segunda-feira, 23 de fevereiro de 2015

COLAR ESTRANHO - Maysa Machado

foto maysa machado/ cel

COLAR ESTRANHO


                              Maysa Machado



A vida segue sem explicações.
Hoje, chove.
Pancadas esparsas
O sistema Cantareira comemora.
Um coração triste e aliviado
Resiste.
Choro sem lágrimas
Choro seco vertido.
Cada gota opaca
De choro contido
Escapa, cai no mundo.
Junto sobras. Monto
Um colar estranho
Gotas e contas enfileiradas
Ano após ano.
Foram pérolas e cristais
Perdidos, roubados.
Voltas e mais voltas
Todas invisíveis, como eu.
E no imediato instante
Faz-se um brinde silencioso
E improvisado ao amor
Que, aparentemente, morreu.


Santa Teresa. 4 de setembro de 2014

(Revisado em 23 de fevereiro de 2015)

Aos passantes uma semana plena e produtiva.
O mes é curto e o tempo não pára, como diz Cazuza.

Abraços
Maysa

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

TROCAS - Maysa Machado


















TROCAS

Maysa Machado



Troco o pouco amor por um pouco de carinho
Todo riso sincero fica melhor em meu caminho.
Segredos e mistérios... Troco por silêncio
Adorável enleio quando dois se amam.
Preciso do verdadeiro afeto
Distancia total de quem mente, omite, engana.
Viver é arte.
Anônima ou reconhecida.
Valemos de fato pelo que somos
Nunca pelo que parecemos.
Vida, vida brotai
Novamente em meus sonhos!
Até guardei a esperança
Do gesto honesto que não veio.


Santa Teresa, 12 de fevereiro de 2015.

Um abraço aos que passam...por aqui! rsrsrs

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

TEMPOS... COSTUMEIROS - Maysa Machado

foto cel maysa/ fevereiro de 2015















TEMPOS... COSTUMEIROS



                                   Maysa Machado



Singular é às vezes agradecer
À beleza que nos faz companhia.
A presença pode durar
pouco mais que um dia...
Nas flores de viço passageiro
Há instantes de pura poesia.
Outro é o encanto e mistério
reunidos nos bordados à mão.
Nos antecedem e seguem...
Acompanhando os dias.
Nascimentos, batizados, casamentos...
Nas tristezas e alegrias.
Desenlaces, desilusões.
Um bordado herdado
É sempre um gesto delicado.
Exercício sugerido
Para se ver a beleza
Em plenitude benfazeja.
No total anonimato
Da solidão de cada dia.



Santa Teresa, 11 de fevereiro de 2015.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

CASA DA INFÂNCIA - Maysa Machado



                                                   foto maysa machado/ rio





CASA DA INFÂNCIA

                                                         Maysa Machado




As recordações surgem em cada um de nós com cheiros, cores e sons. A casa da infância é um mundo para sempre mágico.
Lá na minha, a mais antiga das que morei, ficou gravada a voz de minha avó materna. Ora, solene e doce contando-nos histórias da carochinha, antes de dormirmos, ora ativa e apressada chamando-nos para a merenda servida à tardinha, entre quatro e cinco horas.
Na primeira, o quase sussurro das folhas percorridas, com elegância por ela, buscando no grosso livro, cheio de histórias, alegrias e medos que iam sendo despertos; nossa curiosidade em ver as ilustrações em bico de pena, lindas e detalhadas, conquanto parcimoniosas em quantidade, pois no tempo da minha infância o texto prevalecia.
Na segunda, a voz solta expressando uma ordem mais que um convite:
 — Crianças venham merendar! 
Ou:
 — Crianças! A merenda está pronta.

E, então o cheiro de mate quente, em minha memória, toma conta da cena. A luz do dia que se abrandava, a roupa suada da brincadeira de pique, a mão lavada antes de sentar à mesa, e o rosto ainda fumegante e vermelho da correria, tudo misturado à incerteza pelo o quê a noite ia nos oferecer.

O brilho da noite e das estrelas, associado ao mistério de viver.
Criança tinha hora para dormir, criança obedecia aos mais velhos. Um adulto, em quase todas as famílias, ficava disponível para contar, ou inventar histórias.
As do meu pai eram aventuras pelos caminhos da fazenda em que nasceu e vivia desde pequenino, até ficar órfão de mãe e ser colocado num internato, em Penedo, pelos tios. O rio, o banho nas águas frias e passageiras. A bola de meia de todo garoto esperto.
As aventuras de subir em árvores e colher os frutos proibidos, pela altura em que estavam. O gosto de pegar a fruta no pé e sorver seu sumo, ou seu travo de cica antes do tempo.
As histórias de uns misturadas as dos outros.
Surpresas e inquietações movidas pela saudade do que foi ficando para trás, lá na infância, um lugar mágico e distante do que hoje habitamos.
Os adultos em que nos transformamos, feitos de pressa e ordens para cumprir e repassar.
Nós morávamos na infância, hoje, ela apenas nos visita.

