sábado, 18 de agosto de 2012

ESTRELAS MATUTINAS - Maysa Machado

Sharon Johnstone/photo












ESTRELAS MATUTINAS

                                                Maysa Machado

Pescar estrelas durante o dia
só podia dar nisso. Nenhuma à vista.
Eliminada a surpresa, resta-nos a frustração.
Também, pra que tanta insistência?
Metáfora perfeita. Nova decepção.
Alguma coisa rachou, e não foi o concreto esmagado
nem o ferro exposto nas construções superfaturadas.
É do interior, da ordem do desencanto.
Da dor intensa no estômago
Dor de silêncio.
Emoção estagnada não flui para a troca.
Mais nada refaz.
Explodem lagrimas
e
secam, secam.
Tempero do espírito
na face salgada.

Santa Teresa, 18 de agosto de 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A ESTÁTUA DE CHOPIN - Maysa Machado

    foto roberto machado alves




  Essa estátua do Chopin tem feito parte da minha vida.
  Quando estudava na Fnfi *, anos 60, estava defronte ao Teatro Municipal, no Centro do Rio, na Pça da Cinelândia.
 Rubens Braga tem uma crônica, acho que "Borboleta Amarela", que cita a estátua, ainda, nesse local.
  Anos depois, na década de 70, casada, fui morar no bairro da Urca, lá meus filhos nasceram, e  juntos, frequentávamos a pracinha do Quadrado - Pça. Cacilda Becker.
  Tudo bem, tempos felizes misturados com angústias e sofrimentos. Anos difíceis anos de chumbo, amigos raros, sem notícias de muitos. Outros desaparecidos para sempre.
  A natureza exuberante fazia com que a jovem mãe caminhasse, buscasse no azul do céu respostas, e no mar de ondas mansas, da Enseada de Botafogo, na baía de Guanabara: Paz e Harmonia.
  Pois bem, levava os meninos, um com dois e o outro com sete meses, para brincarem na Pça da Praia Vermelha. As ondas do mar acalmavam minhas angústias, as crianças libertas tomavam o sol da manhã.
  A dupla jornada foi amenizada, saí do horário integral no trabalho, para ficar durante as manhãs com meus filhos.
  Nessa época só o mais velho corria e ganhava o mundo, descobria limites. Quase sempre dos outros...
  Num determinado período a pracinha, onde brincavam, ficou interditada por obras da Prefeitura. Os meses passaram. Mudei o roteiro das caminhadas.
  Concluída a obra, voltei à praça, que ostentava brinquedos novos: balanços, escorrega, gangorra e aquelas construções tubulares para subir e se pendurar.
  A estátua não estava mais instalada sobre o chão de terra batida, tão coloquial, como se escultura não fosse, e sim um homem pensativo... Ao invés de olhar para o mar, buscava a si mesmo.
 A estátua, agora, estava sobre um pedestal.

  E rápido com os cachos dourados, esvoaçando ao vento, movimentados pela corrida – quem recém aprende a andar... Voa – meu filho, mais velho, estanca.
 Para. Olha. Reconhece e diz:
— Desce daí!
A estátua desobediente continua lá, e vocês podem lembrar, quando forem à Praia Vermelha, graças ao Rubens Braga, que não me deixa mentir... Que até as estátuas, de uma cidade, fazem parte de nossas vidas. 



 * Faculdade Nacional de Filosofia, da antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.


Grande abraço 

Maysa

domingo, 5 de agosto de 2012

SENTIMENTO ESMAGADO - Maysa Machado













     Começo de manhã. Leio desatenta as notícias do jornal.
Um prédio ameaça cair em Niterói. Ganância? Falta de conservação? Perplexidade e temor nos poucos depoimentos lidos...e o espanto.
Termino a leitura, de coração triste.




SENTIMENTO ESMAGADO

                                                   Maysa Machado

Ferros expostos
Concreto esmagado
Construção e(m) risco.
A casa cai?
Ameaça cair.
Espanto.
A dor não sai no jornal
- disse o poeta.
Um coração a mais
Partido. Banal.
Um coração.
Desiludido poeta?
Ninguém conhece
Sentimento alheio.
Nem pensamento...
É perverso
Do jeito que tudo acontece.
Existência posta ao lado
Dentro da sombra...
Até solidão desconhece.
O outro desconhece.
Entrego-me, busco afago.
A troca nunca é possível.
Sombra e solidão são testemunhas.
Construo-me no risco.
Sob o espanto de um fingimento.
O amor esmagado no concreto
Nervos expostos.                                            


Santa Teresa, 05 de agosto de 2012.

