quarta-feira, 22 de agosto de 2012

DO QUE RECOLHI DO AMOR... Maysa Machado


foto Marcos Estrella/agosto de 2012













DO QUE RECOLHI DO AMOR...


                                      Maysa Machado


Amo você. E por amar, assim quieta e cordata
intenso é o sentir, o efeito de dar, compartir.
Amo Você.
Amor - Nutrido, capturado em ânsias e êxtases.
Porque a gente ama quem sequer vê a gente?
Por quê?
Amor - Desapercebido no conjunto das emoções,
 dos sonhos... Como a gente sente e acha que é.
E porque amar sozinha?
Amor precisa de troca, afeto e compaixão.
Amor precisa de amor. Atenção e cuidado.
Encantamento e admiração pelo amado.
Para ser feliz no Amor...
Importa nutri-lo
parte de confiança, parte de parceria.
 É... Amor não se pede emprestado, nem se quer enganado.
Amo Você.
Amor solitário e triste.
Comovido amor. Findo, mais que findo.
No justo ponto vital, do existir.

Santa Teresa, 22 de agosto de 2012

Com um abraço a todos que passam.
 A foto do Rio Amanhecendo, de Marcos Estrella, me comove pela beleza e a plenitude de significados.

Maysa

sábado, 18 de agosto de 2012

ESTRELAS MATUTINAS - Maysa Machado

Sharon Johnstone/photo












ESTRELAS MATUTINAS

                                                Maysa Machado

Pescar estrelas durante o dia
só podia dar nisso. Nenhuma à vista.
Eliminada a surpresa, resta-nos a frustração.
Também, pra que tanta insistência?
Metáfora perfeita. Nova decepção.
Alguma coisa rachou, e não foi o concreto esmagado
nem o ferro exposto nas construções superfaturadas.
É do interior, da ordem do desencanto.
Da dor intensa no estômago
Dor de silêncio.
Emoção estagnada não flui para a troca.
Mais nada refaz.
Explodem lagrimas
e
secam, secam.
Tempero do espírito
na face salgada.

Santa Teresa, 18 de agosto de 2012.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A ESTÁTUA DE CHOPIN - Maysa Machado

    foto roberto machado alves




  Essa estátua do Chopin tem feito parte da minha vida.
  Quando estudava na Fnfi *, anos 60, estava defronte ao Teatro Municipal, no Centro do Rio, na Pça da Cinelândia.
 Rubens Braga tem uma crônica, acho que "Borboleta Amarela", que cita a estátua, ainda, nesse local.
  Anos depois, na década de 70, casada, fui morar no bairro da Urca, lá meus filhos nasceram, e  juntos, frequentávamos a pracinha do Quadrado - Pça. Cacilda Becker.
  Tudo bem, tempos felizes misturados com angústias e sofrimentos. Anos difíceis anos de chumbo, amigos raros, sem notícias de muitos. Outros desaparecidos para sempre.
  A natureza exuberante fazia com que a jovem mãe caminhasse, buscasse no azul do céu respostas, e no mar de ondas mansas, da Enseada de Botafogo, na baía de Guanabara: Paz e Harmonia.
  Pois bem, levava os meninos, um com dois e o outro com sete meses, para brincarem na Pça da Praia Vermelha. As ondas do mar acalmavam minhas angústias, as crianças libertas tomavam o sol da manhã.
  A dupla jornada foi amenizada, saí do horário integral no trabalho, para ficar durante as manhãs com meus filhos.
  Nessa época só o mais velho corria e ganhava o mundo, descobria limites. Quase sempre dos outros...
  Num determinado período a pracinha, onde brincavam, ficou interditada por obras da Prefeitura. Os meses passaram. Mudei o roteiro das caminhadas.
  Concluída a obra, voltei à praça, que ostentava brinquedos novos: balanços, escorrega, gangorra e aquelas construções tubulares para subir e se pendurar.
  A estátua não estava mais instalada sobre o chão de terra batida, tão coloquial, como se escultura não fosse, e sim um homem pensativo... Ao invés de olhar para o mar, buscava a si mesmo.
 A estátua, agora, estava sobre um pedestal.

  E rápido com os cachos dourados, esvoaçando ao vento, movimentados pela corrida – quem recém aprende a andar... Voa – meu filho, mais velho, estanca.
 Para. Olha. Reconhece e diz:
— Desce daí!
A estátua desobediente continua lá, e vocês podem lembrar, quando forem à Praia Vermelha, graças ao Rubens Braga, que não me deixa mentir... Que até as estátuas, de uma cidade, fazem parte de nossas vidas. 



 * Faculdade Nacional de Filosofia, da antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.


Grande abraço 

Maysa

domingo, 5 de agosto de 2012

SENTIMENTO ESMAGADO - Maysa Machado













     Começo de manhã. Leio desatenta as notícias do jornal.
Um prédio ameaça cair em Niterói. Ganância? Falta de conservação? Perplexidade e temor nos poucos depoimentos lidos...e o espanto.
Termino a leitura, de coração triste.




SENTIMENTO ESMAGADO

                                                   Maysa Machado

Ferros expostos
Concreto esmagado
Construção e(m) risco.
A casa cai?
Ameaça cair.
Espanto.
A dor não sai no jornal
- disse o poeta.
Um coração a mais
Partido. Banal.
Um coração.
Desiludido poeta?
Ninguém conhece
Sentimento alheio.
Nem pensamento...
É perverso
Do jeito que tudo acontece.
Existência posta ao lado
Dentro da sombra...
Até solidão desconhece.
O outro desconhece.
Entrego-me, busco afago.
A troca nunca é possível.
Sombra e solidão são testemunhas.
Construo-me no risco.
Sob o espanto de um fingimento.
O amor esmagado no concreto
Nervos expostos.                                            


Santa Teresa, 05 de agosto de 2012.

Forma e sentimentos andam juntos, por vezes. Um abraço de Domingo.
Maysa

sábado, 4 de agosto de 2012

Breve comentário sobre a exposição : A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa - Maysa Machado

















Breve comentário sobre a exposição: 
A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa

                                                                                         Maysa Machado


  A exposição A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa - Bloquinhos de Portugal, está na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. É comovente.
  Para mim bastou entrar na galeria, seguir olhando, lendo, ouvindo. Assistir ao pequeno vídeo, e um súbito encantamento assoma nos registros recuperados das duas viagens, 1948 e1952, feitas pelo arquiteto, há mais de sessenta anos.
  Aos que, por distração ou falta de oportunidade, ainda não foram... Corram, é só até Domingo. Para os que não residem no Rio posso afirmar: Perderam momentos de fina sensibilidade.
O traço despojado, preciso, leve de Lucio Costa (1902-1998) reproduz volumes, côncavos e convexos, saídos da pedra, madeira, ferro... Percursos e buscas resgatados com técnica e poesia, nos cinco bloquinhos.
  Em instante comovido senti o transpassar do tempo que separa o momento inaugural, aquele do olhar e do fazer, desse da fruição do olhar, e, tudo, ainda, tão marcante.
  Essa busca, esse encontro, detalhes de sua obra, através de um tempo que mantém, esquece ou modifica lugares, pessoas e hábitos.
Debruçado, solitário, há sessenta anos indaga, pesquisa sobre as raízes da Arquitetura no Brasil. Cria.
 Perdem-se os bloquinhos e nunca mais, Lucio, os reencontra. Depois de sua morte a entrega, o compartilhar para cada observador. Graças à dedicação das filhas, Maria Elisa e Helena, e do curador José Pessoa, que refaz o roteiro das viagens em 2011.

A belíssima mostra fala da escolha, da pesquisa sobre as origens, e descobre a autenticidade em nossas soluções arquitetônicas.  Consagra essa releitura a legitimidade, com intensa poesia e precisa tecnologia.
  O olhar contemporâneo se debruça diante do solitário olhar de Lúcio, e agradece.

Insisto não percam.

Grande abraço

Santa Teresa, 2 de agosto de 2012.
Maysa