sexta-feira, 13 de novembro de 2009

DORIVAL CAYMMI - O BEM DO MAR








É um gosto meu, dos mais antigos, a voz de DORIVAL CAYMMI. Suas canções praieiras doces, nostálgicas, misteriosas.
Mas não é lembrança com saudade! É saboreio, como costumo dizer.
Evocativas- as melodias dão-nos a impressão de que estiveram , alí, em nossa memória sempre!Gosto de pequena, desde lá dos meus tres anos. É do tempo que uma rede embala e o vento assobia. Folhas ondulam e compõem uma coreografia... com o passar das nuvens.

A voz de Caymmi quase prescinde de reprodução mecânica, digital do tanto que ela está entranhada na minha alma.
Faz parte de mim, como o ar que respiro. Estando feliz ou triste.

O timbre de sua voz continua pulsando a beleza do mar,o som, o ritmo das ondas e seu espreguiçar na areia molhada.

Tenho a felicidade de ter amigos sensíveis, alguns músicos. Aqui, no Rio, no bairro do Leblon, estão levando um show, só com as músicas do sábio e querido Dorival.
O nome? É esse da canção que postei : O BEM DO MAR.

Quem por aqui morar ou estiver de passagem recomendo assistir este espetáculo de beleza e melodia.. Está na Sala Fernanda Montenegro, na Rua Conde Bernadote. De Quinta à Domingo, apresentando as canções do mar do saudoso e inspirado artista!

Abraços

Maysa












domingo, 8 de novembro de 2009

BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF

Foto Leandro Pimentel/ Leblon
-Rio-1999











Centenário de Nascimento de Beatriz Vicência Bandeira Ryff - Poetisa -Ativista Política




Dona Vivi faz cem anos!

Maysa Machado *




O Leblon é um bairro claro, o sol entra cedo pelas frestas das cortinas de tiras de bambu... A brisa lhe faz companhia. Depois, um vento encanado passeia, sem pedir licença, pelo longo corredor. É comum ouvir-se o estrondo das portas... Que nos tira o sossego.
Está quieta em seu canto. Deitada no quarto, a cabeça no sentido contrario à porta de entrada, voltada para as ondas do mar.
O espaço pouco que ocupa... menor fica com o passar do tempo. Não diria que definha.
Desvanece.
Está quase nuvem. Branquinha, como num céu bem azul e luminoso, independente do movimento dos pássaros, do farfalhar das palmas dos coqueiros, lá onde o asfalto se perde em areias e depois vira mar imenso.
Seu sorriso não aflora constante; nem há sinal das angústias, tantas, sentidas pela vida nas muitas lutas que travou.
Seu rosto é expressivo, contém viço e boniteza. Rugas? Pele sulcada por elas? Não, ali não residem, não fizeram nenhum estrago no semblante, ainda, altivo.
Está serena, desligando-se aos poucos do fio - terra que a mantém viva.
Que fio será esse? Cada um tem o seu.
O dela dura um século. Medem-se os sonhos, perdas, dores... Mede-se, também, uma invencível determinação tecida em poesia e alguns travos de amargura.
Tem a aparência cuidada. A dignidade a acompanha, pois, nada pede ou precisa.
As sombras lhe cobrem, dia e noite, o horizonte, mas disso não reclama. Uma vez que escolheu a treva progressiva.
No silêncio vive. Dá-nos a impressão que assiste sua história, numa tela em que as imagens, antes indeléveis, agora se esfumam, com suavidade e, não deixam qualquer possibilidade de serem mostradas de novo.
Há economia dos movimentos... É preciso não mexer com quem está quieta! Frase ouvida várias vezes, nos últimos anos, acompanhada de um sorriso maroto.

Nos primeiros anos de convivência, minha curiosidade era aguçada, por uma faiança pendurada à porta de seu quarto. O ladrilho, em fundo branco, transcrevia um adágio italiano. Nele, a mulher vista sob o interesse masculino, relacionado às suas idades - dos 20 aos 60 – e comparando-as aos 5 continentes.
Um convite perigoso, quase um desafio para as mais jovens; desdenhava o passar dos anos, com encanto.

