TRILHOS EM DESUSO - COMPASSO DE ESPERA -
Maysa Machado
O “rango” acabou. É preciso sair.
Santa não tem mais padaria,
nem horti fruti tem, por aqui. A
música que ia e vinha, entrecortada ou embalada pelo sacolejo estridente do
bondinho amarelo, mudou de horário. O piston
toca em surdina, os homens da
política agem em segredo. Compram, vendem, oferecem, viajam... Tentam copiar
soluções de fora.
As pessoas se juntam e se dispersam. Encontros,
desencontros. Buscas e desânimos. Os trilhos dos bondes correm paralelos, e em
poucos trechos misturam-se o ir e o vir. Um dos mais belos grafismos urbanos.
Claro, tempo e espaço resolvem quase tudo ou resta-nos a espera
desolada desse cotidiano sem rumo.
E o rumo? O que foi
feito das linhas, trilhos sem linhas, pés que pisam o frio trilho... Não range
mais sobre os trilhos o velho e serelepe bonde. A faísca e o brilho? Escondem-se.
Enquanto isso, enquanto aquilo.
O entre não se dissipa antes
do tempo.
Entra e sai. Vai e vem.
— Cadê você?
—Estou aqui, não me vê?
—...
—Estou aqui, dentro, ocupando o teu coração.
E não são mais trilhos afiados, feito navalha, que cortam o
bairro, ânsia de trem - sem o apito, com muito dem-dem.
O silêncio é cortante. O trilho está aí, mas o trem, o
bonde? Onde? Onde?
Um maquinista ficou até o último instante. Até a última
viagem.
Estribos... Em movimento descem os passageiros, sobem os
passageiros. Desciam. Subiam.
Uns e outros viajam Viagem única para uns, era diária para outros.
Derradeira pros que ficaram na curva da rua principal.
Vamos juntos rever os caminhos de prata. Segui-los, mostrar
que estão emaranhados, paralelos em retas subidas e descidas, e, volteios
sinuosos que, ainda, aguardam o bonde, as pessoas, os forasteiros, as risadas e
o frescor do bairro que, por ora, amanhece sem alegria...
Santa Teresa, 07 de setembro de 2012.
2 comentários:
Ah, Maysa me junto ao seu lamento.
Paralelos de prata, idas e vindas
aperto no peito.
Dem...dem, lá vem o trem sem trem.
Bondinho amarelo encantado
sonho sem dem...dem...dem.
Até quando
sem dem...dem...dem
cheio de pernas, de gente?
Amarelinho...linho...linho.
acenos de Santa - martha pires
Marthinha
Que bom! você poetando nesse sete de setembro.
E o bonde...onde, onde?
Não desanimemos: Há de voltar.
Dem, dem, dem!
Passa o tempo, em silêncio fica a estrada.Falta um pedaço do bairro
em nosso olhar.
Quando a notícia alvissareira há de chegar?
Maysa
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