terça-feira, 11 de junho de 2013

SANTA TERESA DE NOVO - Maysa Machado

Jardim do Museu da Chácara do Ceu/Santa Teresa













SANTA TERESA DE NOVO

                                                                                                                     Maysa Machado


Deixe que a imaginação o leve para lugares imprevisíveis. O bairro de Santa, no imaginário coletivo é bucólico, suave, ermo, habitado por pássaros, flores, ladeiras e ruídos especiais. O bondinho, tema recorrente nas lembranças, foi um fugaz companheiro e muso. Poetas, pintores, compositores e viajantes comuns davam-lhe atenção. E as autoridades o que estão decidindo?
Não é mais assim que o bairro está amanhecendo ou se deitando. Os pássaros continuam aparecendo, escolhem os momentos quietos das tardes preguiçosas ou o despertar muito cedo das manhãs. Depois, se ficam, perdem-se os trinados na inacreditável zoeira urbana.
Novos empreendimentos, novos usos. Apoiamos e desejamos sucesso aos que chegam pra somar e valorizar. Santa é um bairro especial.
É preciso que a Prefeitura aja, respeite, incentive. Ao invés, a gestão municipal não lembra, não aparece, não fiscaliza e não multa!
Como ficam os transportes? E os serviços comerciais: padaria, farmácia, supermercado, açougue? A segurança? A maioria dos moradores passa pelo tormento da falta de direitos, inclusive "o de ir e vir".
Carros demais nas calçadas, outros estacionados em áreas imprescindíveis para manobras. De nada servem as placas proibindo o estacionamento, falta fiscalização municipal, e, os moradores "sem noção" ou visitantes, fazem desse uso irregular o seu comportamento diário. Impedem a circulação, dificultam que pessoas cheguem e saiam de suas casas.
Novos destinos e usos seguem... , igualmente ignorados por seus novos donos são os direitos de vizinhança, nas áreas de moradia.
Se a Prefeitura cumprisse seu papel na ordenação urbana, nosso dia-a-dia não ficaria tão invadido.
Os "SEM NOÇÃO" se transformariam em CIDADÃOS.
É só o que quer quem vive e ama Santa Teresa!
Por que, em nosso bairro, as obras da construção civil, algumas de grande porte, continuam sem placas da Prefeitura regularizando-as? A despeito das reclamações feitas ao nº 1746.
Sem regulamentação os moradores, vizinhos ficam entregues à própria sorte.
O que alegar ao morador das casas próximas que precisam manter fechadas janelas e portas? A escolha é simples e direta: Se não entra toda a poeira, permanece a umidade. E mesmo assim, luz acesa de dia, ser agredido com o excesso de poeira que invade móveis, eletrodomésticos, utensílios, roupas dentro dos armários... Aparelhos respiratórios, pele, a alma.
Os excessos causam danos à saúde e à qualidade de vida, traduzidos nos distúrbios de sono, quedas, irritabilidade.
Passem pela Travessa Manoel Lebrão, constatem os buracos no secular piso de pé- de- moleque; a poeira excessiva; o barulho de betoneiras, britadeiras e maquitas vindos da obra, sem placa, que lá acontece há mais de seis meses. Ah! Não se esqueçam de conferir os gritos dos operários, e a inexistência de equipamentos preventivos para eventuais acidentes de trabalho, inclusive nos feriados e fins de semana.
Anotem as placas dos carros estacionados à entrada das moradias, ajudem a salvar Santa Teresa, um bairro especial que está ameaçado por novas tribos. Estas, dispostas a ganhar dinheiro com a notoriedade que o bairro tem.
Aqui era um lugar bucólico e aprazível! Que continue sendo tratado assim, por todos! Abaixo os novos usos exclusivos, dos sem-noção,  impedindo os direitos dos moradores de Santa Teresa e baixando a qualidade de vida de todos.
Leva tempo para se formar um cidadão.
Cabe aos órgãos públicos participar desse processo. Inclusive, os senhores dirigentes municipais, cumprindo com suas funções e responsabilidades governamentais e públicas.


Santa Teresa, 11 de junho de 2013.

Acreditando em mudanças para melhor. O bairro de Santa Teresa e seus moradores merecem.

Maysa.

segunda-feira, 3 de junho de 2013

SAMPA EM DOIS TEMPOS:TEMPO II - Maysa Machado












SAMPA EM DOIS TEMPOS


                                                                   Maysa Machado

TEMPO II – Final dos anos sessenta.

Gosto de Sampa. Morei lá por mais de dois anos. Recém terminara o curso de sociologia, na FNFi, entrei no mestrado da USP, na Maria Antônia*. Depois, frequentei o Campus de Pinheiros da Universidade de SP, viagem longa. Gostava das árvores, da largueza do espaço, mas o isolamento... Era maior por aqueles tempos difíceis da ditadura, ameaças implícitas e o não querer relembrar das explícitas.
 A garoa e o friozinho encantavam uma carioquinha de Botafogo. Era julho quando cheguei. O lado provinciano da grande cidade e a “deselegância discreta de suas meninas” surpreendiam.
Fiquei, por pouco tempo, no bairro da Aclimação, em casa de amigos de amigos. Mudei para uma rua próxima ao viaduto de Santo Antônio, ou seria Maria Paula? O que permitia ir à pé para o trabalho, abaixo um andar do Terraço Itália, no Edifício Itália. Então, curtia a visão ampla- 360 º - do por do sol sobre os prédios. Maravilha! Do mesmo quilate que os efeitos especiais nos filmes da época.
 Em outras cidades que não as que nascemos, peregrina-se por casas, quartos. Até num pensionato para moças, em sua maioria vindas do interior do estado, fui parar. Imprecisões aqui e acolá, não sei  se o trecho ficava no Bexiga, Bela Vista ou Paraíso, bairros bucólicos no final dos sessenta. A rua era a 13 de Maio, mas esta muda de bairro, por ser tão comprida, e aos meus olhos era. Depois de casada escolhi um apartamento na Avanhandava, próximo à Rua Augusta, bem perto da Praça Roosevelt. O prédio moderno, com escadas à entrada, plano acima da calçada, mostrava no térreo, lado direito, uma porta colonial de madeira, sempre fechada. Lá era o reduto do Samba, em S.Paulo, instalara-se a boate JOGRAL, do Luiz Carlos Paraná, vinda da Galeria Metrópole, da Av. São Luiz.
Lembro-me da inquietude, beirando quase pânico, no rosto do jovem companheiro quando entrávamos no prédio e dizia-lhe: — Quero conhecer o JOGRAL.
 Nem é preciso afirmar que nunca passei por aquela porta, templo da boemia e da música. Ficou na memória dos desejos não realizados.
 Semana passada estive em SAMPA, e não consegui rever a maioria desses lugares. Meu imaginário adorna, cria espantos e uma terna emoção alinhava o gosto da jovem mulher que um dia viveu por lá.

