quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Insônia - Camilo Atiê



Basta um galo
Para medir
Os hectares da noite.


in, Folha de Gelatina (poesia e prosa), Don Camilo - Editora Book link ,2004



Camilo, é amigo, apaixonado, ranzinza e ... poeta, filósofo, professor de matemática, músico, brasileiro exaltado!

Eu o conheço bem. Fomos amigos, de todas as horas e dores, somos amigos da noite. Quem disse que essas amizades não vingam?

Para ele "as noites são a única coisa importante da vida!"

Vingou-se de todos que , como eu, o amam e saiu do Rio, da noite e do dia do Rio.

Morou ali, lá pras bandas de Tiradentes, outro dia veio vindo e ficou por Juiz de Fora, agora está acolá... Soube que escolheu viver no Sul, no RGS. Escreveu , entre outros, esse livro : Folha de Gelatina, que recomendo. É lindo!

Só mais um poema, do muito bom que Camilo cria, este, em homenagem a outro poeta .


Manoel de Barros


Nas profundas do açudão
estão as palavras mais bestas.

O velho Manoel Cabeludinho
se ri de nós.

Pega uma por uma daquelas
dá um lustro
e põe na mesa da sala
um banquetespanto.

ooooooooooooooo


Bjs Maysa

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Da origem da poesia - Nietzsche - 1º tempo

Releituras, relembranças e rebeijos

Repetir por escolha é tudo de bom. De uns tempos prá cá estou relendo e sentindo emoções novas, revendo filmes que foram assistidos, nos meus 19 ! não encaixavam ,como hoje, sob medida na minha vivência...
Ah! como é bom viver, como amo descobrir novos ângulos no que quase sempre esteve perto, tão perto que ficava num canto adormecido, na sala, na varanda ou dentro de mim!
Nessas ocasiões só a boa solidão para nos fazer companhia ou nós a ela!
Vocês já perceberam como gosto de poesia...então, depois de conversar com uma amiga, fui direto beber na fonte do Nietzsche e, o que selecionei, reproduzo aqui, entre nós, em três tempos, para saborearmos juntos.


Da origem da poesia - Nietzsche - 1º tempo:

"aqueles que amam o elemento fantástico no ser humano e concomitantemente justificam a doutrina da moralidade instintiva, assim raciocinam: " Se admitirmos que o homem reverenciou desde sempre a utilidade como sendo a divindade suprema, de onde teria surgido a poesia? Essa divisão rítmica que mais obscurece o discurso do que o esclarece e que, contudo, proliferou tão esplendidamente que ainda prolifera em qualquer parte do mundo, para imediata vergonha de todos os utilitarismos! a magnífica e selvagem irracionalidade da poesia refuta-vos, sectários do útil! Foi precisamente a vontade de se libertar do útil que elevou o homem acima dele próprio, que lhe inspirou a arte e a moralidade !" Muito bem, desta vez só posso defender a causa dos utilitaristas - têm tão raramente razão que chega a causar dó."

Paramos por aqui, volto ao tema, tratado com paixão por Nietzsche, num 2º tempo.
O livro de onde recolhi o trecho é: A gaia ciência, coleção a obra -prima de cada autor . Editora Martin Claret, 2004.

Vocês que estão acompanhando meu blog o ninho e a tempestade , comentem : de onde surgiu a poesia ?

Beijos e rebeijos

Maysa



domingo, 25 de janeiro de 2009

Noções - Cecília Meireles




Entre mim e mim, há vastidões bastantes

para a navegação dos meus desejos afligidos.


Descem pela água minhas naves revestidas de espelhos.

Cada lâmina arrisca um olhar, e investiga o elemento que a atinge.

Mas, nesta aventura do sonho exposto à correnteza,

Virei-me sobre a minha própria existência, e contemplei-a.

Minha virtude era esta errância por mares contraditórios,

e este abandono para além da felicidade e da beleza.

Ó meu Deus, isto é a minha alma:

qualquer coisa que flutua sobre este corpo efêmero e precário,

como o vento largo do oceano sobre a areia passiva e inúmera...




Viagem(1939), in Cecília de bolso, uma antologia poética,L&PM Pocket


ooooooooooooooooooo

Com poemas, celebro meu tempo interior, numa busca incessante de complementação e significados, para o ato de viver.


