quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

LACUNAS, SÍNCOPES, DESMAIOS DO SER

foto maysa/2008




LACUNAS


Maysa Machado


Lacunas... É sempre possível preenchê-las!

As minhas tento com a poesia. Os amigos,os afetos!

Há quem já não possa. O que fazer?

Reconhecer a impermanência das coisas e das pessoas!Ter paciência.

O resto são aprendizagens, e vôos solos, em liberdade!

Ah! lembrem-se das síncopes, que na música significam o prolongamento do som.Isso só acontece, entre notas iguais...

Não esqueçam o deslocamento da acentuação do som, no contratempo, é ouvido nas pausas.

Viver é tentativa maravilhosa de ser! É vertigem! É desmaio! É ritmo peculiar.

Um afetuoso abraço

Maysa



terça-feira, 15 de fevereiro de 2011

LAVOURA ARCAICA - RADUAN NASSAR

















O Rio é uma cidade tão especial... Se examinarem essa afirmação, ela será confirmada, em vários aspectos. A programação cultural invade o nosso dia-a-dia.

Habituada a ler o Caderno PROSA E VERSO, aos sábados, n’O GLOBO, encontrei maravilhada a proposta de um ciclo de leitura com o crítico e colunista do Caderno, José Castello e a psicanalista Maria Hena Lemgruber.

A obra a ser lida, em voz alta – LAVOURA ARCAICA, de Raduan Nassar, está entre as mais expressivas da literatura brasileira do século XX.

No Espaço SESC, em Copacabana, começou – ontem – esta aventura coletiva: A oficina literária EXTREMOS.

Um mergulho profundo, angustiante e cheio de beleza, através do texto de Raduan. Poesia em prosa.

Ritmo vertiginoso que ponteia o texto lírico e cortante.

O público atento parece bastante variado tanto em sua origem profissional quanto nas faixas etárias.

O livro é contado na primeira pessoa, por um narrador – André, o personagem principal. A dureza do tema fica almiscarada nas metáforas poéticas que permeiam o texto.

Ontem, páginas foram lidas e comentadas, a platéia participando com interesse e tecendo conjeturas, sobre as possíveis marcas autobiográficas, escavadas no texto.

Hoje tem mais, amanhã e na quinta também.

Fica no ar a pergunta: O que é a literatura?

Programa comovente e inteligente!

Das nossas angústias existenciais sobre o tempo, a vida, a morte, a sexualidade, a fé... Fazemos, enquanto lemos um balanço crítico e bem honesto! Espero.

A oficina tem entrada franca e acontece dos dias 14 a 17 de fevereiro. No período de 19 h 22 h.

Um abraço

Maysa

Lavoura arcaica

De Raduan Nassar - Ed. Companhia das Letras, 3ª edição revista pelo autor pp.194. 1989

Prêmios Recebidos:

-'Coelho Neto' da Academia Brasileira de Letras;

-'Jabuti' da Câmara Brasileira do Livro

-'Revelação' da Associação Paulista dos Críticos de Arte.

Foi feita uma adaptação cinematográfica em 2001.

sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

MEU MAR DE CRIANÇA - MAYSA MACHADO

Rio/penhasco da niemayer/foto maysa/ abril de 2010






MEU MAR DE CRIANÇA



Contaram-me que em todo amor

tem o tempo da espera

do desespero

da desesperança.

Inda assim

deixa eu te amar

serena e, fundamente

como o mar ...

de meus dias de criança.

Distante e perto mistério

por ele, por ti,

vivo atraída.

Tão fundo sentimento

Até parece verdadeiro.

Quimera?

Inda assim não fujas!

Conversas tolas

não existem... São só apelos!

São vielas para deixar

a essência do amor ficar.

Dias, noites, lembranças

entregas, desejos

miragens misturadas

à esperanças.

Barra, 11 de fevereiro de 2011


Um abraço carinhoso

Maysa

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

4 ESTAÇÕES - WILSON JEQUITIBÁ


foto maysa/rio/2010











4 Estações




Nas estações do tempo descobri que o cantar faz o sol e os ventos se olharem mais, que as estrelas têm dentro de si camaleões que as tornam invisíveis de dia. Na primavera percebi que o cheiro das nuvens lembra a minha infância, um lugar repleto de cores, sensação de pés descalços e sabores de frutas.