*Rua Maria Antônia, local da Universidade de S.Paulo, até 1968.


Santa Teresa, 03 de junho de 2013·

Abraços

Maysa

sexta-feira, 24 de maio de 2013

O QUE É SER AMIGO? O QUE É TER UM AMIGO? - Maysa Machado

foto cel maysamachado/folha de outono sobre a mesa/2013















O QUE É SER AMIGO? O QUE É TER UM AMIGO?

                                                                                             Maysa Machado

Ontem imaginava mudando-me daqui, do bairro de Santa Teresa, talvez, para um trecho da orla de Copacabana. O Leme pensei. Gosto desde pequena da paisagem, do canto da praia, da montanha quase intocada, e senti vontade de ficar perto de amigos, pois os tenho nas redondezas.
Daí, que hoje, indo mais fundo nas conjecturas existenciais, nessa alquimia que junta e separa pessoas, sem a interferência devastadora e final, propriamente dita, da morte, indaguei:
 O que é ser amigo? O que é ter um amigo? 
Bem, maiores sejam os enganos cometidos nessa vida, fica a lição: Seu autorretrato só você faz. Rsrsrs
E nos desvãos das amizades, até mesmo as que aparentam durabilidade, tenho relativa sorte. Amigos antigos e prováveis ex-amigos novos são bons nisso, traçam-nos minuciosos e definitivos perfis.
Ajudam-nos a entender o papel das substituições infindáveis, no percurso de nossas vidas, dos atores, seus passos, angústias e motivações.
Até os surtos, inimagináveis. Amigo é pra essas coisas!
Uns, de tão capazes e precisos, ao se auto definirem, redigem seu prévio necrológio.
Algum, pelo tal surto ou covardia, somente, esquece-se de morrer! 
Ambos prestam favores à intempestiva morte, pois, enquanto vidas parcas tiverem, serão exímios propagadores do mal estar que ronda a civilização e os corações. 

Decepções, como tudo que provamos, são passageiras, contém um grama de finitude. No entanto, como relutamos aceitar as amizades que se findam.


Santa Teresa, 24 de maio de 2013.


Grande Abraço
Maysa

terça-feira, 21 de maio de 2013

REGRAS NA ESCRITA - Maysa Machado






















REGRAS NA ESCRITA

                                    Maysa Machado

Mundinho estranho... Eu que adoro escrever, tenho pesadelos pós-mudanças, mutilações e invenções estapafúrdias havidas na língua portuguesa, com a Reforma Ortográfica. Maldito Acordo esse!
Alguém vai me dizer por que somos obrigados a cortar e enfear palavras? Querem ver um exemplo? A supressão, em alguns casos, do elegante e oportuno hífen transformou a escolha por um passeio curto em: microrroteiros...
 Isso alegra alguém?  A sugestão escrita de um convite passou a ser explícita ofensa escrita.
 Rsrsrs
Valham-me de tais regras!
Melhor acompanhar as sugestões para desestressar...
Abraço,
Maysa

quinta-feira, 9 de maio de 2013

POESIA - EXPRESSÃO DA VIDA... - Maysa Machado











POESIA - EXPRESSÃO DA VIDA...

Recebi e li um poema lindo.Escrito por um jovem que amo, e me foi apresentado no dia do seu nascimento.O primeiro bebê que segurei no colo, como costumo repetir, sem exaustão. Nossa relação é de muito carinho. Ficamos todos os anos de sua infância, sem vermos um ao outro, mas se a vida coloca distâncias geográficas entre pessoas amadas, o afeto mantém-se como seiva que, alimentada, só traz vigor ao existir. 
O poema revirou minha cabeça, todo o sentimento percorrido em mais de quatro décadas. Não conseguia ler direito, tal a sofreguidão.
TREM DA HISTÓRIA, de IGOR GRABOIS.
Parabéns corajoso e sensível amigo Igor. Que teus filhos, Gilberto e Maria, frutos do amor e da coragem diante da vida, sigam bem perto a tua luta para ressignificá-la.
 Mais Poesia!
 Maysa Machado

