quarta-feira, 11 de março de 2009

Enleio - Carlos Drummond de Andrade









Que é que vou dizer a você?
Não estudei ainda o código
de amor.

Inventar não posso.
Falar, não sei.
Balbuciar, não ouso.

Fico de olhos baixos
espiando, no chão, a formiga.

Você sentada na cadeira de palhinha.
Se ao menos você ficasse aí nessa posição
perfeitamente imóvel, como está,
uns quinze anos(só isso)
então eu diria:
Eu te amo.
Por enquanto sou apenas o menino
diante da mulher que não percebe nada.
Será que você não entende, será que você é burra?


In, A Palavra Mágica, Coleção Mineiramente Drummond - Poesias. 10ª ed., Ed.Record, 2003



Falar de amor é tão difícil, nos tempos de hoje! Sem parecer piegas...sem invadir o universo do outro. O objeto do desejo, da fantasia... o estranho que habita em nós e transborda e... pode assustar.

Esse poema do mestre C.D.A., nos envolve em espanto! no jeito coloquial, absolutamente cotidiano de sentir. Quantos de nós pode expressar, em sintonia com seu sentimento, o amor pressentido? O amor que insiste em presentificar a vida.

A poesia é imprescidível prá nos humanizar. Sem ela, o bicho homem, permanece só ...bicho.


Então, o convite para saborear o menino/a menina que existe encolhido pronto para despertar!


Beijo Maysa

7 comentários:

Unknown disse...

Ô moça, estava com saudades de você aqui. Três dias não dá, ok?

Quanto ao Drummond, sem palavras. "Será que você não entende, será que você é burra?" é genial! Quantas vezes nos perguntamos isso ...
Não conhecia. Vou guardar com carinho.

beijo

.:.Isabel.:. disse...

Não conhecia esse poema!
Amei!!

Beijão,
Bebel.

Anônimo disse...

Bebel querida,

a Ana P. cata, mas todas(os) nós trocamos poesia !
Fico feliz, quando trago alguma um pouco esquecida ou ainda não sabida! É para não deixar morrer, mesmo!!
Viva o CDA, viva eu, viva tu, viva o rabo do tatú.

Bj

Maysa

Anônimo disse...

Ana,


Só v. sabe o desempenho do meu computador! Continuo esperando o iluminado técnico.Ele promete e não vem ! Será o benedito?
Com isso , eu mesma, me dou indulgências para o ritmo das postagens.
Tem sido uma "autossuperação" inacreditável!( odeio essa reforma pretensiosa e burra)

Bj Maysa

Prado Lima disse...

Muito bom o blog...Nesse poema, na sua opinião, a mulher da impressão de ser Alheia ou ironica?

Maysa disse...

Ah! Prado Lima
Que pergunta mais difícil de ser respondida...
Vê se concorda: Algumas impressões podem até ser indeléveis, mas se nos chegam como tal, mesmo marcantes, sempre serão imprecisas...que achas?

Grata por ter lido o Drummond de passagem por aqui e volte sempre!
Um abraço
Maysa

Anônimo disse...

esse breve poema é uma obra-prima: é a mais perfeita tradução do homem que se faz menino no duro e grave momento em sua vida - no ápice da sua timidez - querendo que haja o milagre da mulher facilitar inteiramente sua angústia e entender completamente toda a extensão do sentimento que ele tem e não consegue (que seja) dizer a ela em palavras simples, claras e objetivas. Obrigado por me trazer da lembrança adolescente essa emoção - ou dizer drama - que nunca foi esquecida.