terça-feira, 1 de novembro de 2011

MUITO DIFÍCIL OUVIR O CANTO DOS PÁSSAROS - Maysa Machado

sanhaço rei

MUITO DIFÍCIL OUVIR O CANTO DOS PÁSSAROS

Maysa Machado


Aqui, no antes, era sossegado o lugar. Por isso, escolhi morar, e criar os filhos... De uns tempos prá cá, manhãs e noites se sucedem com excessos, marcas contemporâneas, da ansiosa presença humana.

Fins de semana, sem lei, instituem-se. Violam o ar da noite, atravessam as madrugadas montados nos possantes canhões de sons, vindos de uma casa elegante de agitos urbanos. Não é pouco. Intranqüilos, os ouvidos dos moradores aguardam os intervalos esparsos, que significam volume mais baixo; na hora em que a PM ronda a vizinhança, tentando identificar de onde vem tanto barulho.

Nos feriados, da mesma maneira, equipamentos sonoros, mais modestos, porém em decibéis exaltados, rasgam o impossível de ser rasgado. As interpretações dos artistas populares, suas vozes melodiosas se decompõem em distorções odiosas. A diversão rola na comunidade.

Não existem campanhas educativas que restituam o apreço pela qualidade do viver. Menos, ainda, as que valorizem o silêncio como mestre para algumas descobertas.

Faz pouco, a vida em seus aspectos silvestres encantava os visitantes e moradores desse trecho, do bairro de Santa Teresa. Hoje, a poluição sonora que os homens constroem é sinônimo de quase nenhuma possibilidade de convivência, no mesmo espaço, com outros homens, e com todas as aves, que ao pousarem nos galhos, apresentam seus cantares.

Cadê as balburdias canoras dos sanhaços, sabiás, maritacas, e todos que nos despertavam a cada manhã? Sorrio e me desespero. Os trinados misturando-se aos silvos ,e variados guinchos dos sagüis, dos micos estrela estão desaparecendo.

O tempo passa, leva sonhos, rotinas. As poucas certezas, que ousamos ter. Uma delas era que esse canto do Rio continuaria assim quieto, por mais anos, como sempre fora. Bucólico, feito interior esquecido, paraíso perdido.

Encantamento desfeito.

Na cidade, atualmente, as ações humanas são desempenhadas com intermináveis alaridos, altos e estridentes ruídos. Berros. Chamados exasperados, por alguém que não vem. Buzinas. Campainhas.

Pra que tanto alvoroço? Cadê o lado carinhoso de lidar com o outro, e com o espaço? A elegância do gesto? Cadê a presença da delicadeza no trato? Humanos são animais racionais. Queremos que a razão e a educação dêem conta de tudo?

Do que te queixas mulher? Ninguém mais ouve os astros, nem inventa canções ou madrigais para saborear o amor. Ninguém mais busca inspiração nos fatos vividos, ou na imaginação.

O tempo cobra pressa e admite a cópia. Aceita o falso, o precário. Devolve - te — à conta de empréstimo dos dias procurando saídas e mudanças — problemas sem solução.

Então por que ainda esperas ouvir o canto do sanhaço, do sabiá ou do bem - te-vi?

Vai levanta, corre mais um dia... Ou, menos um dia te espreita. Acorda e vai. O futuro é desconhecido, dele só duas coisas sabes.

Está muito difícil ouvir o canto dos pássaros...

Santa Teresa, 1 de novembro de 2011


Um carinhoso abraço aos que aqui chegam.

Maysa

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

NELSON CAVAQUINHO III



O velho Jung não nos deixa esquecer a tal sincronicidade.

1- Ontem, assisti na TV Cultura, um programa chamado Ensaio, gravado em 1973.
Advinhem!!!Nelson Cavaquinho -29/10/1911ou 1910, RJ - 18/2/1986, RJ - cantando, tocando e contando as histórias de suas composições. Tudo isso ao lado do parceiro, mais chegado, Guilherme de Brito -3/1/1922, RJ - 26/4/2006, RJ.
E a revelação, naquele ano: A música O Meu Pecado, gravada por Elizeth Cardoso, levava a assinatura de Zé Keti, mas era de autoria dele também.
Apenas, por impedimentos legais/burocráticos - os dois compositores, perteciam a ordens de músicos diferentes - não podiam gravar juntos. Então, Nelson cedeu para o parceiro a autoria.
Cada história...