TREM DA HISTÓRIA

                                                    Igor Grabois

Nasci onde o trem da história passou,

Em uma sala pintada de verde

Revisitada em sonhos de quando em quando

As notícias vinham da letra impressa

Progresso, Vitória, Nova China

E o camelô dos domingos saltava em preto e branco da TV



Homens vinham de tempos em tempos

E depois não reapareciam

Uma cidade que mudava

Mas era inamovível

As torres de vidro e aço não eram ainda construídas

A avenida grande ainda projetada em um riacho

Casas se espalhavam em ondulações

Parques, verdadeiras clareiras no cimento e asfalto



Carros passavam à distância

Dez quarteirões no escurecer quando vinha da escola

E me arriscava nos primeiros escritos

Minha letra miúda cada vez mais ilegível

Os anos escolares passavam devagar

Um no prédio velho, outro no prédio novo

Alternados assim



Mas os dias eram inalterados

Era tanto movimento

Não se notava a diferença

Era como se tudo fosse parado

Um tempo que não passava

As caras eram fechadas

Então vinha um som uma palavra uma frase no muro

Um cartaz um livro distante

Para um refrigério e um alívio



Em um passado não muito distante

Uma tarde no Gáudio de São Vicente

Uma brisa do mar virou um abraço terno de reencontro

Há mais lugares que revisito em sonhos

Mas é um lugar sem mar



A mudança da cidade que só se nota

Quando já feita

Instantes que se contam pelos passos

Como projeção do espaço

A física moderna diz que o tempo não existe

Mas o tempo volta na nostalgia do não vivido

De tempos duros que parecem bons aos dias de hoje



Perseguia a palavra em calçada pisada

Nunca pude cometer desatinos

No máximo um cinema

Uma aula cabulada no shoping

Me lembro da bolsa pesada de livros

Da chácara de flores do jogo de taco

Do vizinho português que apanhava do pai com fio de ferro

O salário mínimo era trezentos e sessenta cruzeiros

E o filho do encanador filava a sopa feita pela minha avó

Que fazia cerâmica e dava aulas de matemática na mesa da cozinha



Eu me inspirava por qualquer emoção

Comprava fascículos na banca de jornal do Peg-Pag

E gibis na avenida Morumbi

Seguia pela cidade de bicicleta

Em passeios sem esforço

Sem temer o tráfego e me metendo em algum bosque de eucaliptos

Eu não tinha irmãos nem primos

E ninguém sobrou dessa época



Por isso essa sede de pertencimento

Uma raiz que se planta no mundo

E uma sensação de corte e de perda

Houve uma vez em que um cão voltou

Que foi e não voltou mais

Como todos que iam e vinham

Estranhei as distâncias

Centro velho e centro novo

Galeria Metrópole Lojas Americanas

Sopa Paulista

Passeios no calçadão recém-inaugurado

A livraria do Gazeau na praça da Sé



Traços de uma cidadania incompleta

Cada vez mais distante

E mais tarde passei a ansiar pelos bares da outra cidade

Revisito as mesmas paisagens

Tudo parecia tão grande e agora parece na medida

O tempo é outro, os olhos são outros

Mas a angústia parece a mesma

De quando descobri as cartas da Flavia Shilling

Na Brasiliense da Barão de Itapetininga

No mesmo dia em que ouvi Ana de Amsterdam



Coisas tão pequenas misturadas na grandeza

Uma grandeza que não era minha

Uma história dos grandes fatos e de míticos personagens

E de pessoas que trabalham e se movimentam

Algo não percebido e que um dia explode

Uma história escondida nas catacumbas quase sem esperança



Aos domingos se lia o Estadão

Grossos cadernos de classificados e artigos de fundo

Lidos na luz mortiça da cozinha

Me deitava ás dez mas a insônia levava pra além da meia noite

Quantas noites amanhecidas na leitura

Sempre os livros me povoando

A vizinha já estava acordada antes do sol nascer

No muro a observar a vida alheia



O trem da história circulava em quatro paredes

Esperança era frase pixada em um muro

Uma faixa perdida na porta de teatro

Uma matéria de revista, uma canção impressa no vinil

Hoje se pode ao menos respirar

Conhecer o que é preciso

E agir se assim se quiser

Mas há uma falta de cada ponto coberto

Do perigo iminente

E da certeza do que éramos



Era um tempo sem luz

De sussurros e encontros clandestinos

Um tempo de guerra

Não se escolhiam os soldados

Nem se reconheciam os inocentes

Um tempo de coturnos batidos

E inimigos à espreita

Um tempo que vem e vai na memória

Hoje parece um sonho ruim e saudoso



Vivi onde passa o trem da história

Descortinando o trilho, descrevendo a paisagem

Enxergando a luz do fim do túnel

Andei por onde anda o trem da história

Respirando o fumo da máquina

Em meio ao barulho ensurdecedor


 Zona Leste, junho de 2011.

PS: Igor GRABOIS, economista e militante político, prestou, ontem, depoimento na Comissão da Verdade da Assembléia Legislativa de São Paulo. Filho, neto e sobrinho de três desaparecidos políticos, mortos pelo Estado Brasileiro. Durante o regime militar autoritário instalado, após o Golpe de 1964, que destituiu o Presidente João Goulart e aboliu, por 21 anos, os direitos civis conquistados pelo povo brasileiro na democracia.
Um abraço a todos.
Maysa


