sexta-feira, 1 de março de 2013

SOU CARIOCA DE FATO E DE CORAÇÃO- Maysa Machado

foto maysamachado/by cel



















SOU CARIOCA DE FATO E DE CORAÇÃO


                                                          Maysa Machado

Viva o Rio! Viva a Cidade de S. Sebastião do Rio de Janeiro!
Viva a Baía da Guanabara!
Viva eu, viva tu, viva o rabo do Tatu!
É a vida recebida assim.
Intensamente, de fato e de coração.
Sorte e descansos meus...
Ganho de energia na escolha de Ser.
Viva o Rio em seus 448 anos
De pura beleza e caminhos pro mar.
Dos silêncios perdidos no caminhar.
O Rio quieto dos cariocas
O Rio Carioca submerso no asfalto,
Este que lhe rouba o lugar.
O Rio nublado das areias morenas do Pancetti.
Das espumas brancas matizando os verdes água
No subir e descer das ondas altas.
Viva você meu Rio, berço
De vida e morte.

Santa Teresa, 1 de março de 2013.

Com meu abraço caloroso pelo aniversário da cidade.

Maysa

sábado, 16 de fevereiro de 2013

DESRESPEITO À LEI DO SILÊNCIO SOBE O MORRO - Maysa Machado

















DESRESPEITO À LEI DO SILÊNCIO SOBE O MORRO

                                                                                 Maysa Machado


Moro em Santa Teresa, quase todos os amigos sabem disso. Canto as belezas do bairro, aponto as dificuldades - cada vez maiores - encontradas em nosso dia a dia.
No comércio local não tem mais farmácia, padaria, mercearia, supermercado. Nos transportes, o bonde não foi devolvido aos moradores. Seguidamente sofremos a recusa de taxistas para nos deixar em casa. Nossas reclamações, por vezes, saem até nos jornais e nas emissoras de rádio e TV.
No entanto, não é pra desistir do bairro que tem encantos e com eles, nos acostumamos, gostamos de conviver.
 Só que o silêncio e o aspecto bucólico, de antes, estão sendo devastados por novos conceitos, pela ganância do capitalismo e por novos proprietários/moradores.
 Estes vêm comprando mansões, construindo hotéis, restaurantes. Vocação turística do bairro, dirão alguns. Há quem perceba a voracidade dos que apostam no lucro rápido e se movem com a proximidade dos eventos internacionais programados em nossa cidade. As autoridades municipais e estaduais... Se omitem.
Alvarás são concedidos ou  ficam pendentes para as casas de festas, em locais estritamente residenciais? Ao que parece não há regulamentação para o tal exercício, menos ainda para o horário abusivo de eventos de grande porte.
Esses novos usos, nos imóveis do bairro, descumprem a lei. Seus proprietários sabem disso, desrespeitam e invadem o período de silêncio, da noite. Descumprem a obrigatoriedade do tratamento acústico; perturbam o sono dos que, como eu, escolheram Santa Teresa para morar.
 O ruído excessivo, com geradores de energia de alta potência, avança pelas madrugadas agredindo os direitos de cidadania que a legislação prevê, mas os órgãos competentes não fiscalizam de forma efetiva.
Esses novos empresários alguns estrangeiros, escolheram o morro de Santa Teresa para ganhar dinheiro, não para apreciar suas paisagens e efetivamente morar. Apostam na evidente bagunça que o Brasil, em todas as esferas, sugere.

Agora, quase cinco horas da manhã, ainda, estou por aqui no computador... Não dá pra dormir com o violento barulho da tal mansão vizinha transformada em Casa de Festas.  Está localizada à Rua Cândido Mendes, defronte ao Clube de Squash, e colada à pequenina e antiga travessa onde não se ouve mais os pássaros, saguis, gambás, corujas, cães. O som eletrônico ferve e fere os ouvidos e a alma.
 Que falta faz o tempo onde à alegria era pura alegria. E alegria... Sabemos, não agride, não fere, não desrespeita.

O que é mesmo cidadania minha gente? Será que a inventamos em algum delírio insone ou teremos que reinventá-la?

Santa Teresa, 16 de fevereiro de 2013.

Um abraço

Maysa

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

DE QUE MATÉRIA É A VIDA? - Maysa Machado







DE QUE MATÉRIA É A VIDA?

                                                                              Maysa Machado


Logo a resposta que me ocorre é o Tempo. Uma ampulheta escoando desde que chegamos de bebê nesse mundo.
É a vida uma promessa. 
Que encanto ou dor pode romper a esperança que cada vida resume?
A gente espera ser feliz. Isso compreende ser amado, querido, aceito, notado, valorizado. Inclui reconhecimento, um lugar, ou muitos, para ser lembrado e nunca, nunca ficar no canto esquecido.
Viver é passar por expectativas que são construídas a partir de sonhos, e de muita tristeza vinda entre as decepções, as não realizações..
A vantagem de envelhecer é que, quase sempre, sabemos lidar um pouco melhor com as frustrações e com os nãos.
Também, resta-nos pouco tempo tanto para litígios quanto para o prazer. Um singular, os outros de uma variedade incessante.
Mudança comportamental é difícil, nessa época, em que passamos a ser com nossos hábitos.
Duvide de quem não sabe mudar. Estimule toda autodescoberta.  Comemore a multiplicidade que nos faz perceber outras possibilidades.
Viva cada instante como se fosse o único, e é,  mas por isso mesmo, viva saboreando a vida. Não tenha pressa. Tranque porta, janelas e frestas para driblar a ansiedade, a falta de delicadeza e o medo do desconhecido.
Estamos aqui para aprender. Um pouco melhor a cada dia, não faz mal, redobra a energia vital e semeia o entorno. Humaniza o afeto.
Aprendemos na infância: “Não há mal que sempre dure, nem bem que nunca se acabe.”
Aprendemos? Então, e só praticar... Vá, ensaiando, timidamente, como quem aprende a andar.

