sábado, 26 de fevereiro de 2011

CORA CORALINA - CORAÇÃO DO BRASIL -NO CCBB







Cora Coralina Cristalina


É doce!Calda em ebulição fervilha... Falta mesmo ao olfato a gama de odores, a memória dá conta desse recado.É água! Borbulhas e espumas se alternam em movimentos rápidos e renovados. Pedras brutas, agora amaciadas, lisas, úmidas, ainda, escuras sob tanta luz cristalina... São muros, muitos... tanto formato de colocar pedra sobre pedra. Pedras, açúcar, receitas preciosas; letra em caligrafia antiga, caprichada salta dos cadernos de Cora. Comentários precisos e apetitosos.

São meus sustos diante de tanta beleza e simplicidade, de tanta sabedoria e humildade. A poesia escorre como água fresca, borbulha como o doce que está alcançando o ponto. Entra em nós, passeia em nossas lembranças, e não faz menção de sair. Chega-me a profunda saudade da avó verdadeira, dos seus doces, do seu bordado, da sua sabedoria... Do seu cheiro de alfazema, dos cabelos lisos, macios e alvos na tez morena. Avozinha tão querida...

Flor de pedra

Espuma é...

Vem no movimento

Que é vida

Passagem

Alquimia

Transformação.

Os sons misturados

Cristais, cristais

Riquezas interiores

Não mais...

Poesia vida é.

Saio do devaneio...

(Maysa)


Descubro na travessura de menina, ainda Ana, o caso do prato... Deixou de ser prato e virou poema, antes de virar colar: O prato azul pombinho!

Era um enlevo o canto da minha meninice!

Cuidado com esse prato

Foi o último de noventa e dois!

E mais adiante:


Entre pedras que

me esmagavam

levantei a pedra

rude dos

meus versos.

E mais...


No acervo do perdido,

no tanto do ganhado,

está escriturado:

Perdas e danos,

meus acertos.

Lucros, meus erros.


Cora também pode ser ouvida e vista num vídeo contando suas histórias. Ali, sua forma de ver o mundo, seu olhar nos alcança e deixa em nós perguntas sem respostas, caminhos para outro olhar e entendimento... O poema de Carlos Drummond de Andrade, bem na saída, religa nossa imaginação. Poesia é isso, um tempo que não se explica, nem se esvai... Fica.

Um carinhoso abraço cheio de poesia.

Maysa

PS:No Centro Cultural do Banco do Brasil , até 13 de março.

2 comentários:

Maria Cristina Stolf disse...

Sempre que vejo uma imagem de Cora Coralina, sinto vontade de sentar no seu colo, me aconchegar na sabedoria desta mulher madura, que nos mostra que a sabedoria está nas coisas simples. devemos aprender com ela a sensibilidade de ver!!!

Maysa disse...

Cristina

A exposição- no CCBB- dedicada à Cora é pequena, e se resolve em duas salas.O impacto é imenso!logo na primeira. A memória antiga aparece, logo após a cortina negra que nos leva ao mundo de poesia, doces, águas e pedras de Cora. Poder ler páginas de seus cadernos é uma viagem...
Beijo
Maysa