quarta-feira, 1 de maio de 2013

1º DE MAIO- SANTA TERESA EM OBRAS - Maysa Machado













1º DE MAIO - SANTA TERESA EM OBRAS

Maysa Machado


O bairro até que era bucólico, diferente, musical, artístico. Isso nos anos 70, 80, e prolongando, ainda boêmio, até o final do século passado, vá lá.
Hoje, como em quase toda a cidade, o carioca tropeça em obras, é arrancado de seu sono, vive de susto em susto.
 Santa Teresa está sendo ocupada por outras vocações.  Ganhar dinheiro, em curto prazo, através dos empreendimentos, na sua maioria de fachada internacional.
Os jovens artistas sonhadores já não a representam, e a falta de música instrumental, em seus bares, dos sons que despontavam primeiro por aqui é substituída pela histeria urbana do lucro que embaralha e embrulha ganhos e as antigas vocações.
Santa Teresa é  preferida para horas de lazer. Hotéis, pousadas, hostels, cama e café. Alguns, turistas transformam-se em empreendedores estrangeiros, ávidos com as possibilidades de sucesso econômico.
Assistimos ao comportamento predador de acesso ao bairro, na condição de “donos”, tratam das suas vidas e propriedades sem olhar e respeitar o entorno, sem curiosidade em conhecer os hábitos. Obras atrás de obras.
 Aqui na velha travessa, com trechos cada vez menores do calçamento tipo pé de moleque, durante uns quatro anos, não entrávamos nem saíamos de casa quando queríamos. Em nosso ir e vir enormes caminhões, caçambas de entulhos, peões, serviços e horários variados.
Um tormento.
Agora, mais outra obra nos tira o sossego. Os proprietários não estão perto cotidianamente. O conhecido tormento se reinstala e a sensação recorrente, há mais de seis meses. De novo, somos deixados como que à beira da estrada, atingidos com o excesso de poeira e barulhos de toda sorte e oscilantes decibéis.
Pergunto-me: Moro ou não em área residencial?
Será que em todo canto do mundo é assim? Não existe lei para preservar, ainda que minimamente, o direito dos habitantes?
Há uma torcida, em silêncio, todos os dias, para que chegue o fim das tardes e sejam de que estações do ano forem, quando o turno de trabalho termina.
Resta-nos a trabalheira, esta sim sem fim, para limpar a poeira, e no dia seguinte tudo recomeçar. Eu, cuja casa fica defronte da movimentação mais intensa, tenho pesadelos com o som da maquita, das serras elétricas e tudo junto e misturado com a falta de educação dos trabalhadores, dos operários, que se comunicam aos berros, na alegria e no palavreado chulo.
Não acordamos quando o sono acaba. Somos arrancados das camas, por aqui não há descanso nem feriados.
Hoje, Primeiro de Maio, feriado internacional do Dia do Trabalho, todo o ritual se repete. Nem acreditei, antes das oito, a parafernália em ação. Poeira, barulhos, estrondos, berros.
O que é ser cidadão? O que nos assegura o poder público?
Janelas fechadas trazem um pouco da privacidade perdida, mas sustentam toda a sorte de péssima qualidade de vida; os ácaros e a poeira fazem a festa. As alergias, inclusive, as respiratórias, tiram o ritmo da vida, abalam a saúde e o bolso.
 Se chove o medo surge, pois a topografia irregular e íngreme do terreno vizinho está sendo revolvida, radicalmente, por manobras e novas destinações humanas.
 Estas não cogitam os pés de jabuticabas, os mamoeiros, a tangerineiras, os abacateiros, sequer os pássaros, os saguis, os gambás, animais que ocupavam um resto de mata.
Antes, o sol para ser visto e brilhar até as varandas dos quartos, precisava da ajuda da brisa e do companheirismo das folhas lhe dando passagem por entre os movimentos suaves, trazendo os raios das manhãs ou as despedidas dos fins de tarde.
Quem quer saber disso? Os operários? Os novos proprietários?
 A pressa urbana em derrubar árvores, em gritar ao invés de falar, em trabalhar em horários de descanso dos que moram é preponderante.
Qual o destino do bairro residencial de Santa Teresa?
Obras economicamente viáveis, mas cultural e historicamente desviadas de um modo saudável de viver que se quer anular, dia a dia.
Vejo da minha janela, nos poucos momentos em que abro o desespero, a agitação das aves, a busca do pouso, o vazio do galho partido, a falta da árvore tombada.

Não isso não pode ser confundido com progresso, melhoria, respeito humano e ações sustentáveis.
Um nome parecido com distância, alheamento, despreparo. Falta de cidadania.

Santa Teresa, 1 de maio de 2013.

Um abraço para os que conseguiram comemorar o feriado.
Em tempo: Por aqui não vi, até agora, nenhum operário, da obra vizinha, portando luvas, capacetes e outros cuidados preventivos sobre acidentes no trabalho ou com a saúde do trabalhador. Tampouco alguma placa indicando a licença para a obra instalada.

Maysa

sábado, 27 de abril de 2013

REENCONTROS- Maysa Machado





REENCONTROS

                                                                                           Maysa Machado


Reencontro parte da minha vida, antes de seu início, por aqui, na foto. Nessa basílica, estilo neo bizantino, a Notre Dame de La Garde, em cima do monte, mirante do mar, do porto de Marseille, onde meu avô materno costumava rezar.
Marseille me encanta, também, por esse mistério. O vivido por um avô-memória, avô só lembrança, menção sutil sobre a perenidade do afeto, transferido pela filha caçula, e minha mãe, para mim - sua única filha mulher.
Avô-presença e jamais visto. Materializado num dos anjos esculpidos por ele, em madeira leve, que guardava o berço da filha. Aliás, os dois berços. Eram duas as filhas, dois os anjos. Um avô que não provei do colo, nem do afago, menos ainda a convivência.
Recebi o anjo de minha mãe. Definitivo símbolo do afeto de um pai por uma filha, depois, símbolo do afeto... De mãe para filha.
Visitei a Igreja onde o avô, que não conheci, rezava, agradecia e pedia bênçãos para si, e para a família pequena que havia formado. 
Meu avô materno - João Luiz - era da Marinha Mercante do Brasil, por isso ao casar-se com minha avó, ambos maranhenses, montaram casa no Rio.
Foi devoto dessa Nossa Senhora, protetora dos Navegantes, conhecida em Marseille como La Bonne Mère.  Vi a sala de ex-votos repleta de agradecimentos, expressão de que o mar tempestuoso leva muitos navegantes, mas milagres existem... E alguns sobrevivem.
Em nossas vidas, é um pouco assim. Somos sobreviventes de tempestades, que se iniciam ameaçadoras, que levam, devoram; depois vem o tempo e apaga os sinais, os traumas. Nem todos partem, nem todos são esquecidos.
A foto descoberta foi o bastante para transbordar ausências presentes, todos as temos, em nossas histórias pessoais.
Vontade de voltar à Marseille, subir o monte, sentir a brisa marinha acarinhando a fronte, ver as embarcações de muitas procedências e plenas de vida.

( Dedico este texto para minha sobrinha Carolina, em seu aniversário.)

Um abraço carinhoso aos que passam.
Maysa

domingo, 21 de abril de 2013

Um Domingo calmo...- Maysa Machado



Um Domingo calmo... e quase feliz.
Um Domingo com música. Começando com Chico e a "Exaltação à Tiradentes", samba enredo de Mano Décio, Estanilau Silva e Penteado, ano de  1949,  da Escola de Samba Império Serrano;

http://letras.mus.br/chico-buarque/1860173/

Depois, passeio pela singela  canção SOZINHO, de Peninha. Na voz de Caetano fica doce e "bonitinha" - suave a descrição da perda;

http://letras.mus.br/caetano-veloso/41672/

E por gostar da boa companhia acho Tom Zé. Vou "vadiar", sem Clementina, de tanto gostar de cantar e brincar. Encontro uma definição para o amor: O AMOR É UM ROCK, lição ensinada por Tom Zé. Se puderem descubram "Tô",  do mesmo compositor.

http://letras.mus.br/tom-ze/860474/

Tudo isso com o olhar extasiado e o coração feliz , depois da foto da Mesa do Imperador de Flávio Veloso.
http://www.flavioveloso.com/
Bom domingo e bom passeio.
Maysa

segunda-feira, 15 de abril de 2013

POEMETO - VOO SOLO - Maysa Machado

luis.impa.br
















Voo Solo


                                   Maysa Machado


Vamos voar?
Juntos?
Ou prefere um canto sossegado
Para treinar trinados...



Santa Teresa, 15 de abril de 2013.


 Quem tiver interesse clique no link abaixo. Um abraço.

 http://luis.impa.br/photo/0901_aves_rj/

Maysa

domingo, 31 de março de 2013

Hai - Cai : TERNO - ETERNO - Maysa Machado





TERNO... ETERNO


                                 Maysa Machado


O Tempo... brinquedo
de  alto  risco. Edita nossos
melhores  pedaços.

          ....


Quem passa por aqui deixo meu hai-cai para comemorar a Páscoa - Momento em que é possível o milagre da ressurreição. E um  lampejo de beleza em Dueto, com Nara e Chico.


I

       http://youtu.be/Kye_O-l6uMc


II
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Abraço

Maysa

sábado, 30 de março de 2013

ALELUIA - Sonhos suaves ressurgindo- Maysa Machado






Aleluia!

Sonhos suaves ressurgindo. É a vida... no dia a dia traz surpresas simples e boas. Aprenda com ela a valorizar o momento que surge.
Ah! respire fundo e agradeça o gesto de carinho recebido. O que mais se pode desejar? Saúde e Paz para todos!

Feliz Páscoa.

Maysa

quarta-feira, 20 de março de 2013

Colheita - Sobre Emílio Santiago- Maysa Machado





COLHEITA




Nossa memória -A CADA DIA QUE PASSA- eterniza a fugacidade da vida humana.

Somos todos viajantes, estamos aqui por empréstimo, e de passagem.

Uns, como Emílio, plantam beleza e amor! Colheita da boa.

I-
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II- 
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Com serena tristeza, deixo um abraço.


Maysa

domingo, 17 de março de 2013

LOUCA POR MÚSICA - Maysa Machado
















LOUCA POR MÚSICA  I

Zapeando pelo domingo encontro Chico Buarque, e seu acervo digitalizado, abrigado no Instituto Antonio Carlos Jobim.
http://www.jobim.org/chico/
Nossa cultura é sobretudo  musical atravessa  décadas antes e a partir de nossos nascimentos.
Herdeira de minha mãe, tia e avó de choros e sambas, tangos e canções de Nazareth, Jacob, Noel, Orestes, Carmem.
Descobri Dolores,Vinícius, Tom, Chico, Elis, Paulinho, Maysa, Edu...
Ontem mesmo acompanhei um Documentário com o Chico - Parte II. Comovente saber todas as letras.
Minha alma se alimenta com música, sempre. Gosto de tantas, e dessa - SEM VOCÊ- de Tom e Vinicius, em especial. Por coincidência, o Chico diz que é uma de suas preferidas. Estou em boa companhia.

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Um abraço de Domingo.
Maysa

quinta-feira, 14 de março de 2013

POESIA- Maysa Machado

foto do meu jardim by cel.














POESIA

                       Maysa Machado


A poesia decanta e espera.
Vive em todos os momentos
Nos lugares onde chamam por ela.
Perfume inconfundível do espírito
Nem assim é pressentida.
Cantos falam, lembranças
Sussurram.
A contemporaneidade está surda.
Aturdida.
Tem mais, a poesia nunca dorme.
Os tristes e os felizes
Procuram por rimas, pérolas.
Alguma palavra estreando significado.
Ela segue só.
Viajante e companheira.

A todos é imprescindível
Paixão e Orgulho
Esperança e Suavidade
Inquietude e Amor.
Há quem afirme ser
Parceira única da solidão.

Santa Teresa, 14 de março de 2013.

Lembrando que hoje é o Dia da Poesia. Comemoremos!
Maysa

terça-feira, 12 de março de 2013

UM GOSTO DE AMOR AINDA...Maysa Machado

do filme Morangos Silvestres

UM GOSTO DE AMOR AINDA...



                                                                Maysa Machado



Tudo dentro da gente explodindo

A vida, a dúvida, o amor, o medo.

O tempo roendo. Corroendo.

Ratazana faminta o tempo.

Gritando: De hoje não passa.

Passou.

Em muito se enganou o tempo 

Quanto poder tem o amor!

Só a morte rivaliza seu dom.

Gosto de você.

Sinto falta de você.

Gosto das suas imperfeições.

Há uma parte em mim

Que está morre não morre

Procuro enterrar devagarzinho

Pra não tomar susto nem sentir vergonha

É que não houve despedida, nem aviso, nem conversa, nem suspiro.

Nadinha, nadinha de nada.

E, não houve surpresa. Sempre soube

Na sabedoria da vida

Que seria assim, sem palavra.

A seco, cortante, sem ensaio

Sem motivo, sem perrengue pouco.

Fim do tempo definitivo.

Mato os dias... E as noites crescem ao redor.

Santa Teresa, 11 de março de 2013.


As águas de março, se iniciam pra fechar o verão! Haja raio e trovão!
Um abraço calmo.

