Filha de pai alagoano, muito cedo senti atração, mesmo sem o convívio geográfico, com as Alagoas. O interesse e encanto pela obra de homens como Graciliano Ramos, Lêdo Ivo, e mulheres com o pioneirismo de Nise da Silveira, traduzem o vigor e a riqueza nordestinas.
Mostram minhas raízes de que mais e mais me aproximo.
Domingo assisti, num canal de TV paga, à belíssima entrevista feita pelo repórter Geneton de Moraes Neto com o poeta Lêdo Ivo a quem admiro desde meus vinte e poucos anos.
Mostram minhas raízes de que mais e mais me aproximo.
Domingo assisti, num canal de TV paga, à belíssima entrevista feita pelo repórter Geneton de Moraes Neto com o poeta Lêdo Ivo a quem admiro desde meus vinte e poucos anos.
Semana passada dividimos a mesma calçada no Centro do Rio, tive desejo de pará-lo cumprimentá-lo e agradecer por sua poesia, mas deixei-o seguir quieto, com sua fisionomia tranquila e saudável, por inteira admiração. Os fãs dos poetas são diferentes dos fãs dos pop stars!
Transcrevo aqui trecho do encontro entre o repórter e o poeta, mais a poesia Queimada.
Sugiro, ainda, que leiam a matéria no site do Geneton.
....
GMN- Por que o senhor diz que detesta escritores que consideram a criação poética “um suplício” ? .
Ledo Ivo: “Tenho horror desses camaradas que passam o tempo todo dizendo que gemem e suam na hora de escrever. A minha criação literária é uma felicidade. Quando escrevo, parece que as coisas já vêm prontas,organizadas subconscientemente. Pensa que “capino” o meu texto. Mas o meu texto vem espontaneamente. Não tenho nenhuma simpatia por escritores que cortam. A minha simpatia maior é pelos escritores que acrescentam !
João Cabral uma vez me disse que passava noites acordado, com angústia. Eu dizia “Você só diz que passa noites acordado para ver se me causa inveja, mas não causa não!”.
GMN : Ao contrário do que dizia Carlos Drummond de Andrade,escrever não é “cortar palavras”, mas acrescentar ?
Ledo Ivo: “Um escritor francês disse que o bom escritor é aquele que “enterra uma palavra por dia”. Para mim,o bom escritor é o que desenterra uma palavra por dia ! Porque o escritor lida com um patrimônio lingüístico. De vez em quando o brasileiro ressuscita palavras esquecidas”.
...mais adiante
GMN : O que ficou da amizade com Manuel Bandeira ?
Ledo Ivo: “Minha ligação com Manuel Bandeira foi profunda. De todos os poetas, talvez o que mais me tenha marcado e ensinado foi Manuel Bandeira. Quando eu era menino, mandei poemas para ele. Recebi de volta um cartãozinho em que ele tocou em um ponto que ainda hoje permanece na poesia: “Há muita magia verbal em seus poemas”.
Depois percebi que, para mim, a operação poética é como se fosse um encantamento da linguagem – uma magia. Sou um poeta que acha que a poesia é o uso supremo da linguagem. Bandeira fez esta descoberta em meu momento inicial. Deu-me lições perenes : por exemplo,a de que o poeta deve ser um intelectual culto. Só a cultura tem condições de abrir caminhos. Ao poeta,não basta apenas ter talento e vocação. Por que o poeta deve ser realmente um homem culto ? Porque a poesia é um sistema milenar de expressão. É preciso conhecer os mestres. A criação poética não é,portanto,um problema só de sensibilidade. É um problema de cultura. Somente o vasto conhecimento da poesia e da literatura é que permite ao poeta exprimir-se.
A fidelidade à literatura deve ser o emblema do escritor. Devemos continuar segurando o estandarte. Vivemos um tempo de mudanças. Somos uma civilização de massas, uma civilização eletrônica, uma civilização consumista. Tudo alterou a posição do escritor e do poeta no Brasil.
Já não temos aqueles poetas populares de que Drummond foi o último grande exemplo.O poeta vive hoje em uma época de anonimato. Os ícones são diferentes,os gurus são outros. A linguagem literária hoje compete com a linguagem eletrônica, o CD-Rom, o cinema,o disco . Mas,há alguma coisa que só a poesia tem condições de dizer. A poesia,então,existirá sempre,como linguagem específica,porque só ela pode dizer,sobre a condição humana,algo que não pode ser dito de nenhuma outra maneira. O cinema e a televisão lidam de uma maneira diferente”.
GMN : O poeta, então, deve se resignar a ser anônimo, nesse mundo dominado pela fama e pela mídia eletrônica?
Lêdo Ivo: “A função do poeta na sociedade é escrever poemas.A notoriedade é secundária”.
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Transcrevo aqui trecho do encontro entre o repórter e o poeta, mais a poesia Queimada.
Sugiro, ainda, que leiam a matéria no site do Geneton.
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GMN- Por que o senhor diz que detesta escritores que consideram a criação poética “um suplício” ? .