Nós duas aprendemos que o tempo pode ser cultivado.
Em nossos encontros li, para mútuo deleite, uma edição das Cartas de Graciliano Ramos - seu querido amigo, as crônicas leves e bem-humoradas de Rubem Braga, os textos densos de Nélida Piñon, Lygia Fagundes, Cecília Meireles.
Em todos esses momentos acrescentou reflexão lúcida, fresca, interessante.
Com imensa sensibilidade respirou o ar delicado de seus poemas e, renovada, os recitou de cor.
Por gosto cantamos.
Antiga professora de música e de técnica vocal, do Conservatório Nacional de Teatro, foi relembrando canções do folclore amazônico, as de Waldemar Henriques, como Tamba-Tajá; as canções imperiais na obra de Carlos Gomes - Tão longe de mim distante; as Bacchiannas de Villa-Lobos; algumas canções praieiras de Caymmi. E, da MPB, do seu preferido Paulinho da Viola, repetiu momentos cantarolando que Viver não é brincadeira não...

Muito tenho aprendido com as histórias e lições de sua vida. Da militância comunista, às prisões políticas, ao exílio em dois períodos distintos de ditadura em nosso país.
Gosto de sua poesia. E, acho pitoresca sua opinião irredutível, prefere ser chamada POETISA e jamais poeta!

Nossa intimidade foi uma construção difícil. Um tempo longo nos atravessou, mas o mesmo tempo trouxe-nos como fruto maduro, de nossas vivências, o que pode ser chamado: apaziguamento. Tornamos-nos amigas.

Vivi, Beata, outros apelidos tem, mas é no seu próprio imaginário a Beatrice, de Dante. Faz pouco o declamava no original.

Dichoso cumpleaños, señora!
Mamá hace cien años.

**************

• Beatriz Vicência Bandeira Ryff, carioca, do Méier, nascida em 08.11.1909. Uma mulher brasileira que se dedicou à causa da transformação política e social em seu país. Participou de distintos momentos históricos pela luta a favor das liberdades democráticas, dos Direitos Humanos e, por mais de oitenta anos, o fez a cada dia.
• Presa política no período da ditadura Vargas, companheira na Cela Quatro, com Nise da Silveira, Maria Werneck e outras corajosas companheiras. Inclusive Olga Benário.

• Exílios na Argentina, Uruguai (1936/37). Asilo na Embaixada da Iugoslávia 1964. Exílio na França - durante o Golpe de 64/67


• Vivi – apelido de criança, dado por seu amado pai. Alípio Abdulino Pinto Bandeira, militar do exército, indigenista, companheiro do Mal. Rondon.

Perguntei se gostava de ser chamada assim. Respondeu com um sorriso feliz no rosto:
- Gosto muito!
Uma pausa e, acrescenta:
- Não esqueço o que fui!


• Beata – apelido dado por seu marido jornalista Raul Ryff, falecido em julho de 1989. Foram casados por mais de cinquenta anos.
Tiveram três filhos. Vitor Sérgio, jornalista (falecido), os gêmeos: Luiz Carlos (Físico) e Tito Bruno (economista).
Seus descendentes:
Oito netos: Patrícia,Luiz Antonio, Fabiano,Carlos Eduardo, Júlia, Luiz Rodolfo, André e João Alberto.
Cinco bisnetos:
Maria Beatriz, Ana, Raul,Cecília e Lara.

• Uma das fundadoras do Movimento Feminino pela Anistia e Liberdades Democráticas-RJ.


* a autora é socióloga e foi nora de Beatriz.




Santa Teresa, 8 de novembro de 2009.

Abraços ao que passarem por aqui.

Maysa







sexta-feira, 6 de novembro de 2009

POR DO SOL EM IPANEMA







Foi assim, sem muita cerimonia. Quarta-feira às 5 da tarde dispensei o mordomo e o chá ingles.

Troquei o vestido de alças pelo maiô, de estampado primaveril, completei o ritual antigo com uma saída branquinha, que só!

Pronto, voltei aos dezessete, aos vinte , aos trinta. Nenhuma maquiagem ou efeito especial... meu coração, apenas, querendo celebrar a vida, uma secura de onda do mar batendo no corpo!

Fui caminhando pelo calçadão de Ipanema, meus olhos degustando a paisagem que nunca envelhece...Ah! e a brisa úmida, a areia molhada? O prazer reencontrado de carioca que esnoba multidão, pressa, e outros senões que os balneários costumam devolver aos que nascem e moram em suas praias.

