sábado, 28 de março de 2009

Ho Chi Minh - Diário de Prisão


Aço e Sensibilidade


Um dos livros, que me acompanham vida à fora e à dentro, é o pequeno "Diário de Prisão" de Ho Chi Minh. "Poeta com alma de dragão".

Esse companheiro de sonhos, projetos de transformações sociais, políticas e pessoais ... sempre me encantou. O livro, não é um diário, no sentido ocidental que damos . São 115 quadras e poemas Tang, no estilo chines clássico.

" Os versos foram produzidos em chinês, num caderno comum, intencionalmente escritos nessa língua e não em vietnamita porque Ho sabia que qualquer texto em língua desconhecida teria enfurecido seus captores, aumentando as suspeitas que já pesavam sobre êle." ( introdução, pg13 e 14)

Retirei-o do lugar dos preferidos na minha estante e seleciono aqui, dois poemas para o regozijo dos passantes em meu cantinho, no meu Ninho.


I - OUVINDO O CANTAR DO GALO


Você é só um velho galo comum,
Mas toda madrugada você canta saudando a aurora.
Có-có-ri-có ! Você tira a gente do sono.
Sua tarefa de cada dia tem a sua importância.


II - NOITE DE OUTONO


Junto ao portão, está postado o guarda com seu rifle.
No alto, nuvens desordenadas escondem a lua.
Os percevejos fazem manobras nas camas,
enquanto os mosquitos formam esquadrilhas, atacando como caças.
Meu coração viaja mil li para longe, no rumo de minha terra natal.
Meu sonho é um emaranhado de tristezas, um nó de fios misturados.
Inocente, completo agora um ano inteiro na prisão.
Usando minhas lágrimas como tinta, transformo meus pensamentos em versos.


in, Diário de Prisão de Ho Chi Minh, Ed. Difel, Rio.Sem data, nem nº de edição

Beijo
Maysa

segunda-feira, 23 de março de 2009

A 4ª Madrugada

Na solidão do quarto
solidão da vida
Na total solidão da madrugada
silêncios falam.

Então, gatos nos muros e telhados,
anunciam
o espetáculo do gozo prolongado.
Estridentes são os sons.
Confundem-se com o choro
de fome dos recém nascidos.

O mundo lá fora continua a correr
a partir... a deixar de ser...
sem vestígios ...
Onde um tempo mínimo
só para se bem viver?

O hoje, desfaz o ontem.
O dia seguinte amanhece
sem ter dormido como eu.
Não há sono, nem sonhos.
Não sei de você,
nem de mim.

Maysa

.../setembro / 2007


Madrugadas de insônia são mais frequentes do que se pode acreditar. Vá lá, tenho uma gaveta de papéis... amarrotados, que não devia mais ler! A insônia é uma prima distante do sono fujão, contei para minha netinha numa historia que inventamos juntas.

Bjs Maysa

sábado, 21 de março de 2009

April in Paris - Billie Holliday and ...





Finalmente, fui à exposição , no MAM, do Vik Muniz. Acaba Domingo. Pressa, muita pressa. Não dá prá perder!


Ele capturou tudo que o séc. XX destacou e produziu e o que este início do XXI já nos mostra. O imaginário de nossa época está lá (des) embrulhado e devolvido sob as mais várias formas, leituras, materiais e temas. Não deixem de observar bem a distribuição, das sucatas eletrônicas, realizada pelo artista, no espaço territorial do seu Mapa Mundi.


Agora, vou fiando uma conversinha bem despretenciosa ... e sobretudo com linguagem musical variada em torno de um só tema.


O próximo mes de abril é lindo em qualquer lugar! No Rio, em Paris...Aqui , outono, lá ...printemps.


Vou pedir aos amigos (as) e os que acompanham este blog para deixarem sua impressão sobre a estação !


O que tem de bom o Outono prá você? Já sabe ou não descobriu ainda?


Que tal acessarem este link?


http://www.youtube.com/watch?v=huNEW6lazvs


ou este?

http://www.youtube.com/watch?v=S6dKi-R6Vqc



ou ainda este?


http://www.youtube.com/watch?v=tsUDC80ieCo&NR=1

ou este, surpresa?

http://www.youtube.com/watch?v=3ZWYun6GzMo&feature=related

Eu gostei, muito dos quatro!

Bjs Maysa

sexta-feira, 20 de março de 2009

Outono: que estação é essa?






Dias claros,céu azul...azul -anil. Meu encantamento com a estação vem de longe! Fui descobrindo a beleza do Rio, cidade querida, onde nasci, com os outonos que já vivi.

