quarta-feira, 14 de novembro de 2012

AMAR ALGUÉM - Maysa Machado


    Rio, novembro de 2012-foto Marcos Estrella












    AMAR ALGUÉM



    Maysa Machado



    Ficar nas nuvens é uma expressão corriqueira e indicativa de sair do ar, desligar o cotidiano e embarcar na fantasia. Nem sempre isso acontece.
    Por nenhum motivo especial, ou todos os que você preferir, a vida destila poções mágicas que a gente bebe, se perfuma ou se encharca e flutua... E aí, nuvens macias, flocos imaginários, um pouco acima de nossas cabeças, criam o clima.

    “Amar alguém” uma canção toca, com jeito delicado, problemas fundos e reaprendo: Amar alguém só pode fazer bem!

    A chuva caindo à tarde, se prolonga até a noitinha. A precisão de sair adia a vontade de ficar em casa. Vamos. Ah! Com atraso, à maneira carioca, rsrsrs.

    Difícil pegar um taxi; na volta, da Rua Jardim Botânico pra Santa Teresa, pra lá de impossível.

    Faróis, poças, pessoas apressadas, impacientes nãos de taxistas. Acomete-me um desânimo paralisante. Do nada, você surge. O céu desce e me envolve. No início apenas uma silhueta, sob um guarda-chuva, pulôver cinza, cabisbaixo, olhando pros perigos do chão. Seus cabelos, agora, totalmente brancos... Em nada mudam meu olhar de antes. Revejo, em flashback, os fios negros compondo com a barba um rosto masculino, também especial. Logo ali no passado.

    Não acredito que você esteja apanhando a mesma chuva, porque minutos atrás, no boteco brega- chique costumeiro inventava sua imagem chegando. Era mais que imaginação. Um desejo de ser feliz e alegre, de rever-te. Em tempo tão curto a saudade ficou de plantão.

    Eu me dizia: Acorda, é passado, bem recente, mas é passado.

    Então pedi ao garçom a sobremesa, aquela que recusara no dia em que nos reencontramos. Um ritual instintivo pra te trazer pra perto. E agora... Tua presença física. Assusto-me com a imponderável nova poção oferecida pela vida. Sorvo ou me encabulo? Fico desconcertada. Acho que você, também.

    A vida nos surpreende com mais esse acaso. Nada, sonho algum é impossível.

    Você fica feliz, espantado, mas se concentra em me ajudar a conseguir o taxi. Somos envolvidos. Um misto de alívio e pena. Apressados nos despedimos. É a chuva!

    Comovida com o carinhoso gesto entro no carro e peço: Liga pra mim!

    Santa Teresa, 13 de novembro de 2012.

    Um abraço carinhoso aos que passam.

    Maysa

    terça-feira, 6 de novembro de 2012

    ESCRITOS SEM TÍTULO - Maysa Machado

    Tina Modotti - cana de açúcar - 1925-26

    Escrevo, escrevo e volta e meia descubro entre papéis e cadernos de anotações coisas assim! Não estão escondidas, como alguns sentimentos, talvez, perdidas nos emaranhados dos dias.

    1-  Sem título

    Entre o sonho
    e a vigília
    ainda te
    espero!

    _._._._._._._._._.

    2- Sem título

    Eu sofro
    de desamor.
    Des... amas-me
    Por que?


    Santa Teresa 11 de março de 2011

    3- Sem título


    Cor da areia molhada...
    Lembra as pinturas do Guinard
    ..................................
    É assim minha pele.
    O mar, quando olho
    o mar de penhascos, ondas altas
    é imensidão em movimento.

    É captura!
    Magnetizada pelo mar
    mistério, deslumbre!
    É como amar!

    Santa Teresa, 14 de março de 2011


    Aos passantes pacientes, retalhos sensíveis e meu abraço.

    Santa Teresa,  06 de novembro de 2012
    Maysa


    sexta-feira, 2 de novembro de 2012

    ALGODÃO DOCE, RIO - Maysa Machado


        foto marcos estrella- rio
    Foto


    ALGODÃO DOCE


                                          Maysa Machado


    Algodão doce , Rio.
    Em nevoas e nuvens
    tudo se desfaz e refaz.
    Amores...
    Cores da paixão
    dores da saudade.
    Eternidade que mora em nós.
    Consola-nos a beleza daqui.
    Não é passageira como quase tudo
    O que nos rodeia.
    Há um mistério permanente...
    Podemos chamá-lo: Vida.

