segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ESTÔMAGO





Estômago



Maysa Machado


A náusea me incomoda há uma semana. Vem junto, não só o desconforto da dor, a fragilidade sem adjetivação.
Dói. O estômago grita! Me diz que quer repouso, um chazinho morno. Atendo ao pedido do meu corpo. No entanto consulto-o:
- Por que dói?
- ............
-É virose, bactéria, dor de amor ou de estar vivo, sem quimera?
Estômago fica mudo, amuado. Aparência de dia nublado, que não quer se explicar...
Minha vida vai tomando outro rumo.
Deixo as atividades combinadas, relego qualquer prazer ao lado, esquecido. Giro em função do desconforto... Que mantenho a pretensão de interromper.
Vida - não se quer perscrutada. Amores contrariados, sentimentos desencontrados?
Aí tem alguma coisa de... Errado! Mas o quê?
...........................................................................
Até podia ter gerado mais insônia, taquicardia. Vai , meu estômago é caprichoso, sensível. Aparece e dita minha semana de uma segunda à outra.
Paciência, ânimo me receito.
- Em vão!
Será que grita, por tanto absurdo visto, presenciado, sentido? Nos últimos dias...
Aliás, busca por sentido em meu caminho...é trabalho para toda a eternidade.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SE É PRIMAVERA...É TEMPO DE BRINCAR DE AMARELINHA.




Junquilhos domesticados (2) foto by cel. Maysa 2010













ESTAÇÃO BACANINHA


Maysa Machado



Primavera, verinha,
Prima do Antonico, do veranico
E da joaninha ...
Primavera nossa parente
Vem bem chegadinha.
Traz flores, mel, sorrisos.
A paz feita em cores...
Sons, alegria.
Suaves trinados dos passarinhos
É tempo de brincar
Saltar na amarelinha.
Visita do agrado de toda a gente
Num tal e qual setembro
Mes que se adivinha
Quente e seco
Chuvoso e frio.
Coração e céu nevoentos.

Santa Teresa, 23 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

LOUCOS POR MÚSICA



Sou louca por música. E vocês?
Se encantou minha infância aprender as letras de Caymmi, Noel Rosa, Luiz Gonzaga e muitas melodias que se ouvia nas rádios... Acompanhou as incertezas do coração e da cidadania, quando os anos sessenta chegaram.
Nossa cultura musical é rica. A bossa-nova e o choro entraram de vez na minha história. Aos dezesseis tentei aprender violão... Faltava às aulas para ir namorar escondido.
Fiz a escolha errada e fiquei no prejuízo. Não trouxe para minha vida a autonomia, a liberdade de sonhar, de criar que dá tocar um instrumento.
Nos dias de hoje, retornei às origens e estudo música na Escola Villa-Lobos.
Quer companhia melhor que música? Nas horas em que a tristeza vagabundeia por nossos corações, nos momentos de perdas afetivas, nas emoções mais sinceras...
Quando estamos alegres cantarolamos. Escolhemos uma melodia que expresse nosso estado de espírito.
Li de um amigo sua história com a música.
Fiquei mais feliz depois da leitura, encontrei nossa forte ligação ali representada. A música.
Nestes tempos de eleições e decisões sobre candidaturas, meu amigo é candidato, é músico.
Entre sua história tão corajosa e bonita de se conhecer, viveu e sobreviveu ensinando música.

Deixo, n'O Ninho, as dicas sobre a história vivida por Carlos Eugênio Clemente. Se amarem, como nós, música ...Cliquem aqui e aqui .
Se gostarem façam como eu o escolham. Ele se compromete, caso eleito, a lutar pela:

· " Pela valorização do músico;
· Direitos autorais a quem de direito;
· Contra o lucro excessivo e indevido das sociedades arrecadadoras;
· Aulas de música nos currículos das escolas públicas, com remuneração justa para os professores.