Os primeiros, despertaram minha atenção e sensibilidade pela suavidade delicada dos dias... e que dias! Um frescor, uma luminosidade. Amo os dias de outono.

Creio, que nas manhãs vistas, do 5º andar, da Faculdade Nacional de Filosofia (saudosa Fnfi ,dos anos sessenta), na Avenida Beira-Mar, pude me especializar nos tons e nuances daqueles jovens outonos.

Engravidei, pela primeira vez, num belo mes de abril, início de estação! tenho, hoje, quase posso assim dizer: um filho do outono. O outro , convém mencionar: é filho da primavera!

Ah! mas, por que será que essa mudança da natureza nos afeta, nos modifica também?

Sinto melhor a beleza, as sutilezas da vida, nas pessoas, nos seus afazeres! Acreditem em mim, também, melhorei com os outonos !

Cheguei ao outono da vida. Não há lugar para a tristeza. É sinal que tenho muitas histórias...minhas , de amigas(os), amores vividos, belas viagens feitas...Os outonos mais recentes, presentearam-me com duas netas lindas!

Por quase tudo isso brindo, aqui, n'O Ninho o dia de hoje. Primeiro, do Outono de 2009

Viva a beleza, a criatividade, o amor, a sutileza e a esperança!

Viva o outono! Outros, muitos outros virão, assim desejo.



Beijos


Maysa

quinta-feira, 19 de março de 2009

Águas de Março - Antônio Carlos Jobim



Vocês não imaginam o que é um desejo não alcançado! Não falo de desejos impossíveis, irrealizáveis, que a gente precisa sublimar, não!


Pois bem, deixo de mostrar aqui, o vídeo da gravação original, Tom e Elis cantando Águas de Março. Meu velho computador negou-me este singelo e sofisticado prazer.


O que posso mais trazer para celebrar, ao som de Tom, as águas de março fechando o verão de 2009?

A belíssima letra trancrevi abaixo. O link para assistir ao vídeo no youtube,com Elis e Tom, é http://www.youtube.com/watch?v=jNpiORQtmSk

Cantarolem, cantem, assobiem...




Águas De Março



É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um caco de vidro, é a vida, é o sol
é a noite, é a morte, é um laço, é o anzol
é peroba do campo, é o nó da madeira
caingá, candeia, é o Matita Pereira
É madeira de vento, tombo da ribanceira
é o mistério profundo
é o queira ou não queira
é o vento ventando, é o fim da ladeira
é a viga, é o vão, festa da cumeeira
é a chuva chovendo, é conversa ribeira
das águas de março, é o fim da canseira
é o pé, é o chão, é a marcha estradeira
passarinho na mão, pedra de atiradeira
Uma ave no céu, uma ave no chão
é um regato, é uma fonte
é um pedaço de pão
é o fundo do poço, é o fim do caminho
no rosto o desgosto, é um pouco sozinho
É um estrepe, é um prego
é uma ponta, é um ponto
é um pingo pingando
é uma conta, é um conto
é um peixe, é um gesto
é uma prata brilhando
é a luz da manhã, é o tijolo chegando
é a lenha, é o dia, é o fim da picada
é a garrafa de cana, o estilhaço na estrada
é o projeto da casa, é o corpo na cama
é o carro enguiçado, é a lama, é a lama
é um passo, é uma ponte
é um sapo, é uma rã
é um resto de mato, na luz da manhã
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é uma cobra, é um pau, é João, é José
é um espinho na mão, é um corte no pé
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
é um passo, é uma ponte
é um sapo, é uma rã
é um belo horizonte, é uma febre terçã
são as águas de março fechando o verão
é a promessa de vida no teu coração
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
É pau, é pedra, é o fim do caminho
é um resto de toco, é um pouco sozinho
Pau, pedra, fim do caminho
resto de toco, pouco sozinho
Pau, pedra, fim do caminho,
resto de toco, pouco sozinho.


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Beijos

Foto de A. Paula/ Jardim da Tia Ysa

Maysa

PS: volto à postagem antiga, no dia -2 de maio - para satisfazer um desejo, postar o vídeo de águas de março com Tom e Elis.



sábado, 14 de março de 2009

O Ninho e a Tempestade (II)










Esse verão, de 2009, está quase findo.
As tempestades, como a de ontem, continuam seu destino de assustar, matar, desconstruir...o que o Homem e a própria Natureza criaram.
Algumas forças poderosas, da mãe natureza, parecem , agora, dispostas a nos lembrar que é preciso:
cuidar, respeitar, amar. O planeta está ameaçado? Nós fazemos parte dessa ameaça, muitos de nós, num duplo papel - autores e vítimas.
Conceber, procriar novas maneiras de viver. O Ser Humano, pode e deve optar pelo aspecto solidário e amoroso que a vida contém.
Deixarmos o lado predador, a partir daqui, não ser mais preponderante. Nossas vocações são tão múltiplas, quanto nosso imaginário.
Algumas lindas, aprendidas todo dia, faça chuva ou sol, como esse simples e bravo ninho aqui do meu quintal.
Beijos
Maysa

quarta-feira, 11 de março de 2009

Enleio - Carlos Drummond de Andrade









Que é que vou dizer a você?
Não estudei ainda o código
de amor.

