sexta-feira, 4 de fevereiro de 2011

REFLEXÕES E ABSINTO





REFLEXÕES E ABSINTO


Maysa Machado



Muita vez é melhor não encarar a dor! Como fugir? Gemendo ora! Gema alto proteste e siga, não desista! Não morreu se fortaleceu.

Aceite as notícias tristes, perdas e silêncios... A vida é tecida assim! Ausências de fora e de nós, em nós. Tramas cruas, fortes.

Ah! Vida... Melhor seguir tirando, ensinando e nos fazendo de eternos aprendizes! Cada instante não se repete mesmo. A exaustão, só frases!

Vida com muitos sentidos, e muita vez sem nenhum significado!

Amarga e tóxica como o absinto!

Prá em outro tempo ser leve, doce, amável.

Em qual frasco a gente encontra a essência de vida?

Sempre única e fugaz.

Percepções que Maria, a protagonista de Último Tango em Paris, em sua morte prematura deixa à nossa geração, que a viu nua, jovem, triste e bela nas telas, com Brando.

Nudez longe de ser apenas imagem de beleza palpitante, incluía a vida, a morte, a dor. O medo de amar.

Bertolucci ao dirigí-los narrava em off, sem prever, os destinos trágicos dos dois atores para além de seus personagens.

Indagações coloquiais pungentes assaltaram nosso existir clamando por mais independência e liberdade, bem acima dos padrões da cultura ocidental da época.

A identidade dos amantes, nunca revelada, continuava a fervilhar como um vazio, um buraco que nunca se completaria.

Até hoje amor e sofrimento disputam na velocidade dos acontecimentos, e na parcimônia dos afetos, um só lugar.

A nós, que remanescemos, cabe nova indagação... A cada dia, e nenhum remanso.

Um abraço

Maysa

4 comentários:

Alfredo Rangel disse...

Maysa

Um casal de pioneiros. Verdadeiros precursores da exposição da luta travada entre o amor e o sofrimento. Tanto numa forma expressiva de amor, de certa forma ainda chocante para a época, quanto pela elevada carga dramática que incorporaram.
Marcantes papéis e atuações. Brando, de carreira extensa e consagrada, vitoriosa e a doce Schneider, meteóro brilhante, cujo sonho foi exposto.
Brilhante também esta tua crônica, escrita de forma sensível, pungente e ao mesmo tempo analítica, encerrando com a realidade:"hoje amor e sofrimento disputam um único lugar."
E a cada dia mais me incomoda constatar que o sofrimento tem vencido esta disputa, sufocando o amor de Maria...
Parabéns pelo registro e epla oportunidade de lermos algo inteligente.

beijo

Maysa disse...

AC Rangel

Comentários agudos são mais raros! Me visite sempre! Gosto de conversar com vc.
Maria Schneider foi uma das musas para geração que exigia o plural da liberdade!
Um amigo revelou a tristeza que sentiu com declaração, repercutida na mídia,da própria atriz.O sentimento violento do estupro, vivido por Maria, durante as filmagens de O ÚLTIMO TANGO EM PARIS, provocado pelo diretor- Bertolucci e por Brando.
São difíceis todas histórias em que a ficção se mescla com a realidade.
Beijo
Maysa

Amalia disse...

Todos fazemos parte de uma trama, de um filme, de um personagem...somos pedaços espalhados em cada "coisa" q nos identifica, em cada momento q nos guarda...Somos "Maria", somos "Brando", somos bons/maus,temos surpresas (Oh!) e rotinas...
Por essas e por outras temos q pensar sempre naquilo q não cansamos de repetir: Viver a vida! VIVER cada momento o "aqui e agora".
Maysa sempre nos faz fazer, ao invés de um comentário, um relatório!rs Isso pq nos faz refletir com suas palavras sempre inteligentes e colocadas no momento certo, de cada ato.
bjssss

Maysa disse...

Amália

Viver a vida!cada único momento, como se fosse o último é coisa para os poetas! Eles podem! No dia-a-dia a gente se perde, se embaralha. Perder pessoas é um transtorno!
Aqui, n'O NINHO procuro encontrar palavras para expressar emoções, sentimentos, pensamentos...
Há quem goste, como você!
Beijo
Maysa