"Finjo-me alegre prá meu pranto ninguém ver/ feliz daquele que sabe sofrer", do samba Rugas. Aquele que diz: "As rugas fizeram residência em meu rosto..."

2- E para quem ainda quiser mais... que tal clicar aqui, e aqui , pode assistir ao Documentário de Leon Hirshman,em p/b, nelson cavaquinho *.
Vocês vão aprender o que é um samba sincero... e muitas outras coisas que o boemio-filósofo nos ensina, até hoje.
Ele fala da gripe espanhola, tema recorrente nas histórias do Rio, acontecidas lá pelos idos de 18. Nossa avó contava, para ilustrar os tempos da infância em que minha mãe viveu.

Um abraço cheio de história...alegria e tristeza, elas andam juntas! Enquanto isso vamos comendo muita rabada com batata, é o mestre que ensina.

*nelson cavaquinho - documentário curta-metragem, 35mm, p/b, de Leon Hirszman, fotografia de Mário Carneiro e ed. de Eduardo Escorel. Totalmente restaurado por lei de incentivo a cultura.


Maysa

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

CENTENÁRIO NELSON CAVAQUINHO

Nelson e Cartola desfilando pela Mangueira



Ontem, fui ao lançamento do livro de Afonso Machado, sobre o compositor e cantor mangueirense Nelson Cavaquinho.
Conheci-o no início dos anos oitenta, quase ao final da vida. Mantinha um ar de recato e poesia ao se relacionar com as pessoas. Encanto intenso, como o das crianças. O boêmio-filósofo fazia sucesso entre os jovens, os da classe média carioca estavam descobrindo a poesia sem limite de tantas das suas canções.
Ouvi a voz rouca, vi seu corpo forte de estatura baixa, agarrado ao violão, em alguma cadeira do restaurante Lamas.
Em muitas outras cadeiras de boteco do subúrbio carioca nossos olhos se encontraram. Os meus sempre marejados, ouvindo a letra e melodia de Juizo Final:

Quero ter olhos pra ver/ a maldade desaparecer/...

Um pouco mais que sete décadas de vida Nelson provou. Hoje, vive em muitos corações que não chegaram a conhecê-lo, mas sabem de cor suas poesias e melodias. SALVE O CENTENÁRIO NELSON.






Quer saber mais sobre ele? Então clica lá em cima, no seu nome.

Um carinhoso abraço.

Maysa

sábado, 22 de outubro de 2011

POESIA - MAYSA M.




Iracema Arditi
1924-2006









Caiçara -Óleo s/tela 30x 60 cm



POESIA


Maysa M.


Poesia é alguma forma

jeito ou gesto.

Um existir no mundo.

Arranca-nos o fôlego

ou nos devolve o ar.

Poesia de nada, mesmíssimo

nada, precisa.

Num átimo traz

o que falta te faz

inventa o que não traz.

Levanta suspeita

lembranças de um amor esquecido.

Poesia confia.

E te elege único

não, um solitário.

Santa Teresa, 22 de outubro de 2011


Aos que por aqui chegam, um brinde à poesia.

Ilustra esse Sábado a tela Caiçara, da pintora Iracema Arditi. Para quem quiser ver e aprender sobre sua vida e seus quadros , sugiro ir aqui.

Abraço

Maysa

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

AFONSO MACHADO - LIVRO SOBRE NELSON CAVAQUINHO














Hoje, 27 de outubro, às sete da noite, no Palacio do Catete, teremos o lançamento do livro - "NELSON CAVAQUINHO, violão carioca"- do músico Afonso Machado.
É parte das comemorações, pelo centenário do compositor mangueirense, a celebração de hoje.
Uma importante homenagem produzida pelo bandolinista, arranjador e pesquisador, Afonso.
Aos apreciadores da rica lira de Nelson, deixo a sugestão para aparecerem. Pelos jardins do palácio, estaremos celebrando música, poética, trabalho dedicado de pesquisa, e ouvindo - quem sabe ? - os acordes do Galo Preto, um dos mais antigos conjuntos de choro, a que pertence o autor do livro.
O Rio, nos brinda, mais uma vez, com um evento cultural imperdível.

afonso machado

Abraço para quem passar por aqui.
Maysa

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

SÃO NUVENS? - Maysa M.