Que tal ouvirmos Nara cantando Canto Livre ?






Um carinhoso e sonoro abraço

Maysa

sábado, 18 de setembro de 2010

MÃOS GULOSAS, SENSAÇÕES PASSAGEIRAS, LEMBRANÇAS DURADOURAS.



Pitangas e beijos/arranjo: Ana W. R./foto Maysa by cel/2009

















Preparando a Primavera as pitangas explodem, exibem multivariados tons do vermelho sob, e diante, a sacada do meu balcão. Medieval, invento!
Já descrevi, por aqui, meu quarto não é um quarto é uma alcova. Não tem janelas. Maior luminosidade e ventilação são garantidas pela porta que dá para a pequena varanda.
Agora tudo floresce, como nas primaveras passadas: os dois pés de café, a pitangueira -flores e frutos- e um tanto atrasado, o jasminzeiro. Desculpem, sei que a forma correta é jasmineiro, porém, prefiro usar o jeito que trouxe da infância.
O tema é recorrente... A emoção, no entanto, renovada. É estimulante ter a companhia das flores e frutas miúdas, inunda os olhos, o olfato. O diálogo suave com os netos inunda o afeto.
Vida se renova nas pequenas alegrias, algumas indizíveis no momento mesmo em que acontecem.
Do júbilo instalado, em meu quase insensato coração, passo a degustar os doces e amargos sabores.
Colho as miúdas e reluzentes frutas do pé. Muitas já foram provadas pelos ligeiros pássaros. Não tendo asas chego depois, um tanto apressada, e escolho as mais vermelhinhas; procurando as doces encontro, vez que outra, as azedinhas.
Não fosse renovada, minha surpresa seria idêntica a de minha neta de seis anos, percebo em nossa conversa por telefone. A dela é inaugural, lá por outros pomares ou jardins, encontra-se
com um pé de pitanga; curiosa e gulosa vai à cata. Depois me conta:

-Vovó escolhi uma pitanga, bem vermelhinha, e ela estava azedinha!
- Querida, acontece... da aparência enganar a gente.
- Eu posso não ter visto direito, vó! Talvez, ela era cor de abóbora e, eu me enganei!
- Vovó também procura as bem vermelhas, certa de que estarão mais docinhas, mas minha mão gulosa se engana e colhe rápido, muita vez, as azedinhas!
-Vó, vou olhar bem direitinho!Vou procurar as cor -de -vinho!!
- Isso , querida experimentando você escolhe doçuras e os suaves sabores ...Não precisa ter pressa para saborear.

A primavera se prepara em flores, cheiros, sons, movimentos inesperados. Nós fazemos parte desses encontros e desencontros, traduzindo-os em relatos e vivências recorrentes, como as estações, mas únicos em cada acontecer.

Santa Teresa, 18 de setembro de 2010

Um abraço

Maysa

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

TRECHO de CELESTINA de Fernando de Rojas

Junquilhos domesticados/foto maysa by cel/fev.2010













"Na Espanha do século XV para o XVI, surge a história de amor entre Calisto e Melibéia. Ele um burguês, perdidamente, apaixonado por ela, filha de um nobre. Rejeitado procura Celestina, dona de um prostíbulo e casamenteira, e lhe pede ajuda. O tempo corre aliado às artimanhas da velha alcoviteira, em breve os dois jovens ficarão cegos pela paixão...

O trecho escolhido, é um diálogo entre Melibéia e Celestina:

Melibéia -Tia, se é assim, sofres muito pela idade que perdeste. Gostaria de voltar a ela?
Celestina - Louco, senhora, é o caminhante que, desgostoso com o trabalho do dia, quer voltar ao início da jornada, para chegar outra vez ao mesmo lugar.

