terça-feira, 27 de abril de 2010

VINICIUS DE MORAES, sua POESIA companhia e solidão

Foto maysa by cel 2009



Procuro por palavras, no silêncio da perda, nenhuma delas me é satisfatória ou definitiva. Mais uma vez, sofro: outra amiga querida parte. O que pode significar essa falta de alguém único, amado? Anos de nossas vidas em que levamos construindo o afeto, encontrando a confiança.

Alegro-me ao pensar no tempo onde vivemos, tão próximas, na mesma cidade - a dela - S. Paulo. O sotaque italianado do braz , sua ingenuidade e encantos devotados à minha cidade - o Rio de Janeiro.

No trabalho, sim nossa amizade , brotou num escritório . A cumplicidade que tivemos, as pequenas alegrias e descobertas ....vão com ela! uma tristeza justa e verdadeira ,fica em mim ,apertando o peito, o conhecido toma a garganta, e dos olhos descem, sem ruído algum, água salgada e quente.

Já sabemos: um pouco do que somos se desprende, e segue com o amigo, em toda despedida derradeira.

Em homenagem à Cida, que escolheu o Rio para se despedir, recordo esse belo texto do carioca e lírico, Vinícius:


Procura-se um amigo

Não precisa ser homem, basta ser humano, basta ter sentimentos, basta ter coração. Precisa saber falar e calar, sobretudo saber ouvir. Tem que gostar de poesia, de madrugada, de pássaro, de sol, da lua, do canto, dos ventos e das canções da brisa. Deve ter amor, um grande amor por alguém, ou então sentir falta de não ter esse amor.. Deve amar o próximo e respeitar a dor que os passantes levam consigo. Deve guardar segredo sem se sacrificar.

Não é preciso que seja de primeira mão, nem é imprescindível que seja de segunda mão. Pode já ter sido enganado, pois todos os amigos são enganados. Não é preciso que seja puro, nem que seja todo impuro, mas não deve ser vulgar. Deve ter um ideal e medo de perdê-lo e, no caso de assim não ser, deve sentir o grande vácuo que isso deixa. Tem que ter ressonâncias humanas, seu principal objetivo deve ser o de amigo. Deve sentir pena das pessoa tristes e compreender o imenso vazio dos solitários. Deve gostar de crianças e lastimar as que não puderam nascer.

Procura-se um amigo para gostar dos mesmos gostos, que se comova, quando chamado de amigo. Que saiba conversar de coisas simples, de orvalhos, de grandes chuvas e das recordações de infância. Precisa-se de um amigo para não se enlouquecer, para contar o que se viu de belo e triste durante o dia, dos anseios e das realizações, dos sonhos e da realidade. Deve gostar de ruas desertas, de poças de água e de caminhos molhados, de beira de estrada, de mato depois da chuva, de se deitar no capim.

Precisa-se de um amigo que diga que vale a pena viver, não porque a vida é bela, mas porque já se tem um amigo. Precisa-se de um amigo para se parar de chorar. Para não se viver debruçado no passado em busca de memórias perdidas. Que nos bata nos ombros sorrindo ou chorando, mas que nos chame de amigo, para ter-se a consciência de que ainda se vive.


--------------------------------------------------------------------------------


Um abraço

Maysa

Nenhum comentário: