Poema de Nelson Cavaquinho/ in Museu da Lingua Portuguesa
Ah! volta e meia a poesia nos indica caminhos, ou nos mostra o pulsar da vida em gestos imprecisos, nos desvãos das certezas que trazemos no peito, por puro medo das novas e improváveis emoções.
Lendo O Número Quatro, de João Cabral de Melo Neto, assoma a vontade de ajoelhar e rezar baixinho "... a roda, criatura do tempo, é uma coisa em quatro, desgastada". Vontade de nunca, nunca mais rezingar com a vida; aceitar a troca entre o tempo em seu percurso de ir e vir. Fazer permutas com as quinas, arestas, arredondar incomunicabilidades. Maysa Machado
O NÚMERO QUATRO
O número quatro feito coisa
ou a coisa pelo quatro quadrada,
seja espaço, quadrúpede, mesa,
está racional em suas patas;
está plantada, à margem e acima
de tudo o que tentar abalá-la,
imóvel ao vento, terremotos,
no mar maré ou no mar ressaca.
Só o tempo que ama o ímpar instável
pode contra essa coisa ao passá-la:
mas a roda, criatura do tempo,
é uma coisa em quatro, desgastada
João Cabral de Melo Neto
Deixo meu abraço aos que passarem por aqui.
Maysa
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