São nuvens?

Diáfanos véus da delicadeza.

São sonhos?

Enlevos que a imaginação traz.

São pérolas?

Palavras de encantar.

São Pessoas?

Que ainda conjugam o verbo

Amar.


Santa Teresa, 12 de outubro de 2011


São meus netos, que sorvem e jorram amor. São todas as crianças que renovam as esperanças partidas...que algum adulto desavindo quebrou.

Um abraço para os que passam.

Maysa

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

FLOR E VIDA - MAYSA M.




foto maysa machado/Jardim Botânico/Rio

setembro de 2011











Visitar a beleza. Encontrar-se nela.

Perceber formas, cores, cheiros.

Tudo em silêncio

Deixar aos pássaros e ao tempo

o cuidado de apontar caminhos.









Um abraço para os que aqui visitam .


Maysa

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O NICHO - MAYSA M.

criação sobre vinil de Alice Espínola/

coleção da autora do blog



O NICHO

Maysa Machado


Entrar numa de ficar calada, só observando a história, sem palavras, acontecer.

Foi assim que seu amor durou, ou pode se vangloriar de ter existido. Uma revelação tanto para Lali, quanto para o misterioso amante. Ninguém acreditava naquilo. O filho dizia que o sujeito devia ser maluco. Ela pensava que maluca era ela mesma. Onde havia ficado a militante, a mulher moderna que construía falas e ações sobre a liberdade? O curioso é que assim, calada, ninguém diria que eram as mesmas.

Muito tempo se passou. Advindas da frustração perguntas silenciosas pediam lugar às certezas. Foi se descobrindo terna consigo desapegada com os outros. Ciumenta nunca fora. O sentimento do amor lhe trouxe brilho e viço. O felizardo, aquele que fruía e usufruía, não chegava nem perto do processo de autoconhecimento, agora, travado por aquela mulher sensível. Sem intenção, fora um bom professor.

Dias consumidos. Primeiro na ilusão de que o tempo ajustaria os senões da pouca convivência, depois sugados na ansiedade por mudanças. E a paixão incomum, deixando - como em todas as emoções - uma juvenil fragilidade, no ar.

Morte e renovação aconteciam. Foi, devagarinho, se reinventando. Dor e espanto misturando-se à alegria de viver. Um dia acordou e percebeu que, mesmo sem a presença do amado, continuava feliz "com" ele. Talvez por isso, por sua ausência. A vida em liberdade fora construída e as amarras, de quase todos os vínculos contemporâneos, inexistiam...

Deixou de lado qualquer premeditação, retomou o encantamento do primeiro encontro. Como um vício transformado em virtude sorveu do amor, um pouco a cada dia... E só por cada vez.

Santa Teresa, 3 de outubro de 2011

Abraço para os que aqui chegam.

Maysa


STORMY WEATHER - BILLIE HOLIDAY

foto by Viorica/JBotânico/ Rio



A chuvinha dessa manhã serve como pretexto. Ouvir a Tempestade...é melhor que seja na voz da Billie.
Êxtase, desde a infância! Música preferida, de mãe para filha. Herdei muita coisa boa de D. Nila, né não?



Abraço para todos.
Maysa

sábado, 1 de outubro de 2011

2º FESTIVAL DE CONTRABAIXOS DO RIO DE JANEIRO




















Caros amigos,



os que estão no Rio de passagem ou moram por aqui, sugiro que acessem o site da Sala Baden Powel, urgente:





Lá vocês terão, em detalhes, os dias e horários para o 2º Festival de Contrabaixos do Rio de Janeiro.
Estou indo para lá agora. Já estou atrasadinha, começou, ontem...vai até amanhã.

Tem, também, o lançamento do livro "Confesso que Ouvi", de nosso amigo e blogueiro jazzístico Érico Cordeiro. A gente se encontra por lá, fui.

Abraço Maysa