    Santa Teresa, 2 de novembro de 2012.

    Um abraço solidário na data de hoje.
    Maysa

    quarta-feira, 31 de outubro de 2012

    DIA D.- O Dia de Drummond

    escultura de bronze do poeta na praia de copacabana/rio

    DIA D.

    Hoje, 31 de outubro de 2012, transcorre mais uma data de aniversário de Carlos Drummond de Andrade - 110 ANOS .
     O Instituto Moreira Salles, no Rio, guarda o acervo do poeta, e criou a homenagem . Quem mais quiser saber, dá uma chegada no site:
    http://diadrummond.ims.uol.com.br/

    Por aqui, no Ninho postei  os poemas lincados abaixo. Sempre bom sentir o  que paira entre nós e a poesia de  Drummond

    1- http://oninhoeatempestade.blogspot.com.br/2009/03/enleio-carlos-drummond-de-andrade.html


    2 - http://oninhoeatempestade.blogspot.com.br/2010/12/as-sem-razoes-do-amor-carlos-drummond.html

    Grande abraço.

    Maysa

    terça-feira, 30 de outubro de 2012

    ODES e OUTROS POEMAS - Parte II- Ricardo Reis
















    Assim,  atravessada pelo difícil que reside nos dias sem projetos ou nos que passam e deixam as coisas incompletas...Descubro outros sentidos. Manhã que raias sem olhar a mim... ( Ricardo Reis)


    Manhã que raias sem olhar a mim,
    Sol que luzes sem qu’rer saber de eu ver-te,
          É por mim que sois
          Reais e verdadeiros.
    Porque é na oposição ao que eu desejo
    Que sinto real a natureza e a vida.
          No que me nega sinto
          Que existe e eu sou pequeno.
    E nesta consciência torno a grande
    Como a onda, que as tormentas atiraram
          Ao alto ar, regressa
          Pesada a um mar mais fundo.

    23 - 11 - 1918

    In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000



    Um abraço aos que passam.

    Maysa

    quinta-feira, 25 de outubro de 2012

    UM MAR DE SONHOS...Maysa Machado

    foto rio/marcos estrella
















    UM MAR DE SONHOS...


    Maysa M.



    A cidade do Rio de Janeiro é inesquecível para os viajantes que por aqui chegam, passam, e, sobretudo para aqueles que ficam. Adjetivos expressam o encanto que lhes desperta: Maravilhosa.


    A alegria de seu povo simples, descontraído e acolhedor desfruta esse cenário. Compartilha seu amor, entoando marchas, canções e sambas.


    Há os que a fotografam. Quase sempre poetas. Uma homenagem a todos que clicam recantos e encantos da divina cidade.


    As fotos do Marcos Estrella ilustram bem esse amor pelo Rio. Admirem essa.
    Um mar de sonhos, embrulhados em nuvens... E Ele cuidando de tudo e todos.


    Um abraço


    Maysa

    terça-feira, 9 de outubro de 2012

    DESAPEGO - Maysa Machado


    Árvore iluminada. I.M.Salles- Rio/ Maysa Machado
















    DESAPEGO

                                                 Maysa Machado


    Que lugar é esse?
    O do esquecimento, o mais distante?
    Que lugar me cabe?
    Um recanto ou um canto?
    Passo desapercebida ou espanto?
    E o que sei da vida...
    Que não vivemos juntos?
    Espaçamos, dia a dia, noite a noite.
    Inquietações, afetos.
    Vazios e êxtases.
    Ternuras e rejeições.
    Tormento é não descobrir
    O que nos acontece e modifica tanto.
    O que nos atravessa... Irremediável.
    Se inda fosse um jeito tímido
    Ou desajeitado no amor...

    Santa Teresa, 09 de outubro de 2012.

    Com muita saudade voltando para esse canto e recanto. 
    Abraços 
    Maysa

    sábado, 6 de outubro de 2012

    NUVEM PASSAGEIRA - Maysa Machado




















    Do mundo nada se leva.
    Enquanto ficamos por aqui, há os encantamentos da nuvem que passa, sonhos, anseios, esperanças...
    e uma tal felicidade que se transforma em amor ou dor!

