quinta-feira, 29 de setembro de 2011

PRIMAVERA CINZA - Maysa M.

















DESAMANHECER...

Maysa M.


Por capricho, esquisitice
de neblina, névoa
veste-se a primavera.

Despindo
o colorido das flores
brilha no cinza
amanhecido.

Neblina é tempo de espera
É sonho que se refaz
Energia e busca
de silêncios e distâncias.

Seguindo
pressentimento
Não por acaso
tentamos as rotas refeitas.



Santa Teresa, 29 de setembro de 2011






Aos amigos que por aqui passam, aos que apenas passam...que a estação seja leve e florida, e o cinza também nos encante.



Maysa

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

SOMETIMES I'M HAPPY - BILLIE HOLIDAY

imagem da web

Inverno se despedindo.

A promessa no ar, nos cheiros. Corações encantados com a delicadeza da vida que teima em aparecer vestida de flor, cor e cantos.

Nessa canção - Sometimes I'm Happy - um fio de voz, ainda, nos conduz. Por ele, a vida se extinguindo, e a qualquer tempo, podendo ser repetida, transformada pela arte.

Às vezes sou feliz, entrou em minha vida, na adolescência. Ouvi, a primeira vez, uma gravação de Nat King Cole e seu trio. O disco era de vinil, 33rpm, as bolachinhas com duas faixas.

Redescobri-a na voz de Diana Washington. Exuberante.

Mas, simplesmente, tornou-se inesquecível com essa interpretação de Billie Holiday. Uma das últimas gravações, em estúdio, da cantora. New York, 04 de Março de 1959. Ray Ellis e sua orquestra. (MGM).

A derradeira canção foi Baby, Won’t You Please Come Home? de Charles Warfield & Clarence Williams.

Em abril, daquele ano, Billie ainda fez apresentações, ao vivo, em Boston, no Storyville Club.

When your love has gone*, no repertório. A faixa está no CD Lady day Live.

Billie foi internada em final de maio e morreu no dia 17 de julho de 1959.

Um presente para quem é fã de Lady Day aqui

Ah! Quanta tristeza contém uma despedida amorosa.

*

"What lonely hours, the evening shadows bring

What lonely hours, with memories lingering

Like faded flowers, life can't mean anything

When your lover has gone"

"Que horas solitárias as sombras do anoitecer nos trazem

Que horas solitárias, nas quais as memórias divagam

Como flores murchas, a vida não tem significado

Quando teu amor te abandonou".




Acredite, a felicidade pode voltar, algumas vezes... mais.

Beleza e dor. Vida e morte. Impermanências em meio a tantas lembranças ternas e eternas. Algumas vezes mais... a felicidade pode voltar.

Então, que tal celebrar a chegada da nova estação. Sometimes I'm happy é uma boa canção para fechar o inverno.

Como um aviso: É preciso preparar o coração para a primavera que está por chegar.

Um abraço carinhoso

Maysa


domingo, 18 de setembro de 2011

PRIMAVERA SE APROXIMA - Maysa M.



lobelia azul


PRIMAVERA SE APROXIMA


Maysa M.


Cigarra não canta.

Formiga trabalha pouco.

Na estação ... das flores.



Santa Teresa, 18 de setembro 2011


Abraço a todos.

Maysa


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

SAUDADE DE QUÊ? Maysa Machado

Pixinguinha/foto Valter Firmo






SAUDADE DE QUÊ?

Maysa Machado

Talvez, gasta, repetida... essa palavra, que dizem única, ainda, sirva para expressar o significado, em língua portuguesa de falta, vontade de chegar, aproximar. Vem em ondas ilustrando coisas e circunstâncias vividas. Vem acompanhada de boas lembranças.

Você não sente saudade do que foi desconforto, mas pode aparecer no pacote de algum amor não, definitivamente, enterrado. Aliás, amores são enterrados? Creio que não. Pela experiência obtida os amores voam como pássaros, podem ir de vez, ou voltar em estações certas. Não existe o para sempre.

Saudade de quê, então?

Da vida desperdiçada ou do leite derramado? É difícil aceitar. O alimento líquido, geralmente contido num recipiente, e posto a ferver, demora.

É nosso cálculo do tempo errado, acrescido de ansiedade, que nos faz afastar e descuidar. Vida, também, se esparrama por descuido. Lamento, mas não há quem não a tenha desperdiçado.

Quando o fato consumado nos avisa que o leite queimou e derramou, sem solução, a gente percebe o tempo perdido, estragado.

Apenas isso, o sentimento de não ter mais jeito... nos faz sentir saudade do tempo que passou solitário, sem nos apercebermos dele.

Santa Teresa, 12 de setembro de 2011


Um abraço,

Maysa

quarta-feira, 7 de setembro de 2011

MORTAIS PENDÊNCIAS - Maysa M.






Mortais Pendências



Sete de setembro

Independência ou morte!

O brado pendente.



Santa Teresa, 07 de setembro de 2011


Pendências morais, implícitas nesse haicai republicano. Os desaparecidos e mortos não devolvidos à pátria-mãe. Morreram pelo Brasil. Patriazinha querida, minha , tua.