Santa Teresa, 06 de fevereiro de 2013.

Um abraço carinhoso.
Maysa

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

FEVEREIRO - Maysa Machado












FEVEREIRO

                                                                       Maysa Machado


O segundo mês do calendário Gregoriano célere aparece na "folhinha" de 2013. Uso o termo coloquial, à época em que aprendia as coisas do mundo.
Minha mãe nasceu no dia 7 de fevereiro, o único irmão na mesma data. Então, o mês sempre teve importância e significado.
Outros entes próximos e queridos chegaram e partiram nesse mês caprichado da Era de Aquário. A tentação é nomear cada um, tal o destaque em minha simples vida.
Vou é misturar lembranças e sonhos com inseguranças que só o futuro traz. Apagar e rabiscar, fazer de novo.
 Garatujas são caminhos com possibilidade de ir e vir.
 E quanto ao fevereiro de 2013 que seja alegre, ruidoso, exagerado. As muitas máscaras do bem, escondendo corações apaixonados e... Música, música pra movimentar o corpo.
Carnaval no Rio vira estado de espírito e com a alegria soberana, por decreto e feriados, o tempo não prevalece nem governa. Assim cada qual é senhor e senhora do seu roteiro.
Apenas um pedido: Fevereiro, se puder, empurre as chuvas para “quase rolarem” só em março.

                                          ... x ...
Flores de Fevereiro - amor-perfeito, angélica, boca-de-leão, áster, cáspia, gladíolo, clarquia, laços-espanhóis, magnólia, mimosa, papoula, petúnia, sempre-viva e cravina.
Frutas e Legumes  de Fevereiro
Abacate, abobrinha, figo,goiaba, laranja-pera, maçã, milho verde, pepino, pera, pimentão,quiabo, uva.

Um abraço caprichado.

Maysa

sábado, 26 de janeiro de 2013

TEMPESTADES - Maysa Machado








TEMPESTADES


                                                                               Maysa Machado


Raios, relâmpagos e trovões apareceram essa madrugada com estrondosa pirotecnia.  Arrancaram- me dos sonhos, terminaram com meu sono e invadiram as horas seguintes deixando a manhã confusa. Acordei tarde, atordoada sem saber se eles tinham sido reais ou se eu os sonhara.
Através das notícias na rádio, soube dos estragos que a chuva deixara na cidade, e uma das origens dos deixados em minha noite.
Por muitos anos, o lugar onde vivo foi bucólico, sossegado; meu sono aprendeu e requer certas condições.
Santa Teresa vem sendo ocupada por novos moradores, com predominância de estrangeiros, encantados com o Rio. O bairro está invadido por obras. Reconstruções, reformas, poeira, barulhos vários, e quase todos desnecessários, somam desgaste ao dia e ao cotidiano.
Por aqui não acordo mais na hora que desejo ou que o sono acaba. Os gritos dos operários, as manobras excessivamente ruidosas dos carros, dos caminhões com carga e descarga. A pressa urbana nos alcança.
 E, o desmatamento indiscriminado da vegetação encontrada. Morro acima foi tudo cortado e muito, na obra do vizinho.
 A chuva foi torrencial. O barulho muito mais intenso, meus ouvidos atentos descobriram o que qualquer pessoa encantada com a natureza sabe. Planta faz bem a terra, segura o solo, abafa os ruídos, protege.
Quem ama, também, protege. Quem apenas ocupa... Leva mais tempo pra aprender.

Santa Teresa, 26 de janeiro 2013.

Um abraço neste sábado.

Maysa

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

UM DIA DE CHUVA: ENCANTOS E DESENCANTOS - Maysa Machado


foto Ricardo Cosmo















UM DIA DE CHUVA: ENCANTOS E DESENCANTOS.