Todo dia



Apurar a palavra e o afeto.
Vestir uma sem despir o outro.
Jogar o supérfluo fora.


Revisitar o essencial
sem mágoas antigas
nem saudades remotas
do que não foi feito
do que esquecemos de dizer.


Cuidar p'ra respirar,
prazerosamente, a vida.
Se possível, fazer companhia à solidão
instalada debaixo da nossa janela
diante da nossa cara
dentro
bem dentro do nosso coração!




Rio.02.04.91

Maysa



quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

LIÇÃO DE UM GATO SIAMÊS



Só agora sei
que existe a eternidade:
é a duração
finita
da minha precariedade


O tempo fora
de mim
é relativo
mas não o tempo vivo:
esse é eterno
porque afetivo
_ dura eternamente
enquanto vivo


E como não vivo
além do que vivo
não é
tempo relativo:
dura em si mesmo
eterno ( e transitivo)



Ferreira Gullar/ Toda Poesia/Muitas vozes. 1999

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Mãos Dadas



Tem sido um tempo
de muita reflexão!
Dor, tristeza, perda.

Mas, renascimento
e esperança também!
Meu sonho é o mesmo.
Ele é possível e se
parece comigo: Liberdade.

Cumplicidade e afeto
andam juntos de
mãos dadas...
de preferência no
Jardim Botânico.

Maysa

( escrito em 04.05.2005)

O ninho e a tempestade




É assim no verão! Surpresas com a natureza, com a gente.

Comigo, a alegria veio numa manhã qualquer.Descobri o asa à asa de um ninho sendo feito pela passarinha, pequenina, serelepe... sob as vistas atentas de dois puxados olhos verdes, de uma gata gorda e caçadora: A Miou - miou.

O aconchego sentido, a cada dia, pelo aparente emaranhado de fiapos de árvore, crescendo, virando um casulo, casa, abrigo, é indescritível. Um galho mais saliente de uma esmirrada bouganvilea foi o escolhido, bem no meu quintal.

Fiquei, de olho na gata. Perigo conhecido não é perigo ! a gente contorna, vigia. Pior é o imprevisto.

As chuvas de verão, no Rio, desabam de uma hora para outra e, assim foi, na primeira sexta feira, deste inaugural janeiro de 2009.

Tomei um banho e tanto de chuva, tirando folhas de um ralo do pequenino jardim e, foi tanta a água, quando tudo já estava inundando, só então lembrei do ninho.

Alí, volteando, junto com o fino galho, o ninho atravessava sua primeira tempestade.

Meu coração apertado e triste , perplexo, e sem nada prá me dizer, acompanhava cada segundo de aguaceiro e vento!

O susto levou exatos vinte minutos!

A tempestade caprichosa e indomada desapareceu. O ninho parecia intato. Em momento algum propus-me a intervir, não podia! todos sabemos que se tocado a passarinha não volta mais, rejeita-o.

Minha criação urbana não acrescentava como agir para protegê-lo! Era o meu primeiro ninho, recebido como um presente, em risco!

A madrugada foi castigada com mais chuva forte e , insone, avaliava àquela fragilidade tão fustigada.

O ninho tem resistido, continua lá . Já estava pronto para abrigar os ovos e reiniciar o ciclo da vida mas, não tenho visto a passarinha piando, contente, alegre e ligeira.

Minhas reflexões sobre a fragilidade aparente, sobre "o fazer"de quem sabe, o imponderável em nossas experiências de vida levaram-me à muitas observações.

A primeira, sobre o engenho daquela frágil construção , resistente diante da ação , do furor da própria natureza.

O símbolo do ninho, ainda , é para mim o do primeiro aconchego.

A tempestade é a força que desorganiza por conter fúria, ser incontrolável.

Essas constatações, no quintal pequenino, entre flores e arbustos, entre gravetos, gatas e passarinhos fazem -me pensar na vida que tanto queremos, em plenitude e ,que sempre está aí a nos trazer desafios.

Maysa
PS:Foto Ana Paula/Rio .


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Tristeza em excesso

Ano novo, vida nova!
O que é novo?
Uma rotina, um desejo
um cuidado em si
mesmo?

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(trecho do poema)
12.01.09
Maysa