A MOSCA AZUL QUE POUSOU NA MINHA SOPA
Maysa Machado
Anos a fio experimentando sensações novas e fugazes. Esperar pelo grande, único e derradeiro amor era simultâneo com “tentar”, pela última vez, acertar tesão inadiável com a constatação de estar viva e querer brindar ao prazer.
Verdade ou delírio foi ao que me propus. No entanto, nesse mundinho angustiado alguns propósitos ficam perdidos nas intenções.
Fico um período recolhida pra me abastecer com novas emoções, e num dia qualquer acordo decidida a me apaixonar. Assim de supetão. Vi que estava pronta de novo.
Sentei o pé na estrada, antes calculei a quilometragem vivida, e me disse: Vai. Dessa vez vai!
Emperrei. E, não é que deixei de sair por medo de encontrar a tal paixão derradeira...
Por essa mesma época comecei a morar só. Os filhos adultos estavam no mundo, e eu ali no meu quintal desconhecido.
Desafio foi transformar o, até então, espaço pequeno individual num jardim de imensas proporções, de gigantescas possibilidades terapêuticas, e, sobretudo, de grandes descobertas pessoais.
Afinal, ninguém lembrava mais que eu era tímida, porque o arcabouço sociopolítico era bem resolvido.
Eu nunca me esquecera.
Num tour de force peguei a caderneta de anotações manuais, aquele caderninho de telefones que todo mundo teve um dia, e folheei. Fui de A Z. Encontrei no Z, um tal José, ex amigo íntimo, boa gente, incapaz de matar uma mosca.
Liguei , misturando sentimentos quase aflita e bastante alvoroçada, pro número do moço. Não, não morava mais lá.
E quem deu a pista foi uma das irmãs, de visita à casa da mãe. Boazinha deu o número onde poderia encontrá-lo, naquele instante. Agradecida e desinformada sobre os fatos futuros fiz a segunda tentativa acreditando na conspiração positiva do universo.Ou quem sabe...uma mulher desconfiada seria a nova interlocutora?
O moço atende estupefato pelo gesto da irmãzinha com quem, segundo ele mesmo, não nutria bom convívio.
Retomamos o caso morno que tínhamos começado na década anterior. A paixão me deu um ciao pra que eu aprendesse a usar o faro, e jamais confundisse zona de conforto com desafio.
(continua)
Notas da autora:
1- Ficção e não.
Retomo a história e o prazer em contá-la com a permissão do tempo e dos eventuais leitores.
2- Detalhes, sempre eles... mas como viver sem eles? A Venus de Urbino, do Tiziano, ainda, não me contou!
Abraço a todos. Aguardo os comentários.
Maysa