                                                                                       Maysa Machado


O cenário é o mesmo? O que muda num dia de chuva na paisagem e em seu entorno?
Por aqui, além da impossibilidade de sair debaixo do temporal, fico vigiando o céu, que em vários tons do cinza não traz o sol, nem pista alguma para o fim da tempestade.
Como choveu esta madrugada no Rio. O barulho da chuva sempre me agradou, mas meteu medo esta noite.
O homem urbano fica refém das ruas alagadas, dos múltiplos perigos no espaço público, dos transportes precários. Os engarrafamentos costumeiros nas grandes cidades se transformam em impedimentos reais.
 O Rio, cercado pelo relevo montanhoso, desperta entre as águas e estas provocam profundas mudanças em sua topografia. E, sobretudo, as casas não parecem mais um abrigo tão seguro.  Choveu tanto.
As águas estão rolando... Estas lavam, é verdade, mágoas, sujeiras. Renovam e abençoam as plantas. Tão lindo, encontrar as folhas repletas de gotas de chuva. Gordas gotas.
Tempestades castigam as subidas desmatadas e trazem perdas. Há o grande perigo de vidas humanas à mercê da força das águas. Os homens públicos não fazem política com o coração, com a utopia, fazem-na com gastos e dívidas vultosas, e a população paga pela negligência desses governantes.
 Falta tudo o que não devia faltar nos períodos do verão carioca.  Ano após ano.
Os serviços prestados à população encarecem, sem qualquer controle. Uma cidade com destino turístico. Nascidos ou moradores, no verão, são todos surpreendidos e tratados como visitantes. E o que querem os prestadores desses serviços se resume numa palavra: Dinheiro. No espaço de uma estação. Sonhos escondidos sob o colchão?
 No bairro de Santa Teresa procure por uma farmácia. Uma padaria. Um supermercado. Um hortifruti. Sobram restaurantes e lojas de souvenirs. Falta o bonde. Lá, embaixo, na cidade encharcada experimente e peça um taxi para chegar a alguma das ruas do bucólico bairro. Se você está de passagem se reprograma. Se for morador vai pegar pneumonia.

No entanto, na manhã cinzenta, sou surpreendida de forma agradável, com a chuva. Acompanho há dois dias um par de rolinhas que procura abrigo por entre as folhas - agora pesadas - da pitangueira, que avança sobre o piso da varanda do meu quarto. E como são queridas, bonitinhas. Porém, ariscas, pois é o preço pago pela liberdade.

Santa Teresa, 22 de janeiro de 2013.

Um abraço para os que passam...rsrs
Maysa

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

ANO 2013 - MÊS JANEIRO - DIA 09 - Maysa Machado



















ANO 2013 - MÊS JANEIRO - DIA 09. 

                                                                         Maysa Machado

Escavações prá lá de subcutâneas...

O que é isso? Envelhecer será contar meses, dias, minutos e segundos? Ou não tê-los porque a vida é breve e o tempo passa rápido. Ou, ainda, por que não aprendemos a lidar com o tempo real?
 Desconfio sequer com o imaginário, ambos breves, ao final das contas.
Sinto que meu tempo interior, de tão precioso, é burilado, requer muitas etapas, um trabalho com requinte. Aqui fora, tudo é fast!
Envelhecer é como a vida um mistério insondável; por mais que se viva e se aprenda; a lição maior não nos é dada. Um dia tudo a ver, o outro cheio de porquês.
As dores e as limitações deixo pra lá. Vamos falar do que é bom. A visão panorâmica alcançada por uns.
 Esse panorama que descortinamos ao atingirmos a maturidade, e mais ainda, quando se aproxima a década seguinte, em casos bem particulares, inquieta.
Jovialidade - Nada é mais necessário aos novos idosos. E quem se considera um? Já vi gente se autodefinindo aposentado. Fico pasma. Idoso é difícil. Só na hora da fila ou do banco laranja.
E aí? O que muda por dentro? Por fora, melhor não comentar.
As esperanças não são mais as mesmas. Se antes almejávamos voos, intrépidas conquistas, hoje, somos previsíveis. Queremos afeto, companheirismo e leveza da vida. Se resistirmos às atuais mudanças estéticas, será que convivemos com a ausência de formulações ideológicas críveis? Julgamos nossa visão de mundo mais apropriada, mais criativa, mais bonita. Será?
Entre o gorjeio de um pássaro, à janela, e nossa precavida aparição para conferir se já sabemos a quem pertence a sonora presença... Temos que reconhecer: Ficamos diferentes. Dos movimentos aos interesses que nos movem.
O que é viver, minha gente? É continuar sonhando e perceber o que deixamos pelo caminho? Há o que juntar ou não dá mais?
Confiamos que nosso desfecho será diferente e mágico? Ou nos encharcamos de realidade e sucumbimos. Onde ficaram nossas histórias de lutas?
Nossos acertos, nossos medos? O futuro, agora, sempre estará mais próximo e, companheiramente, informo: Menor.
Quem sabe podemos trazer para o presente nossa ousadia antiga? Nos pequenos gestos, nos breves sonhos. Ainda a tempo de percebermos quem somos? O que queremos? E pra onde vamos?
Vamos!?
 É só acordar e colocar o pé na estrada. Acompanhados de uma profunda generosidade com a vida, nossa mestra maior.

