sábado, 30 de outubro de 2010

SEM MEMÓRIA - MAYSA MACHADO







Sem Memória


Maysa Machado



O vento forte aqui não sopra, nem uiva.

Bate portas, janelas, derruba plantas

Quebra-as nos frágeis vasos.

Levanta poeiras, dobra centenárias palmeiras

Subjuga, captura e agita

Pássaros em seus vôos.

Diverte-se, e como vingança

Empresta asas às folhas.

Recolhe num único instante

desejos e sonhos de liberdade.

O vento paralisa anseios.

Ciclone ou qual nome tenha

Está lá para os lados do alto mar.

Meu coração engalfinha-se

Turbulência passageira?

Vem a mim teu rosto

Semblante apreensivo

Tua voz ...só melodia.

A tarde de sábado se aquieta

Nublada como meus sentimentos

Recebe o conhecido canto.

Ousados pássaros

Repetem solitários: Bem-te-vi.

O fim de tarde se apronta

Suave e manso sem memória

Nem tormento.


Santa Teresa, 30 de outubro de 2010


Aos que por aqui chegam, um abraço amigo


Maysa

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

LOS HERMANOS - ATAHUALPA YUPANQUI




Essa canção de Atahualpa Yupanqui, sempre me comove. Creio que muitos outros sentem a mesma emoção.

Em tempos de ditaduras ela embalou nossos sonhos, e desejos legítimos de LIBERDADE.

Portanto, trago-a até ao Ninho, para lembrar que não mais se pode aceitar qualquer manifestação de intolerância ou patrulhamento, que tentam ressurgir nos tempos atuais - esses mesmos - de uma imperfeita democracia -, mas construída por todos nós, para não mais deixar o arbítrio entrar. A letra diz tudo que não podemos esquecer.


(Milonga)

Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
En el valle, la montaña,
en la pampa y en el mar.
Cada cual con sus trabajos,
con sus sueños, cada cual.

Con la esperanza adelante,
con los recuerdos detrás.
Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
Gente de mano caliente
por eso de la amistad,

Con uno lloro, pa llorarlo,
con un rezo pa rezar.

Con un horizonte abierto
que siempre está más allá.

Y esa fuerza pa buscarlo
con tesón y voluntad.
Cuando parece más cerca
es cuando se aleja más.

Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
Y así seguimos andando
curtidos de soledad.

Nos perdemos por el mundo,
nos volvemos a encontrar.
Y así nos reconocemos
por el lejano mirar,
por la copla que mordemos,
semilla de inmensidad.
Y así, seguimos andando
curtidos de soledad.

Y en nosotros nuestros muertos
pa que nadie quede atrás.
Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar,

Y una novia muy hermosa
que se llama ¡Libertad!



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PONTO DE INTERROGAÇÃO

foto maysa by cel/flor da fruta pão/
manhã no caminho da Lapa/2010















Ponto de Interrogação



Maysa Machado



É tudo passado!
O sonho de ser feliz.
A coragem para mudar o mundo.
A bolsa de estudos em Paris
Está tudo no lixo. Do passado?

Tua vida fincou aqui mesmo
No Rio onde nascestes!
Emudecida, calada,
Exilada dentro do teu próprio país.
Na tua pátria amada.

Menina nova precisou
rápido ficar experiente.
Atenta, arisca, calada.
Assim, sem perceber
Foi tudo indo parar no lixo...

Casamento, família, amigos.
Mesmo desqualificada
A vida teima em voltar.
Brotar, brotar...Como assim?
Sem sonho, sem coragem, sem amor.

Sem fantasia?
Brotou.
E ainda brota todo dia.
Qualquer dia, sem nenhum favor.
Vai saber o que te reservou
...O Criador!

Santa Teresa, 01.03.08



Um abraço.

Maysa

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

INSTANTES

do meu pé de jasmin do cabo/maysa by cel/2010



Instantes

Maysa Machado





Preciso desse sorriso
Que não mostra os dentes
Mas a alma triste.
Preciso da tua pele
Ou mais ainda... das tuas mãos
Descobrindo meu corpo.
Desse olhar múltiplo e de esguelha
sonso, econômico...
Desses nãos
Em que são feitos os teus desejos
E os meus...
De tanto precisar e não dispor
Já não preciso mais.
Posso ir vivendo
Sem teu calor, sem tua presença
Invadida pela insônia
Por uma tristeza imensa
Fotografo a vida
Coleciono instantes
Deles não fujo
Só de mim.


Santa Teresa, 01 de outubro de 2010