Inventar não posso.
Falar, não sei.
Balbuciar, não ouso.

Fico de olhos baixos
espiando, no chão, a formiga.

Você sentada na cadeira de palhinha.
Se ao menos você ficasse aí nessa posição
perfeitamente imóvel, como está,
uns quinze anos(só isso)
então eu diria:
Eu te amo.
Por enquanto sou apenas o menino
diante da mulher que não percebe nada.
Será que você não entende, será que você é burra?


In, A Palavra Mágica, Coleção Mineiramente Drummond - Poesias. 10ª ed., Ed.Record, 2003



Falar de amor é tão difícil, nos tempos de hoje! Sem parecer piegas...sem invadir o universo do outro. O objeto do desejo, da fantasia... o estranho que habita em nós e transborda e... pode assustar.

Esse poema do mestre C.D.A., nos envolve em espanto! no jeito coloquial, absolutamente cotidiano de sentir. Quantos de nós pode expressar, em sintonia com seu sentimento, o amor pressentido? O amor que insiste em presentificar a vida.

A poesia é imprescidível prá nos humanizar. Sem ela, o bicho homem, permanece só ...bicho.


Então, o convite para saborear o menino/a menina que existe encolhido pronto para despertar!


Beijo Maysa

domingo, 8 de março de 2009

8 de Março - Dia Internacional da Mulher







O Nascimento de Vênus

Sandro Botticelli (cerca de 1485)
Têmpera sobre tela, 1,72.5 x 2,78.5 cm
Galeria Degli Uffizi - Firenzi

Saboreiem a mais bela representação do feminino , do puro renascentismo. Voltemos à leveza das espumas do mar...

Salve 8 de março Dia Internacional da Mulher.

Bjs

Maysa

sexta-feira, 6 de março de 2009

Motivo - Cecília Meireles





Eu canto porque o instante existe
e a minha vida está completa.
não sou alegre nem sou triste:
sou poeta.


Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.


Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou me desfaço
- não sei, não sei . Não sei se fico
ou passo.


Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
- mais nada.


Recebi, de minha amiga Ana http://catandopoesias.blogspot.com/, a pergunta que transcrevo:

Para Ysa: O que você sente quando, nas madrugadas da vida, Cecília (a Meireles) te pega pela mão e caminha com você até a manhã chegar?


Sei que estou em boa companhia! e cantarolo ,intimamente, a canção do Vinícius ...


Eu não ando só,

só ando em boa companhia,

com meu violão ,

minha canção

e a poesia!


Com o tempo, toda gente aprende a não desperdiçar, manhã, tarde, noite ou madrugada... Viver o instante da forma mais intensa e solene que se merece.

Cecília, é luxo prá poucos .Inda mais eu que tenho duas!

A Meireles, minha querida que me mostra que a vida, é dor, imaginação, encanto e desencanto.

E a Cecília, pirilampa, pequerrucha ,de 2 anos e 10 meses. A neta mais nova e desafiadora das minhas renovadas energias.

O poema escolhido é do livro Viagem (1939), um bom pretexto para convidar a cada um : leiam Cecília, de dia, a qualquer momento, leiam Cecília
.
A foto é do jardim da Tia Ysa, e foi feita pela Ana Paula.


Beijos


Maysa


quarta-feira, 4 de março de 2009

Os Ombros Modulam o Vento - Zetho Cunha Gonçalves










Van Gogh
Irises
1889






Zetho, nasceu em Huambo, Angola. vive em Lisboa.
Escolhi este poema, em seu livro ,A Palavra Exuberante, Edição patrocinada pelo Instituto Português do Livro e das Bibliotecas.
É um amigo recente. Ensinou-me, na sua língua nganguela, que machado se diz "kandjimbo". Tem um bonito som, ora pois!



Entristece
a tua tristeza
- e canta


( os ombros modulam o vento
modulam a noite
a soberana voz
dos horizontes)


entristece
a tua tristeza
- e canta


Beijos

Maysa