quarta-feira, 31 de agosto de 2011
INVERNO
segunda-feira, 29 de agosto de 2011
ENTRE PARÊNTESES - Santa Teresa, bairro atravessa o luto
ENTRE PARÊNTESES - SANTA TERESA, BAIRRO ATRAVESSA O LUTO
Para os moradores do bairro tristeza, desolação, revolta. Para as autoridades competentes (?) acreditamos que a omissão atingiu o limite.
Esperamos que os responsáveis, ainda, que não assumam as atribuições que os cargos públicos lhes conferem, sejam identificados, e responsabilizados diante da opinião pública.
Não foi acidental, foi descaso criminoso, gestão após gestão.
Querem privatizar tudo para enriquecerem impunemente. A conspurcada relação entre o poder público e os empresários dos transportes é, apenas, um aspecto da costumeira sujeira. Não dá mais para varrer pra debaixo do tapete.
Uma auditoria, em toda a Secretaria de Transportes do Estado do Rio de Janeiro, pode contribuir para a explicação dos atuais fatos.
O bondinho atende ao bairro há 115 anos! As comemorações pela data, em meio às reclamações antigas sobre a segurança, serão substituídas por mais reivindicações! Bem tombado merece ser tratado como patrimônio da história de uma cidade.
Com pesar,
Maysa
PS: Para quem quiser acompanhar visite o blog do Maurício
http://blogdomauricioporto.blogspot.com/2011/08/acidente-com-o-bonde-de-santa-teresa-o.html
Ou o Caderno Aquariano da Martha Pires Ferreira
http://cadernoaquariano.blogspot.com/2011/08/santa-teresa-de-luto.html
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
CHÃO DE BARRO - MAYSA MACHADO
CHÃO DE BARRO
Maysa M.
O barro vermelho iluminava o trecho do caminho, vegetação rala, um pouco de sombra. Subida íngreme, irregular, toda atenção necessária.
O vento cuidava de despentear seus cabelos que beijavam os ombros, enquanto as pernas, bem torneadas, sob a saia rodada, apareciam nos gestos mais largos, e não premeditados, que a pressa impunha.
Ela era jovem e corajosa. Morava desde pequena naquele lugar de acesso difícil, sem vizinhança próxima. Por perto, a casa da tia. Ia muito. Amigas e fãs amorosas.
Lá a paisagem imobilizava a todos. O mar imenso e aberto abrigava céu, ar, nuvens, pássaros, raios, trovões. E os navios cargueiros, presença constante, deslizavam por longos momentos, no enquadramento perfeito, que a porta da cozinha fazia... do lado de fora era tudo céu e mar.
A tardinha caía, com a envergonhada tristeza de um dia banal. Previsível, nos conformes. O coração da adolescente queria emoções, um príncipe encantado e prometido, descrito pelo universo feminino. Por aquela época iniciava, sem saber, uma longa espera.
Muitos anos depois, essa paralisia existencial seria substituída nas constantes buscas, por entre descobertas e aproximações, do que a vida lhe trazia e revelava.
Distâncias e proximidades seriam os paradoxos diários, os desafios para a perspectiva do íntimo em construção, e a identificação dos estranhamentos que podiam ser, ou não, recusados. Uma criatura insurgindo-se ao estabelecido ressurgia.
Santa Teresa, 12 de agosto de 2011
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
É ... PRECISO APRENDER A SÓ SER - GILBERTO GIL OU ZIZI?
Viver um tantinho a mais, no mínimo dá nisso: Poder de escolha maior. Na pior da hipóteses, lidar confuso com a multivariedade exposta, se iludir tentando escolher... tudo!
Assim, a bela composição de Gilberto Gil - É preciso aprender a só ser - dos anos setenta, me encantou tanto.
Talvez, um pouco mais que a canção de Marcos Valle, cujo título nos leva para outras viagens. É preciso aprender a ser só - foi, e é um standart do inspirado compositor.
Fico com a do Gil, na interpretação de Zizi. Música linda.
Uma amiga bem próxima, lembra que precisamos aprender a aguardar, e ouvir o outro. Domar ansiedades, mantendo o coração aberto. Exercício difícil nos dias atuais, rsrs.
Fique com a pétala.
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
CENTENÁRIO RAUL
DATA CENTENÁRIA
Maysa Machado
A vida quase sempre, em meio às lembranças, oferece paisagens, sons, cheiros, frases. Não são apenas sensações renovando momentos percorridos... são pequenas e sábias repetições.
Corria a década de 70. Morávamos na Urca. O casal e seus dois filhos. No apartamento pequeno, de sala, dois quartos, árvores e pássaros, além do suave ranger do bondinho do Pão de Açúcar, ainda, pintado de vermelho — subindo e descendo o morro — as cigarras cantavam, e enlouqueciam o despertar, tornando-o compulsivo, às cinco e meia da manhã.
Nesse trecho do bairro, incrustado entre a Praia Vermelha e a enseada da Baía de Guanabara, o asfalto ficava atapetado por minúsculas flores amarelas, que os garis, um pouco mais tarde, varriam e colocavam na caçamba.
Continua até hoje pacato, bucólico, um paraíso para quem gosta de viver em tranqüilidade. Um pouco mais adiante, a pracinha do Quadrado com seus barcos de pequeno porte. Chama-se, de fato, Praça Cacilda Becker.
Em 74, Caetano gravara Lupicínio, a canção ecoava. “Felicidade foi-se embora/ a saudade no meu peito inda mora/ É por isso que eu gosto lá de fora/ porque sei que a falsidade não vigora... A melodia nostálgica invadia nossas almas, em grande parte, doídas pelo cotidiano sem liberdades, de expressão, ir e vir, reunião.
Algumas tardes, vinha nos visitar um dos avós das crianças. Elegante, discreto, num tom quase cerimonioso, ficava ali conversando com os netos, e tomando o chá inglês, aroma de bergamota, que lhe era servido, com amor.
Meu sogro era uma pessoa encantadora. Reservado, porém solícito; de quando em quando um comentário leve, irônico.
A canção rodava num LP, em suas 78 rpm.
Sabia trechos da letra, repetindo-os como quem filosofa:
...O pensamento parece uma coisa à toa/ mas como é que a gente voa/ quando começa a pensar...”
Assim, fiquei sabendo de sua predileção pelas composições do autor — Lupicínio Rodrigues — gaúcho, como ele se sentia.
Hoje, nesta data, se ainda entre nós estivesse, espalhando com habilidade e sabedoria tudo que descobriu e conheceu, havíamos de comemorar seus cem anos de forma suave e bem humorada. Relembro com saudade sua importante passagem por minha vida. Repetiria o gesto e colocaria as músicas lindas, de seu compositor preferido para tocar, no cd. Quem sabe não o ouviria repetindo frases melódicas, enquanto ia sorvendo, no chimarrão, goles de esperança? Compartilhando causos e notícias dos bastidores políticos, da sofrida época.
Rio, 8 de agosto de 2011