Maysa

sexta-feira, 8 de março de 2013

DIA INTERNACIONAL DA MULHER - 8 de março de 2013 - Maysa Machado










DIA INTERNACIONAL DA MULHER - 8 de MARÇO DE 2013


Maysa Machado


Mulheres! Transformemos o mundo exercendo qualquer tipo de poder sem repetir os equívocos do autoritarismo, do sectarismo e do aparelhamento de quadros do movimento social e dos partidos políticos na propaganda inadequada dos projetos de governos. Estes passam, e a luta é maior, a nós pertencerá , mantendo-se a AUTONOMIA.
Neste DIA INTERNACIONAL DA MULHER lembrar as várias companheiras e homenageá-las em uma só:
DRA NISE DA SILVEIRA. Médica que revolucionou a psiquiatria brasileira e não se curvou às políticas de Estado, nem aos cargos e benesses pessoais.
Defendeu com firmeza e vanguardismo o direito às lutas antimanicomiais. Foi presa política no período da ditadura Vargas, ficando com outras corajosas companheiras na cela 4.




Foto 1: Dra Nise na juventude.
Foto 2: Em plena atividade criadora na maturidade.

Um caloroso abraço companheiras



Maysa

sábado, 2 de março de 2013

VIVA (N) O RIO DE JANEIRO - Maysa Machado



















VIVA (N) O RIO DE JANEIRO


                                                       Maysa Machado


Desfio e conto nova história, talvez, uma das primeiras histórias. Meu pai era alagoano e na adolescência, por situações familiares, foi morar em Recife.
Sua busca era outra. O caçula de três irmãos órfãos, de pai e mãe, tinha espírito indomado, entrou em um navio cargueiro, cujo destino era S. Paulo. Menor de idade foi atraído pela grande metrópole, fazia planos para trabalhar por lá.
Não sabia, entretanto, que a intimidade e envolvimento nutridos com a natureza iam alterar seus planos. Quando viu a beleza da cidade do Rio de Janeiro, o esplendor da Baía de Guanabara decidiu descer no Porto do Rio. Contava rindo esse momento decisivo em sua vida. O encanto que o arrebatara aflorava na conversa, com os amigos, a família.
 Mudou seu destino, criando assim o meu.
 Graças à infância, em seus primeiros anos, vivida em liberdade nas terras da fazenda de sua mãe, em Mata Grande, interior do Estado das Alagoas.
A natureza em nossa cidade é inclusiva, está ao alcance de todos.  Aquele menino acostumado aos banhos de rio, às frutas colhidas no pé, logo percebeu a oferta que a cidade maravilhosa lhe fazia. O Rio democratiza, através da bela paisagem, o acesso de todos que chegam por aqui ao convívio informal, prazeroso, bem humorado e solidário.
Viva (n) o Rio de Janeiro!

Santa Teresa, 02 de março de 2013.

Grande abraço aos amigos, sobretudo aos cariocas de coração. Apaixonados pelo Rio, como foi  meu pai a vida inteira. E, meu muito obrigada, à Aninha Guimarães, autora da foto. Carioca desde que chegou aqui e mostra sua paixão fotografando o Rio. Aqui, o flagrante da onda abusada e linda que quase virou sorvete, rsrs.
Maysa

sexta-feira, 1 de março de 2013

SOU CARIOCA DE FATO E DE CORAÇÃO- Maysa Machado

foto maysamachado/by cel



















SOU CARIOCA DE FATO E DE CORAÇÃO


                                                          Maysa Machado

Viva o Rio! Viva a Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro!
Viva a Baía da Guanabara!
Viva eu, viva tu, viva o rabo do Tatu!
É a vida recebida assim.
Intensamente, de fato e de coração.
Sorte e descansos meus...
Ganho de energia na escolha de Ser.
Viva o Rio em seus 448 anos
De pura beleza e caminhos pro mar.
Dos silêncios perdidos no caminhar.
O Rio quieto dos cariocas
O Rio Carioca submerso no asfalto,
Este que lhe rouba o lugar.
O Rio nublado das areias morenas do Pancetti.
Das espumas brancas matizando os verdes água
No subir e descer das ondas altas.
Viva você meu Rio, berço
De vida e morte.

Santa Teresa, 1 de março de 2013.

Com meu abraço caloroso pelo aniversário da cidade.

Maysa

sábado, 16 de fevereiro de 2013

DESRESPEITO À LEI DO SILÊNCIO SOBE O MORRO - Maysa Machado

















DESRESPEITO À LEI DO SILÊNCIO SOBE O MORRO

                                                                                 Maysa Machado


Moro em Santa Teresa, quase todos os amigos sabem disso. Canto as belezas do bairro, aponto as dificuldades - cada vez maiores - encontradas em nosso dia a dia.
No comércio local não tem mais farmácia, padaria, mercearia, supermercado. Nos transportes, o bonde não foi devolvido aos moradores. Seguidamente sofremos a recusa de taxistas para nos deixar em casa. Nossas reclamações, por vezes, saem até nos jornais e nas emissoras de rádio e TV.
No entanto, não é pra desistir do bairro que tem encantos e com eles, nos acostumamos, gostamos de conviver.
 Só que o silêncio e o aspecto bucólico, de antes, estão sendo devastados por novos conceitos, pela ganância do capitalismo e por novos proprietários/moradores.
 Estes vêm comprando mansões, construindo hotéis, restaurantes. Vocação turística do bairro, dirão alguns. Há quem perceba a voracidade dos que apostam no lucro rápido e se movem com a proximidade dos eventos internacionais programados em nossa cidade. As autoridades municipais e estaduais... Se omitem.
Alvarás são concedidos ou  ficam pendentes para as casas de festas, em locais estritamente residenciais? Ao que parece não há regulamentação para o tal exercício, menos ainda para o horário abusivo de eventos de grande porte.
Esses novos usos, nos imóveis do bairro, descumprem a lei. Seus proprietários sabem disso, desrespeitam e invadem o período de silêncio, da noite. Descumprem a obrigatoriedade do tratamento acústico; perturbam o sono dos que, como eu, escolheram Santa Teresa para morar.
 O ruído excessivo, com geradores de energia de alta potência, avança pelas madrugadas agredindo os direitos de cidadania que a legislação prevê, mas os órgãos competentes não fiscalizam de forma efetiva.
Esses novos empresários alguns estrangeiros, escolheram o morro de Santa Teresa para ganhar dinheiro, não para apreciar suas paisagens e efetivamente morar. Apostam na evidente bagunça que o Brasil, em todas as esferas, sugere.

