segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

HOJE, AMANHÃ OU SEMPRE? Maysa Machado

foto andré lazaroni








HOJE, AMANHÃ OU SEMPRE?

Maysa Machado







— Hoje, amanhã ou sempre?
Assim de supetão a pergunta saiu. O silêncio ajeitou palavras e sentimentos. Venceu a modesta verdade.
Hoje.
— Aí te peguei! Viu só? Maria sorria um sorriso doce, e sem compromisso.
— Gostei da pergunta, disse o acanhado José.
Assim, quem sabe o jogo de palavras os ajudasse a se comunicarem? Eram dois tímidos irrecuperáveis. Ela disfarçava bem, falante, antenada. Enquanto ele se lixava para o que as palavras podiam fazer com o seu confuso sentimento. Era esquivo, silente e de pouca entrega. Obstinado e voluntarioso.
Encontro marcado, remarcado, adiado, antecipado, José chegou - com atraso pontual- às 7 h, do horário de verão. A tarde linda, o coração de Maria apaixonado. Nada o demoveu de estar ali. Nem o compromisso às 8 h, no Leblon, ao qual ela não podia faltar.
Os percursos dos amores não necessariamente são linhas perfeitas que se completam. Correm em cursos paralelos ou tangentes, muitos esbarros, mais encontrões que encontros. O hoje espremido entre o ontem e o amanhã, sempre será assim. Por vezes o queremos longe, em outras circunstâncias muito perto e, nem seria pedir muito eternizá-lo.
Hoje. A resposta honesta, possível, para quem precisa que a vida esteja sob controle, mesmo que por um fio.
Por um fio estamos todos, desde que aqui vindos.
Amanhã. É muito tempo de espera, ansiedade, e pode não chegar. O amanhã não nos é garantido. O tempo escapa e vai continuar a fugir de nós.
Ah! O que dizer e pensar, e mais ainda sentir, do Sempre? É o sonho que pode ser transformado em pesadelo, construído por almas em desgastes cotidianos.
Melhor dizer: Hoje.
E eles se amaram em paz, contentemente.

Um abraço de Pós Carnaval.
Maysa

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O RIO NA FOLIA - Carnaval de 2012- Maysa Machado

foto Rafael Andrade, de O Globo













1º desfile do bloco Timoneiros da Viola, pelas ruas de Madureira.

O RIO NA FOLIA - Carnaval de 2012

Meu Carnaval, esse ano, não foi igual ao que passou! Vi a folia de perto, sem sambar... A pé, pelo bairro da Glória, na orla da praia, de Copacabana ao Leme. No vagão - espremido e sufocante — dos trens do Metrô. Ali, no transporte público concedido, presenciei muita agitação e falta de educação, sobretudo, em jovens bêbados!A companhia não destacou seguranças nas plataformas das estações. Parece-me que ficaram escalados para os percursos internos e nas entradas e saídas.

O samba é alegria, não se aprende na escola, se dança desde quando começamos a engatinhar. O Samba cativa. Não assusta, não empurra, não ensurdece por berros, e sim pelo ritmo e cadência. A criatividade e a irreverência são imprescindíveis e fazem parte. São bem vindas, estimulam e convidam todos a brincar.

Já gritos, agressões aos equipamentos comuns da cidade, não. As ruas, muros das casas, se transformam em mictórios a céu aberto. O lixo denuncia o estágio de descompromisso da população foliã, com o coletivo. Há lixeiras distribuídas em muitos pontos do trajeto dos blocos, os banheiros químicos, ainda, são insuficientes, no entanto, as entidades organizadoras têm o ano inteiro para negociar, propor e exigir das prefeituras melhorias na infra-estrutura dos desfiles.
Francamente a maioria desses flagrantes não representa o samba!

Não dá para conviver com grosseria, abusos e violência. Ainda bem que, em algumas situações, se nota uma pequena mudança para melhor. Creio que campanhas com abrangência, meses antes da semana de folia, podem minimizar os estragos urbanos sofridos, a cada ano.
Entidades públicas e particulares precisam pensar a cidade, nesses dias em que é ocupada/invadida por milhares de turistas internos e internacionais.

