Ontem, passei a tarde e início da noite em muito boa companhia - Ana e Raul - os netos do Leblon.
Faltou um violão para brindar essas férias, acompanhar esses encantos... Nas próximas providencio!
Vi e ouvi, ao meu redor, tanta expressão de gente criativa... Crianças, sobretudo!
Na piscina uma avó, como eu -só que muito mais sabida- convidava o neto, de uns 10 anos, para conversar debaixo d’água. Assim fizeram e riam, riam, voltavam à tona... E eu, boquiaberta, expiava, aprendia. Mágica e lúdica essa tal cumplicidade do afeto.
Imaginem-se fazendo o mesmo convite! Imaginem a cara de alegria do pequeno rapaz... E da avó! Imaginaram?
Eu, por meu lado, queria logo mandar a originalidade passear e copiar, reinterpretar aquele momento inesquecível para ambos.
Crianças tiram... E nos dão fôlego! Brilhos de vida.
É bem verdade que esses encontros, também, nos despertam para os limites e os nãos que o passar dos anos traz.
Minha neta é uma lourinha serelepe, dinâmica, inteligente, linda e muito levada!
Sensível é capaz de aquietar-se a um canto, olhando a paisagem, curtindo a tristeza de ficar de fora de uma brincadeira entre amiguinhas da mesma idade. Entretanto, toma-me alegria completa, ao vê-la pendurada num cipó, balançando e fazendo estrela, depois subindo numa amoreira próxima. O perigo logo se instala, e quase enlouqueço pedindo que desça, desista de capturar a simples e delicada frutinha negra, e ela... Continua subindo. Apelo, sorrio, seduzo... Nada faz a intrépida descer!
Apelo, dessa vez, para a pressão alta! O local já está ermo, sem visitantes ou funcionários. Descubro um jeito de oferecer-lhe a deliciosa frutinha e evitar o provável tombo.
- Desce! Vou balançar os galhos!
Dá resultado. A grama fica pintada de pontinhos escuros e vamos abaixadas, colhendo, comendo!
- Vó, como você é preocupada...
Saio com a coluna em frangalhos... O coração em festa de arromba!
Ficaria, por aqui, contando mil histórias de vó! Mas a que deixo com vocês é de matar de rir...
Quase finda a expedição lá pros cafundós do maravilhoso clube, dentro da lagoa Rodrigo de Freitas, ela passa a me reapresentar sua árvore e a de seu irmão, que foram crescendo junto com eles. Com a primeira, delicada e graciosamente, dança um tango, conversa. Com a segunda, informa:
-Vovó a palmeira do meu irmão ficou grávida e deu filhote: É essa aqui do lado!
Banhos tomados. Vovó pede xampu emprestado, um autêntico conversê entre meninas, recolhidas as tralhas e apetrechos aguardo... Paciente até que todos estejam prontos.
Vem então o menino encantado, doce, amoroso e ardiloso. Pergunta, sorrindo com seu jeito cândido:
-Quer um abraço?
-Querer eu quero! Eu lhe respondo.
A cumplicidade de olhares captada entre irmãos e amiguinha quase me transtorna. Algo estão aprontando! Dessa vez o que será meu Deus?
Ele, já no abraço, sussurra para elas bem próximo ao meu ouvido esquerdo:
- Anda rápido!
Surpreendo os três: -Tão aprontando alguma... E, ao mesmo tempo, sinto descendo da cabeça ao pescoço, e colo algo colocado por mãosinhas ágeis e leves, como folhas...
Grito.
- Não são formigas, são?
Eles riem, me abraçam e quase desmaio.
Acabava de receber uma chuva de pétalas de flores silvestres, pequenas rosas cor-de-rosa, as flores exuberantes e delicadas dos flamboyants...
Bem alto alegrei-me, agradeci e perguntei incrédula:
-Vovó merece tudo isso?
Ofereci o colo aos dois, e também à meiga Vic, amiguinha. Encarapitados, em cada perna, sorriam. Raul, meu neto, oferecia sem qualquer cerimônia meu regaço, alardeando:
-Pega na Vovó! Ela é muito macia!
Um abraço deliciado de vó corujíssima.
Maysa