Pois todas aquelas coisas cuja posse não é agradável é melhor possuí-las logo do que esperar por elas. Por que está mais perto do fim do mal quem está mais afastado do seu começo. Ao extenuado pela viagem não há coisa mais carinhosa do que a estalagem. Quer dizer,embora a mocidade seja alegre o verdadeiro velho não deseja voltar a ela. Só o desajuizado ama apenas o que perdeu.

Melibéia - Mas só para viver mais, ainda assim é bom viver.

Celestina- Senhora, tão depressa vai o cordeiro como o carneiro. Ninguém é tão velho que não possa viver mais um ano, nem tão moço que não possa morrer já.
Aí os jovens não nos levam vantagem."

Ontem, um fato inusitado me aconteceu e estas reflexões vieram bem à calhar. O livro tem tradução e adaptação do Millor Fernandes. Editado pela L&PM Pocket. Vol. 696- Junho de 2008

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

PÁSSARO ILUMINADO






Pássaros na noite recolhidos
pássaros se aninham...
ainda que sozinhos.
Penas macias descansam asas
adiam vôos,
arrulham apenas.

Só, o grande pássaro
cria do homem
banhado em tanta luz
Avança
Risca o céu e atravessa
o som nos ares
... ainda que sozinho
com o ronco do seu motor.


Maysa 01.09.10

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ARTE DE PORTAS ABERTAS - SANTA TERESA



Recado do querido artista plástico DONY GONÇALVES , compartilho com as visitas:

Olá Pessoal

Segue o convite do ARTE DE PORTAS ABERTAS.
Aguardo vocês na Coletiva do Parque das Ruínas e no meu atelier,
Rua Paschoal Carlos Magno, 07, nos dias 4, 5, 11 e 12 de setembro de 11h às 18h.
Abraços.

PS1: Então, nos dois próximos fins de semana Santa Teresa ferve, ladeiras e escadas... abaixo, acima. Vamos? Eu vou!
Abraços
Maysa
PS2: Cliquem em cima do convite para lerem os detalhes!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"O POEMA DA GATINHA"

photo by cel/2009/NISE














Sobre O POEMA DA GATINHA, publicado aqui no domingo, 18 de julho, quem leu gostou.
A menina que o escreveu diz:
Tenho outros mais! e faz planos... com os olhinhos castanhos sonhadores deixando escapar no ar um jeito precoce e inteligente.
Imaginação não lhe falta e o caminhante é quem faz seu caminho.

AGORA O POEMA TEM CASA QUASE PRÓPRIA!
Está reproduzido em novo endereço:

http://gatinhasfofinhasoblogdamabi.blogspot.com/

A casa está em início de organização. Sua dona, com tempo, vai colocar tudo do seu jeito e no lugar. Aguardamos boas mudanças. Se gostarem da visita repitam.
Um abraço
Maysa

"Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar."Antonio Machado, poeta espanhol.

UMA ORQUÍDEA FLORESCE E DUAS DESAPARECEM

Maysa/foto by cel. set./2009



Moro num condomínio de casas, em Santa. Para quem passa por aqui: No bairro de Santa Teresa, no Rio, na cidade Maravilhosa.

Sou feliz no sossego e no silêncio de um lugar diferente e bucólico, cheio de artistas, pessoas que amam a vida. Alguns estrangeiros descobrem o jeito de cidade do interior e vão chegando. De uns tempos para cá tem ficado com cara de Capri, isso mesmo, aquele frisson de lojinhas e compras do ponto turístico italiano, tal e qual. Os preços triplicaram. Serão estimados em euros?
Visitei uma casa que até vinhedo tem...Aqui são inúmeras as surpresas; guarda, ainda, alguma semelhança com Montmartre.
Bem, antes de concordarem, pensem no descuido clássico que as nossas autoridades mantêm com as vias públicas. As escadarias são os acessos de pedestres. Nunca presenciei manutenção, conserto ou coisa que o valha para nossos degraus.
O Morro resiste à violência urbana e à precariedade dos serviços oferecidos.


