INSTANTE
Maysa
Machado
Não perguntem a mim mais do que pude
observar e sentir. O fato é que nesse começo de tarde do inverno carioca, nem
frio nem quente, luminosidade aconchegante, solzinho discreto e preguiçoso...
Eis que num instante, apenas num breve instante, percebi no ar sons que a
natureza engendra para nos presentear, vida que gera êxtases... O beijo de dois
beija-flores.
O trinado acoplado. Perguntas e
respostas trocadas além dos finos bicos engatados, e na mesma velocidade do
encontro, logo após, a distância imposta aos apaixonados. Razão
imprescindível para continuar... A voar.
Ah! Não é à toa, o testemunho de tal
idílio urbano, amor alado, breve como a vida, prenhe de significados.
Domingo é dia de descanso. Descanso da lida do operário mal pago, que mora longe e quando chega ao árduo trabalho, nas manhãs, faz um alvoroço que tento compreender, porém, insuportável.
Domingo é dia de descanso. Descanso da lida do operário mal pago, que mora longe e quando chega ao árduo trabalho, nas manhãs, faz um alvoroço que tento compreender, porém, insuportável.
Sou há meses arrancada do sono por
tapas supersônicos! Como berram! Prá que? Qual o sentido de gritar e não dizer
as palavras com precisão, como o velho Graça nos ensinou?
Os pássaros daqui, mais sabidos e livres do que eu, fogem, vão para outros lugares e só retornam ao fim das tardes, assim que os barulhentos operários e suas máquinas ensurdecedoras emudecem. Tenho observado. Mudamos. Acuados e expulsos de nosso antigo e modesto paraíso. O local é alvo da cobiça desmedida para ganhos rápidos, altos lucros, quanto menores os investimentos.
Há meses a obra irregular corre célere, desrespeitando os mínimos direitos – das gentes e animais-, gerando desequilíbrio ambiental.
Os pássaros daqui, mais sabidos e livres do que eu, fogem, vão para outros lugares e só retornam ao fim das tardes, assim que os barulhentos operários e suas máquinas ensurdecedoras emudecem. Tenho observado. Mudamos. Acuados e expulsos de nosso antigo e modesto paraíso. O local é alvo da cobiça desmedida para ganhos rápidos, altos lucros, quanto menores os investimentos.
Há meses a obra irregular corre célere, desrespeitando os mínimos direitos – das gentes e animais-, gerando desequilíbrio ambiental.
Pássaros mais novos caindo dos
ninhos; árvores com folhas amarelecendo cobertas de grossa camada de poeira;
saguis espertos, porém, indefesos e desnorteados, saindo das quedas com as
pernas quebradas. Enquanto isso, também, nossa saúde fugia, os tombos surgiam,
os diagnósticos assustavam.
Herdei de toda essa convulsão urbana,
invadindo a travessa antiga do bairro, alguns sintomas desconfortáveis. Aliás,
ficou muito desconfortável viver ao lado de uma obra, com as características negativas
que essa tem.
E, por ser uma sobrevivente desse caos, provisoriamente, paralisado exultei ao receber o singelo, e hoje, raro presente da vida saudável que rolava por aqui.
Dois beija-flores a se beijar!
Um amor a dois! A perfeição do voo solo garantida. A liberdade de voar reconquistada.
E, por ser uma sobrevivente desse caos, provisoriamente, paralisado exultei ao receber o singelo, e hoje, raro presente da vida saudável que rolava por aqui.
Dois beija-flores a se beijar!
Um amor a dois! A perfeição do voo solo garantida. A liberdade de voar reconquistada.
Imagino
sabedoria e delicadeza juntas. Novamente, no pequeno pedaço do meu escolhido
ninho chega a esperança, trazendo o domingo acolhedor e suave pra
se viver!
Santa Teresa, 14 de julho de 2013.
Abraço a todos
Maysa
Abraço a todos
Maysa
Um comentário:
Maysa, Viva a beleza dos beija-flores sem horrores barulhentos!
Para não se estressar, das 51 dicas, o melhor mesmo é subir na árvore e juntar-se aos beija-flores
E me chama que eu vou sorrindo
bjs, Martha
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