Santa Teresa, 09 de janeiro de 2013.
Grande abraço inicial 
Maysa

segunda-feira, 31 de dezembro de 2012

LIMPEZA DE FIM DE ANO - UMA RECEITA ESPECIAL







LIMPEZA DE FIM DE ANO - UMA RECEITA ESPECIAL

                                                                                          Maysa Machado

Ponha o amor mofado pra secar ao sol da manhã, na janela.
Enquanto isso limpe seu coração de todos os nãos recebidos. Reserve os novos espaços para os sins.
Separe, pacientemente, as desilusões, por tamanhos e formas. Algumas podem ser recuperadas, e, tomar a aparência de novinhas em folha, lavando-as em lágrimas doces. Difícil será encontrar o precioso líquido.
Para ajudar, aqui vai, um pequeno segredo: Procure colhê-las durante as comemorações, de fim de ano, em meio a promessas, beijos, reencontros e surpresas agradáveis, etc. Mas só as verdadeiras, as de alegria. Ser feliz dá trabalho, e só depende de você.
 Olhe a sua volta, não diga nada, mas olhe e procure sentir AMOR por tudo e por nada.
Deixe o AMOR fluir em você. Faz um bem. Alisa a alma. Melhor que muito serun vendido pelas grandes marcas em potes mínimos e preços mais salgados que o do bacalhau.
Respire o ar da mata, das plantas da sua varanda, do seu jardim. Tome um banho de imaginação junto ao de ervas e cheiro. Se inunde de afeto.
 Não se esqueça de olhar o azul do céu. Esse prêmio que o hemisfério sul nos oferece. Está anil? Tá brumado? Vai passar logo, logo. Sem previsão de chuva, pode acreditar.
Não precisa jogar fora o que ficou sem uso, se você gosta e não cuidou. Reaproveite tudo. Desista de ser consumista. A felicidade não está nas vitrines do Shopping. Por ali, só as ilusões passageiras e sugadoras do seu orçamento, em longas e pesadas parcelas.
Passe a limpo as questões difíceis, sem uma palavra, sequer. O silêncio escolhido é o melhor conselheiro e companhia que temos. Você fará sua síntese. Economizará e reaproveitará.
 Muita vez fará descobertas de sentimentos, atitudes, decisões.
Ah!Volte à janela, antes do meio dia, e veja o estado em que o AMOR ficou. Se o sol da manhã não resolveu, lamento dizer, procure outro amor, novinho e fresquinho como o Ano que está nascendo.
Cuide-se. Lembre-se, ou cantarole o “Bom Conselho”, de Chico Buarque: ...”Está provado quem espera nunca alcança” ou assovie “A perfeição é uma meta defendida pelo goleiro da seleção”, como o querido Gil nos ensinou.
FELIZ 2013.

Santa Teresa, 31 de dezembro de 2013.


Abraço e até o Ano Novo!

Maysa

AMOR sem AMOR







AMOR sem AMOR


                                   Maysa M.                 

Seu triste amor
Triste, pois desavindo
Sequer poupou-lhe decepções
Nãos, desapreços.
Colecionou silêncios
Ao invés de beijos.
Silêncios ao invés do nome
Na ânsia de ouvi-lo com carinho.
Tudo negado, a troca de afeto
A lembrança gentil.
.................................
Muitos anos passados
Não ousou perguntar
Sabia bem a resposta
Que os gestos sumários
Traziam.
Amor não cabe no coração onde mora o egoísmo.
Ao amor é dado o vento, o ar, a esperança.
A liberdade de ser, de criar.
Em tempo algum a prisão de uma caixa de sapato
Fechada, e com furinhos.

Cabe ao amor construir o ninho.


Santa Teresa, 31 de dezembro de 2012.


Aos que por aqui passam, desejo que encontrem um Novo Ano cheio de possibilidades e realizações.
"Um ano passarinho"!
Abraços

Maysa

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

POESIA e ARQUITETURA - Maysa Machado












Para Oscar


Poesia e arquitetura andam juntas. Andavam até ontem!

No traço despojado de uma e outra, no desafio suave e irremediável.

Inovador foi Oscar.

Amado por muitos, amou o Brasil e seu povo.

Que lembremos sempre da doçura, singularidade e bom humor do sábio Oscar.

Eu vou lembrar.

Maysa


"
Não é o ângulo reto que me atrai. O que me atrai é a curva livre e sensual. A curva que encontro nas montanhas do meu País, no curso sinuoso dos seus rios, nas ondas do mar, no corpo da mulher preferida. " 
Foto: Edifício Copan, S. Paulo - Arquiteto Oscar Niemeyer

sábado, 1 de dezembro de 2012

A FLOR E O TAPETE - Maysa Machado

Foto:  Fernando Stickel













A FLOR E O TAPETE


                                                                                                              Maysa Machado


Deixá-las cair o vento ajuda.

Um pouco enciumado leva beleza

Pro chão de terra batida espalhando-as

Espargindo-as...

Em metros e metros de coloração carmim.

As veias abertas e fortes das raízes enodoadas

Desaparecem sob manto mais sedoso

Que a púrpura dos cardeais.

Como pingos de chuva encantados

Flutuam no ar, antes de pousar.

A semeadura aquece o solo e o fertiliza.

Pura magia.

Os mais distraídos -nesse encontro com o belo-

Hão de acreditar. A terra recebeu um presente do céu

E este a fecundou de rosa carmim.

Nem é preciso desconfiar ... vento, céu, terra, e mar,

Amansam folhas, acolhem flores e bordam

Sob pés de jambo

Os mais belos tapetes pra se pisar.

Deitar. Sonhar.

Ungida amealho um punhado

E conjugo dois verbos: Viver e Amar.


Santa Teresa, 1 de dezembro de 2012.




Brindando Dezembro. Um abraço aos que passam.

Maysa

sábado, 24 de novembro de 2012

MARCAS - Maysa Machado















Marcas



Maysa Machado



Vida vivida.

Só uma parte do dever cumprido.

Por entre retalhos não percebidos

Pedaços de sonhos, restos de ilusão.

Resistentes, ali.

Testemunhos eloquentes.

Inda assim, apenas pequenos retalhos.

Provas, lacunas, e vazios.

Em branco, totalmente, visíveis.

Rabiscos do querer e do não.

Manchas doloridas... Nódoas

Mais que simples borrão.

Diversas, difusas.