Fico um tempão achando que minha praia é outra! Mas se a saudade bate, não tem explicação:

Começo querendo ver, depois, a necessidade de ficar perto e mais adiante o desejo do contato físico . Ah! Ser carioca é um pouco isso. Ter a sofreguidão pelo mar, ser do mar.

Vi meu querido e misterioso amado, ouvi sua conversa reservada e para poucos, até suas zangas barulhentas batendo na areia.

O sol dominando no alto do céu, veio baixando para reverenciar tanta beleza, aqui onde os olhos nem alcançam.

É Primavera mas o horário é de Verão! Que combinação mais caliente.
Viva o Rio, minha cidade . Viva o mar, esse mistério sem fim! Viva a beleza de um Por do Sol no meio da semana.

Um abraço para os que passam por aqui.

Maysa

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

QUANDO UM AMIGO SE VAI


É como uma noite muito escura, sem brilho algum no ceu.

A gente espreita o caminho. A gente tateia, para não esbarrar em corpos, objetos...ocultos pelas sombras. Procura compensar com os outros sentidos o que a visão não nos aponta. Tem-se a sensação de perda misturada como a de um súbito desequilíbrio físico. Tonteira, mal estar, tristeza. Lágrimas nem sempre vem nos acompanhar. O olhar fica ausente. Deixa-nos e passeia pela memória do que já não é.

O estranho é que se o amigo(a) mora longe, nesse dia v. acorda diferente, com uma angustia , um desconforto.

Para a partida definitiva resta-nos o consolo da bela amizade vivida. Dos momentos de dedicação, alegria, generosidade. E a lembrança que caminhará conosco e alimentará nosso espírito.

Um querido amigo se foi. Se pudesse estaria , na hora da despedida, retribuindo todo o carinho que recebi . Que a paz esteja com ele. Um homem digno, patriota, com o compromisso de ser e fazer quem se aproximasse feliz.



Bom dia, amigo
Que a paz seja contigo
Eu vim somente dizer
Que eu te amo tanto
Que vou morrer
Amigo... adeus

Vinícius de Moraes

Abraços para quem por aqui passar.
Maysa

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

FABRÍCIO CARPINEJAR - POETA







Hoje, o poeta faz aniversário. É um jovem nascido em 1972. É bom poeta. Eu gosto.

Irreverente, sensível, desconcertante.
Original.

Recebeu neste ano de 2009 - Prêmio Jabuti/2009, edição 51ª, da Câmara Brasileira do Livro, na categoria Contos e Crônicas, com Canalha!

Visitem seu site, o link está destacado à direita, na parte superior do'O Ninho. Recomendo.

Bom, aos poemas e feliz cumpleaños!

Poema do livro Terceira Sede
Décima elegia

Só na velhice o vento não ressuscita.
A água dos olhos entra na surdez da neve
e escuta a oração do estômago, dos rins, do pulmão.

O sono desce com a marcha dos ratos no assoalho.
Tudo foi julgado e devemos durar nas escolhas.

Só na velhice os grilos denunciam o meio-dia.
O exílio é na carne.

Esmorece o esforço de conciliar a verdade
com a realidade.
A neblina nos enterra vivos.

Só na velhice o pó atravessa a parede da brasa,
o riso atravessa o osso.
Deciframos a descendência do vinho.

Os segredos não são contados
porque ninguém quer ouvi-los.
O lume raso do aposento é apanhado pela ave
a pousar o bule das penas na estante do mar.

Só na velhice acomodo a bagagem nos bolsos do casaco.
O suspiro é mais audível que o clamor.

Recusamos o excesso, basta uma escova e uma toalha.

Só na velhice os músculos são armas engatilhadas.
O nome passa a me carregar.

É penoso subir os andares da voz,
nos abrigamos no térreo de um assobio.
Pedimos desculpa às cadeiras e licença ao pão.

O ódio esquece sua vingança.
Amamos o que não temos.

Só na velhice digo bom-dia e recebo
a resposta de noite.
Convém dispor da cautela e se despedir aos poucos.

Só na velhice quantos sofrem à toa
para narrar em detalhes seu sofrimento.

O pesadelo impõe dois turnos de trabalho.
Investigo-me a ponto de ser meu inimigo.

Sustentamos o atrito com o céu, plagiando
com as pálpebras o vôo anzolado, céreo, das borboletas.

