A PARÁBOLA DE GRACILIANO
Maysa Machado
“A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Acordei com o texto conhecido de Graciliano, e, ironicamente, mal sabido por quase todos os que usam a palavra, esse instrumento indispensável à comunicação, porém com potencial letal se mal empregado.
Hoje, sinto uma espécie de tristeza ao constatar que parte de nossos saberes, e dizeres vão parar no lixo cósmico contemporâneo.
Antes, havia
a quase certeza que as pessoas queriam demonstrar o que sabiam, tentavam comunicar seus valores e sonhos... Pensavam em transformação para melhor, consideravam no processo o Outro.
Hoje, tal como está,
descubro que uma grande parte quer ter, aparecer, tirar proveito. Exorbitar os parcos minutos de destaque, só e só.
Viver é labuta, dá trabalho! Alguém tem dúvidas? No entanto, vale, pelo menos para mim, se convidamos a Vida para embrenhar-se em novos significados ou revalorizamos os antigos. Uns substantivos, outros atraentes, porém quase todos difíceis de serem mantidos.
As árduas e precisas tarefas para o ato de escrever na concepção de Graciliano Ramos, em analogia encontrada através da lida do dia a dia das lavadeiras alagoanas. Lembrei-me do texto, pois vivo insatisfeita, descontente com as práticas e concepções dos governantes, com os representantes escolhidos pelo povo brasileiro... E indago:
Será que continuariam adormecidos, distanciados de suas promessas, se lessem e praticassem no cotidiano político o que mestre Graça nos convida, para exercer na escrita?
Será que cada um dos detentores do voto de confiança de uma população se auto exigem coerência e dignidade, entre promessas e conquistas?
Ou será, ainda, para eles que atingir a transparência, precisão de objetivos é um estágio impossível, desnecessário e nauseante?
A fala embusteira de grande parte dos eleitos é um atestado preocupante.
Transcrevo o texto de Graciliano, que foi um homem público honesto e digno. Prefeito de Palmeira dos Índios, município do Estado de Alagoas.Lutou ao lado do povo e nunca traiu sua escrita e sua fala.
... Sobre a arte de escrever - GRACILIANO RAMOS
“Deve-se escrever da mesma maneira como as lavadeiras lá de Alagoas fazem seu ofício. Elas começam com uma primeira lavada, molham a roupa suja na beira da lagoa ou do riacho, torcem o pano, molham-no novamente, voltam a torcer. Colocam o anil, ensaboam e torcem uma, duas vezes.
Depois enxáguam, dão mais uma molhada, agora jogando a água com a mão. Batem o pano na laje ou na pedra limpa, e dão mais uma torcida e mais outra, torcem até não pingar do pano uma só gota.
Somente depois de feito tudo isso é que elas dependuram a roupa lavada na corda ou no varal, para secar. Pois quem se mete a escrever devia fazer a mesma coisa. A palavra não foi feita para enfeitar, brilhar como ouro falso; a palavra foi feita para dizer."
Um carinhoso abraço
Maysa
Convido para uma visita ao site do autor.
http://graciliano.com.br/site/
Destaque para a matéria .
http://graciliano.com.br/site/2013/07/graciliano-ramos-o-politico-ordem-na-literatura-e-na-administracao/