quarta-feira, 31 de março de 2010

MIOU- MIOU " A emoção de lidar"

Foto cel./ Bela Miou /Maysa M. 2009

Eram 3 gatinhos recem-nascidos oferecidos numa caixa de papelão.
O dia, 25 de dezembro, Natal do ano de 1996.
Uma vizinha teve a idéia magistral de revelar minha antiga preferência por felinos, à uma estranha, quebrando assim regra de ouro de vizinhança.
Fiquei braba com a inconfidência. Não queria mais criar bicho. Meus planos eram de liberdade. Após o crescimento dos filhos queria voar, passear, descobrir alhures novos horizontes. Deu no que deu. O filho mais novo alquebrou minha resistência. Insistiu. Durou um tempo a queda de braço. O meu coração de mãe inquieto, insatisfeito, aquietou-se.
Ficaram assim Edgar, Nise e Miou-Miou. Amamentei-os em conta-gotas e seringas sob o olhar, desconfiado e surpreso, do farmaceutico à cada vez que comprava mais apetrechos para lidar com os babies gatinhos. E o olhar de desânimo... de um pretendente à namorado.
Tempos depois o filho se prepara para casar e a futura nora decreta: -As gatas não vão!
Sofri. Elas viviam comigo, tolhiam minha limitada liberdade e não encontrava quem se dispusesse a tratá-las com igual cuidado.
Fracassei de novo. Agora, no propósito de doação. Elas foram ficando.
Minhas viagens resumiram-se a qualquer lugar pertinho e, não por mais de dois dias! O filho mais novo, a essa altura casado, longe, bem longe, dos problemas deixados.
Miou sempre foi a mais dengosa, miava bastante pela manhã, assim que me via sair do quarto. Enfiava-se em todos os pares de sapatos que o cansaço me fazia jogar em algum canto quando retornava à casa. Nesses momentos chamava-a de Imelda, lembram-se da 1ª dama das Filipinas?
Foi ela, ainda, quem descobriu o asa-a-asa da passarinha fazendo o ninho, que deu metade do nome deste blog.
Ela era tão rápida nos salto em altura quanto gulosa. Caçava e trazia o resultado, para mim repugnante, com visível orgulho e alegria. Assim, fui apresentada aos restos mortais de um beija-flor, extrai de sua garganta uma cigarra, ainda em pleno canto, e conheci uma coleção respeitável de camundongos.
Passei bons e maus pedaços com a convivência não escolhida e majoritária: Duas felinas e uma pós-humana. O Edgar sumira na semana do casório.
A manutenção de animais é cara, trabalhosa e muitas vezes conflituosa.
Encontrei bons e maus profissionais para lidar com as várias circunstâncias, clínicas quase sempre -apenas- comerciais, resistência de categorias como taxistas.
Lutei comigo mesma, e com meus médicos alergistas, para aceitar tomar medicamentos evitando crises maiores causadas pela intolerância que tenho ao pelo de animal.
No entanto, a semana que passou sofri muito com seu estado de saúde. Definhou em 15 dias, a caquexia produzida por uma neoplasia no fígado, tomou conta da bichana alegre, dengosa, que tinha requintes ainda não presenciados em outros de sua espécie.
Tirava com a patinha, grão por grão de ração e jogava-os certeiros dentro da boca. Se o sol ou a claridade fossem excessivos usava-a para se proteger. Era conversadeira por demais da conta. Invadia minha solidão na maior.Ufa!
Chorei de ficar sem respiração, ontem, dia 30, quando a entreguei nas mãos da veterinária. Não dormi na véspera até tomar a decisão de sacrificá-la.
Mas o que entendi de vez foi a abordagem da Dra Nise da Silveira, quando relacionou o modo de lidar com os sofrimentos dos excluidos da sociedade - por doenças psico-emocionais- à emoção que um animal produz em cada um de nós.
A poeta Adélia Prado sublinha:
Minha mãe achava estudo a coisa mais fina do mundo. Não é. A coisa mais fina do mundo é o sentimento...
PS:
Em homenagem à Miou-Miou, para ilustrar, incluo charge do meu querido amigo Liberati - Gato e Pipa. Gatinha na camiseta lilás de uma amiga e marca da campanha Adote um Gatinho, do blog decoeuração, da Viviane Pontes.





2 comentários:

TS disse...

Olá Maysa, eu tb, um dia, ganhei uma gatinho todo branco numa caixa de papelão, virou uma fera! Eu vivia com vidrinho de mertiolate na bolsa, ele era feroz - chamava-se TITA. Fui obrigada a mandá-lo pra MANHUAÇÚ pq não aguentei o lado selvagem dele (ou ele não aguentou o meu lado, não sei bem) Depois tive outro gato, vagaba, tigrado mesmo, foi meu modelo fotográfico, mas por conta própria caiu no mundo. Depois tive um malhado, ZE-NINGUÉM, fofíssimo, meigo, aí, a vizinha envenenou ele: fiquei arrasada, não quis mais salvar gatinhos...
Tbm já salvei um beijaflor, caiu da árvore durante tempestade, fotografei ele num ninho improvisado em caçamba de margarina sobre minha escrivaninha: este, sim, alimentei com contagotas (ele enfiava o bico no vidro e fazia borbulhas), depois mingauzinho de maizena, até que, por milagre, após dias de piadeira, a mãe dele apareceu (me olhou de cima a baixo) e passou a dar-lhe mosquitinhos (o que eu não podia fazer): ele aprendeu a bater asinhas - foram momentos lindos pra mim - e, um dia, atravessou a janela da biblioteca, incentivado pela mãe. Uma semana depois, veio me visitar, nunca mais o vi. Ele era azul com verde metálico, longo bico preto recurvado.

Abrs.

Maysa disse...

TS

Grata pelo comentário.
Tive sorte em ter acolhido e amamentado a Miou-Miou, bem como a Nise e o Edgar. Todos muito carinhosos e meigos comigo. Eu é que nem sempre fui meiga. Mas sempre fui dedicada. Muito me irritava pois queria viajar, ficar sem essas responsabilidades que os animais , crianças pequenas e idosos nos trazem. Puro egoismo!
Um abraço