No verão, senti o que era calor, mas isso não deixava os dias ruins. Nesse tempo aprendi a nadar, abraçava o mar e ele me abraçava também, assim, não afundava nunca. O grande segredo para saber nadar bem é abraçar muito bem a água.

No outono, vi que o céu tinha mais cores ao entardecer. Cores e mais cores que lembravam os sorvetes que Seu Pedro vendia na cantina. Depois, aprendi com a professora - cujo nome me escapa - um nome bem bonito para isso, lusco-fusco. Desde então, olhar o céu a cada outono é, para mim, deliciar-me com gostos de sorvetes, os mais variados e exóticos, beterraba com chocolate, berinjela com limão e assim por diante, estranhos em combinação, mas deliciosos de sabor.

No inverno, pude aprender a importância da palavra “afeto”, de tanto receber carinho enquanto ouvia as mais belas histórias sobre heróis da mitologia, monstros do mar e do céu. Percebi também a ausência das formigas em meu quarto durante as brincadeiras de construir castelos. Não havia mais nenhum habitante em meu reino! Só depois entendi por que elas tinham sumido, coisa de ciências, de documentário científico, aqui não cabe explicar...




Wilson Jequitibá, autor deste texto, é um homem sensível, estudioso. Jovem com muitos planos e sonhos. É, mais que tudo, um artista e um pesquisador. Faz oficinas de Arteterapia ,e nos conhecemos participando de grupo, ano passado, numa Oficina sobre Literatura Infanto-Juvenil. Desejo,ardentemente, que ele desenvolva todas as suas potencialidades criativas.

Aos que por aqui passam meu abraço suave.

Maysa

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

DESEJOS INESPERADOS!






Ah! quanta vontade de ouvir um fado, um chorinho, um blues...a Maria Callas! o Tom...zinho, o Vina.... o Paulinho.
Excentricidades do verão! Ficar sem ouvir música dá nisso!
Desejos inesperados que eu diria caminhando para os desesperados!!!

(Sábado próximo tudo volta ao lugar, simples assim! e meus ouvidos agradecerão a benção de ouvir música! de postar neste bloguinho meus youtubezinhos favoritos. Aff!!)

Abraços para os que passam!

Maysa

domingo, 6 de fevereiro de 2011

QUEM INVENTOU O AZUL?

foto/maysa/fev 2010





QUEM INVENTOU O AZUL?

Maysa Machado


Lindos dias. Buenos dias!
Amanhece azul.
... Clarinho.
Depois ... Ajudado pela brisa
Fica leve... Esvoaça.
Como um véu de noiva
Quando passa.
Azul que voa!
Nas asas da nuvem pássaro.

Verão. Domingo. Rio.
Celebro tudo
Vida. Amor. Nascimento.
Verão. Domingo. Não sei onde.
Apago tudo
Morte. Dor. Nãos.
Ausências. Silêncio.
Dou fim ao
Esquecimento.
.....................
Você existe
O azul mora
Dentro de mim.

Santa Teresa, 06.02.2011

Abraços de Domingo.
Maysa

sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

REFLEXÕES E ABSINTO





REFLEXÕES E ABSINTO


Maysa Machado



Muita vez é melhor não encarar a dor! Como fugir? Gemendo ora! Gema alto proteste e siga, não desista! Não morreu se fortaleceu.

Aceite as notícias tristes, perdas e silêncios... A vida é tecida assim! Ausências de fora e de nós, em nós. Tramas cruas, fortes.

Ah! Vida... Melhor seguir tirando, ensinando e nos fazendo de eternos aprendizes! Cada instante não se repete mesmo. A exaustão, só frases!

Vida com muitos sentidos, e muita vez sem nenhum significado!

Amarga e tóxica como o absinto!

Prá em outro tempo ser leve, doce, amável.

Em qual frasco a gente encontra a essência de vida?

Sempre única e fugaz.

Percepções que Maria, a protagonista de Último Tango em Paris, em sua morte prematura deixa à nossa geração, que a viu nua, jovem, triste e bela nas telas, com Brando.

