terça-feira, 13 de agosto de 2013

AGOSTO... - Maysa Machado




















Um poema é assim chega devagar ou de súbito. Depende do dia, do tempo, da vida. Do sentimento.


Agosto...

                        
                              Maysa Machado



Inverno de folhas mortas
Brumas e lembranças.
Agosto... Dos Nós distantes
Do eu desperto.
Rosto. Mãos.
Por onde jorra a água fria
Passado o afeto
Um gélido vento
Algum perigo no ar?
Desde o claro da manhã.
Agosto de histórias
 E... História.
Um mês, um ano.
Qual o tempo
Do esquecimento?


Santa Teresa, 13 de agosto de 2013.


Um abraço para quem passa.
Maysa

quarta-feira, 24 de julho de 2013

DOMINGUINHOS - Maysa Machado




DOMINGUINHOS

"... E vamos ajeitando”.
                                                                       Maysa Machado

 Assim, com o pé no chão, na estrada com se diz, vindo no "pau de arara", conheceu e foi conhecido no país inteiro. O Brasil assistiu e aplaudiu a trajetória, conviveu com sua modéstia, e as artes que a sanfona lhe deu.
 Foi descoberto, aos 16 anos, por Luiz Gonzaga que "lhe ensinava, sem ensinar".
O menino Dominguinhos, não era bobo, aprendeu e acrescentando à sanfona seguiu encantador, cantador, compositor. Compartilhou com todos: Música e Alegria. Voz espalhando, por onde andou a fibra nordestina em seu jeito manso, recolhendo inspiração na bem sucedida história de vida viajante sertaneja.
Através da arte de Dominguinhos sertão e serrado, caatinga e roçado permanecem na lembrança e no dia a dia da multidão das cidades. Aprendeu com mestre, mestre se transformou.
Lá pelos anos sessenta, era comum ver-se o peão de obra, ao fim do dia, colado a seu radinho de pilha, assim podia acompanhar o som do zabumba, do triangulo amenizando a vida de rês desgarrada das entranhas, das origens. Era o operário, o anônimo nordestino construindo as cidades. As megalópoles continuam recebendo os migrantes. O cenário urbano mudou, e a luta nordestina para sobreviver continua.
Haja muito forró de pé de serra. Festa e ritmo de um Brasil profundo que segue arrastando o pé na cadência, no encontro com seu coração e identidade.
Parte mais um brasileiro amado de verdade por seu povo. Um artista. Sanfona e voz se calam, mas repercutirão em nossa cultura para sempre.
E quando se ouvir um xote, maracatu, xaxado ou baião Luiz Gonzaga e Dominguinhos, dois mestres, estarão formando outros, muitos outros, fazedores de alegria.
Um novo músico em sua vida de viajante, longe de casa e “andando por esse país pra ver se um dia descansa feliz”.

                                                 xxx


O vídeo selecionado foi sua última apresentação em público. You Tube. Vídeo ao vivo, show no dia 13 de dezembro de 2012, em NOVA JERUSALEM.  Homenagem ao Rei do Forró, Luiz Gonzaga, na data de seu aniversário, transformada em Dia do Forró.


Grande abraço
Maysa

terça-feira, 23 de julho de 2013

FÉRIAS DE JULHO - Dúvidas traduzidas em perguntas e um só desejo - PAZ - Maysa Machado



FÉRIAS DE JULHO

Dúvidas traduzidas em perguntas e um só desejo: PAZ

                                                                                         Maysa Machado


O sétimo mês vai se despedindo... Daqui, percebo um tempo de pouca celebração e alegria, isto porque, sabemos bem, algo mudou em solo carioca.
Manifestações populares justas, porém reprimidas com violência pelo Estado no qual nasci e vivo. Nossa cidade e seu povo acolhedor recebem visitantes alegres, surpresas devolvem. Podem crer, atualmente, nem sempre as melhores.
Queremos traduzir tudo em poesia. O Rio é lindo e generoso, igual a seu povo que, por mais sofrido, esbanja humor, alegria e simpatia. As praias, o futebol, o samba... Não dá pra viver de clichê.
O que sentirá um jovem peregrino encalhado numa fila quilométrica na Praça do Largo do Machado, para ver de perto a estátua do Cristo?
Se o meio de transporte aprazível e turístico funciona com preços caros e locais de vendas alternados... O que comentar dos meios regulares e de massa?
Os turistas internos, vindos para as férias de julho, pensarão o quê, ao serem obrigados a correr da polícia, que não trata bem seus habitantes, nem recebe com polidez seus visitantes?
E a leva dos turistas internacionais... Agendando a favela, em suas incursões para conhecer a cidade?