Forma e sentimentos andam juntos, por vezes. Um abraço de Domingo.
Maysa

sábado, 4 de agosto de 2012

Breve comentário sobre a exposição : A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa - Maysa Machado

















Breve comentário sobre a exposição: 
A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa

                                                                                         Maysa Machado


  A exposição A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa - Bloquinhos de Portugal, está na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. É comovente.
  Para mim bastou entrar na galeria, seguir olhando, lendo, ouvindo. Assistir ao pequeno vídeo, e um súbito encantamento assoma nos registros recuperados das duas viagens, 1948 e1952, feitas pelo arquiteto, há mais de sessenta anos.
  Aos que, por distração ou falta de oportunidade, ainda não foram... Corram, é só até Domingo. Para os que não residem no Rio posso afirmar: Perderam momentos de fina sensibilidade.
O traço despojado, preciso, leve de Lucio Costa (1902-1998) reproduz volumes, côncavos e convexos, saídos da pedra, madeira, ferro... Percursos e buscas resgatados com técnica e poesia, nos cinco bloquinhos.
  Em instante comovido senti o transpassar do tempo que separa o momento inaugural, aquele do olhar e do fazer, desse da fruição do olhar, e, tudo, ainda, tão marcante.
  Essa busca, esse encontro, detalhes de sua obra, através de um tempo que mantém, esquece ou modifica lugares, pessoas e hábitos.
Debruçado, solitário, há sessenta anos indaga, pesquisa sobre as raízes da Arquitetura no Brasil. Cria.
 Perdem-se os bloquinhos e nunca mais, Lucio, os reencontra. Depois de sua morte a entrega, o compartilhar para cada observador. Graças à dedicação das filhas, Maria Elisa e Helena, e do curador José Pessoa, que refaz o roteiro das viagens em 2011.

A belíssima mostra fala da escolha, da pesquisa sobre as origens, e descobre a autenticidade em nossas soluções arquitetônicas.  Consagra essa releitura a legitimidade, com intensa poesia e precisa tecnologia.
  O olhar contemporâneo se debruça diante do solitário olhar de Lúcio, e agradece.

Insisto não percam.

Grande abraço

Santa Teresa, 2 de agosto de 2012.
Maysa

domingo, 29 de julho de 2012

ELA ESPIA E CEIFA - Maysa Machado









Não há nada que possa remediar a perda de um amigo querido. O tempo, talvez, costure as feridas, uma às outras, e apresente a ilusão de curar o sofrimento. Perdas são provocações definitivas. Esse jogo entre a vida e a morte será que nos força ao crescimento constante? Há que conviver com perdas irremediáveis.
Num átimo o fim arranca, ceifa toda conquista afetiva, soma de uma vida inteira.



ELA ESPIA E CEIFA

                                           
Maysa Machado


                                Dedicado à AC.


A tristeza arisca avança
Fria ausência de troca e afeto.
Mãos que se vão para sempre.
Mãos afetuosas desfeitas.
Desaparecendo no espaço...
O que se vê ou se toca.
Nada mais é.
Ausente o gesto.
Mãos, agora, intocáveis.
Ausência sem forma de mão.
Nem mais abraço.
Possível só a lembrança.
O sentimento brota.
Por que tanta partida?
Por que o fim se explica
E não é aceito?

O fim definitivo para tudo e todos
...Mas não é um.
Todo dia é mais um.


Santa Teresa, 29 de julho de 2012.
Último Domingo de julho de 2012.
Maysa 

domingo, 15 de julho de 2012

INVERNO CARIOCA - Maysa Machado


Tina Modotti - Glasses














Inverno Carioca


                                  Maysa Machado


Um dia vai passar essa insônia.
Essa agonia. Os dias vão ficar
cinza, sem brisa no ar.
Parados como a vida.
A que se esconde ao visitante
Ao curioso, ao passageiro.

Um dia vai acabar. Os tristes dias
de janeiro a dezembro,
sem folga nem folguedo,
escoam por fina areia. Calendário inquieto
como só a solidão pode traçar.

Buracos, vazios, medos, silêncios fora de hora.
Esperanças quebradiças, frágeis desejos.
O que mais nada transforma é, agora,
soberano.
Assume o poder de travar o amor e afugentar,
de vez, a alegria.

Santa Teresa, 15 de julho de 2012.


Refletindo sobre o inverno...
Abraço 
Maysa

quarta-feira, 27 de junho de 2012

DE ÃO EM ÃO...Maysa M.
















DE ÃO EM ÃO...
                               
                                                Maysa M.


Aumentativos às vezes
São menos que exageros.
E bem mais que quantidade.
Em outras nem aumentativos são.
Com ãos faço sonhos acontecerem.
Num simples juntar de mãos.

