sexta-feira, 26 de setembro de 2014

VIDA - Maysa Machado

foto maysa machado/árvore iluminada/ Instituto Moreira Salles/ Rio















                                    VIDA

                                                                                   Maysa Machado


Viajo na poesia
Nas lutas de todo dia.
S o b r e v i v o...
Move-me simples desejo
Ver cada mudança sonhada
Na juventude...
Aos tristes dias das despedidas
Resplandecer em beleza
Insuspeita do real.
Se nada é para sempre... Mal e Bem
Encontrados e acontecidos
Por certo fazem a vida aparecer como é:
Única e prenhe de risco.
Escolho ser prenhe
E... Correr o cotidiano risco.

Santa Teresa, 26 de setembro de 2014.

Aos amigos que passam deixo meu abraço carinhoso. Pra você, Marília Trindade Barboza, que inspirou as palavras ditas...Com seus comentários.
Maysa

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

SEM ECO - Maysa Machado











SEM ECO

                                  Maysa Machado

  
Essa tristeza funda
Aparece... Me visita
Não traz dor.
Só o nada, espelho do vazio.
Perplexa deixo - me encolhida
Quieta irá embora tal qual chegou
Espreito. Não sei o que sinto ou vejo
É um descolar da vista
Da vida. Nadica de nada pode explicar.

Santa Teresa, 1 de setembro de 2014.

Fugaz e perene cada instante de vida traz e leva possibilidades...
Abraço aos que passam por aqui.
Maysa


quinta-feira, 21 de agosto de 2014

POEMETOS - Maysa Machado






POEMETOS


I - Pedra da Lua

                      Maysa Machado

... Por entre cristais
Rescende o rubro vinho
Em silêncio escolhido
Tecemos o espírito...
Amor e paz.
Santa Teresa, 21 de agosto de 2014.


 II - TOPÁZIO AZUL

                       Maysa Machado.

Beleza e mistério
Andam juntos.
Quer a fantasia enriquecer
Sonhos, ilusões
O cotidiano não deixa.
O coração sabe disso
E dá seu jeito.

Santa Teresa, 21 de agosto de 2014.

III – CÁLICE                                  

                                  Maysa Machado

Sóbrios nos calamos
O tempo escorre
Pela garganta molhada
Nos muitos vinhos sorvidos
Antes do amor...
Depois, o silêncio continua...
Vida a fora.


Santa Teresa, 21 de agosto de 2014

Um dia bom e alegre pra todos nós. Amor e paz.
Maysa

quarta-feira, 20 de agosto de 2014









SÓ PARA OS QUE VIVERAM OU VIVEM UM GRANDE AMOR



                                                                               Maysa Machado



Como deixar distante essa fonte de poesia que nos explica tanto a solidão, quando nos despedimos de um amor? Hoje, o sentimento é revestido por camada áspera, dura, cortante, na maioria das vezes fica a solidão de si.
Quase ninguém no individualismo como denominador comum, dos dias atuais, se entrega com a intensidade de antes. Parafraseando o bruxo do Cosme Velho... Mudou o amor ou mudamos nós?
A resposta está implícita na pergunta. Vinicius, mais que poeta, foi intérprete de toda uma época. E quem nos interpreta?
A universalidade da condição humana está na singularidade que é suprimida, negada e agredida pela visão massificada, e esta produzida culturalmente, repetida à exaustão.
 As pessoas se perdem de si.
Escasseia a reflexão imprescindível para que nos tornemos, de forma efetiva, seres humanos únicos, apesar de fadados à extinção, mas passíveis de remanescermos por gerações, em longo prazo de validade sócio-cultural-afetiva.
A dúvida, o impasse, a fragmentação de que somos capazes, e a recuperação, o renascer em outro instante, ressurge em novas possibilidades e criaturas... Ah! Poeta que saudade da Elizeth e de você...

Santa Teresa, 20 de agosto de 2014.