Agora, quase cinco horas da manhã, ainda, estou por aqui no computador... Não dá pra dormir com o violento barulho da tal mansão vizinha transformada em Casa de Festas.  Está localizada à Rua Cândido Mendes, defronte ao Clube de Squash, e colada à pequenina e antiga travessa onde não se ouve mais os pássaros, saguis, gambás, corujas, cães. O som eletrônico ferve e fere os ouvidos e a alma.
 Que falta faz o tempo onde à alegria era pura alegria. E alegria... Sabemos, não agride, não fere, não desrespeita.

O que é mesmo cidadania minha gente? Será que a inventamos em algum delírio insone ou teremos que reinventá-la?

Santa Teresa, 16 de fevereiro de 2013.

Um abraço

Maysa

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

DE QUE MATÉRIA É A VIDA? - Maysa Machado







DE QUE MATÉRIA É A VIDA?

                                                                              Maysa Machado


Logo a resposta que me ocorre é o Tempo. Uma ampulheta escoando desde que chegamos de bebê nesse mundo.
É a vida uma promessa. 
Que encanto ou dor pode romper a esperança que cada vida resume?
A gente espera ser feliz. Isso compreende ser amado, querido, aceito, notado, valorizado. Inclui reconhecimento, um lugar, ou muitos, para ser lembrado e nunca, nunca ficar no canto esquecido.
Viver é passar por expectativas que são construídas a partir de sonhos, e de muita tristeza vinda entre as decepções, as não realizações..
A vantagem de envelhecer é que, quase sempre, sabemos lidar um pouco melhor com as frustrações e com os nãos.
Também, resta-nos pouco tempo tanto para litígios quanto para o prazer. Um singular, os outros de uma variedade incessante.
Mudança comportamental é difícil, nessa época, em que passamos a ser com nossos hábitos.
Duvide de quem não sabe mudar. Estimule toda autodescoberta.  Comemore a multiplicidade que nos faz perceber outras possibilidades.
Viva cada instante como se fosse o único, e é,  mas por isso mesmo, viva saboreando a vida. Não tenha pressa. Tranque porta, janelas e frestas para driblar a ansiedade, a falta de delicadeza e o medo do desconhecido.
Estamos aqui para aprender. Um pouco melhor a cada dia, não faz mal, redobra a energia vital e semeia o entorno. Humaniza o afeto.
Aprendemos na infância: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.”
Aprendemos? Então, e só praticar... Vá, ensaiando, timidamente, como quem aprende a andar.

Santa Teresa, 06 de fevereiro de 2013.

Um abraço carinhoso.
Maysa

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

FEVEREIRO - Maysa Machado












FEVEREIRO

                                                                       Maysa Machado


O segundo mês do calendário Gregoriano célere aparece na "folhinha" de 2013. Uso o termo coloquial, à época em que aprendia as coisas do mundo.
Minha mãe nasceu no dia 7 de fevereiro, o único irmão na mesma data. Então, o mês sempre teve importância e significado.
Outros entes próximos e queridos chegaram e partiram nesse mês caprichado da Era de Aquário. A tentação é nomear cada um, tal o destaque em minha simples vida.
Vou é misturar lembranças e sonhos com inseguranças que só o futuro traz. Apagar e rabiscar, fazer de novo.
 Garatujas são caminhos com possibilidade de ir e vir.
 E quanto ao fevereiro de 2013 que seja alegre, ruidoso, exagerado. As muitas máscaras do bem, escondendo corações apaixonados e... Música, música pra movimentar o corpo.
Carnaval no Rio vira estado de espírito e com a alegria soberana, por decreto e feriados, o tempo não prevalece nem governa. Assim cada qual é senhor e senhora do seu roteiro.
Apenas um pedido: Fevereiro, se puder, empurre as chuvas para “quase rolarem” só em março.

                                          ... x ...
Flores de Fevereiro - amor-perfeito, angélica, boca-de-leão, áster, cáspia, gladíolo, clarquia, laços-espanhóis, magnólia, mimosa, papoula, petúnia, sempre-viva e cravina.
Frutas e Legumes  de Fevereiro
Abacate, abobrinha, figo,goiaba, laranja-pera, maçã, milho verde, pepino, pera, pimentão,quiabo, uva.

Um abraço caprichado.

Maysa

sábado, 26 de janeiro de 2013

TEMPESTADES - Maysa Machado








TEMPESTADES


                                                                               Maysa Machado


Raios, relâmpagos e trovões apareceram essa madrugada com estrondosa pirotecnia.  Arrancaram- me dos sonhos, terminaram com meu sono e invadiram as horas seguintes deixando a manhã confusa. Acordei tarde, atordoada sem saber se eles tinham sido reais ou se eu os sonhara.
Através das notícias na rádio, soube dos estragos que a chuva deixara na cidade, e uma das origens dos deixados em minha noite.
Por muitos anos, o lugar onde vivo foi bucólico, sossegado; meu sono aprendeu e requer certas condições.
Santa Teresa vem sendo ocupada por novos moradores, com predominância de estrangeiros, encantados com o Rio. O bairro está invadido por obras. Reconstruções, reformas, poeira, barulhos vários, e quase todos desnecessários, somam desgaste ao dia e ao cotidiano.
Por aqui não acordo mais na hora que desejo ou que o sono acaba. Os gritos dos operários, as manobras excessivamente ruidosas dos carros, dos caminhões com carga e descarga. A pressa urbana nos alcança.
 E, o desmatamento indiscriminado da vegetação encontrada. Morro acima foi tudo cortado e muito, na obra do vizinho.
 A chuva foi torrencial. O barulho muito mais intenso, meus ouvidos atentos descobriram o que qualquer pessoa encantada com a natureza sabe. Planta faz bem a terra, segura o solo, abafa os ruídos, protege.
Quem ama, também, protege. Quem apenas ocupa... Leva mais tempo pra aprender.