Marcas de todo o viver


... E de toda a paixão.


Santa Teresa, 24 de novembro de 2012.


Um abraço pra quem por aqui passa.

Maysa

domingo, 18 de novembro de 2012

CHUVA - Maysa Machado



















Chuva
                                      Maysa Machado



Encharcada por águas torrenciais

Fictícias ou reais

Qual folha verde, no depois...

Minha alma lavada brilha

Por entre os vãos...

Onde a solidão

Se instala.


Santa Teresa, 18 de novembro.


Um abraço de Domingo.

Maysa

sábado, 17 de novembro de 2012

Poemeto Hibiscus Amarelo - Maysa Machado


Hibiscus Amarelo


                                                                     Maysa Machado




E dá pra viver sem?

Amo as flores, todas.

Perfumadas ou não.

Como as cores...

Tom sobre tom.

A vida pulsa discreta e exagerada

entre territórios efêmeros e tênues.



Santa Teresa, 17 de novembro de 2012


Beijos Maysa








quarta-feira, 14 de novembro de 2012

AMAR ALGUÉM - Maysa Machado


    Rio, novembro de 2012-foto Marcos Estrella












    AMAR ALGUÉM



    Maysa Machado



    Ficar nas nuvens é uma expressão corriqueira e indicativa de sair do ar, desligar o cotidiano e embarcar na fantasia. Nem sempre isso acontece.
    Por nenhum motivo especial, ou todos os que você preferir, a vida destila poções mágicas que a gente bebe, se perfuma ou se encharca e flutua... E aí, nuvens macias, flocos imaginários, um pouco acima de nossas cabeças, criam o clima.

    “Amar alguém” uma canção toca, com jeito delicado, problemas fundos e reaprendo: Amar alguém só pode fazer bem!

    A chuva caindo à tarde, se prolonga até a noitinha. A precisão de sair adia a vontade de ficar em casa. Vamos. Ah! Com atraso, à maneira carioca, rsrsrs.

    Difícil pegar um taxi; na volta, da Rua Jardim Botânico pra Santa Teresa, pra lá de impossível.

    Faróis, poças, pessoas apressadas, impacientes nãos de taxistas. Acomete-me um desânimo paralisante. Do nada, você surge. O céu desce e me envolve. No início apenas uma silhueta, sob um guarda-chuva, pulôver cinza, cabisbaixo, olhando pros perigos do chão. Seus cabelos, agora, totalmente brancos... Em nada mudam meu olhar de antes. Revejo, em flashback, os fios negros compondo com a barba um rosto masculino, também especial. Logo ali no passado.

    Não acredito que você esteja apanhando a mesma chuva, porque minutos atrás, no boteco brega- chique costumeiro inventava sua imagem chegando. Era mais que imaginação. Um desejo de ser feliz e alegre, de rever-te. Em tempo tão curto a saudade ficou de plantão.

    Eu me dizia: Acorda, é passado, bem recente, mas é passado.

    Então pedi ao garçom a sobremesa, aquela que recusara no dia em que nos reencontramos. Um ritual instintivo pra te trazer pra perto. E agora... Tua presença física. Assusto-me com a imponderável nova poção oferecida pela vida. Sorvo ou me encabulo? Fico desconcertada. Acho que você, também.

    A vida nos surpreende com mais esse acaso. Nada, sonho algum é impossível.

    Você fica feliz, espantado, mas se concentra em me ajudar a conseguir o taxi. Somos envolvidos. Um misto de alívio e pena. Apressados nos despedimos. É a chuva!

    Comovida com o carinhoso gesto entro no carro e peço: Liga pra mim!

    Santa Teresa, 13 de novembro de 2012.

    Um abraço carinhoso aos que passam.

    Maysa

    terça-feira, 6 de novembro de 2012

    ESCRITOS SEM TÍTULO - Maysa Machado

    Tina Modotti - cana de açúcar - 1925-26

    Escrevo, escrevo e volta e meia descubro entre papéis e cadernos de anotações coisas assim! Não estão escondidas, como alguns sentimentos, talvez, perdidas nos emaranhados dos dias.

    1-  Sem título

    Entre o sonho
    e a vigília
    ainda te
    espero!

    _._._._._._._._._.

    2- Sem título

    Eu sofro
    de desamor.
    Des... amas-me
    Por que?


    Santa Teresa 11 de março de 2011

    3- Sem título


    Cor da areia molhada...
    Lembra as pinturas do Guinard
    ..................................
    É assim minha pele.
    O mar, quando olho
    o mar de penhascos, ondas altas
    é imensidão em movimento.

    É captura!
    Magnetizada pelo mar
    mistério, deslumbre!
    É como amar!

    Santa Teresa, 14 de março de 2011


    Aos passantes pacientes, retalhos sensíveis e meu abraço.

    Santa Teresa,  06 de novembro de 2012
    Maysa


    sexta-feira, 2 de novembro de 2012

    ALGODÃO DOCE, RIO - Maysa Machado


        foto marcos estrella- rio
    Foto


    ALGODÃO DOCE


                                          Maysa Machado


    Algodão doce , Rio.
    Em nevoas e nuvens
    tudo se desfaz e refaz.
    Amores...
    Cores da paixão
    dores da saudade.
    Eternidade que mora em nós.
    Consola-nos a beleza daqui.
    Não é passageira como quase tudo
    O que nos rodeia.
    Há um mistério permanente...
    Podemos chamá-lo: Vida.