Santa Teresa, 22 de setembro de 2012.

Um carinhoso abraço pra quem passa pelo Ninho...e enfrenta as tempestades. rsrs
Maysa

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

TRÊS DÍGITOS, TRÊS SEGREDOS- Maysa Machado







foto maysa machado/cel.



















TRÊS DÍGITOS, TRÊS SEGREDOS




Para Cecília,


Maysa Machado






A menina alegre conversava com a avozinha. Contavam histórias... que não eram da carochinha.

Em algum tempo a gente descobre que avós e netas não escondem aniversários feitos. E, muitas vezes, lembram as datas de nascimento dos membros da família. Por isso sabem a idade de quase todo mundo, até de quem já se esqueceu a sua.

A conversa segue com gosto e a avozinha diz:

— Ceci, você está quase fazendo nove anos! É uma linda idade!

— Vó! Não é não!

— Como assim?

— Bom é fazer DEZ anos!

— O que? Presta atenção: Esse é o último ano em que você aniversaria em um dígito! rsrsrs

— O que Vó?

— Ano que vem querida chegam os dois dígitos... E aí, babau! As pessoas estacionam.

— É, Vó não tinha pensado nisso.

—Então, aproveita bem os seus nove anos. O tempo contado em um dígito. Mágica primeira infância.

—Vóó! Eu queria tanto que você fizesse três dígitos!!!

— Aí fica mais difícil, Ceci... Mas não é impossível! Sua bisa alcançou.

— E como ela conseguiu?

— Bem, ela me contou um segredo. E, eu tenho outro pra te contar.

— Conta, logo vó! Tô muito curiosa.

— A bisa sempre disse que para ser longeva é preciso um projeto de vida. Uma escolha para cuidar dos outros, ser generoso. E se preocupar com o bem estar de todos. E mais, que não pode ficar olhando para o próprio umbigo.

— Esse é o primeiro segredo?

— É sim. Foi o segredo que a bisa me revelou.

E, Ceci emendou logo com a pergunta:

— E o segundo segredo, vó? Quem te contou?

A avozinha, sorriu, fez um silêncio breve e disse o que descobriu pra Ceci.

— O segundo segredo, minha linda, é rir! Rir muito, ser alegre e sorridente.

A alegria faz muito bem a gente. Com bom humor, com paciência a vida encomprida... Pode, até, fazer alguém alcançar os três dígitos de idade!

— E quando a gente tem tristeza, aborrecimento?

— Ah! Boa pergunta. A gente abraça a alegria, com vontade, bem apertadinho pra ela não fugir. E quando a tristeza chega se aproxima, quer agarrar a gente, sabe o que é bom fazer?

— Não, respondeu Ceci, curiosa ainda mais.

— Empurrar, empurrar pra muito distante a tristeza. Xô! Passa fora!

— Vó... e o terceiro segredo?

— Ah! Esse eu ainda não sei, minha querida. Com o tempo vou descobrir. Aí, te conto.

Será que você aprende antes de mim?


Santa Teresa, 26 de janeiro de 2015.

Abraço aos que passarem por aqui.
Maysa

domingo, 25 de janeiro de 2015

PRA NÃO ESQUECER - Maysa Machado


alvorecer da janela .2013/by cel/maysa


















PRA NÃO ESQUECER



                            Maysa Machado


Leva-nos a vida entes queridos
Quase um a um.
Seguem à frente
Por pressa ou cansaço.
Há tempos, meses, dias
Duras tristezas...
Lágrimas não secam a dor
Turvam lembranças.
Até do que tinha morrido em nós!
Amor, ódio ou branda raiva...
Ternura. Tudo brota.
E o que temos pra oferecer?
O que do fundo restou...
O fiapo em que a vida
Num vai e vem
Junta e separa
Sonhos. Esperanças.

Santa Teresa, 25 de janeiro de 2015.