Somos ou não somos uma atração, predominantemente, turística? Temos um nome a zelar no cenário mundial.
A pergunta que inquieta: O que sentimos nós os cariocas com o inacreditável tumulto provocado pelo uso da violência de estado, e a desfaçatez de foco, dos governantes contrariados com as críticas e manifestações populares?

Nosso ir e vir está sendo desrespeitado, pelos atos violentos dos contingentes policiais - pagos pela população – em ações coordenadas pelas autoridades constituídas.
Férias de julho? Quem ficou por aqui sabe que não foram as férias a que tínhamos direito. Quem mora no Rio está intranquilo a cada esquina.
É tempo de reflexão, não provocada pela visita papal, mas, sobretudo, pelo destino das próximas urnas. O senhor governador não poderá se candidatar à reeleição? Será isso o que tanto o irrita? Onde estão os prováveis candidatos, quer estejam na situação, ou na oposição? O que fazem que não acorrem em defesa do Rio e de sua população? Serão os próximos governantes, indicados num processo democrático de fato e de direito. Por que o diálogo claro é evitado?
Por que os direitos humanos são violados? Estamos ou não aperfeiçoando juntos a democracia?
Que me desculpem perguntas tão ingênuas, porém necessárias.

Sou cidadã e eleitora. Nunca votei, nem votarei, em políticos vândalos que desrespeitam suas investiduras democráticas auferidas nas urnas.

Santa Teresa, 23 de julho de 2013.
Um abraço
Maysa.


PS:Ver aqui sobre a estátua do poeta Carlos Drummond de Andrade:
http://www.wikirio.com.br/Est%C3%A1tua_de_Carlos_Drummond_de_Andrade

domingo, 14 de julho de 2013

INSTANTE- Maysa Machado


















INSTANTE



                                                                                      Maysa Machado



Não perguntem a mim mais do que pude observar e sentir. O fato é que nesse começo de tarde do inverno carioca, nem frio nem quente, luminosidade aconchegante, solzinho discreto e preguiçoso... Eis que num instante, apenas num breve instante, percebi no ar sons que a natureza engendra para nos presentear, vida que gera êxtases... O beijo de dois beija-flores.
O trinado acoplado. Perguntas e respostas trocadas além dos finos bicos engatados, e na mesma velocidade do encontro, logo após, a distância imposta aos apaixonados. Razão imprescindível para continuar... A voar.
Ah! Não é à toa, o testemunho de tal idílio urbano, amor alado, breve como a vida, prenhe de significados.
Domingo é dia de descanso. Descanso da lida do operário mal pago, que mora longe e quando chega ao árduo trabalho, nas manhãs, faz um alvoroço que tento compreender, porém, insuportável.
Sou há meses arrancada do sono por tapas supersônicos! Como berram! Prá que? Qual o sentido de gritar e não dizer as palavras com precisão, como o velho Graça nos ensinou?
Os pássaros daqui, mais sabidos e livres do que eu, fogem, vão para outros lugares e só retornam ao fim das tardes, assim que os barulhentos operários e suas máquinas ensurdecedoras emudecem. Tenho observado. Mudamos. Acuados e expulsos de nosso antigo e modesto paraíso. O local é alvo da cobiça desmedida para ganhos rápidos, altos lucros, quanto menores os investimentos.
Há meses a obra irregular corre célere, desrespeitando os mínimos direitos – das gentes e animais-, gerando desequilíbrio ambiental.
 Pássaros mais novos caindo dos ninhos; árvores com folhas amarelecendo cobertas de grossa camada de poeira; saguis espertos, porém, indefesos e desnorteados, saindo das quedas com as pernas quebradas. Enquanto isso, também, nossa saúde fugia, os tombos surgiam, os diagnósticos assustavam.
Herdei de toda essa convulsão urbana, invadindo a travessa antiga do bairro, alguns sintomas desconfortáveis. Aliás, ficou muito desconfortável viver ao lado de uma obra, com as características negativas que essa tem.
E, por ser uma sobrevivente desse caos, provisoriamente, paralisado exultei ao receber o singelo, e hoje, raro presente da vida saudável que rolava por aqui.
Dois beija-flores a se beijar!
Um amor a dois! A perfeição do voo solo garantida. A liberdade de voar reconquistada.
Imagino sabedoria e delicadeza juntas. Novamente, no pequeno pedaço do meu escolhido ninho chega a esperança, trazendo o domingo acolhedor e suave pra se viver!