    Santa Teresa, 2 de novembro de 2012.

    Um abraço solidário na data de hoje.
    Maysa

    quarta-feira, 31 de outubro de 2012

    DIA D.- O Dia de Drummond

    escultura de bronze do poeta na praia de copacabana/rio

    DIA D.

    Hoje, 31 de outubro de 2012, transcorre mais uma data de aniversário de Carlos Drummond de Andrade - 110 ANOS .
     O Instituto Moreira Salles, no Rio, guarda o acervo do poeta, e criou a homenagem . Quem mais quiser saber, dá uma chegada no site:
    http://diadrummond.ims.uol.com.br/

    Por aqui, no Ninho postei  os poemas lincados abaixo. Sempre bom sentir o  que paira entre nós e a poesia de  Drummond

    1- http://oninhoeatempestade.blogspot.com.br/2009/03/enleio-carlos-drummond-de-andrade.html


    2 - http://oninhoeatempestade.blogspot.com.br/2010/12/as-sem-razoes-do-amor-carlos-drummond.html

    Grande abraço.

    Maysa

    terça-feira, 30 de outubro de 2012

    ODES e OUTROS POEMAS - Parte II- Ricardo Reis
















    Assim,  atravessada pelo difícil que reside nos dias sem projetos ou nos que passam e deixam as coisas incompletas...Descubro outros sentidos. Manhã que raias sem olhar a mim... ( Ricardo Reis)


    Manhã que raias sem olhar a mim,
    Sol que luzes sem qu’rer saber de eu ver-te,
          É por mim que sois
          Reais e verdadeiros.
    Porque é na oposição ao que eu desejo
    Que sinto real a natureza e a vida.
          No que me nega sinto
          Que existe e eu sou pequeno.
    E nesta consciência torno a grande
    Como a onda, que as tormentas atiraram
          Ao alto ar, regressa
          Pesada a um mar mais fundo.

    23 - 11 - 1918

    In Poesia , Assírio & Alvim, ed. Manuela Parreira da Silva, 2000



    Um abraço aos que passam.

    Maysa

    quinta-feira, 25 de outubro de 2012

    UM MAR DE SONHOS...Maysa Machado

    foto rio/marcos estrella
















    UM MAR DE SONHOS...


    Maysa M.



    A cidade do Rio de Janeiro é inesquecível para os viajantes que por aqui chegam, passam, e, sobretudo para aqueles que ficam. Adjetivos expressam o encanto que lhes desperta: Maravilhosa.


    A alegria de seu povo simples, descontraído e acolhedor desfruta esse cenário. Compartilha seu amor, entoando marchas, canções e sambas.


    Há os que a fotografam. Quase sempre poetas. Uma homenagem a todos que clicam recantos e encantos da divina cidade.


    As fotos do Marcos Estrella ilustram bem esse amor pelo Rio. Admirem essa.
    Um mar de sonhos, embrulhados em nuvens... E Ele cuidando de tudo e todos.


    Um abraço


    Maysa

    terça-feira, 9 de outubro de 2012

    DESAPEGO - Maysa Machado


    Árvore iluminada. I.M.Salles- Rio/ Maysa Machado
















    DESAPEGO

                                                 Maysa Machado


    Que lugar é esse?
    O do esquecimento, o mais distante?
    Que lugar me cabe?
    Um recanto ou um canto?
    Passo desapercebida ou espanto?
    E o que sei da vida...
    Que não vivemos juntos?
    Espaçamos, dia a dia, noite a noite.
    Inquietações, afetos.
    Vazios e êxtases.
    Ternuras e rejeições.
    Tormento é não descobrir
    O que nos acontece e modifica tanto.
    O que nos atravessa... Irremediável.
    Se inda fosse um jeito tímido
    Ou desajeitado no amor...

    Santa Teresa, 09 de outubro de 2012.

    Com muita saudade voltando para esse canto e recanto. 
    Abraços 
    Maysa

    sábado, 6 de outubro de 2012

    NUVEM PASSAGEIRA - Maysa Machado




















    Do mundo nada se leva.
    Enquanto ficamos por aqui, há os encantamentos da nuvem que passa, sonhos, anseios, esperanças...
    e uma tal felicidade que se transforma em amor ou dor!