Quando alguém querido parte fica o vazio da vida consumida dentro de nós. O tempo aliado à pressa, que nos transpassa ajustam perdas.Viver é perceber o que se pode transformar...
Abraço carinhoso.
Maysa

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

A COLCHA DA VOVÓ - Maysa Machado





















A COLCHA DA VOVÓ


                            Maysa Machado


Um trabalho feito com amor perdura por vidas inteiras.
Um gesto de amor atravessa gerações e deixa os saberes como herança.
Essa colcha de crochê foi feita por minha avó, aos 82 anos.
Lembro-me das rodelas que iam sendo colocadas em caixa de linha, uma a uma.
Na segunda etapa reunidas com o bonito entremeio. Foram três colchas. Uma para cada filha: Nila e Hilda.
E a minha, de neta e afilhada.
O mesmo ponto, e cada colcha com 80 rodelas. O espanto juvenil só contava quantas estavam prontas. A vovó conseguiu!
Duzentas e quarenta peças, perfeitas e completas, em suas unidades.
Plenas de significados ao atingirem o estado "colcha".
Dedicação, paciência e o saber requintado compuseram o bem herdado.
Que presentaço!
Uma de minhas três netas vai receber o presente de valor afetivo inestimável.
Ando matutando os critérios. As meninas estão crescendo...
Historias podem ser contadas no silêncio de depois.


Santa Teresa, 16 de janeiro de 2015.

Um abraço carinhoso e Feliz 2015!

Maysa

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

ANO NOVO... NOVO OLHAR... AS COISAS, AS PESSOAS ESTÃO EM QUE LUGAR? E NÓS ONDE ESTAMOS? - Maysa Machado

ANO NOVO... NOVO OLHAR... AS COISAS, AS PESSOAS ESTÃO EM QUE LUGAR? E NÓS ONDE ESTAMOS? - Maysa Machado




ANO NOVO... NOVO OLHAR... AS COISAS, AS PESSOAS ESTÃO EM QUE LUGAR? E NÓS ONDE ESTAMOS?
Maysa Machado
Comprei palmas de Santa Rita para enfeitar a casa. Brancas, no jarro de vidro rosa pálido, da ėpoca de menina. Encantava-me o auto relevo de flores e pássaros. Entretida ia rabiscando o contorno com lápis preto, e ganhava bronca pela repetida ação.
Lembrança antiga das alegrias e preparativos de fim-de-ano na casa da infância.
As pessoas queridas partiram, umas cedo, algumas tiveram tempo de envelhecer. 
Eu, menina, fui ocupando espaços papeis, cresci. Outras pessoas queridas chegaram e partiram.
A cada ano relembro a felicidade simples sentida e perdida, mas pra sempre capturada no vaso de flores e pássaros.
A cada ano renovo a esperança de construir o que precisa ser construído.
Amar a quem precisa ser amado. Deixar-me ser amada, por poucos.
Aceitar que novas pessoas , como o ANO NOVO, assumam papeis, busquem e troquem cumplices afetos comigo.
O ANO NOVO VEM COM A COSTUMEIRA ESPERANÇA. FELIZES DIAS!
Santa Teresa, 30 de dezembro de 2014.





domingo, 21 de dezembro de 2014

MAR - Maysa Machado


fotos by cel maysa machado
  


MAR

                                                                   Maysa Machado



Amo o mar!
Da menina atraída por mistérios
Sabidos e desconhecidos
Medos.
O mar é templo
Pra se aquietar.
Caminho e aventura
Contemplo.
Êxtase, vaievem
Marolando na praia.
Areia molhada morena
Conchas e sonhos
Castelos que o vento desfaz.
Acalma o mar
As tristezas da terra.


Santa Teresa, 18 de dezembro de 2014

A todos que passam por aqui, um verão maravilhoso.
Abraços
Maysa

domingo, 23 de novembro de 2014

BUSCAS - Maysa Machado


foto by cel/ maysa machado outubro de 2014


















BUSCAS


                              Maysa Machado

Prepara-te.
A vida oferece-nos
Batalhas e bonanças
E todos os ventos
Tornam-se arautos...
Quer do amor ou da dor.

Vindos da manhã alta 
O colorido casal de beija-flor 
Espalha alegria em meu coração.
Nesse alvoroço furta-cor 
Beijocaram as brancas florezinhas
Do solitário pé de café.

Voos rasantes, farfalhantes asas
Em canto matinal e sutil
Onde cabe quase toda
Expressão inusitada do amor.


Santa Teresa, 23 de novembro de 2014.


Um Domingo benfazejo a todos que pr aqui passam.
Abraço
Maysa