sábado, 26 de janeiro de 2013

TEMPESTADES - Maysa Machado








TEMPESTADES


                                                                               Maysa Machado


Raios, relâmpagos e trovões apareceram essa madrugada com estrondosa pirotecnia.  Arrancaram- me dos sonhos, terminaram com meu sono e invadiram as horas seguintes deixando a manhã confusa. Acordei tarde, atordoada sem saber se eles tinham sido reais ou se eu os sonhara.
Através das notícias na rádio, soube dos estragos que a chuva deixara na cidade, e uma das origens dos deixados em minha noite.
Por muitos anos, o lugar onde vivo foi bucólico, sossegado; meu sono aprendeu e requer certas condições.
Santa Teresa vem sendo ocupada por novos moradores, com predominância de estrangeiros, encantados com o Rio. O bairro está invadido por obras. Reconstruções, reformas, poeira, barulhos vários, e quase todos desnecessários, somam desgaste ao dia e ao cotidiano.
Por aqui não acordo mais na hora que desejo ou que o sono acaba. Os gritos dos operários, as manobras excessivamente ruidosas dos carros, dos caminhões com carga e descarga. A pressa urbana nos alcança.
 E, o desmatamento indiscriminado da vegetação encontrada. Morro acima foi tudo cortado e muito, na obra do vizinho.
 A chuva foi torrencial. O barulho muito mais intenso, meus ouvidos atentos descobriram o que qualquer pessoa encantada com a natureza sabe. Planta faz bem a terra, segura o solo, abafa os ruídos, protege.
Quem ama, também, protege. Quem apenas ocupa... Leva mais tempo pra aprender.

Santa Teresa, 26 de janeiro 2013.

Um abraço neste sábado.

Maysa

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

UM DIA DE CHUVA: ENCANTOS E DESENCANTOS - Maysa Machado


foto Ricardo Cosmo















UM DIA DE CHUVA: ENCANTOS E DESENCANTOS.


                                                                                       Maysa Machado


O cenário é o mesmo? O que muda num dia de chuva na paisagem e em seu entorno?
Por aqui, além da impossibilidade de sair debaixo do temporal, fico vigiando o céu, que em vários tons do cinza não traz o sol, nem pista alguma para o fim da tempestade.
Como choveu esta madrugada no Rio. O barulho da chuva sempre me agradou, mas meteu medo esta noite.
O homem urbano fica refém das ruas alagadas, dos múltiplos perigos no espaço público, dos transportes precários. Os engarrafamentos costumeiros nas grandes cidades se transformam em impedimentos reais.
 O Rio, cercado pelo relevo montanhoso, desperta entre as águas e estas provocam profundas mudanças em sua topografia. E, sobretudo, as casas não parecem mais um abrigo tão seguro.  Choveu tanto.
As águas estão rolando... Estas lavam, é verdade, mágoas, sujeiras. Renovam e abençoam as plantas. Tão lindo, encontrar as folhas repletas de gotas de chuva. Gordas gotas.
Tempestades castigam as subidas desmatadas e trazem perdas. Há o grande perigo de vidas humanas à mercê da força das águas. Os homens públicos não fazem política com o coração, com a utopia, fazem-na com gastos e dívidas vultosas, e a população paga pela negligência desses governantes.
 Falta tudo o que não devia faltar nos períodos do verão carioca.  Ano após ano.
Os serviços prestados à população encarecem, sem qualquer controle. Uma cidade com destino turístico. Nascidos ou moradores, no verão, são todos surpreendidos e tratados como visitantes. E o que querem os prestadores desses serviços se resume numa palavra: Dinheiro. No espaço de uma estação. Sonhos escondidos sob o colchão?
 No bairro de Santa Teresa procure por uma farmácia. Uma padaria. Um supermercado. Um hortifruti. Sobram restaurantes e lojas de souvenirs. Falta o bonde. Lá, embaixo, na cidade encharcada experimente e peça um taxi para chegar a alguma das ruas do bucólico bairro. Se você está de passagem se reprograma. Se for morador vai pegar pneumonia.

No entanto, na manhã cinzenta, sou surpreendida de forma agradável, com a chuva. Acompanho há dois dias um par de rolinhas que procura abrigo por entre as folhas - agora pesadas - da pitangueira, que avança sobre o piso da varanda do meu quarto. E como são queridas, bonitinhas. Porém, ariscas, pois é o preço pago pela liberdade.

Santa Teresa, 22 de janeiro de 2013.

Um abraço para os que passam...rsrs
Maysa

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ANO 2013 - MÊS JANEIRO - DIA 09 - Maysa Machado



















ANO 2013 - MÊS JANEIRO - DIA 09. 

                                                                         Maysa Machado

Escavações prá lá de subcutâneas...

O que é isso? Envelhecer será contar meses, dias, minutos e segundos? Ou não tê-los porque a vida é breve e o tempo passa rápido. Ou, ainda, por que não aprendemos a lidar com o tempo real?
 Desconfio sequer com o imaginário, ambos breves, ao final das contas.
Sinto que meu tempo interior, de tão precioso, é burilado, requer muitas etapas, um trabalho com requinte. Aqui fora, tudo é fast!
Envelhecer é como a vida um mistério insondável; por mais que se viva e se aprenda; a lição maior não nos é dada. Um dia tudo a ver, o outro cheio de porquês.
As dores e as limitações deixo pra lá. Vamos falar do que é bom. A visão panorâmica alcançada por uns.
 Esse panorama que descortinamos ao atingirmos a maturidade, e mais ainda, quando se aproxima a década seguinte, em casos bem particulares, inquieta.
Jovialidade - Nada é mais necessário aos novos idosos. E quem se considera um? Já vi gente se autodefinindo aposentado. Fico pasma. Idoso é difícil. Só na hora da fila ou do banco laranja.
E aí? O que muda por dentro? Por fora, melhor não comentar.
As esperanças não são mais as mesmas. Se antes almejávamos voos, intrépidas conquistas, hoje, somos previsíveis. Queremos afeto, companheirismo e leveza da vida. Se resistirmos às atuais mudanças estéticas, será que convivemos com a ausência de formulações ideológicas críveis? Julgamos nossa visão de mundo mais apropriada, mais criativa, mais bonita. Será?
Entre o gorjeio de um pássaro, à janela, e nossa precavida aparição para conferir se já sabemos a quem pertence a sonora presença... Temos que reconhecer: Ficamos diferentes. Dos movimentos aos interesses que nos movem.
O que é viver, minha gente? É continuar sonhando e perceber o que deixamos pelo caminho? Há o que juntar ou não dá mais?
Confiamos que nosso desfecho será diferente e mágico? Ou nos encharcamos de realidade e sucumbimos. Onde ficaram nossas histórias de lutas?
Nossos acertos, nossos medos? O futuro, agora, sempre estará mais próximo e, companheiramente, informo: Menor.
Quem sabe podemos trazer para o presente nossa ousadia antiga? Nos pequenos gestos, nos breves sonhos. Ainda a tempo de percebermos quem somos? O que queremos? E pra onde vamos?
Vamos!?
 É só acordar e colocar o pé na estrada. Acompanhados de uma profunda generosidade com a vida, nossa mestra maior.

Santa Teresa, 09 de janeiro de 2013.
Grande abraço inicial 
Maysa