"Ai, vontade de ficar mas tendo que ir embora
Ai, que amar é se ir morrendo pela vida afora "

http://letras.mus.br/vinicius-de-moraes/49286/


Um carinhoso abraço aos que passam.
Maysa

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

DO QUE SOMOS CAPAZES - Maysa Machado
















DO QUE SOMOS CAPAZES


                                               Maysa Machado


Um tempo comprido
Longo mesmo passou
Paciente, a vida deu voltas.
Construiu possibilidades
Alimentou sonhos
Deixou que a realidade
Invadisse momentos íntimos.
Mas foi você quem
Teceu sua desimportância.

Santa Teresa, 14 de agosto de 2014.

Ensaio reflexões sobre o possível e o impossível.
Abraço a todos que por aqui passam.
Maysa

terça-feira, 12 de agosto de 2014

A MOSCA AZUL QUE POUSOU NA MINHA SOPA - Maysa Machado
















A MOSCA AZUL QUE POUSOU NA MINHA SOPA





Maysa Machado

Anos a fio experimentando sensações novas e fugazes. Esperar pelo grande, único e derradeiro amor era simultâneo com “tentar”, pela última vez, acertar tesão inadiável com a constatação de estar viva e querer brindar ao prazer.
Verdade ou delírio foi ao que me propus. No entanto, nesse mundinho angustiado alguns propósitos ficam perdidos nas intenções.
Fico um período recolhida pra me abastecer com novas emoções, e num dia qualquer acordo decidida a me apaixonar. Assim de supetão. Vi que estava pronta de novo.
Sentei o pé na estrada, antes calculei a quilometragem vivida, e me disse: Vai. Dessa vez vai!
Emperrei. E, não é que deixei de sair por medo de encontrar a tal paixão derradeira...
Por essa mesma época comecei a morar só. Os filhos adultos estavam no mundo, e eu ali no meu quintal desconhecido.
Desafio foi transformar o, até então, espaço pequeno individual num jardim de imensas proporções, de gigantescas possibilidades terapêuticas, e, sobretudo, de grandes descobertas pessoais.
Afinal, ninguém lembrava mais que eu era tímida, porque o arcabouço sociopolítico era bem resolvido.
 Eu nunca me esquecera.
 Num tour de force peguei a caderneta de anotações manuais, aquele caderninho de telefones que todo mundo teve um dia, e folheei. Fui de A Z. Encontrei no Z, um tal José, ex amigo íntimo, boa gente, incapaz de matar uma mosca.
Liguei , misturando sentimentos quase aflita e bastante alvoroçada, pro número do moço. Não, não morava mais lá.
E quem deu a pista foi uma das irmãs, de visita à casa da mãe. Boazinha deu o número onde poderia encontrá-lo, naquele instante. Agradecida e desinformada sobre os fatos futuros fiz a segunda tentativa acreditando na conspiração positiva do universo.Ou quem sabe...uma mulher desconfiada seria a nova  interlocutora?
O moço atende estupefato pelo gesto da irmãzinha com quem, segundo ele mesmo, não nutria bom convívio.
Retomamos o caso morno que tínhamos começado na década anterior. A paixão me deu um ciao pra que eu aprendesse a usar o faro, e jamais confundisse zona de conforto com desafio.

(continua)

Notas da autora:
 1- Ficção e não.
 Retomo a história e o prazer em contá-la com a permissão do tempo e dos eventuais leitores.

2- 
Detalhes, sempre eles... mas como viver sem eles? A Venus de Urbino, do Tiziano, ainda, não me contou!
Abraço a todos. Aguardo os comentários.

Maysa

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

SABE AO TEMPO - Maysa Machado





















SABE AO TEMPO...

                               Maysa Machado

Sabe ao tempo passar...
Sabe ao meu coração amar.
Revestido em silêncios
Suave e denso mistério é viver.
Quando se tem pouco
Dá-se a importância
Do muito já havido.
Aquiesço contigo
Até mesmo desavinda de mim.