Só na velhice há o receio em folhear edições raras
e rasgar uma página gasta do manuseio.
Embalo a espuma como um neto.

Confundimos a ordem do sinal da cruz.
O luto não é trégua e descanso, mas a pior luta.

Só na velhice a forma está na força do sopro.
Respeito Lázaro, que a custo de um milagre
faleceu duas vezes.

O medo é de dormir na luz.
Lamento ter sido indiscreto
com minha dor e discreto com minha alegria.

Só na velhice a mesa fica repleta de ausências.
Chego ao fim, uma corda que aprende seu limite
após arrebentar-se em música.
Creio na cerração das manhãs.
Conforto-me em ser apenas homem.

Envelheci,
tenho muita infância pela frente.
ooo

Visitem o site do Fabrício, vão gostar!
Abraços

Maysa




domingo, 18 de outubro de 2009

A POESIA em VIVIANE MOSÉ





Procurando poemas que digam o que sinto, me encantem e reencantem o dia-a-dia , por instantes, insípido...Lembrei de uma poeta, capixaba, que vive e cria aqui, no Rio. Não tenho, ainda, nenhum dos seus livros de poesia, mas os recomendo. Já a ouvi dizendo... e, seus poemas entranham primeiro na carne, vão se grudando na alma e depois no pensamento.

Seu nome: Viviane Mosé .

Descobri, aqui, os dois poemas reproduzidos abaixo. Espero que gostem!

Toda Palavra


Procuro uma palavra que me salve
Pode ser uma palavra verbo
Uma palavra vespa, uma palavra casta.
Pode ser uma palavra dura. Sem carinho.
Ou palavra muda,
molhada de suor no esforço da terra não lavrada.
Não ligo se ela vem suja, mal lavada.
Procuro uma coisa qualquer que saia soada do nada.
Eu imploro pelos verbos que tanto humilhei
e reconsidero minha posição em relação aos adjetivos.
Penso em quanta fadiga me dava
o excesso de frases desalinhadas em meu ouvido.
Hoje imploro uma fala escrita,
não pode ser cantada.
Preciso de uma palavra letra
grifada grafia no papel.
Uma palavra como um porto
um mar um prado
um campo minado um contorno
carrossel cavalo pente quebrado véu
mariscos muralhas manivelas navalhas.
Eu preciso do escarcéu soletrado
Preciso daquilo que havia negado
E mesmo tendo medo de algumas palavras
preciso da palavra medo como preciso da palavra morte
que é uma palavra triste.
Toda palavra deve ser anunciada e ouvida.
Nunca mais o desprezo por coisas mal ditas.
Toda palavra é bem dita e bem vinda.




Desato


É preciso fritar o arroz bastante antes de jogar água fervendo.
E não pode mexer jamais depois de a água ser posta.
O alho deve fritar no óleo junto com o arroz.

Coisas que eu sei e que não. Eu sei muitas coisas.
Faxina por exemplo. Sei limpar uma casa de tal modo
Que não sobra um canto que não tenha sido tocado
Por minhas mãos.
Depois vou sujando. Com muito gosto.
Deixo peças na sala e louças sujas na pia.
Não na mesma hora mas um pouco
Bastante depois volto limpando.
Assim me faço.
Nos objetos que me acompanham.

Gosto de andar nas ruas e comprar coisas
Que vão se arrumando em torno de mim.
Tenho muitas coisas, quero dizer, tenho muitas camadas.
Uma camada de livros outra de sapatos.
Tem a camada de plantas. E toalhas de rosto.
Tenho camadas de cosméticos e de adereços.
Uma camada de nomes e de coisas que vejo.
Tudo ordenado ao meu redor. Em forma de corpo.
Um corpo que me sustenta quando o meu próprio me falta.

Cadeiras são meus ossos. Sapatos são meus braços.
Torneiras em meus poros. Paredes como roupas de inverno.
(Quando toca música em minha casa sai do umbigo)

Descanso recostada nas paredes da casa
Que me guardam como um abraço.
Me abraço quando me derramo na sala.
E na cozinha. Em geral adormeço no quarto.

Tudo em minha casa tem existência.
Todas as coisas significo.
Com os olhos. Ou com as mãos.
Minha casa tem silêncios
Que ás vezes ouço. Em meu corpo
Tem silêncios maiores ainda.
Que às vezes ouço. E faço poemas.
Faço poemas dos silêncios que ouço.

