quarta-feira, 15 de abril de 2009

TRADUZIR-SE Ferreira Gullar











Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.


Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.

Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.

Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?


in, TODA A POESIA, Na vertigem do dia ( 1975-1980),pg.335. 17ª edição .José Olympio Editora



Ferreira Gullar, é um dos meus poetas mais queridos. Sorte minha gostar de poesia e ter nascido aqui, nesta terra tão fecunda em lirismo, pluralidade, sensibilidade...
Traduzir-se, poema que hoje transcrevo, é um dos meus preferidos.


Agradeço e dedico à Maria Dolores, amiga recente, cuja sensibilidade une novos e antigos companheiros e também os amantes da poesia. A lembrança deste poema brinda nossa busca por beleza e autenticidade.


Com amor e carinho por F.Gullar e sua obra.

Maysa

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