Santa Teresa, 14 de julho de 2013.

Abraço a todos
Maysa

sábado, 13 de julho de 2013

A PARÁBOLA DE GRACILIANO - Maysa Machado










A PARÁBOLA DE GRACILIANO

                                                                             Maysa Machado


 “A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
                                                     
 Acordei com o texto conhecido de Graciliano, e, ironicamente, mal sabido por quase todos os que usam a palavra, esse instrumento indispensável à comunicação, porém com potencial letal se mal empregado.
Hoje, sinto uma espécie de tristeza ao constatar que parte de nossos saberes, e dizeres vão parar no lixo cósmico contemporâneo.
 Antes, havia a quase certeza que as pessoas queriam demonstrar o que sabiam, tentavam comunicar seus valores e sonhos... Pensavam em transformação para melhor, consideravam no processo o Outro.
Hoje, tal como está, descubro que uma grande parte quer ter, aparecer, tirar proveito. Exorbitar os parcos minutos de destaque, só e só.
Viver é labuta, dá trabalho! Alguém tem dúvidas? No entanto, vale, pelo menos para mim, se convidamos a Vida para embrenhar-se em novos significados ou revalorizamos os antigos. Uns substantivos, outros atraentes, porém quase todos difíceis de serem mantidos.
As árduas e precisas tarefas para o ato de escrever na concepção de Graciliano Ramos, em analogia encontrada através da lida do dia a dia das lavadeiras alagoanas. Lembrei-me do texto, pois vivo insatisfeita, descontente com as práticas e concepções dos governantes, com os representantes escolhidos pelo povo brasileiro... E indago:
 Será que continuariam adormecidos, distanciados de suas promessas, se lessem e praticassem no cotidiano político o que mestre Graça nos convida, para exercer na escrita?
Será que cada um dos detentores do voto de confiança de uma população se auto exigem coerência e dignidade, entre promessas e conquistas?
Ou será, ainda, para eles que atingir a transparência, precisão de objetivos é um estágio impossível, desnecessário e nauseante?
A fala embusteira de grande parte dos eleitos é um atestado preocupante.
Transcrevo o texto de Graciliano, que foi um homem público honesto e digno. Prefeito de Palmeira dos Índios, município do Estado de Alagoas.Lutou ao lado do povo e nunca traiu sua escrita e sua fala.

... Sobre a arte de escrever - GRACILIANO RAMOS

“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Um carinhoso abraço
Maysa

Convido para uma visita ao site do autor. http://graciliano.com.br/site/
Destaque para a matéria .

http://graciliano.com.br/site/2013/07/graciliano-ramos-o-politico-ordem-na-literatura-e-na-administracao/

terça-feira, 9 de julho de 2013

ALTOS E BAIXOS - Maysa Machado


foto Raul Silvestre/macaé













ALTOS E BAIXOS  


                            Maysa Machado



ALTO INVERNO
ALTO MAR
ALTO O SONHO
DE NAVEGAR.

MUROS ALTOS 

SUFOCANTES
QUATRO PAREDES
ESTRESSANTES

VERDES MARES

NAVEGANTES.
MUNDO INTEIRO

BARCO QUIETO
MARÉ BAIXA
AREIA. AREIA

PRAIA DESERTA
DESERTA DE GENTE
ALTO O SONHO
NO MAR ALTO.