Santa Teresa, 26 de janeiro 2013.

Um abraço neste sábado.

Maysa

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

UM DIA DE CHUVA: ENCANTOS E DESENCANTOS - Maysa Machado


foto Ricardo Cosmo















UM DIA DE CHUVA: ENCANTOS E DESENCANTOS.


                                                                                       Maysa Machado


O cenário é o mesmo? O que muda num dia de chuva na paisagem e em seu entorno?
Por aqui, além da impossibilidade de sair debaixo do temporal, fico vigiando o céu, que em vários tons do cinza não traz o sol, nem pista alguma para o fim da tempestade.
Como choveu esta madrugada no Rio. O barulho da chuva sempre me agradou, mas meteu medo esta noite.
O homem urbano fica refém das ruas alagadas, dos múltiplos perigos no espaço público, dos transportes precários. Os engarrafamentos costumeiros nas grandes cidades se transformam em impedimentos reais.
 O Rio, cercado pelo relevo montanhoso, desperta entre as águas e estas provocam profundas mudanças em sua topografia. E, sobretudo, as casas não parecem mais um abrigo tão seguro.  Choveu tanto.
As águas estão rolando... Estas lavam, é verdade, mágoas, sujeiras. Renovam e abençoam as plantas. Tão lindo, encontrar as folhas repletas de gotas de chuva. Gordas gotas.
Tempestades castigam as subidas desmatadas e trazem perdas. Há o grande perigo de vidas humanas à mercê da força das águas. Os homens públicos não fazem política com o coração, com a utopia, fazem-na com gastos e dívidas vultosas, e a população paga pela negligência desses governantes.
 Falta tudo o que não devia faltar nos períodos do verão carioca.  Ano após ano.
Os serviços prestados à população encarecem, sem qualquer controle. Uma cidade com destino turístico. Nascidos ou moradores, no verão, são todos surpreendidos e tratados como visitantes. E o que querem os prestadores desses serviços se resume numa palavra: Dinheiro. No espaço de uma estação. Sonhos escondidos sob o colchão?
 No bairro de Santa Teresa procure por uma farmácia. Uma padaria. Um supermercado. Um hortifruti. Sobram restaurantes e lojas de souvenirs. Falta o bonde. Lá, embaixo, na cidade encharcada experimente e peça um taxi para chegar a alguma das ruas do bucólico bairro. Se você está de passagem se reprograma. Se for morador vai pegar pneumonia.

No entanto, na manhã cinzenta, sou surpreendida de forma agradável, com a chuva. Acompanho há dois dias um par de rolinhas que procura abrigo por entre as folhas - agora pesadas - da pitangueira, que avança sobre o piso da varanda do meu quarto. E como são queridas, bonitinhas. Porém, ariscas, pois é o preço pago pela liberdade.

Santa Teresa, 22 de janeiro de 2013.

Um abraço para os que passam...rsrs
Maysa

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ANO 2013 - MÊS JANEIRO - DIA 09 - Maysa Machado



















ANO 2013 - MÊS JANEIRO - DIA 09. 

                                                                         Maysa Machado

Escavações prá lá de subcutâneas...

O que é isso? Envelhecer será contar meses, dias, minutos e segundos? Ou não tê-los porque a vida é breve e o tempo passa rápido. Ou, ainda, por que não aprendemos a lidar com o tempo real?
 Desconfio sequer com o imaginário, ambos breves, ao final das contas.
Sinto que meu tempo interior, de tão precioso, é burilado, requer muitas etapas, um trabalho com requinte. Aqui fora, tudo é fast!
Envelhecer é como a vida um mistério insondável; por mais que se viva e se aprenda; a lição maior não nos é dada. Um dia tudo a ver, o outro cheio de porquês.
As dores e as limitações deixo pra lá. Vamos falar do que é bom. A visão panorâmica alcançada por uns.
 Esse panorama que descortinamos ao atingirmos a maturidade, e mais ainda, quando se aproxima a década seguinte, em casos bem particulares, inquieta.
Jovialidade - Nada é mais necessário aos novos idosos. E quem se considera um? Já vi gente se autodefinindo aposentado. Fico pasma. Idoso é difícil. Só na hora da fila ou do banco laranja.
E aí? O que muda por dentro? Por fora, melhor não comentar.
As esperanças não são mais as mesmas. Se antes almejávamos voos, intrépidas conquistas, hoje, somos previsíveis. Queremos afeto, companheirismo e leveza da vida. Se resistirmos às atuais mudanças estéticas, será que convivemos com a ausência de formulações ideológicas críveis? Julgamos nossa visão de mundo mais apropriada, mais criativa, mais bonita. Será?
Entre o gorjeio de um pássaro, à janela, e nossa precavida aparição para conferir se já sabemos a quem pertence a sonora presença... Temos que reconhecer: Ficamos diferentes. Dos movimentos aos interesses que nos movem.
O que é viver, minha gente? É continuar sonhando e perceber o que deixamos pelo caminho? Há o que juntar ou não dá mais?
Confiamos que nosso desfecho será diferente e mágico? Ou nos encharcamos de realidade e sucumbimos. Onde ficaram nossas histórias de lutas?
Nossos acertos, nossos medos? O futuro, agora, sempre estará mais próximo e, companheiramente, informo: Menor.
Quem sabe podemos trazer para o presente nossa ousadia antiga? Nos pequenos gestos, nos breves sonhos. Ainda a tempo de percebermos quem somos? O que queremos? E pra onde vamos?
Vamos!?
 É só acordar e colocar o pé na estrada. Acompanhados de uma profunda generosidade com a vida, nossa mestra maior.

Santa Teresa, 09 de janeiro de 2013.
Grande abraço inicial 
Maysa