REENCONTROS
Maysa Machado
Reencontro parte da minha vida, antes de seu início, por
aqui, na foto. Nessa basílica, estilo neo bizantino, a Notre Dame de La Garde, em cima
do monte, mirante do mar, do porto de Marseille, onde meu avô materno costumava
rezar.
Marseille me encanta, também, por esse mistério. O vivido por um avô-memória, avô só
lembrança, menção sutil sobre a perenidade do afeto, transferido pela filha
caçula, e minha mãe, para mim - sua única filha mulher.
Avô-presença e jamais visto. Materializado num dos anjos
esculpidos por ele, em madeira leve, que guardava o berço da filha. Aliás, os
dois berços. Eram duas as filhas, dois os anjos. Um avô que não provei do colo,
nem do afago, menos ainda a convivência.
Recebi o anjo de minha mãe. Definitivo símbolo do afeto de
um pai por uma filha, depois, símbolo do afeto... De mãe para filha.
Visitei a Igreja onde o avô, que não conheci, rezava,
agradecia e pedia bênçãos para si, e para a família pequena que havia formado.
Meu avô materno - João Luiz - era da Marinha Mercante do
Brasil, por isso ao casar-se com minha avó, ambos maranhenses, montaram casa no
Rio.
Foi devoto dessa Nossa Senhora, protetora dos Navegantes,
conhecida em Marseille como La Bonne Mère.
Vi a sala de ex-votos repleta de agradecimentos, expressão de que o mar
tempestuoso leva muitos navegantes, mas milagres existem... E alguns
sobrevivem.
Em nossas vidas, é um pouco assim. Somos sobreviventes de
tempestades, que se iniciam ameaçadoras, que levam, devoram; depois vem o tempo
e apaga os sinais, os traumas. Nem todos partem, nem todos são esquecidos.
A foto descoberta foi o bastante para transbordar ausências
presentes, todos as temos, em nossas histórias pessoais.
Vontade de voltar à Marseille, subir o monte, sentir a brisa
marinha acarinhando a fronte, ver as embarcações de muitas procedências e
plenas de vida.
( Dedico este texto para minha sobrinha Carolina, em seu aniversário.)
Um abraço carinhoso aos que passam.
Maysa
( Dedico este texto para minha sobrinha Carolina, em seu aniversário.)
Um abraço carinhoso aos que passam.
Maysa
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