Com abraço especial para o Raul Silvestre que trouxe inspiração com a bela foto.
Abraço a todos que passam  por aqui.
Maysa

sexta-feira, 5 de julho de 2013

O NÚMERO QUATRO - João Cabral de Melo Neto

  
Poema de Nelson Cavaquinho/ in Museu da Lingua Portuguesa


















Ah! volta e meia a poesia nos indica caminhos, ou nos mostra o pulsar da vida em gestos imprecisos, nos desvãos das certezas que trazemos no peito, por puro medo das novas e improváveis emoções.
Lendo O Número Quatro, de João Cabral de Melo Neto, assoma a vontade de ajoelhar e rezar baixinho  "... a roda, criatura do tempo, é uma coisa em quatro, desgastada". Vontade de nunca, nunca mais rezingar com a vida; aceitar a troca entre o tempo em seu percurso de ir e vir. Fazer permutas com as quinas, arestas, arredondar incomunicabilidades. Maysa Machado

O NÚMERO QUATRO 


O número quatro feito coisa
ou a coisa pelo quatro quadrada,
seja espaço, quadrúpede, mesa,
está racional em suas patas;
está plantada, à margem e acima
de tudo o que tentar abalá-la,
imóvel ao vento, terremotos,
no mar maré ou no mar ressaca.
Só o tempo que ama o ímpar instável
pode contra essa coisa ao passá-la:
mas a roda, criatura do tempo,
é uma coisa em quatro, desgastada


João Cabral de Melo Neto

Deixo meu abraço aos que passarem por aqui.
Maysa

terça-feira, 25 de junho de 2013

OS TEMPOS SÃO - Maysa Machado

      foto maysa machado/ setembro 2012. Instituto Moreira Salles


OS TEMPOS SÃO...

                                     Maysa Machado


Os tempos são.
Felizes ou não. Os tempos são.
Prazerosos e forasteiros.
Generosos ou ceifadeiros.
Não são nossos. Nada temos.
Somos sempre passageiros.



Santa Teresa, 25 de junho de 2013.

Com paixão, compaixão pelo fato de viver...
Maysa


terça-feira, 11 de junho de 2013

SANTA TERESA DE NOVO - Maysa Machado

Jardim do Museu da Chácara do Ceu/Santa Teresa













SANTA TERESA DE NOVO

                                                                                                                     Maysa Machado


Deixe que a imaginação o leve para lugares imprevisíveis. O bairro de Santa, no imaginário coletivo é bucólico, suave, ermo, habitado por pássaros, flores, ladeiras e ruídos especiais. O bondinho, tema recorrente nas lembranças, foi um fugaz companheiro e muso. Poetas, pintores, compositores e viajantes comuns davam-lhe atenção. E as autoridades o que estão decidindo?
Não é mais assim que o bairro está amanhecendo ou se deitando. Os pássaros continuam aparecendo, escolhem os momentos quietos das tardes preguiçosas ou o despertar muito cedo das manhãs. Depois, se ficam, perdem-se os trinados na inacreditável zoeira urbana.
Novos empreendimentos, novos usos. Apoiamos e desejamos sucesso aos que chegam pra somar e valorizar. Santa é um bairro especial.
É preciso que a Prefeitura aja, respeite, incentive. Ao invés, a gestão municipal não lembra, não aparece, não fiscaliza e não multa!
Como ficam os transportes? E os serviços comerciais: padaria, farmácia, supermercado, açougue? A segurança? A maioria dos moradores passa pelo tormento da falta de direitos, inclusive "o de ir e vir".
Carros demais nas calçadas, outros estacionados em áreas imprescindíveis para manobras. De nada servem as placas proibindo o estacionamento, falta fiscalização municipal, e, os moradores "sem noção" ou visitantes, fazem desse uso irregular o seu comportamento diário. Impedem a circulação, dificultam que pessoas cheguem e saiam de suas casas.
Novos destinos e usos seguem... , igualmente ignorados por seus novos donos são os direitos de vizinhança, nas áreas de moradia.
Se a Prefeitura cumprisse seu papel na ordenação urbana, nosso dia-a-dia não ficaria tão invadido.
Os "SEM NOÇÃO" se transformariam em CIDADÃOS.
É só o que quer quem vive e ama Santa Teresa!
Por que, em nosso bairro, as obras da construção civil, algumas de grande porte, continuam sem placas da Prefeitura regularizando-as? A despeito das reclamações feitas ao nº 1746.
Sem regulamentação os moradores, vizinhos ficam entregues à própria sorte.
O que alegar ao morador das casas próximas que precisam manter fechadas janelas e portas? A escolha é simples e direta: Se não entra toda a poeira, permanece a umidade. E mesmo assim, luz acesa de dia, ser agredido com o excesso de poeira que invade móveis, eletrodomésticos, utensílios, roupas dentro dos armários... Aparelhos respiratórios, pele, a alma.
Os excessos causam danos à saúde e à qualidade de vida, traduzidos nos distúrbios de sono, quedas, irritabilidade.
Passem pela Travessa Manoel Lebrão, constatem os buracos no secular piso de pé- de- moleque; a poeira excessiva; o barulho de betoneiras, britadeiras e maquitas vindos da obra, sem placa, que lá acontece há mais de seis meses. Ah! Não se esqueçam de conferir os gritos dos operários, e a inexistência de equipamentos preventivos para eventuais acidentes de trabalho, inclusive nos feriados e fins de semana.
Anotem as placas dos carros estacionados à entrada das moradias, ajudem a salvar Santa Teresa, um bairro especial que está ameaçado por novas tribos. Estas, dispostas a ganhar dinheiro com a notoriedade que o bairro tem.
Aqui era um lugar bucólico e aprazível! Que continue sendo tratado assim, por todos! Abaixo os novos usos exclusivos, dos sem-noção,  impedindo os direitos dos moradores de Santa Teresa e baixando a qualidade de vida de todos.
Leva tempo para se formar um cidadão.
Cabe aos órgãos públicos participar desse processo. Inclusive, os senhores dirigentes municipais, cumprindo com suas funções e responsabilidades governamentais e públicas.


