quinta-feira, 24 de junho de 2010

A POESIA DE GILKA MACHADO E A PAIXÃO NACIONAL





Com surpresa achei e aqui transcrevo um poema de Gilka Machado (1893/1980). Expressiva poeta carioca, representante do simbolismo e pré-modernismo em nossa literatura.

Ela recebeu da crítica aplausos e reprimendas; ficou conhecida por sua poética erótica, por sua coragem e liberdade em abrir a fala da mulher sobre o desejo, rompendo com os tabus da época. Manoel Bandeira incluiu e deu destaque à sua poesia na antologia sobre literatura brasileira que publicou.
Jorge Amado, convidou-a para concorrer à uma vaga para a ABL- Academia Brasileira de Letras, assim que os estatutos permitiram a entrada de mulheres. Não aceitou. A Academia, então, conferiu-lhe o premio Machado de Assis, em 1979.
Desde que descobri a poeta carioca me agrada ler seu texto exuberante ou melancólico. Este que descobri , causou-me surpresa pela oportunidade do tema. O curioso poema reflete a paixão nacional, foi publicado no final dos anos 30.

Amanhã o país cala, é só olhos e ... coração à bater rápido. O grito prepara-se na garganta... Futebol também é poesia!

Vale ler mais sobre Gilka aqui e aqui


Aos heróis do futebol brasileiro



Eu vos saúdo
heróis do dia
que vos fizestes compreender
numa linguagem muda,
escrevendo com os pés
magnéticos e alados
uma epopéia internacional!


As almas dos brasileiros
distantes
vencem os espaços,
misturam-se com as vossas,
caminham nos vossos passos
para o arremesso da pelota
para o chute decisivo
da glória da Pátria.


Que obra de arte ou de ciência,
de sentimento ou de imaginação
teve a penetração
dos gols de Leônidas
que, transpondo balizas
e antipatias,
souberam se insinuar
no coração
do Mundo!


Que obra de arte ou de ciência
conteve a idéia e a emotividade
de vossos improvisos
em vôos e saltos,
ó bailarinos espontâneos
ó poetas repentistas
que sorrindo oferecestes vosso sangue
à sede de glória
de um povo
novo?


Ha milhões de pensamentos
impulsionando vossos movimentos.


Na esportiva expressão
que qualquer raça entende
longe de nossa decantada natureza
os Leônidas e os Domingos
fixaram na retina do estrangeiro
a milagrosa realidade
que é o homem do Brasil.


Eia
atletas franzinos
gigantes débeis
que com astúcia e audácia,
tenacidade e energia
transfigurai-vos,
traçando aos olhos surpresos
da Europa
um debuxo maravilhoso
do nosso desconhecido país.


Publicado no livro Sublimação (1938).
In: MACHADO, Gilka. Poesias completas. Apres. Eros Volúsia Machado. Rio de Janeiro: L. Christiano: FUNARJ, 1991


Abraço
Maysa

Nenhum comentário: