terça-feira, 25 de junho de 2013

OS TEMPOS SÃO - Maysa Machado

      foto maysa machado/ setembro 2012. Instituto Moreira Salles


OS TEMPOS SÃO...

                                     Maysa Machado


Os tempos são.
Felizes ou não. Os tempos são.
Prazerosos e forasteiros.
Generosos ou ceifadeiros.
Não são nossos. Nada temos.
Somos sempre passageiros.



Santa Teresa, 25 de junho de 2013.

Com paixão, compaixão pelo fato de viver...
Maysa


terça-feira, 11 de junho de 2013

SANTA TERESA DE NOVO - Maysa Machado

Jardim do Museu da Chácara do Ceu/Santa Teresa













SANTA TERESA DE NOVO

                                                                                                                     Maysa Machado


Deixe que a imaginação o leve para lugares imprevisíveis. O bairro de Santa, no imaginário coletivo é bucólico, suave, ermo, habitado por pássaros, flores, ladeiras e ruídos especiais. O bondinho, tema recorrente nas lembranças, foi um fugaz companheiro e muso. Poetas, pintores, compositores e viajantes comuns davam-lhe atenção. E as autoridades o que estão decidindo?
Não é mais assim que o bairro está amanhecendo ou se deitando. Os pássaros continuam aparecendo, escolhem os momentos quietos das tardes preguiçosas ou o despertar muito cedo das manhãs. Depois, se ficam, perdem-se os trinados na inacreditável zoeira urbana.
Novos empreendimentos, novos usos. Apoiamos e desejamos sucesso aos que chegam pra somar e valorizar. Santa é um bairro especial.
É preciso que a Prefeitura aja, respeite, incentive. Ao invés, a gestão municipal não lembra, não aparece, não fiscaliza e não multa!
Como ficam os transportes? E os serviços comerciais: padaria, farmácia, supermercado, açougue? A segurança? A maioria dos moradores passa pelo tormento da falta de direitos, inclusive "o de ir e vir".
Carros demais nas calçadas, outros estacionados em áreas imprescindíveis para manobras. De nada servem as placas proibindo o estacionamento, falta fiscalização municipal, e, os moradores "sem noção" ou visitantes, fazem desse uso irregular o seu comportamento diário. Impedem a circulação, dificultam que pessoas cheguem e saiam de suas casas.
Novos destinos e usos seguem... , igualmente ignorados por seus novos donos são os direitos de vizinhança, nas áreas de moradia.
Se a Prefeitura cumprisse seu papel na ordenação urbana, nosso dia-a-dia não ficaria tão invadido.
Os "SEM NOÇÃO" se transformariam em CIDADÃOS.
É só o que quer quem vive e ama Santa Teresa!
Por que, em nosso bairro, as obras da construção civil, algumas de grande porte, continuam sem placas da Prefeitura regularizando-as? A despeito das reclamações feitas ao nº 1746.
Sem regulamentação os moradores, vizinhos ficam entregues à própria sorte.
O que alegar ao morador das casas próximas que precisam manter fechadas janelas e portas? A escolha é simples e direta: Se não entra toda a poeira, permanece a umidade. E mesmo assim, luz acesa de dia, ser agredido com o excesso de poeira que invade móveis, eletrodomésticos, utensílios, roupas dentro dos armários... Aparelhos respiratórios, pele, a alma.
Os excessos causam danos à saúde e à qualidade de vida, traduzidos nos distúrbios de sono, quedas, irritabilidade.
Passem pela Travessa Manoel Lebrão, constatem os buracos no secular piso de pé- de- moleque; a poeira excessiva; o barulho de betoneiras, britadeiras e maquitas vindos da obra, sem placa, que lá acontece há mais de seis meses. Ah! Não se esqueçam de conferir os gritos dos operários, e a inexistência de equipamentos preventivos para eventuais acidentes de trabalho, inclusive nos feriados e fins de semana.
Anotem as placas dos carros estacionados à entrada das moradias, ajudem a salvar Santa Teresa, um bairro especial que está ameaçado por novas tribos. Estas, dispostas a ganhar dinheiro com a notoriedade que o bairro tem.
Aqui era um lugar bucólico e aprazível! Que continue sendo tratado assim, por todos! Abaixo os novos usos exclusivos, dos sem-noção,  impedindo os direitos dos moradores de Santa Teresa e baixando a qualidade de vida de todos.
Leva tempo para se formar um cidadão.
Cabe aos órgãos públicos participar desse processo. Inclusive, os senhores dirigentes municipais, cumprindo com suas funções e responsabilidades governamentais e públicas.


Santa Teresa, 11 de junho de 2013.

Acreditando em mudanças para melhor. O bairro de Santa Teresa e seus moradores merecem.

Maysa.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SAMPA EM DOIS TEMPOS:TEMPO II - Maysa Machado












SAMPA EM DOIS TEMPOS


                                                                   Maysa Machado

TEMPO II – Final dos anos sessenta.

Gosto de Sampa. Morei lá por mais de dois anos. Recém terminara o curso de sociologia, na FNFi, entrei no mestrado da USP, na Maria Antônia*. Depois, frequentei o Campus de Pinheiros da Universidade de SP, viagem longa. Gostava das árvores, da largueza do espaço, mas o isolamento... Era maior por aqueles tempos difíceis da ditadura, ameaças implícitas e o não querer relembrar das explícitas.
 A garoa e o friozinho encantavam uma carioquinha de Botafogo. Era julho quando cheguei. O lado provinciano da grande cidade e a “deselegância discreta de suas meninas” surpreendiam.
Fiquei, por pouco tempo, no bairro da Aclimação, em casa de amigos de amigos. Mudei para uma rua próxima ao viaduto de Santo Antônio, ou seria Maria Paula? O que permitia ir à pé para o trabalho, abaixo um andar do Terraço Itália, no Edifício Itália. Então, curtia a visão ampla- 360 º - do por do sol sobre os prédios. Maravilha! Do mesmo quilate que os efeitos especiais nos filmes da época.
 Em outras cidades que não as que nascemos, peregrina-se por casas, quartos. Até num pensionato para moças, em sua maioria vindas do interior do estado, fui parar. Imprecisões aqui e acolá, não sei  se o trecho ficava no Bexiga, Bela Vista ou Paraíso, bairros bucólicos no final dos sessenta. A rua era a 13 de Maio, mas esta muda de bairro, por ser tão comprida, e aos meus olhos era. Depois de casada escolhi um apartamento na Avanhandava, próximo à Rua Augusta, bem perto da Praça Roosevelt. O prédio moderno, com escadas à entrada, plano acima da calçada, mostrava no térreo, lado direito, uma porta colonial de madeira, sempre fechada. Lá era o reduto do Samba, em S.Paulo, instalara-se a boate JOGRAL, do Luiz Carlos Paraná, vinda da Galeria Metrópole, da Av. São Luiz.
Lembro-me da inquietude, beirando quase pânico, no rosto do jovem companheiro quando entrávamos no prédio e dizia-lhe: — Quero conhecer o JOGRAL.
 Nem é preciso afirmar que nunca passei por aquela porta, templo da boemia e da música. Ficou na memória dos desejos não realizados.
 Semana passada estive em SAMPA, e não consegui rever a maioria desses lugares. Meu imaginário adorna, cria espantos e uma terna emoção alinhava o gosto da jovem mulher que um dia viveu por lá.

*Rua Maria Antônia, local da Universidade de S.Paulo, até 1968.


Santa Teresa, 03 de junho de 2013·

Abraços

Maysa