Experimento sons e surge a canção...
Faço o peito alegre e a leveza
 os pés saltarem ...do chão.
O que a vida nos traz
Ano após ano?
Tecendo fios prateados e rios de expressão...
Do bom e variado:
Suaves emoções. 
E inda assim, paixões de perdição.


Santa Teresa, 27 de junho de 2012


Abraço

Maysa

quinta-feira, 21 de junho de 2012

O INVERNO DO MEU TEMPO- CARTOLA E ROBERTO NASCIMENTO

Foto Marcelo Gonçalves - Ipanema outubro 2010















Saudando o inverno carioca.




Sabem todos que o Inverno começou, aqui no Hemisfério Sul. Adoro a estação. Contava minha mãe que nasci num Domingo , com sol luminoso... rsrs É desse comentário materno que encontro mil maneiras para buscar o sol no ...


O INVERNO DO MEU TEMPO, composição lírica de Cartola e Roberto Nascimento.Uma pérola para começar nosso inverno de 2012.


http://www.youtube.com/watch?v=MgufIRemMrc


Grande abraço e ótima fruição.
Maysa

terça-feira, 19 de junho de 2012

PERFORMANCE EM DEFESA DO MEIO AMBIENTE, DA VIDA - MARTHA PIRES FERREIRA







Para os Amigos do Face e do Blog O Ninho e a Tempestade:

Convido-os para ler, curtir e seguir! A Performance de Martha Pires Ferreira.



http://cadernoaquariano.blogspot.com.br/2012/06/performance-rio-20.html





"Onde estiver participe colocando TERRA nas Plantas A Mãe Natureza agradece ! "
martha

Grande abraço a todos

Maysa

sábado, 16 de junho de 2012

O SOM NOSSO DE CADA DESPERTAR - Maysa Machado





O SOM NOSSO DE CADA DESPERTAR

                                                                                               Maysa M.


As grandes cidades são barulhentas, impessoais e, quase sempre, é muito difícil encontrar um canto pra chamar de seu.
O lugar onde moro, ainda, é bucólico, mas está perdendo o sossego encantador que oferecia. O bairro de Santa Teresa já reflete a especulação imobiliária, e esta avança pela cidade, sobretudo do centro para a zona sul.
Obras por todos os lados, engarrafamentos no asfalto, buzinas por aqui, nas ladeiras, até bem pouco, com jeito de interior.
Não desperto mais! Há muito sou arrancada dos sonhos e travesseiros pela poluição sonora e sua prima irmã— a falta de educação do homem urbano.
Todos sabem que os carros, através de seus proprietários, disputam os espaços com os demais habitantes. Não adianta pagar os impostos, somos obrigados a constatar que nossos direitos não são respeitados, e mais que isso, são ignorados.
Estacionamentos irregulares, sobre calçadas, ou em áreas de manobra, dificultam o acesso, o ir e vir dos moradores. As ladeiras são íngremes e os carros, velhos ou novos, ocupam o lugar do indivíduo idoso ou recém nascido.
 O proprietário fecha a porta, guarda as chaves e o problema começa para o vizinho. O dele está resolvido.
É impressionante como, outra vez, essa categoria urbana relevante — os proprietários de carros— batem com força as portas e as malas de seus veículos. Nada os faz lembrar que seus vizinhos têm direito ao silêncio, nas primeiras horas da manhã e na alta madrugada; podem estar descansando, trabalhando.
Pense duas vezes se pretende morar em casa ... As garagens que os prédios possuem fazem toda a diferença!
Aos, excessivamente, barulhentos vem se juntar os DJs, nas casas de festas, muitas sem fiscalização por parte das autoridades do município. A ausência de tratamento acústico obriga os moradores ao suplício dos elevados decibéis. Não menos ruidosos são os operários da construção, ou os prestadores de serviços vários. Tudo é realizado aos berros.
A cidade sofre com os exageros de grande parte dos que acordam cedo, por obrigação.E  os pássaros batem asas para bem mais longe...
 Você é o prejudicado: Se calar ou reclamar. Os novos sem noção — irão sempre além, no quesito desrespeito.
Como faz falta a boa e velha educação das escolas primárias, da minha cidade. O ser urbano merece receber noções de cidadania e compartilhar boas idéias e maneiras.

Santa Teresa, 16 de junho de 2012.

PS: Cliquem aqui, para ler um pouco sobre o impacto da poluição sonora na sobrevivência das espécies. 

http://www.domtotal.com/noticias/detalhes.php?notId=440480


Grande abraço

Maysa