Alguns dos que passam por aqui n' O Ninho e a Tempestade sabem que sou leitora assídua do Caderno Prosa & Verso, aos sábados. O jornal - O Globo- circula em quase todas as capitais do país.
Essa manhã me delicio com o artigo do poeta Carlito Azevedo (1), os poemas de Ana Martins Marques (2), e as ilustrações de Alvim.
Desperto bem. O texto de apresentação - Paisagem, travessia e símbolo - flui, o poeta, crítico e editor não podia nos oferecer instigação maior que as reflexões provindas dos poemas de Ana, no livro "A vida submarina".
E é, justamente, com esse ainda não da vida real, que algumas vezes nos encontramos, é com ele que precisamos ajustar as contas do desejo e do fazer.
Ana nos diz:
"Não tenho muita rotina para escrever. Acho que a poesia é uma forma de atenção, um modo de olhar as coisas. Sempre levo um caderno e lápis na bolsa e vou anotando o que aparece: pode ser uma imagem, uma palavra, uma citação; com alguma sorte, um poema inteiro. O resto é trabalho de reescrita. Acho que a leitura e a escrita possibilitam uma relação diferente com a linguagem e também com o tempo, uma relação não pragmática, e abrem assim um espaço de liberdade que eu considero essencial."
como a cera
e o sol
e no entanto
parecemo-nos
como se parecem
o açúcar e o sal
devemos
porém
deixar
de insistir
pois se até
Ícaro
caiu
em si.
Dividem o peso dos anéis.
Uma nunca aprendeu a escrever.
Com isso a outra tornou-se mais silenciosa,
mais firme, mais acostumada ao adeus.
Em alguns gestos entram as duas
numa mesma coreografia
como quando é necessário contar algo
mais que cinco.
Aceitam as manchas dos anos
como solteironas
que envelhecem juntas.
(2) Ana Martins Marques- Poeta mineira. Cito aqui poemas publicados no livro A vida submarina (Editora Scriptum, 2009)
Não esqueçam a poesia cotidiana que a vida sempre nos oferece.
Maysa