quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

GRACILIANO RAMOS





Esse fragmento de texto que recolhi é de uma beleza e amor incontidos sobre a arte da escrita. Uma entrevista dada em 1948. O velho Graça sempre retorna aqui n'O Ninho.

Graciliano Ramos, seu autor, é um mestre. Meu desejo é que o jovens possam lê-lo, descubram sua obra.
Nascido em Quebrangulo, interior do Estado de Alagoas; passa alguns anos em Palmeira dos Índios, mais tarde é eleito prefeito dessa cidade, mas renuncia ao cargo dois anos depois. A escrita é seu mundo.
Foi preso , em 1936, em Maceió, sem culpa formada, com a alegação de ser comunista. Enfrenta várias prisões em Maceió, Recife e no Rio de Janeiro. O romance Angústia é publicado, no período de sua prisão na Ilha Grande. Entra para o Partido comunista só em 1945. O clássico Memórias do Cárcere é publicado postumamente.

" Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes. Depois enxaguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer".

Um abraço aos que visitam O Ninho e a Tempestade.

Maysa

2 comentários:

Berzé disse...

Bela seleção, Maysa.
Graciliano merece ser lembrado e estudado sempre.
Abs.
Berzé

Maysa disse...

"A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer".
É lindo! Não é Berzé?

Se imaginarmos o Velho Graça, navegando,tendo a seu dispor a rede...esse nosso Brasil seria outro.
Essa geringonça toda que faz da palavra-ouro falso verdade, ainda bem que refutável, no instante seguinte...
Pois é, procuro trazer pro Ninho tudo que se deve proteger da tempestade.Os escritos de Graça, não podem ficar no esquecimento.
Um abraço carinhoso
Maysa