Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?
in, TODA A POESIA, Na vertigem do dia ( 1975-1980),pg.335. 17ª edição .José Olympio Editora
Ferreira Gullar, é um dos meus poetas mais queridos. Sorte minha gostar de poesia e ter nascido aqui, nesta terra tão fecunda em lirismo, pluralidade, sensibilidade...
Traduzir-se, poema que hoje transcrevo, é um dos meus preferidos.
Agradeço e dedico à Maria Dolores, amiga recente, cuja sensibilidade une novos e antigos companheiros e também os amantes da poesia. A lembrança deste poema brinda nossa busca por beleza e autenticidade.
Com amor e carinho por F.Gullar e sua obra.
Maysa
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