Cora Coralina Cristalina
É doce!Calda em ebulição fervilha... Falta mesmo ao olfato a gama de odores, a memória dá conta desse recado.É água! Borbulhas e espumas se alternam em movimentos rápidos e renovados. Pedras brutas, agora amaciadas, lisas, úmidas, ainda, escuras sob tanta luz cristalina... São muros, muitos... tanto formato de colocar pedra sobre pedra. Pedras, açúcar, receitas preciosas; letra em caligrafia antiga, caprichada salta dos cadernos de Cora. Comentários precisos e apetitosos.
São meus sustos diante de tanta beleza e simplicidade, de tanta sabedoria e humildade. A poesia escorre como água fresca, borbulha como o doce que está alcançando o ponto. Entra em nós, passeia em nossas lembranças, e não faz menção de sair. Chega-me a profunda saudade da avó verdadeira, dos seus doces, do seu bordado, da sua sabedoria... Do seu cheiro de alfazema, dos cabelos lisos, macios e alvos na tez morena. Avozinha tão querida...
Flor de pedra
Espuma é...
Vem no movimento
Que é vida
Passagem
Alquimia
Transformação.
Os sons misturados
Cristais, cristais
Riquezas interiores
Não mais...
Poesia vida é.
Saio do devaneio...
(Maysa)
Descubro na travessura de menina, ainda Ana, o caso do prato... Deixou de ser prato e virou poema, antes de virar colar: O prato azul pombinho!
Era um enlevo o canto da minha meninice!
Cuidado com esse prato
Foi o último de noventa e dois!
E mais adiante:
Entre pedras que
me esmagavam
levantei a pedra
rude dos
meus versos.
E mais...
No acervo do perdido,
no tanto do ganhado,
está escriturado:
Perdas e danos,
meus acertos.
Lucros, meus erros.
Cora também pode ser ouvida e vista num vídeo contando suas histórias. Ali, sua forma de ver o mundo, seu olhar nos alcança e deixa em nós perguntas sem respostas, caminhos para outro olhar e entendimento... O poema de Carlos Drummond de Andrade, bem na saída, religa nossa imaginação. Poesia é isso, um tempo que não se explica, nem se esvai... Fica.
Um carinhoso abraço cheio de poesia.
Maysa
PS:No Centro Cultural do Banco do Brasil , até 13 de março.
2 comentários:
Sempre que vejo uma imagem de Cora Coralina, sinto vontade de sentar no seu colo, me aconchegar na sabedoria desta mulher madura, que nos mostra que a sabedoria está nas coisas simples. devemos aprender com ela a sensibilidade de ver!!!
Cristina
A exposição- no CCBB- dedicada à Cora é pequena, e se resolve em duas salas.O impacto é imenso!logo na primeira. A memória antiga aparece, logo após a cortina negra que nos leva ao mundo de poesia, doces, águas e pedras de Cora. Poder ler páginas de seus cadernos é uma viagem...
Beijo
Maysa
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