Quem sabe funciona encaminhar grupos ou pessoas alcoolizadas, preventivamente, aos setores destinados à atendimento provocados por distúrbios e desrespeito aos direitos dos demais cidadãos? Fica uma sugestão para o Metrô do Rio: Coloquem vagões preferenciais para os foliões—com rodízios nas plataformas das estações e dentro dos carros— de voluntários, e ou seguranças orientando aos passageiros nas dúvidas, e contribuindo para uma viagem sem excessos, como os que assisti e a concessionária ignorou.

Bom Carnaval aos mais foliões que eu! Atualmente, gosto de ver, assistir e me refrescar nas ondas da praia ou num copitcho de chopp.

Na foto acima, um instante de máxima felicidade. Mestre Paulinho da Viola desfilando no bloco, recém criado, Timoneiros da Viola, no bairro de Madureira. Até nós que não estivemos lá nos alegramos com a poesia desse sorriso.

Salve Paulinho! Salve o Samba! Salve o Carnaval do Rio. Que o projeto siga vitorioso! Cantar os sambas de quadra das escolas, em blocos de Carnaval, em bairros onde o samba foi e tem sido muito presente.

Viva os sambas dos compositores de Botafogo, bairro onde nasci! Viva os sambas de Mauro Duarte, Valter Alfaiate, Zorba Devagar, o próprio Paulinho da Viola!

Um abraço cheio da alegria provocada por cenas doces, singelas e irreverentes do Carnaval de 2012.

Maysa

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

FIM DE TARDE - Maysa Machado

foto cel/maysa/





FIM DE TARDE

Maysa Machado


Uma nuvem rosa pousa diante da janela.

Ou será que posa?

Singra o céu, abocanha espaços largos

Vai em direção ao poente.

Ganha o firmamento nuances violetas.

O murmúrio conhecido da brisa

balança as palmas altaneiras.

Entra pela janela suavemente.

Aragem passeia por véus

ondula como carícia a saia do vestido.

Parece acompanhar o canto sincopado das cigarras.

É a música do verão.

De mais um fim de tarde.

A brisa invade o calor,

acalma tudo.

Hoje, não haverá tempestade.

O céu coberto de cinza chumbo

Abre-se em flocos.

Asas e turbinas metálicas passam.

Palmeiras reinam

em meneios e contrastes

nas sombras da noite.

Elas vêm chegando.

O ventilador, em volta completa,

rodopia arabescos no teto.

Santa Teresa, 16 de fevereiro de 2012.


Enquanto isso, vamos nos guardando pra quando a folia passar...se o coração aguentar.


Maysa

domingo, 12 de fevereiro de 2012

PALAVRAS SEMPRE ME FIZERAM BEM - Maysa Machado

disco de festos/web




Maysa Machado

Palavras sempre me fizeram bem. Costumo lidar com elas tendo como aliado o prazer em decifrá-las. Em descobrir novos significados, usos e desusos.

É ludicidade genuína. Um dom recebido e acalentado.

Algumas quero ouvir, ditas ou sussurradas. Elas podem chegar de várias maneiras até minha sensibilidade auditiva e emocional. Amo seus sons, e só de pronunciá-las, já me sinto feliz.
Por exemplo: Alfaiate. Batuque. Gandaia. Treloso. Liberdade. Pirilampo. Alegria. Noite. Modorra. Afeto. Sabiá...

Essas pularam na frente de outras tantas que amo ler, escrever e ouvir. Espremo o espaço e recebo: Arcaico. Escrita. Tempo. Outono. Amor. Esperança. Afago. Saudade...

Tudo junto e misturado, tal qual sopa de letrinha, que na infância aliava sabor e curiosidade, formando palavras na beirada do prato. Caldo. Quente. Calor...

Quem disse que não faz bem chorar? Uma lágrima vertida tem beleza e silêncio. Então? Lágrima. Silêncio.

O que faz sentido nessa vida senão olhar a volta e perceber que tudo muda, se transforma. Não possuímos nada, nem ninguém. Apenas, desatamos os nós, tecemos teias infinitas, belas ou não. Com umas palavras criamos elos, inventamos, aprendemos, repetimos. Com as mesmas podemos interromper caminhos sabidos e juntos.

E até quando, por impedimentos, não ousamos pronunciá-las, descobrimos que muitas vezes o tempo apropriado já passou.

O Silêncio é frase. Contém significado que não se quer, ainda, revelado.

Santa Teresa, 12 de fevereiro de 2012


Um carinhoso e saudoso abraço de Domingo.


Maysa