Ledo Ivo: “Tenho horror desses camaradas que passam o tempo todo dizendo que gemem e suam na hora de escrever. A minha criação literária é uma felicidade. Quando escrevo, parece que as coisas já vêm prontas,organizadas subconscientemente. Pensa que “capino” o meu texto. Mas o meu texto vem espontaneamente. Não tenho nenhuma simpatia por escritores que cortam. A minha simpatia maior é pelos escritores que acrescentam !
João Cabral uma vez me disse que passava noites acordado, com angústia. Eu dizia “Você só diz que passa noites acordado para ver se me causa inveja, mas não causa não!”.
GMN : Ao contrário do que dizia Carlos Drummond de Andrade,escrever não é “cortar palavras”, mas acrescentar ?
Ledo Ivo: “Um escritor francês disse que o bom escritor é aquele que “enterra uma palavra por dia”. Para mim,o bom escritor é o que desenterra uma palavra por dia ! Porque o escritor lida com um patrimônio lingüístico. De vez em quando o brasileiro ressuscita palavras esquecidas”.
...mais adiante
GMN : O que ficou da amizade com Manuel Bandeira ?
Ledo Ivo: “Minha ligação com Manuel Bandeira foi profunda. De todos os poetas, talvez o que mais me tenha marcado e ensinado foi Manuel Bandeira. Quando eu era menino, mandei poemas para ele. Recebi de volta um cartãozinho em que ele tocou em um ponto que ainda hoje permanece na poesia: “Há muita magia verbal em seus poemas”.
Depois percebi que, para mim, a operação poética é como se fosse um encantamento da linguagem – uma magia. Sou um poeta que acha que a poesia é o uso supremo da linguagem. Bandeira fez esta descoberta em meu momento inicial. Deu-me lições perenes : por exemplo,a de que o poeta deve ser um intelectual culto. Só a cultura tem condições de abrir caminhos. Ao poeta,não basta apenas ter talento e vocação. Por que o poeta deve ser realmente um homem culto ? Porque a poesia é um sistema milenar de expressão. É preciso conhecer os mestres. A criação poética não é,portanto,um problema só de sensibilidade. É um problema de cultura. Somente o vasto conhecimento da poesia e da literatura é que permite ao poeta exprimir-se.
A fidelidade à literatura deve ser o emblema do escritor. Devemos continuar segurando o estandarte. Vivemos um tempo de mudanças. Somos uma civilização de massas, uma civilização eletrônica, uma civilização consumista. Tudo alterou a posição do escritor e do poeta no Brasil.
Já não temos aqueles poetas populares de que Drummond foi o último grande exemplo.O poeta vive hoje em uma época de anonimato. Os ícones são diferentes,os gurus são outros. A linguagem literária hoje compete com a linguagem eletrônica, o CD-Rom, o cinema,o disco . Mas,há alguma coisa que só a poesia tem condições de dizer. A poesia,então,existirá sempre,como linguagem específica,porque só ela pode dizer,sobre a condição humana,algo que não pode ser dito de nenhuma outra maneira. O cinema e a televisão lidam de uma maneira diferente”.
GMN : O poeta, então, deve se resignar a ser anônimo, nesse mundo dominado pela fama e pela mídia eletrônica?
Lêdo Ivo: “A função do poeta na sociedade é escrever poemas.A notoriedade é secundária”.
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"A Queimada" :
"Queime tudo o que puder :
as cartas de amor
as contas telefônicas
o rol de roupas sujas
as escrituras e certidões
as inconfidências dos confrades ressentidos
a confissão interrompida
o poema erótico que ratifica a impotência
e anuncia a arteriosclerose
os recortes antigos e as fotografias amareladas.
Não deixe aos herdeiros esfaimados
nenhuma herança de papel.
Seja como os lobos : more num covil
e só mostre à canalha das ruas os seus dentes afiados.
Viva e morra fechado como um caracol.
Diga sempre não à escória eletrônica.
Destrua os poemas inacabados,os rascunhos,
as variantes e os fragmentos
que provocam o orgasmo tardio dos filólogos e escoliastas.
Não deixe aos catadores do lixo literário nenhuma migalha.
Não confie a ninguém o seu segredo.
A verdade não pode ser dita".
Para os que desejam saborear essa antológica entrevista de Geneton de Moraes Neto com o poeta LEDO IVO é só clicar aqui .
Alguns trechos da reprodução, deste feliz encontro, foram destacados, em itálico ,por esta blogueira.
O Rumor Da Noite é o novo livro de Lêdo Ivo.
Um abraço
Maysa
O Rumor Da Noite é o novo livro de Lêdo Ivo.
Um abraço
Maysa
5 comentários:
Obrigada por me apresentar tão encantador escritor...
Ledo é um mestre. Sou neto de Alagoanos e fã incondicional dele!
Sou neto de alagoanos e o Ivo me fala muito forte. Leiam o livro Plenilúnio!
Suelen
Lendo o comentário do Vinnie, percebi que o teu ficou sem resposta. Bem, desculpas aceitas, rsrsrs,manifesto minha alegria por ter apresentado, o Ledo , a ti. Já procurou por seus livros? Precisamos cultivar a sua poesia .
Abraço Maysa
Grata Vinnie
Somos netos de alagoanos e fãs do Ledo. É um bom começo. Me visite mais e deixe seu comentário, quando puder. Faz bem para a limentar o blog.
Abraço
Maysa
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