foto roberto machado alves
  Essa estátua do
Chopin tem feito parte da minha vida. 
  Quando estudava na Fnfi
*, anos 60, estava defronte ao Teatro Municipal, no Centro do Rio, na Pça
da Cinelândia.
 Rubens Braga tem uma crônica, acho que
"Borboleta Amarela", que cita a estátua, ainda, nesse local.
  Anos depois, na
década de 70, casada, fui morar no bairro da Urca, lá meus filhos nasceram, e  juntos, frequentávamos a pracinha do Quadrado - Pça. Cacilda Becker. 
  Tudo bem, tempos
felizes misturados com angústias e sofrimentos. Anos difíceis anos de chumbo,
amigos raros, sem notícias de muitos. Outros desaparecidos para sempre.
  A natureza exuberante
fazia com que a jovem mãe caminhasse, buscasse no azul do céu respostas, e
no mar de ondas mansas, da Enseada de Botafogo, na baía de Guanabara: Paz e Harmonia.
  Pois bem, levava os
meninos, um com dois e o outro com sete meses, para brincarem na Pça
da Praia Vermelha. As ondas do mar acalmavam minhas angústias, as crianças
libertas tomavam o sol da manhã. 
  A dupla jornada foi amenizada, saí do horário
integral no trabalho, para ficar durante as manhãs com meus filhos.
  Nessa época só o mais velho corria e ganhava o
mundo, descobria limites. Quase sempre dos outros...
  Num determinado
período a pracinha, onde brincavam, ficou interditada por obras da Prefeitura.
Os meses passaram. Mudei o roteiro das caminhadas. 
  Concluída a obra,
voltei à praça, que ostentava brinquedos novos: balanços, escorrega, gangorra e
aquelas construções tubulares para subir e se pendurar.
  A estátua não estava
mais instalada sobre o chão de terra batida, tão coloquial, como se escultura
não fosse, e sim um homem pensativo... Ao invés de olhar para o mar, buscava a
si mesmo.
 A estátua, agora, estava
sobre um pedestal.
  E rápido com os cachos dourados, esvoaçando ao vento, movimentados pela corrida –
quem recém aprende a andar... Voa – meu filho, mais velho, estanca.
 Para. Olha.
Reconhece e diz:
— Desce daí!
A estátua desobediente continua lá, e vocês podem lembrar,
quando forem à Praia Vermelha, graças ao Rubens Braga, que não me deixa mentir...
Que até as estátuas, de uma cidade, fazem parte de nossas vidas. 
 * Faculdade Nacional de Filosofia, da
antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.
Grande abraço 
Maysa