sexta-feira, 6 de abril de 2012

SEXTA FEIRA SANTA - Maysa Machado

SEXTA FEIRA SANTA

Maysa Machado

Pintura de Giotto - Compianto sul cristo morto, Cappella degli Scrovegni, Padova.


(Para Eva)


Uma amiga, de fé judaica, me pergunta:

— Para vocês qual a data mais importante: O Natal ou a Páscoa?

Respondo:

— O Natal. Nele você comemora o nascimento de Jesus.

No entanto, é estranho que para a maioria, com quem convivo, aquela é uma data de celebração de nascimento e de ausência. Há um vazio, um buraco. No entorno, quase sempre, faltam muitos entes queridos.

O Natal, então, transmuta-se em celebração infantil. Carinhos e lembranças dirigem-se às crianças. A figura do Papai Noel avulta. É data muito importante nas celebrações cristãs.

A Semana Santa é mais complexa. Aceitar a Ressurreição é para poucos. Só mesmo com fé e espírito evoluído... A Sexta Feira Santa, então, nem se fala... Mesmo. Um convite ao silêncio, à reserva e cuidado interior.

Na minha infância, um dia de grandes tormentos. Ia à Igreja de Santa Terezinha do Menino Jesus, próximo ao Túnel Novo, em Botafogo, com minha mãe. Acompanhava a procissão e rezava pelo senhor morto. A imagem esculpida era tão verossímil que a achava verdadeira. Sofria na fila, a lenta agonia, e depois, com cada gota de sangue... Escorrido do rosto santo, os cravos às mãos, o corpo desnudo, acabavam de vez com minha alegria de menina.

Hoje, percebo em minha experiência de vida, que a representação primeira da imagem masculina é de um mártir.

Mas são doces aflições, avalio... Nos dias que correm a violência - tão intensa- em imagens difusas ou concretas que subvertem qualquer conceito, ou expectativa humanista. Há um Cristo imolado a cada dia. Uma Páscoa solene, em cada vida, que alcança o dia seguinte.

Então, minha amiga, confesso que me enganei. Um equívoco, doloroso e simples. Nos dias que correm, na Semana Santa, o ensinamento bíblico se reafirma. Embora a sociedade de Consumo de ênfase ao Natal. Precisamos do fato, do acontecimento, da lembrança.

Ressurreição a cada dia. É sempre um recomeço. Para os bons e leves de espírito... E para todos. Amém.

FELIZ PÁSCOA! À TODOS.


Um abraço


Maysa

4 comentários:

VELOSO disse...

Infelismente a sociedade transforma tudo em óleo para mover sua engrenagem por isso era muito mais avesso as datas comemorativa hoje sou um pouco mais tranquilo quanto a isso e cobro menos do mundo e da pessoas... Uma feliz Páscoae tudo de bom em tudo e sempre!

Eva disse...

obrigada, Maysa, por responder a minha pergunta de modo tão poético ...pois para mim como iehudiá, ambas as festas têm sentido diverso, embora mantenham de alguma forma a mesma estrutura e tenham a mesma origem...há uma tênue linha que liga a celebração dos judeus durante sete dias do milagre que foi um povo se libertar do jugo de opressores à Pascoa cristã....Tanto uns como outros buscam a chegada do Mashiach....E o Natal coincide com outra festa judaica, a das Luzes, que também tem a ver com milagres...enfim, poder escrever essas mal traçadas, compartilhar com uma amiga, estar com saúde, e saber q a sua família mesmo distante, está bem, já é um milagre a ser comemorado, não?

Maysa disse...

Cara Eva

Felizes são os que agradecem!Perceber que nada "temos",em definitivo, e somos muito pouco,mas sempre à caminho de um melhor entendimento e um novo sentido de humanidade. Viver é SÓ o melhor aprendizado. Beijo

Maysa disse...

Veloso

Sempre bom tê-lo por perto!rsrs
Quando puder sugira à Lady Garça que me visite.
Abraço carinhoso
Maysa