sábado, 27 de abril de 2013

REENCONTROS- Maysa Machado





REENCONTROS

                                                                                           Maysa Machado


Reencontro parte da minha vida, antes de seu início, por aqui, na foto. Nessa basílica, estilo neo bizantino, a Notre Dame de La Garde, em cima do monte, mirante do mar, do porto de Marseille, onde meu avô materno costumava rezar.
Marseille me encanta, também, por esse mistério. O vivido por um avô-memória, avô só lembrança, menção sutil sobre a perenidade do afeto, transferido pela filha caçula, e minha mãe, para mim - sua única filha mulher.
Avô-presença e jamais visto. Materializado num dos anjos esculpidos por ele, em madeira leve, que guardava o berço da filha. Aliás, os dois berços. Eram duas as filhas, dois os anjos. Um avô que não provei do colo, nem do afago, menos ainda a convivência.
Recebi o anjo de minha mãe. Definitivo símbolo do afeto de um pai por uma filha, depois, símbolo do afeto... De mãe para filha.
Visitei a Igreja onde o avô, que não conheci, rezava, agradecia e pedia bênçãos para si, e para a família pequena que havia formado. 
Meu avô materno - João Luiz - era da Marinha Mercante do Brasil, por isso ao casar-se com minha avó, ambos maranhenses, montaram casa no Rio.
Foi devoto dessa Nossa Senhora, protetora dos Navegantes, conhecida em Marseille como La Bonne Mère.  Vi a sala de ex-votos repleta de agradecimentos, expressão de que o mar tempestuoso leva muitos navegantes, mas milagres existem... E alguns sobrevivem.
Em nossas vidas, é um pouco assim. Somos sobreviventes de tempestades, que se iniciam ameaçadoras, que levam, devoram; depois vem o tempo e apaga os sinais, os traumas. Nem todos partem, nem todos são esquecidos.
A foto descoberta foi o bastante para transbordar ausências presentes, todos as temos, em nossas histórias pessoais.
Vontade de voltar à Marseille, subir o monte, sentir a brisa marinha acarinhando a fronte, ver as embarcações de muitas procedências e plenas de vida.

( Dedico este texto para minha sobrinha Carolina, em seu aniversário.)

Um abraço carinhoso aos que passam.
Maysa

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