Do Vinícius, poeta ... releiam Pátria Minha, aqui:


Maysa

domingo, 4 de setembro de 2011

O MAIS PURO IMPROVISO - MAYSA M.

rotunda do ccbb











O MAIS PURO IMPROVISO

Maysa M.

Vai num último sopro

a vida percorrida

em sobressaltos

perdas e gozos.

Sabe-se tão pouco

da próxima parada.

No futuro só a poeira

se assentará

em algumas memórias.

Ai de todos nós.

Sobreviventes de

única certeza:

A morte virá

nos colher... Em premeditado

improviso.

Santa Teresa, 3 de setembro de 2011


Abraço carinhoso aos que por aqui passam.


Maysa

sábado, 3 de setembro de 2011

ALMA LIBERTA - MAYSA M.

Rotunda do CCBB- Rio







ALMA LIBERTA



Maysa M.



Corpo-cela inerte

não mais reclama

dores, vazios.

Não lhe afetam

Perdidas ilusões.

Alma liberta

Ocupa-se

da eternidade.

Em que todos

Estarão

Um dia.


Santa Teresa, 3.09.2011


Com imenso carinho pelos que continuam...

Dedicado à Alaíde, querida amiga, que partiu.

Maysa

quarta-feira, 31 de agosto de 2011

INVERNO














INVERNO


O vento sibila.
Murmúrio veloz agita
Folhas e coração.


Maysa M.
Santa Teresa, 31 de agosto de 2011


Um abraço e um haicai.
Maysa

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

ENTRE PARÊNTESES - Santa Teresa, bairro atravessa o luto




ENTRE PARÊNTESES - SANTA TERESA, BAIRRO ATRAVESSA O LUTO

Sábado, 27 de agosto, o triste acontecimento. Um bondinho com superlotação, sem manutenção, desce desenfreado a ladeira. Em uma das curvas da Rua Joaquim Murtinho faz seu ponto final. Cinco mortos e dezenas de vítimas graves é o resultado dessa tragédia anunciada.

Para os moradores do bairro tristeza, desolação, revolta. Para as autoridades competentes (?) acreditamos que a omissão atingiu o limite.

Esperamos que os responsáveis, ainda, que não assumam as atribuições que os cargos públicos lhes conferem, sejam identificados, e responsabilizados diante da opinião pública.

Não foi acidental, foi descaso criminoso, gestão após gestão.

Querem privatizar tudo para enriquecerem impunemente. A conspurcada relação entre o poder público e os empresários dos transportes é, apenas, um aspecto da costumeira sujeira. Não dá mais para varrer pra debaixo do tapete.

Uma auditoria, em toda a Secretaria de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, pode contribuir para a explicação dos atuais fatos.

O bondinho atende ao bairro há 115 anos! As comemorações pela data, em meio às reclamações antigas sobre a segurança, serão substituídas por mais reivindicações! Bem tombado merece ser tratado como patrimônio da história de uma cidade.

Com pesar,

Maysa


PS: Para quem quiser acompanhar visite o blog do Maurício

http://blogdomauricioporto.blogspot.com/2011/08/acidente-com-o-bonde-de-santa-teresa-o.html

Ou o Caderno Aquariano da Martha Pires Ferreira

http://cadernoaquariano.blogspot.com/2011/08/santa-teresa-de-luto.html

sexta-feira, 12 de agosto de 2011

CHÃO DE BARRO - MAYSA MACHADO

foto da internet





CHÃO DE BARRO

Maysa M.


O barro vermelho iluminava o trecho do caminho, vegetação rala, um pouco de sombra. Subida íngreme, irregular, toda atenção necessária.

O vento cuidava de despentear seus cabelos que beijavam os ombros, enquanto as pernas, bem torneadas, sob a saia rodada, apareciam nos gestos mais largos, e não premeditados, que a pressa impunha.

Ela era jovem e corajosa. Morava desde pequena naquele lugar de acesso difícil, sem vizinhança próxima. Por perto, a casa da tia. Ia muito. Amigas e fãs amorosas.

Lá a paisagem imobilizava a todos. O mar imenso e aberto abrigava céu, ar, nuvens, pássaros, raios, trovões. E os navios cargueiros, presença constante, deslizavam por longos momentos, no enquadramento perfeito, que a porta da cozinha fazia... do lado de fora era tudo céu e mar.

A tardinha caía, com a envergonhada tristeza de um dia banal. Previsível, nos conformes. O coração da adolescente queria emoções, um príncipe encantado e prometido, descrito pelo universo feminino. Por aquela época iniciava, sem saber, uma longa espera.

Muitos anos depois, essa paralisia existencial seria substituída nas constantes buscas, por entre descobertas e aproximações, do que a vida lhe trazia e revelava.

Distâncias e proximidades seriam os paradoxos diários, os desafios para a perspectiva do íntimo em construção, e a identificação dos estranhamentos que podiam ser, ou não, recusados. Uma criatura insurgindo-se ao estabelecido ressurgia.

Santa Teresa, 12 de agosto de 2011


Meu abraço
Maysa