Santa Teresa, 11 de junho de 2013.

Acreditando em mudanças para melhor. O bairro de Santa Teresa e seus moradores merecem.

Maysa.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SAMPA EM DOIS TEMPOS:TEMPO II - Maysa Machado












SAMPA EM DOIS TEMPOS


                                                                   Maysa Machado

TEMPO II – Final dos anos sessenta.

Gosto de Sampa. Morei lá por mais de dois anos. Recém terminara o curso de sociologia, na FNFi, entrei no mestrado da USP, na Maria Antônia*. Depois, frequentei o Campus de Pinheiros da Universidade de SP, viagem longa. Gostava das árvores, da largueza do espaço, mas o isolamento... Era maior por aqueles tempos difíceis da ditadura, ameaças implícitas e o não querer relembrar das explícitas.
 A garoa e o friozinho encantavam uma carioquinha de Botafogo. Era julho quando cheguei. O lado provinciano da grande cidade e a “deselegância discreta de suas meninas” surpreendiam.
Fiquei, por pouco tempo, no bairro da Aclimação, em casa de amigos de amigos. Mudei para uma rua próxima ao viaduto de Santo Antônio, ou seria Maria Paula? O que permitia ir à pé para o trabalho, abaixo um andar do Terraço Itália, no Edifício Itália. Então, curtia a visão ampla- 360 º - do por do sol sobre os prédios. Maravilha! Do mesmo quilate que os efeitos especiais nos filmes da época.
 Em outras cidades que não as que nascemos, peregrina-se por casas, quartos. Até num pensionato para moças, em sua maioria vindas do interior do estado, fui parar. Imprecisões aqui e acolá, não sei  se o trecho ficava no Bexiga, Bela Vista ou Paraíso, bairros bucólicos no final dos sessenta. A rua era a 13 de Maio, mas esta muda de bairro, por ser tão comprida, e aos meus olhos era. Depois de casada escolhi um apartamento na Avanhandava, próximo à Rua Augusta, bem perto da Praça Roosevelt. O prédio moderno, com escadas à entrada, plano acima da calçada, mostrava no térreo, lado direito, uma porta colonial de madeira, sempre fechada. Lá era o reduto do Samba, em S.Paulo, instalara-se a boate JOGRAL, do Luiz Carlos Paraná, vinda da Galeria Metrópole, da Av. São Luiz.
Lembro-me da inquietude, beirando quase pânico, no rosto do jovem companheiro quando entrávamos no prédio e dizia-lhe: — Quero conhecer o JOGRAL.
 Nem é preciso afirmar que nunca passei por aquela porta, templo da boemia e da música. Ficou na memória dos desejos não realizados.
 Semana passada estive em SAMPA, e não consegui rever a maioria desses lugares. Meu imaginário adorna, cria espantos e uma terna emoção alinhava o gosto da jovem mulher que um dia viveu por lá.

*Rua Maria Antônia, local da Universidade de S.Paulo, até 1968.


Santa Teresa, 03 de junho de 2013·

Abraços

Maysa