     Santa Teresa, 04 de outubro de 2012.
    Maysa

    sábado, 22 de setembro de 2012

    CASA DA INFÂNCIA - Maysa Machado


    foto Paulo Camarão






    CASA DA INFÂNCIA


                                                                                               Maysa Machado


    As recordações surgem em cada um de nós com cheiros, cores e sons. A casa da infância é um mundo para sempre mágico.
    Lá na minha, a mais antiga das que morei, ficou gravada a voz de minha avó materna. Ora, solene e doce contando-nos histórias da carochinha, antes de dormirmos, ora ativa e apressada chamando-nos para a merenda servida à tardinha, entre quatro e cinco horas.
    Na primeira, o quase sussurro das folhas percorridas, com elegância por ela, buscando no grosso livro, cheio de histórias, alegrias e medos que iam sendo despertos; nossa curiosidade em ver as ilustrações em bico de pena, lindas e detalhadas, conquanto parcimoniosas em quantidade, pois no tempo da minha infância o texto prevalecia.
    Na segunda, a voz solta expressando uma ordem mais que um convite: — Crianças venham merendar! Ou: — Crianças a merenda está pronta.
    E, então o cheiro de mate quente, em minha memória, toma conta da cena. A luz do dia que se abrandava, a roupa suada da brincadeira de pique, a mão lavada antes de sentar à mesa, e o rosto ainda fumegante e vermelho da correria, tudo misturado à incerteza pelo o quê a noite ia nos oferecer.
    O brilho da noite e das estrelas, associado ao mistério de viver.
    Criança tinha hora para dormir, criança obedecia aos mais velhos. Um adulto, em quase todas as famílias, ficava disponível para contar, ou inventar histórias.
    As do meu pai eram aventuras pelos caminhos da fazenda em que nasceu e vivia desde pequenino. O rio, o banho nas águas frias e passageiras. A bola de meia de todo garoto esperto.
    As aventuras de subir em árvores e colher seus frutos proibidos pela altura em que estavam. O gosto de pegar a fruta no pé e sorver seu sumo, ou seu travo de cica antes do tempo.
    As histórias de uns misturadas as dos outros.
     Surpresas e inquietações movidas pela saudade do que foi ficando para trás, lá na infância, um lugar mágico e distante do que hoje habitamos. Os adultos em que nos transformamos, feitos de pressa e ordens para cumprir e repassar.
    Nós morávamos na infância, hoje, ela apenas nos visita.

    Santa Teresa, 22 de setembro de 2012.

    sexta-feira, 7 de setembro de 2012

    TRILHOS EM DESUSO - COMPASSO DE ESPERA - Maysa Machado

    foto Sonia Simões













    TRILHOS EM DESUSO - COMPASSO DE ESPERA -

                                                   Maysa Machado

    O “rango” acabou. É preciso sair. 
    Santa não tem mais padaria, nem horti fruti tem, por aqui. A música que ia e vinha, entrecortada ou embalada pelo sacolejo estridente do bondinho amarelo, mudou de horário. O piston toca em surdina, os homens da política agem em segredo. Compram, vendem, oferecem, viajam... Tentam copiar soluções de fora.
    As pessoas se juntam e se dispersam. Encontros, desencontros. Buscas e desânimos. Os trilhos dos bondes correm paralelos, e em poucos trechos misturam-se o ir e o vir. Um dos mais belos grafismos urbanos.
    Claro, tempo e espaço resolvem quase tudo ou resta-nos a espera desolada desse cotidiano sem rumo.
     E o rumo? O que foi feito das linhas, trilhos sem linhas, pés que pisam o frio trilho... Não range mais sobre os trilhos o velho e serelepe bonde. A faísca e o brilho? Escondem-se.
    Enquanto isso, enquanto aquilo. 
    O entre não se dissipa antes do tempo.
    Entra e sai. Vai e vem.
     — Cadê você?
    —Estou aqui, não me vê?
    —...
    —Estou aqui, dentro, ocupando o teu coração.
    E não são mais trilhos afiados, feito navalha, que cortam o bairro, ânsia de trem - sem o apito, com muito dem-dem.
    O silêncio é cortante. O trilho está aí, mas o trem, o bonde? Onde? Onde?
    Um maquinista ficou até o último instante. Até a última viagem.
    Estribos... Em movimento descem os passageiros, sobem os passageiros. Desciam. Subiam.
    Uns e outros viajam Viagem única para uns, era diária para outros. Derradeira pros que ficaram na curva da rua principal.
    Vamos juntos rever os caminhos de prata. Segui-los, mostrar que estão emaranhados, paralelos em retas subidas e descidas, e, volteios sinuosos que, ainda, aguardam o bonde, as pessoas, os forasteiros, as risadas e o frescor do bairro que, por ora, amanhece sem alegria...
    Santa Teresa, 07 de setembro de 2012.

    quarta-feira, 22 de agosto de 2012

    DO QUE RECOLHI DO AMOR... Maysa Machado


    foto Marcos Estrella/agosto de 2012













    DO QUE RECOLHI DO AMOR...


                                          Maysa Machado


    Amo você. E por amar, assim quieta e cordata
    intenso é o sentir, o efeito de dar, compartir.
    Amo Você.
    Amor - Nutrido, capturado em ânsias e êxtases.
    Porque a gente ama quem sequer vê a gente?
    Por quê?
    Amor - Desapercebido no conjunto das emoções,
     dos sonhos... Como a gente sente e acha que é.
    E porque amar sozinha?
    Amor precisa de troca, afeto e compaixão.
    Amor precisa de amor. Atenção e cuidado.
    Encantamento e admiração pelo amado.
    Para ser feliz no Amor...
    Importa nutri-lo
    parte de confiança, parte de parceria.
     É... Amor não se pede emprestado, nem se quer enganado.
    Amo Você.
    Amor solitário e triste.
    Comovido amor. Findo, mais que findo.
    No justo ponto vital, do existir.

    Santa Teresa, 22 de agosto de 2012

    Com um abraço a todos que passam.
     A foto do Rio Amanhecendo, de Marcos Estrella, me comove pela beleza e a plenitude de significados.