Nudez longe de ser apenas imagem de beleza palpitante, incluía a vida, a morte, a dor. O medo de amar.

Bertolucci ao dirigí-los narrava em off, sem prever, os destinos trágicos dos dois atores para além de seus personagens.

Indagações coloquiais pungentes assaltaram nosso existir clamando por mais independência e liberdade, bem acima dos padrões da cultura ocidental da época.

A identidade dos amantes, nunca revelada, continuava a fervilhar como um vazio, um buraco que nunca se completaria.

Até hoje amor e sofrimento disputam na velocidade dos acontecimentos, e na parcimônia dos afetos, um só lugar.

A nós, que remanescemos, cabe nova indagação... A cada dia, e nenhum remanso.

Um abraço

Maysa

quarta-feira, 2 de fevereiro de 2011

IEMANJÁ - RAINHA DO MAR







Esta manhã caminhando por rua do Centro do Rio, próxima ao Passeio Público, ouvi cânticos e os sons de atabaques.

Surpresa não atinei logo. Coincidiu com o bater dos sinos da velha Igreja de NSª do Carmo, da Lapa.

A data e sua festividade têm manifestação recente em ruas de nossa cidade. A maior expressão do culto à Rainha do Mar se dá, como todos sabem, na despedida do Ano. Os adeptos do candomblé e todos que admiram a beleza comparecem.

O frenesi, o entre e sai em todas as praias, quando as oferendas são entregues é mesclado com a devoção respeitosa e doce que IEMANJÁ desperta.

Tentei uma espécie de reciclagem mental... Matinal.

Teria eu me transportado para Salvador? A imagem desfilava em carro aberto, feito os dos trios elétricos! Um pequeno cortejo de pessoas vestidas de branco acompanhava e cantava, oferecia flores.

A última badalada do sino me situou, auxiliada pelo relógio digital que informava em exatos minutos e segundo: 11 horas.

O Rio ainda é bucólico! Por átimos, mas é...

A singela manifestação cativou meu coração distraído, porém atento aos momentos em que o uso do espaço urbano é exercido, com descontrole, muitas vezes recebendo o apoio das autoridades.

O cortejo seguia bem diferente sim, pois não costuma assolar quarteirões, não trazem ônibus fretados nem milhares de pessoas acorrendo aos locais aprazados. Há uma suavidade em sua constituição. IEMANJÁ - A MÃE DOS ORIXÁS - É DOCE E SERENA.

Nada contra religiões em suas diversidades e representações aqui na terra. Os macro-cultos orquestrados por homens, poderosos formadores de opinião pública, bem poderiam ser tocados por esta singeleza que me tocou!

O planeta e os viventes nas grandes cidades nas horas de oração precisam de muito pouco, quase nada. Além do silêncio que é uma forma de oração...
Flores, cânticos, ritmos e alegria de estar vivo nesse mundo, apesar dos homens gananciosos que nela habitam.

Ah! Um pequeno detalhe que poderá ajudar a exaltar o ambiente de momentâneo júbilo:

Buzinas são os sinais da impaciência das grandes cidades! Ouçam os sinos.Não as usem. Guardem-nas na próxima homenagem à IEMANJÁ.

Ela é a Rainha do Mar passeando em seu dia de Festa!



Um carinhoso abraço a todos

Maysa

segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

TECENDO A MANHÃ - JOÃO CABRAL DE MELO NETO






Tecendo a Manhã





1


Um galo sozinho não tece uma manhã:
ele precisará sempre de outros galos.
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem
os fios de sol de seus gritos de galo,
para que a manhã, desde uma teia tênue,
se vá tecendo, entre todos os galos.


2


E se encorpando em tela, entre todos,
se erguendo tenda, onde entrem todos,
se entretendendo para todos, no toldo
(a manhã) que plana livre de armação.
A manhã, toldo de um tecido tão aéreo
que, tecido, se eleva por si: luz balão.


(A Educação pela Pedra)



Palavras - A arquitetura precisa e mágica de João Cabral de Melo Neto!

