentir, do Sempre? É o sonho que pode ser transformado em pesadelo, construído por almas em desgastes cotidianos.
Melhor dizer: Hoje.
E eles se amaram em paz, contentemente.

Um abraço de Pós Carnaval.
Maysa