quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

QUEBRANDO O CLIMA - Maysa Machado


Maestro interrompe concerto por causa de telemóvel
Fotografia © Pedro Garcia/Global Imagens

QUEBRANDO O CLIMA

Maysa Machado

Toques de celular atrapalham muita coisa! A etiqueta para o novo manejo longe está de ser absorvida por seus usuários. Quem dera que os jovens ou pessoas maduras, soubessem usar as fantásticas maquininhas.

Como será que forma e conteúdo desse uso alteram as relações? Sejamos convenientes no trato com a tecnologia adquirida. Conversas reservadas, jamais, poderiam ser gritadas no trajeto de metrô, ônibus, taxi, e filas de qualquer gênero.

Com freqüência assistimos o lugar evidenciado, do celular, à mesa de almoço, entre amigos. É gentil? Será imprescindível e oportuna essa outra pessoa, que não é mera presença virtual?

Usuário educado e amoroso vai pra cama com celular ligado, mesmo no silencioso? É delicado para com o parceiro?

A realidade é que cada um tem seu jeito e reage de forma distinta. Quer arriscar a quebrar o clima? Então tente.

Celular tocando na hora errada pode estragar muita coisa.

No Lincoln Center, na cidade de Nova York, na última terça feira, o Maestro Alan Gilbert interrompeu a execução da Nona Sinfonia, de Gustav Mahler.
O maestro tinha pedido aos músicos para executá-la de modo cauteloso, reservado, prolongado. A Sinfonia é conhecida por ser longa, e concebida por altas doses de emoção. Em meio à apresentação, um Iphone, bem na primeira fila, irrompe no ambiente, quebrando o clima.

Dizem que o proprietário, freqüentador assíduo da sala, não estava bem adaptado com o novo aparelho, configurou o perfil silencioso, mas o sinal que tocou foi o alarme.

O maestro, ainda tentou seguir a peça, mas o ruído não cessava. Então, parou, e comunicou, de forma civilizada, ao proprietário:

— Vamos aguardar.

Depois, em conjunto com as reclamações da platéia, que exigiam a saída do espectador ou o pagamento de multa, no valor de mil dólares, indaga:

— Desligou, ele?

No caso da Orquestra Filarmônica de Nova York, a retomada da peça exigiu do maestro, e de toda a orquestra, a repetição de trechos, já apresentados, da partitura.

“As sinfonias são como o mundo, devem conter tudo”, menos o toque intruso de um celular.

Talvez, seja preciso aprender urgente que, em momentos especiais saborear com enlevo uma récita musical ou um encontro marcado com o amor, é melhor evitar estragos deixando mudo o companheiro das horas mais estressantes.


Um abraço de janeiro.

Santa Teresa, 19 de janeiro de 2012

5 comentários:

AC disse...

Saber estar é um dever de todos, mas também uma arte.
Está cada vez mais difícil, não é, Maysa?

Beijo :)

Vania Rosa disse...

Tudo é uma questão de educação e respeito ao próximo. Infelizmente, há carência desses dois itens na maior parte da sociedade. Beijos

Maysa disse...

Caro Ac

O pior, é que aqui no Brasil, a filosofia continua sendo: Os incomodados que se mudem.O individualismo chega a seu auge!
Um carinhoso abraço
Maysa

Anônimo disse...

Maysa,

que texto tão belo e apropriado.
Essa questão de celular é terrível mesmo, em qualquer ambiente. No ônibus, todavia, parece que é modismo atender telefone e falar em voz alta. As veze a gente ouve conversas que poderiam ser tratadas em casa e outros lugares. Ou seja, desnecesário comportamento. E pior ainda no terrível Nextel, com aquele bip ensurdecedor. E o toque telefônicos de chamada, cada vez mais alto e desnecessário.
Um desrepeito isso.

Mais do que a falta de educação, as pessoas estão perdendo totalmente a sensibilidade, a delicadeza, o recato.
O bom sentimento.
Tudo que importa hoje em dia e aparecer, chamar a atenção e quando mais melhor. Não importando como.
Há uma vaidade exarcebada engolfando o homem!

Seu texto fala com elegância, beleza e propriedade sobre um tema que merece toda a nossa atenção!
um beijo
denise

Sueli Catão disse...

Descobriram que celular e volante é igual bebida e volante...