Então? gostaram? Viviane, além de poeta, é filósofa. Tem ou não a fala sensível e inteligente, de todo ser humano instigante e provocador? Felizmente, não precisa de nenhum traço arrogante para se dizer gente !

Abraços de Domigo para quem passar por aqui!

Maysa


terça-feira, 13 de outubro de 2009

EDUARDO GALEANO - O LIVRO DOS ABRAÇOS






Um assunto que sempre me interessa: A memória.

Memória e desmemória caminham, uma não vive sem a outra. No meu caso particular, lido com as sequelas, tenho muitas zonas de esquecimento, provocadas pela ação da ditadura, que atingiu o nosso país, nos idos do final dos anos sessenta. Fazem um estrago na minha memória. Recuperar as lembranças é uma tarefa diária. Penosa, e que traz muita insegurança, desconforto... alguns constrangimentos. Vivi ou não vivi? Em tal momento, ou data, em que lugar estava? Com quem?Há os que querem esquecer!
Digo, há muito, que tenho um queijo suiço em áreas específicas do meu cérebro. Bem, na vida vivida, sou normalzinha, mas um tanto desligada, como dizem os filhos!
Talvez por instinto de sobrevivência, digo eu! mas é alto o preço!

Andanças aqui e acolá, livrarias e lembranças...me entrego, atualmente, ao LIVRO DOS ABRAÇOS, do Eduardo Galeano.

Memória como coisa viva!
Ontem, conversando com uma querida amiga, nonagenária, militante de esquerda durante toda sua vida, ouvi dela esta frase:

A memória é a alma da gente!

Concordei de imediato e em homenagem a tantas lembranças e acontecimentos, que sucedem em nossas precárias e passageiras vidas, reproduzo, aqui, um texto do livrinho especial que Eduardo Galeano nos legou.

O tema de hoje , então, fica para a delicadeza e apuro com que a vida e suas manifestações, em nós, registram-se, transformam-se e, nos transformam.
Voltarei ao assunto, prometo.
" A Ventania

Assovia o vento dentro de mim.
Estou despido. Dono de nada, dono de ninguém, nem mesmo dono de minhas certezas, sou minha cara contra o vento, a contravento, e sou o vento que bate em minha cara."


In O Livro Dos Abraços, Galeano E.. Ed.L&PM POCKET, vol. 465. segunda edição 2005. reimpressão 2009
Bjs
Maysa

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

CHET BAKER -




Preciso da solidão.

Não falo de sua visita quer cotidiana, quinzenal...ou de improviso!
Deixo com vocês a revelação: Ela existe em mim.
Acredito que em nós, portanto, deve ser mais fácil conviver com algo que nos constitui, mesmo que não saibamos como!

Um direito, bem parecido e,constantemente, ignorado:o silêncio! Desligamos do que está à volta, nos ensimesmamos. Ô palavrinha...de sentido tão intrigante.

Em criança via minha mãe quieta,protagonista de seus desejos e sonhos, que nunca nos foram comunicados. Alma especial àquela. Sorte minha, ter sido ela a mãe!
O mistério talvez, seja mesmo a essencia do que chamamos: Viver!
Costumo habitar minha solidão, ou deixá-la habitar em mim, ouvindo música; vendo paisagens reais ou imaginárias; lembrando de pessoas queridas, distantes ou que já partiram...
Sem nostalgia alguma, acreditem!
Então, ouço um dos preferidos meus. Espero que também gostem!





Esta postagem é feita, também, em homenagem ao ótimo blog sobre jazz, que acompanho e vocês devem fazer o mesmo: Jazz+Bossa+Baratos Outros

Bjs nesta sexta
Um bom feriado prolongado!
Maysa

terça-feira, 6 de outubro de 2009

MERCEDES SOSA - LA NEGRA


O silêncio é bom companheiro.
Peço -lhes, apenas, que imaginem o quanto a arte de Mercedes Sosa elevou, com pujança, nossos sonhos, ideais de solidariedade, amores.
Como a solidão, nossa de cada dia, ficou bem acompanhada por seu canto.
Viva Mercedes Sosa!
GRACIAS A LA VIDA









Beijos
Maysa

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

ERNESTO - NOSSO QUERIDO - CHE GUEVARA





O que se pensa, hoje, ao lermos estas frases ?