Herdei, sem escolha, duas gatas de um filho, há dez anos. Hoje, só uma me tira o sossego, a liberdade, e tenta me fazer companhia. Não faz.
Sou do tipo incapaz de maltratar um animal, mas não dependo deles para amenizar solidão.
Solidão é um acontecimento especial, artigo raro, se bem cuidada e aceita. Um luxuoso estado de espírito, requintado e para poucos, como eu, apreciarem.
Não reclamo e até sinto falta...se a invadem. Bem estávamos na gata, que tal qual um adolescente, não me faz companhia e tira minha liberdade.
Pois é, no cotidiano apressado, me reabasteço com a variedade aqui de perfumes, formas, cores, sons. Gosto de plantas, de flores e folhagens. Estas sim me fazem falta.
Gosto dos pássaros livres, vindo nos visitar toda manhã e à tardinha. Destaco meu encantamento com os beija-flores que dispensam qualquer comentário.
Outro dia, pela manhã, ouvia uns sons inquietos, no pequeno jardim da frente, onde está a pitangueira. Acreditando ser um novo trinado olhei curiosa!...Eram saguis, enlouquecidos de alegria em movimento de galho em galho, de fio em fio. Dei risada pelo meu forte componente urbano.
Nesse instante descobri a orquídea, que havia algum tempo pendurado no tronco do jasminseiro, começando a floração. Está lá , soberana e plena em sua beleza imaculada.
O êxtase sentido prejudicado pelo desaparecimento, misterioso e insólito, de dois vasos da mesma espécie. Foram levados do lugar onde, o zelador e eu, colocamos para um tratamento especial de carinho, luminosidade e fortalecimento.Um estágio de cura, em área comum, reservada aos moradores.


Moro num condomínio de casas, em Santa... Dois vasos de orquídeas foram levados, por algum vizinho que, identificando na etiqueta da planta sua origem, ignorou o amor e o cuidado por mim dedicados. Tenho muita dificuldade em lidar com quaisquer tipos de abusos...Prefiro imaginar:
Um caso de amor à primeira vista do gatuno de orquídeas ...ou as plantas eram fujonas?


Se alguém encontrar subindo e descendo ladeira ou mesmo a escadaria quebrada as duas orquídeas, ainda sem flores, avisem aqui no Ninho.





Abraços


Maysa

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

POR FALAR EM INSPIRAÇÃO...













Escritora já consagrada CLARICE LISPECTOR iniciou-se como entrevistadora. Muitas foram as personalidades escolhidas por ela. A Ed. Rocco , em 2007, publicou um livro delicioso, "Entrevistas". São conversas de abrir o coração, faz uma falta danada, hoje em dia, esse diálogo sincero com alguém, para compartilhar nossa visão de mundo.
Destaco um trecho em que Chico Buarque, entrevistado por Clarice , a entrevista: (Pag. 100)
C.B. - E como é seu trabalho?
C.L. - Vem às vezes em nebulosa sem que eu possa concretizá-lo de algum modo.Também como você, passo dias ou até anos, meu Deus, esperando. E, quando chega, já vem em forma de inspiração. Eu só trabalho em forma de inspiração.
C.B. - Até aí eu entendo, Clarice. Mas a mim, quando a música ou a letra vêm, parece muito mais fácil de concretizar porque é uma coisa pequena. Tenho a impressão de que se me desse idéia de construir uma sinfonia ou um romance, a coisa ia se despedaçar antes de estar completa.
C.L. - Mas Chico, aí é que entra o sofrimento do artista: despedaça-se tudo e a gente pensa que a inspiração que passou nunca mais há de vir.
C.B. - Se v. tem uma idéia para um romance, você sempre pode reduzí-lo a um conto?
C.L. - Não é bem assim, mas, se eu falar mais, a entrevistada fica sendo eu.(...)

Essa entrevista, suponho, foi decisiva na vida do Chico escritor.
Um abraço
Maysa