SAMPA EM DOIS TEMPOS
Maysa Machado
TEMPO II – Final dos anos sessenta.
Gosto de Sampa. Morei lá por mais de dois anos. Recém
terminara o curso de sociologia, na FNFi, entrei no mestrado da USP, na
Maria Antônia*. Depois, frequentei o Campus de Pinheiros da Universidade de SP,
viagem longa. Gostava das árvores, da largueza do espaço, mas o isolamento... Era
maior por aqueles tempos difíceis da ditadura, ameaças implícitas e o não querer relembrar das explícitas.
A garoa e o friozinho encantavam uma carioquinha de Botafogo. Era julho quando cheguei. O lado provinciano da grande cidade e a “deselegância discreta de suas meninas” surpreendiam.
A garoa e o friozinho encantavam uma carioquinha de Botafogo. Era julho quando cheguei. O lado provinciano da grande cidade e a “deselegância discreta de suas meninas” surpreendiam.
Fiquei, por pouco tempo, no bairro da Aclimação, em casa de
amigos de amigos. Mudei para uma rua próxima ao viaduto de Santo Antônio, ou seria Maria Paula? O que
permitia ir à pé para o trabalho, abaixo um andar do Terraço Itália, no Edifício
Itália. Então, curtia a visão ampla- 360 º - do por do sol sobre os prédios.
Maravilha! Do mesmo quilate que os efeitos especiais nos filmes da época.
Em outras cidades que
não as que nascemos, peregrina-se por casas, quartos. Até num pensionato para
moças, em sua maioria vindas do interior do estado, fui parar. Imprecisões aqui e acolá, não sei se o trecho ficava no Bexiga, Bela Vista ou Paraíso, bairros bucólicos no final dos sessenta. A rua era a 13 de Maio, mas esta muda de bairro, por ser tão comprida, e aos meus olhos
era. Depois de casada escolhi um apartamento na Avanhandava, próximo à Rua
Augusta, bem perto da Praça Roosevelt. O prédio moderno, com escadas à entrada,
plano acima da calçada, mostrava no térreo, lado direito, uma porta
colonial de madeira, sempre fechada. Lá era o reduto do Samba, em S.Paulo, instalara-se
a boate JOGRAL, do Luiz Carlos Paraná, vinda da Galeria Metrópole, da Av. São
Luiz.
Lembro-me da inquietude, beirando quase pânico, no rosto do jovem companheiro quando entrávamos no prédio e dizia-lhe: — Quero conhecer o JOGRAL.
Lembro-me da inquietude, beirando quase pânico, no rosto do jovem companheiro quando entrávamos no prédio e dizia-lhe: — Quero conhecer o JOGRAL.
Nem é preciso afirmar
que nunca passei por aquela porta, templo da boemia e da música. Ficou na
memória dos desejos não realizados.
Semana passada estive em SAMPA, e não consegui rever a maioria desses lugares. Meu imaginário adorna, cria espantos e uma terna emoção alinhava o gosto da jovem mulher que um dia viveu por lá.
Semana passada estive em SAMPA, e não consegui rever a maioria desses lugares. Meu imaginário adorna, cria espantos e uma terna emoção alinhava o gosto da jovem mulher que um dia viveu por lá.
*Rua Maria
Antônia, local da Universidade de S.Paulo, até 1968.
Santa Teresa, 03 de junho de 2013·
Abraços
Maysa
Abraços
Maysa