     Santa Teresa, 04 de outubro de 2012.
    Maysa

    sábado, 22 de setembro de 2012

    CASA DA INFÂNCIA - Maysa Machado


    foto Paulo Camarão






    CASA DA INFÂNCIA


                                                                                               Maysa Machado


    As recordações surgem em cada um de nós com cheiros, cores e sons. A casa da infância é um mundo para sempre mágico.
    Lá na minha, a mais antiga das que morei, ficou gravada a voz de minha avó materna. Ora, solene e doce contando-nos histórias da carochinha, antes de dormirmos, ora ativa e apressada chamando-nos para a merenda servida à tardinha, entre quatro e cinco horas.
    Na primeira, o quase sussurro das folhas percorridas, com elegância por ela, buscando no grosso livro, cheio de histórias, alegrias e medos que iam sendo despertos; nossa curiosidade em ver as ilustrações em bico de pena, lindas e detalhadas, conquanto parcimoniosas em quantidade, pois no tempo da minha infância o texto prevalecia.
    Na segunda, a voz solta expressando uma ordem mais que um convite: — Crianças venham merendar! Ou: — Crianças a merenda está pronta.
    E, então o cheiro de mate quente, em minha memória, toma conta da cena. A luz do dia que se abrandava, a roupa suada da brincadeira de pique, a mão lavada antes de sentar à mesa, e o rosto ainda fumegante e vermelho da correria, tudo misturado à incerteza pelo o quê a noite ia nos oferecer.
    O brilho da noite e das estrelas, associado ao mistério de viver.
    Criança tinha hora para dormir, criança obedecia aos mais velhos. Um adulto, em quase todas as famílias, ficava disponível para contar, ou inventar histórias.
    As do meu pai eram aventuras pelos caminhos da fazenda em que nasceu e vivia desde pequenino. O rio, o banho nas águas frias e passageiras. A bola de meia de todo garoto esperto.
    As aventuras de subir em árvores e colher seus frutos proibidos pela altura em que estavam. O gosto de pegar a fruta no pé e sorver seu sumo, ou seu travo de cica antes do tempo.
    As histórias de uns misturadas as dos outros.
     Surpresas e inquietações movidas pela saudade do que foi ficando para trás, lá na infância, um lugar mágico e distante do que hoje habitamos. Os adultos em que nos transformamos, feitos de pressa e ordens para cumprir e repassar.
    Nós morávamos na infância, hoje, ela apenas nos visita.

    Santa Teresa, 22 de setembro de 2012.

    sexta-feira, 7 de setembro de 2012

    TRILHOS EM DESUSO - COMPASSO DE ESPERA - Maysa Machado

    foto Sonia Simões













    TRILHOS EM DESUSO - COMPASSO DE ESPERA -

                                                   Maysa Machado

    O “rango” acabou. É preciso sair. 
    Santa não tem mais padaria, nem horti fruti tem, por aqui. A música que ia e vinha, entrecortada ou embalada pelo sacolejo estridente do bondinho amarelo, mudou de horário. O piston toca em surdina, os homens da política agem em segredo. Compram, vendem, oferecem, viajam... Tentam copiar soluções de fora.
    As pessoas se juntam e se dispersam. Encontros, desencontros. Buscas e desânimos. Os trilhos dos bondes correm paralelos, e em poucos trechos misturam-se o ir e o vir. Um dos mais belos grafismos urbanos.
    Claro, tempo e espaço resolvem quase tudo ou resta-nos a espera desolada desse cotidiano sem rumo.
     E o rumo? O que foi feito das linhas, trilhos sem linhas, pés que pisam o frio trilho... Não range mais sobre os trilhos o velho e serelepe bonde. A faísca e o brilho? Escondem-se.
    Enquanto isso, enquanto aquilo. 
    O entre não se dissipa antes do tempo.
    Entra e sai. Vai e vem.
     — Cadê você?
    —Estou aqui, não me vê?
    —...
    —Estou aqui, dentro, ocupando o teu coração.
    E não são mais trilhos afiados, feito navalha, que cortam o bairro, ânsia de trem - sem o apito, com muito dem-dem.
    O silêncio é cortante. O trilho está aí, mas o trem, o bonde? Onde? Onde?
    Um maquinista ficou até o último instante. Até a última viagem.
    Estribos... Em movimento descem os passageiros, sobem os passageiros. Desciam. Subiam.
    Uns e outros viajam Viagem única para uns, era diária para outros. Derradeira pros que ficaram na curva da rua principal.
    Vamos juntos rever os caminhos de prata. Segui-los, mostrar que estão emaranhados, paralelos em retas subidas e descidas, e, volteios sinuosos que, ainda, aguardam o bonde, as pessoas, os forasteiros, as risadas e o frescor do bairro que, por ora, amanhece sem alegria...
    Santa Teresa, 07 de setembro de 2012.