Abraços

Maysa

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

FÉRIAS, CRIANÇAS, SURPRESAS DELICADAS





Ontem, passei a tarde e início da noite em muito boa companhia - Ana e Raul - os netos do Leblon.

Faltou um violão para brindar essas férias, acompanhar esses encantos... Nas próximas providencio!

Vi e ouvi, ao meu redor, tanta expressão de gente criativa... Crianças, sobretudo!

Na piscina uma avó, como eu -só que muito mais sabida- convidava o neto, de uns 10 anos, para conversar debaixo d’água. Assim fizeram e riam, riam, voltavam à tona... E eu, boquiaberta, expiava, aprendia. Mágica e lúdica essa tal cumplicidade do afeto.

Imaginem-se fazendo o mesmo convite! Imaginem a cara de alegria do pequeno rapaz... E da avó! Imaginaram?

Eu, por meu lado, queria logo mandar a originalidade passear e copiar, reinterpretar aquele momento inesquecível para ambos.

Crianças tiram... E nos dão fôlego! Brilhos de vida.

É bem verdade que esses encontros, também, nos despertam para os limites e os nãos que o passar dos anos traz.

Minha neta é uma lourinha serelepe, dinâmica, inteligente, linda e muito levada!

Sensível é capaz de aquietar-se a um canto, olhando a paisagem, curtindo a tristeza de ficar de fora de uma brincadeira entre amiguinhas da mesma idade. Entretanto, toma-me alegria completa, ao vê-la pendurada num cipó, balançando e fazendo estrela, depois subindo numa amoreira próxima. O perigo logo se instala, e quase enlouqueço pedindo que desça, desista de capturar a simples e delicada frutinha negra, e ela... Continua subindo. Apelo, sorrio, seduzo... Nada faz a intrépida descer!

Apelo, dessa vez, para a pressão alta! O local já está ermo, sem visitantes ou funcionários. Descubro um jeito de oferecer-lhe a deliciosa frutinha e evitar o provável tombo.

- Desce! Vou balançar os galhos!

Dá resultado. A grama fica pintada de pontinhos escuros e vamos abaixadas, colhendo, comendo!

- Vó, como você é preocupada...

Saio com a coluna em frangalhos... O coração em festa de arromba!

Ficaria, por aqui, contando mil histórias de vó! Mas a que deixo com vocês é de matar de rir...

Quase finda a expedição lá pros cafundós do maravilhoso clube, dentro da lagoa Rodrigo de Freitas, ela passa a me reapresentar sua árvore e a de seu irmão, que foram crescendo junto com eles. Com a primeira, delicada e graciosamente, dança um tango, conversa. Com a segunda, informa:

-Vovó a palmeira do meu irmão ficou grávida e deu filhote: É essa aqui do lado!

Banhos tomados. Vovó pede xampu emprestado, um autêntico conversê entre meninas, recolhidas as tralhas e apetrechos aguardo... Paciente até que todos estejam prontos.

Vem então o menino encantado, doce, amoroso e ardiloso. Pergunta, sorrindo com seu jeito cândido:

-Quer um abraço?

-Querer eu quero! Eu lhe respondo.

A cumplicidade de olhares captada entre irmãos e amiguinha quase me transtorna. Algo estão aprontando! Dessa vez o que será meu Deus?

Ele, já no abraço, sussurra para elas bem próximo ao meu ouvido esquerdo:

- Anda rápido!

Surpreendo os três: -Tão aprontando alguma... E, ao mesmo tempo, sinto descendo da cabeça ao pescoço, e colo algo colocado por mãosinhas ágeis e leves, como folhas...

Grito.

- Não são formigas, são?

Eles riem, me abraçam e quase desmaio.

Acabava de receber uma chuva de pétalas de flores silvestres, pequenas rosas cor-de-rosa, as flores exuberantes e delicadas dos flamboyants...

Bem alto alegrei-me, agradeci e perguntei incrédula:

-Vovó merece tudo isso?

Ofereci o colo aos dois, e também à meiga Vic, amiguinha. Encarapitados, em cada perna, sorriam. Raul, meu neto, oferecia sem qualquer cerimônia meu regaço, alardeando:

-Pega na Vovó! Ela é muito macia!


Um abraço deliciado de vó corujíssima.

Maysa