quarta-feira, 8 de agosto de 2012

A ESTÁTUA DE CHOPIN - Maysa Machado

    foto roberto machado alves




  Essa estátua do Chopin tem feito parte da minha vida.
  Quando estudava na Fnfi *, anos 60, estava defronte ao Teatro Municipal, no Centro do Rio, na Pça da Cinelândia.
 Rubens Braga tem uma crônica, acho que "Borboleta Amarela", que cita a estátua, ainda, nesse local.
  Anos depois, na década de 70, casada, fui morar no bairro da Urca, lá meus filhos nasceram, e  juntos, frequentávamos a pracinha do Quadrado - Pça. Cacilda Becker.
  Tudo bem, tempos felizes misturados com angústias e sofrimentos. Anos difíceis anos de chumbo, amigos raros, sem notícias de muitos. Outros desaparecidos para sempre.
  A natureza exuberante fazia com que a jovem mãe caminhasse, buscasse no azul do céu respostas, e no mar de ondas mansas, da Enseada de Botafogo, na baía de Guanabara: Paz e Harmonia.
  Pois bem, levava os meninos, um com dois e o outro com sete meses, para brincarem na Pça da Praia Vermelha. As ondas do mar acalmavam minhas angústias, as crianças libertas tomavam o sol da manhã.
  A dupla jornada foi amenizada, saí do horário integral no trabalho, para ficar durante as manhãs com meus filhos.
  Nessa época só o mais velho corria e ganhava o mundo, descobria limites. Quase sempre dos outros...
  Num determinado período a pracinha, onde brincavam, ficou interditada por obras da Prefeitura. Os meses passaram. Mudei o roteiro das caminhadas.
  Concluída a obra, voltei à praça, que ostentava brinquedos novos: balanços, escorrega, gangorra e aquelas construções tubulares para subir e se pendurar.
  A estátua não estava mais instalada sobre o chão de terra batida, tão coloquial, como se escultura não fosse, e sim um homem pensativo... Ao invés de olhar para o mar, buscava a si mesmo.
 A estátua, agora, estava sobre um pedestal.

  E rápido com os cachos dourados, esvoaçando ao vento, movimentados pela corrida – quem recém aprende a andar... Voa – meu filho, mais velho, estanca.
 Para. Olha. Reconhece e diz:
— Desce daí!
A estátua desobediente continua lá, e vocês podem lembrar, quando forem à Praia Vermelha, graças ao Rubens Braga, que não me deixa mentir... Que até as estátuas, de uma cidade, fazem parte de nossas vidas. 



 * Faculdade Nacional de Filosofia, da antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.


Grande abraço 

Maysa

2 comentários:

Marluzis disse...

E mudam de lugar. Talvez, ao invés de pedestais, elas usem os próprios pés.
Belo olhar, Maysa! Beijo.

Maysa disse...

E por vezes "criam asas" e desaparecem do cenário público, das praças, alamedas,muitas vão para o depósito de Parques e Jardins...
Há no entanto aquelas que,como a do Chopin, acompanham nossas vidas, encantam o dia a dia e fazem parte do nosso patrimônio afetivo particular.
Quer um exemplo? Aquela "mulher" que acolhe nos braços uma criança, nos jardins centrais da Praia de Botafogo.
Apelidei-a de Maternidade(?), nem sei qual é o nome do autor da escultura, mas desde que me entendo, ela está lá! Beijo Marluzis

Maysa