sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

Da origem da poesia - Nietzsche - 3º tempo

Retomando as reflexões de Nietzsche, sobre a poesia:



"Havia ainda uma idéia mais esquisita, e foi precisamente ela que contribuiu mais poderosamente para fazer nascer a poesia. A poesia aparece-nos, com os pitagóricos, como ensinamento filosófico e artifício de pedagogo; mas muito antes de ter havido filósofos, atribuía-se à música, e mais precisamente ao ritmo musical, a faculdade de descarregar as paixões, de purificar a alma, de suavizar a ferocia animi ( ferocidade do ânimo). A tensão normal da alma, a sua harmonia, acabava por se perder, era necessário começar a dançar acompanhando o compasso do canto...era o que receitava essa terapêutica. Aplicando-a Terpandro apaziguou uma sublevação,Empédocles acalmou um furioso e Dámon curou um jovem que estava doente de amor; aplicando-a podia igualmente tratar-se dos deuses que se tinham tornado furiosos, quando a vingança os dominava. E para isso, primeiramente, elevava-se ao máximo a extravagância do seu direito e da sua paixão, tornava-se frenético o furioso, o sedento de vingança bêbado da sua necessidade; todos os cultos orgíacos se propõem satisfazer, de uma vez para sempre, uma orgia, a ferocia do deus, para que ele se sinta em seguida mais desprendido, mais calmo, e deixe os homens em paz. Melos (melodia), etimologicamente significa meio de apaziguamento, não porque o canto seja suave em si próprio, mas porque os seus efeitos ulteriores acalmam. E não é apenas o canto religioso que pressupõe que o ritmo exerce uma força mágica; o canto profano das épocas mais distantes também o faz, como o dos aguadeiros ou dos remadores; este canto devia encontrar os demônios que se considerava entrarem em jogo no decurso destas operações, ele os torna dóceis e cativos, os capta e faz deles instrumentos do homem. Sempre que se age há razões para se cantar, qualquer ação tem necessidade do socorro dos espíritos: os canto mágicos e as encantações parecem ter sido as formas primitivas da poesia."

Da origem da poesia, in a Gaia Ciência, ed. Martin Claret, texto integral, coleção a obra-prima de cada autor, 2004, livro segundo, 84.


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Para os que acompanham em O ninho e a tempestade, minhas descobertas :

Em três tempos, recorri à Nietzsche, sublinhando suas reflexões sobre a origem da poesia. O texto escolhido do autor não terminou, e é lindo . Mas, aqui, quero só instigar, remexer, alcançar... quem sabe você?
Volto a comentá-lo nos pontos que mais me motivaram, aguardem.

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Tenho, um pedido, quase súplica!
Deixem seus comentários, sobre essas reflexões, poesia ou prosa poética, n'O ninho, gente! É só clicar, após o texto, em comentários e deixar o seu ritmo aplacar a ira dos deuses! Conto com a criatividade de cada um .

Beijos e rebeijos
Maysa

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