Se você é capaz de tremer de indignação a cada vez que se comete uma injustiça no mundo, então somos companheiros.

Acima de tudo procurem sentir no mais profundo de vocês qualquer injustiça cometida contra qualquer pessoa em qualquer parte do mundo. É a mais bela qualidade de um revolucionário.

Conhecem muita gente que diga o que sente,viva como sente e doe sua vida para um mundo melhor?
A minha geração conheceu, o dono das frases-pensamentos-ação: CHE GUEVARA
Desde sua morte, assassinato covarde, passados mais de quarenta anos, sabemos: Existem pessoas, onde me incluo, que continuam desejando um mundo diferente, onde o ser humano viva com dignidade e seja respeitado por todos.
CHE sempre viverá, seu espírito transformador, sequioso por justiça e ternura reaparece para apagar os breus que a ganância entre os homens cria.
Trago dois poemas,dedicados ao CHE, um de Júlio Cortázar, escritor argentino e do mundo, como ele; outro de Eduardo Galeano. Ambos voltados para o valor de CHE em nosso explorado continente: a América Latina


Che
Eu tive um irmão
Não nos vimos nunca
mas não importava.

Eu tive um irmão
que andava na selva
enquanto eu dormia.

O amei ao meu modo,
lhe tomei a voz
livre como a água,
caminhei às vezes
perto de sua sombra.
meu irmão desperto
enquanto eu dormia.

Meu irmão mostrando-me
por detrás da noite
a sua estrela eleita.

Júlio Cortázar (Argentina)




O Nascedor

Por que será que o Che
tem esse perigoso costume
de seguir sempre
renascendo?
Quanto mais o insultam,
o manipulam
o atraiçoam, mais renasce.
Ele é o mais renascedor de todos!
Não será porque o Che
dizia o que pensava,
e fazia o que dizia?
Não será por isso, que segue
sendo tão extraordinário,
num mundo em que
as palavras e os fatos
raramente se encontram?
E quando se encontram,
raramente se saúdam,
porque não se
reconhecem?

Eduardo Galeno (Uruguai)
//////////

Quando soube da morte de CHE, morava em S.Paulo. A dor, de qualquer perda, num lugar no qual não temos raízes parece maior. Se somos jovens,como no meu caso, foi incomensurável.
Os anos de chumbo aqui,no Brasil, corriam ameaçadores. Aquela jovem mulher, não podia comentar com estranhos sobre seus sentimentos, perdas... a sua dor.
O outro diário de CHE era o título da matéria. Calou-se. Por todos os "motivos" do absurdo cotidiano.
Entretanto, sublimou, fazendo sozinha um pequeno poster, enquadrando um ângulo da capa da revista, com a foto em sépia do jovem e destemido ídolo. Colocou num chassis, encomendado na marcenaria mais próxima e pendurou na parede.
Costumo dizer que ele é o homem mais permanente em minha vida. O que mora comigo há mais tempo. Da parede, sua vida, luta, seus sonhos nunca são esquecidos por mim. Dos sonhos que, ainda, acalento e ... continuam silenciosos são testemunhados por sua expressão de esperança enevoada pela baforada do charuto... quase presente! E, sua boina negra serve para aquecer o frio, quando este atinge a alma.
Na data de hoje, 43 anos após, posso dizer que os versos de Eduardo Galeano e os de Julio Cortázar traduzem os meus sentimentos.

Esperança e orgulho por ter vivido, na mesma época em que ERNESTO CHE GUEVARA, atraiçoado em "la Quebrada del Yuro", Bolívia.
Se querem relembrar mais podem clicar http://www.guevara.com.br/

Bjs
Maysa

PS: Ontem ,dentro da MOSTRA do FESTIVAL de CINEMA do RIO, assisti ao filme A PRÓXIMA ESTAÇÃO, de FERNANDO SOLANAS, cineasta argentino, que sempre sensível e atento, transforma sua arte numa possibilidade para novos entendimentos e horizontes de reflexão, sobretudo dedicada aos jovens.
Trata do desmonte do Estado Argentino, focalizando o sucateamento criminoso da malha ferroviária, pelos grupos nacionais e internacionais à serviço da ganância do sistema capitalista. Seus autores impunes, o desrespeito ao patrimonio do povo trabalhor e consciente de uma NAÇÃO. Algo, que nós, também aqui testemunhamos ...silenciosos demais!