domingo, 25 de janeiro de 2009

Noções - Cecília Meireles




Entre mim e mim, há vastidões bastantes

para a navegação dos meus desejos afligidos.


Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.

Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,

Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a.

Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,

e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é a minha alma:

qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,

como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...




Viagem(1939), in Cecília de bolso, uma antologia poética,L&PM Pocket


ooooooooooooooooooo

Com poemas, celebro meu tempo interior, numa busca incessante de complementação e significados, para o ato de viver.


Todo dia



Apurar a palavra e o afeto.
Vestir uma sem despir o outro.
Jogar o supérfluo fora.


Revisitar o essencial
sem mágoas antigas
nem saudades remotas
do que não foi feito
do que esquecemos de dizer.


Cuidar p'ra respirar,
prazerosamente, a vida.
Se possível, fazer companhia à solidão
instalada debaixo da nossa janela
diante da nossa cara
dentro
bem dentro do nosso coração!




Rio.02.04.91

Maysa



quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

LIÇÃO DE UM GATO SIAMÊS



Só agora sei
que existe a eternidade:
é a duração
finita
da minha precariedade


O tempo fora
de mim
é relativo
mas não o tempo vivo:
esse é eterno
porque afetivo
_ dura eternamente
enquanto vivo


E como não vivo
além do que vivo
não é
tempo relativo:
dura em si mesmo
eterno ( e transitivo)



Ferreira Gullar/ Toda Poesia/Muitas vozes. 1999

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Mãos Dadas



Tem sido um tempo
de muita reflexão!
Dor, tristeza, perda.

Mas, renascimento
e esperança também!
Meu sonho é o mesmo.
Ele é possível e se
parece comigo: Liberdade.

Cumplicidade e afeto
andam juntos de
mãos dadas...
de preferência no
Jardim Botânico.

Maysa

( escrito em 04.05.2005)

O ninho e a tempestade




É assim no verão! Surpresas com a natureza, com a gente.

Comigo, a alegria veio numa manhã qualquer.Descobri o asa à asa de um ninho sendo feito pela passarinha, pequenina, serelepe... sob as vistas atentas de dois puxados olhos verdes, de uma gata gorda e caçadora: A Miou - miou.

O aconchego sentido, a cada dia, pelo aparente emaranhado de fiapos de árvore, crescendo, virando um casulo, casa, abrigo, é indescritível. Um galho mais saliente de uma esmirrada bouganvilea foi o escolhido, bem no meu quintal.

Fiquei, de olho na gata. Perigo conhecido não é perigo ! a gente contorna, vigia. Pior é o imprevisto.

As chuvas de verão, no Rio, desabam de uma hora para outra e, assim foi, na primeira sexta feira, deste inaugural janeiro de 2009.

Tomei um banho e tanto de chuva, tirando folhas de um ralo do pequenino jardim e, foi tanta a água, quando tudo já estava inundando, só então lembrei do ninho.

Alí, volteando, junto com o fino galho, o ninho atravessava sua primeira tempestade.

Meu coração apertado e triste , perplexo, e sem nada prá me dizer, acompanhava cada segundo de aguaceiro e vento!

O susto levou exatos vinte minutos!

A tempestade caprichosa e indomada desapareceu. O ninho parecia intato. Em momento algum propus-me a intervir, não podia! todos sabemos que se tocado a passarinha não volta mais, rejeita-o.

Minha criação urbana não acrescentava como agir para protegê-lo! Era o meu primeiro ninho, recebido como um presente, em risco!

A madrugada foi castigada com mais chuva forte e , insone, avaliava àquela fragilidade tão fustigada.

O ninho tem resistido, continua lá . Já estava pronto para abrigar os ovos e reiniciar o ciclo da vida mas, não tenho visto a passarinha piando, contente, alegre e ligeira.

Minhas reflexões sobre a fragilidade aparente, sobre "o fazer"de quem sabe, o imponderável em nossas experiências de vida levaram-me à muitas observações.

A primeira, sobre o engenho daquela frágil construção , resistente diante da ação , do furor da própria natureza.

O símbolo do ninho, ainda , é para mim o do primeiro aconchego.

A tempestade é a força que desorganiza por conter fúria, ser incontrolável.

Essas constatações, no quintal pequenino, entre flores e arbustos, entre gravetos, gatas e passarinhos fazem -me pensar na vida que tanto queremos, em plenitude e ,que sempre está aí a nos trazer desafios.

Maysa
PS:Foto Ana Paula/Rio .


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tristeza em excesso

Ano novo, vida nova!
O que é novo?
Uma rotina, um desejo
um cuidado em si
mesmo?

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(trecho do poema)
12.01.09
Maysa