Santa Teresa, 1 de agosto de 2014

Aos queridos que por aqui passam  deixo carinhoso abraço.
Maysa

domingo, 27 de julho de 2014

AVÓ - Maysa Machado








AVÓ


Maysa  Machado




Só tive uma. Quero dizer: Só convivi com uma. Meus outros avós não viveram para conhecer netos. Além de avó materna era minha madrinha de batismo. Nas lembranças do afeto, as mais expressivas da infância, ela está. O caráter decidido, a naturalidade em viver seu cotidiano difícil com coragem, sem lamúrias. Discreta até para nos fazer carinho. No entanto, seu amor vinha traduzido em vários momentos. Na comida gostosa, um presente sentar à mesa quando a vovó cozinhava. Na hora de dormir, contando as histórias da Carochinha, solene e suave. Acho que ela era assim mesmo, como na hora em que nos chamava para ouvir histórias. Não as inventava, contava o que o livro dizia.
Enviuvou do segundo marido, o avô emprestado que tive, e foi morar com a titia, sua filha mais velha. De tempos em tempos ficava em nossa casa. Dormia no meu quarto, cheirava à alfazema, companhia querida, suave, intrigante. A essa altura só tinha a gente, seus descendentes, pra chamar de família. Duas filhas, genros e quatro netos. Eu a única menina. Das alegrias ou tristezas passadas não comentava, vivia o presente. Espalhava amor e segurança, confiável no sentimento, não havia necessidade em enunciá-lo.
Hoje no Dia dos Avós, imagino uma caixa de mistérios, que reunisse todos os fatos marcantes de sua vida. Devia ser imensa, pois foi longeva, sobrevivendo às duas filhas. Delas cuidou, com carinho de mãe, até o fim.
Mistérios desimportantes guardados na memória, talvez. O que lamento foi deixar de perguntar à minha avó sobre sua infância, sonhos, sentimentos que povoavam seus gestos serenos e amorosamente contidos. Se me aproximo de uma árvore frondosa a energia de sua presença me acolhe.
Ser avó é poder espalhar proteção amorosa às crianças.

Santa Teresa, 26 de julho de 2014.

Com um dia de atraso a postagem sobre o Dia dos Avós, comemorado, ontem, Dia de Santana e S. Joaquim. Abraço em todos que conhecem essa alegria.
Maysa

segunda-feira, 21 de julho de 2014

AMANHECE - Maysa Machado

















AMANHECE

                                       Maysa Machado

Amanhece em mim toda a ternura vivida
desde o aconchego no colo materno
revestido de suave incredulidade
resquício do medo e dor que o parto traz.
Amanheço no berço da casa dos pais.
Sereno embalo e júbilo vivido a dois.

Nem sempre a vida presenteia
com plenitude e sossego
nossa vinda neste mundo.
Por algum descuido
nasci querida num domingo
de inverno e pleno sol.

Trago cicatrizes fundas
descaminhos, pedras brutas e que tais.
Sonho e vida sempre misturados
Insônias plenas como sóis
agudos mais que plurais.
Tenho a pequenez e a grandeza do mundo.

Que me é oferecida, ainda,  em silêncio e júbilo
À cada desconhecido amanhecer.


Santa Teresa, 21 de julho de 2014.

Leve como o cheiro das lavandas ou do capim cheiroso em nossa infância.
Aos que passam deixo meu abraço e carinho, nesta segunda- feira.

Maysa

sexta-feira, 4 de julho de 2014

PASSAGEM - Maysa Machado







PASSAGEM

                                    Maysa Machado


Passamos sem notar
Tempo e percurso.
Viajantes escolhidos
Por desígnios inconsultos
Era uma vez... Aqui.



Nossas escolhas mudam
Nossos enganos, também.
Queremos voltar
Fazer diferente
Volta não há:
Siga sempre em frente.
Tempo e distância
Descobertas simples, talvez, essas sim.
Todo tempo vira pó
O da esperança, o do sofrer.
Entranhas remexidas
Em ti, em mim,
Permanecem desconhecidas
Apesar da proximidade compartida.
Tempo e mistério
Estranhamento reunido em porquês.
Nem tu, nem eu sabemos
Porque ficamos
Quando partimos.



Santa Teresa, 4 de julho de 2014

Obra: Max Ernst - (1975) da série ´Aves em risco`

Olá
 Talvez, atravessada pelo sentimento de finitude, esse poema contenha a expressão da perplexidade, que nos acomete, por nossa passagem diante da vida.
Abraço
Maysa