    Maysa

    sábado, 18 de agosto de 2012

    ESTRELAS MATUTINAS - Maysa Machado

    Sharon Johnstone/photo












    ESTRELAS MATUTINAS

                                                    Maysa Machado

    Pescar estrelas durante o dia
    só podia dar nisso. Nenhuma à vista.
    Eliminada a surpresa, resta-nos a frustração.
    Também, pra que tanta insistência?
    Metáfora perfeita. Nova decepção.
    Alguma coisa rachou, e não foi o concreto esmagado
    nem o ferro exposto nas construções superfaturadas.
    É do interior, da ordem do desencanto.
    Da dor intensa no estômago
    Dor de silêncio.
    Emoção estagnada não flui para a troca.
    Mais nada refaz.
    Explodem lagrimas
    e
    secam, secam.
    Tempero do espírito
    na face salgada.

    Santa Teresa, 18 de agosto de 2012.

    quarta-feira, 8 de agosto de 2012

    A ESTÁTUA DE CHOPIN - Maysa Machado

        foto roberto machado alves




      Essa estátua do Chopin tem feito parte da minha vida.
      Quando estudava na Fnfi *, anos 60, estava defronte ao Teatro Municipal, no Centro do Rio, na Pça da Cinelândia.
     Rubens Braga tem uma crônica, acho que "Borboleta Amarela", que cita a estátua, ainda, nesse local.
      Anos depois, na década de 70, casada, fui morar no bairro da Urca, lá meus filhos nasceram, e  juntos, frequentávamos a pracinha do Quadrado - Pça. Cacilda Becker.
      Tudo bem, tempos felizes misturados com angústias e sofrimentos. Anos difíceis anos de chumbo, amigos raros, sem notícias de muitos. Outros desaparecidos para sempre.
      A natureza exuberante fazia com que a jovem mãe caminhasse, buscasse no azul do céu respostas, e no mar de ondas mansas, da Enseada de Botafogo, na baía de Guanabara: Paz e Harmonia.
      Pois bem, levava os meninos, um com dois e o outro com sete meses, para brincarem na Pça da Praia Vermelha. As ondas do mar acalmavam minhas angústias, as crianças libertas tomavam o sol da manhã.
      A dupla jornada foi amenizada, saí do horário integral no trabalho, para ficar durante as manhãs com meus filhos.
      Nessa época só o mais velho corria e ganhava o mundo, descobria limites. Quase sempre dos outros...
      Num determinado período a pracinha, onde brincavam, ficou interditada por obras da Prefeitura. Os meses passaram. Mudei o roteiro das caminhadas.
      Concluída a obra, voltei à praça, que ostentava brinquedos novos: balanços, escorrega, gangorra e aquelas construções tubulares para subir e se pendurar.
      A estátua não estava mais instalada sobre o chão de terra batida, tão coloquial, como se escultura não fosse, e sim um homem pensativo... Ao invés de olhar para o mar, buscava a si mesmo.
     A estátua, agora, estava sobre um pedestal.

      E rápido com os cachos dourados, esvoaçando ao vento, movimentados pela corrida – quem recém aprende a andar... Voa – meu filho, mais velho, estanca.
     Para. Olha. Reconhece e diz:
    — Desce daí!
    A estátua desobediente continua lá, e vocês podem lembrar, quando forem à Praia Vermelha, graças ao Rubens Braga, que não me deixa mentir... Que até as estátuas, de uma cidade, fazem parte de nossas vidas. 



     * Faculdade Nacional de Filosofia, da antiga Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro.


    Grande abraço 

    Maysa

    domingo, 5 de agosto de 2012

    SENTIMENTO ESMAGADO - Maysa Machado













         Começo de manhã. Leio desatenta as notícias do jornal.
    Um prédio ameaça cair em Niterói. Ganância? Falta de conservação? Perplexidade e temor nos poucos depoimentos lidos...e o espanto.
    Termino a leitura, de coração triste.




    SENTIMENTO ESMAGADO

                                                       Maysa Machado

    Ferros expostos
    Concreto esmagado
    Construção e(m) risco.
    A casa cai?
    Ameaça cair.
    Espanto.
    A dor não sai no jornal
    - disse o poeta.
    Um coração a mais
    Partido. Banal.
    Um coração.
    Desiludido poeta?
    Ninguém conhece
    Sentimento alheio.
    Nem pensamento...
    É perverso
    Do jeito que tudo acontece.
    Existência posta ao lado
    Dentro da sombra...
    Até solidão desconhece.
    O outro desconhece.
    Entrego-me, busco afago.
    A troca nunca é possível.
    Sombra e solidão são testemunhas.
    Construo-me no risco.
    Sob o espanto de um fingimento.
    O amor esmagado no concreto
    Nervos expostos.                                            


    Santa Teresa, 05 de agosto de 2012.

    Forma e sentimentos andam juntos, por vezes. Um abraço de Domingo.
    Maysa

    sábado, 4 de agosto de 2012

    Breve comentário sobre a exposição : A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa - Maysa Machado

















    Breve comentário sobre a exposição: 
    A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa

                                                                                             Maysa Machado


      A exposição A Arquitetura Portuguesa no Traço de Lúcio Costa - Bloquinhos de Portugal, está na Caixa Cultural do Rio de Janeiro. É comovente.
      Para mim bastou entrar na galeria, seguir olhando, lendo, ouvindo. Assistir ao pequeno vídeo, e um súbito encantamento assoma nos registros recuperados das duas viagens, 1948 e1952, feitas pelo arquiteto, há mais de sessenta anos.
      Aos que, por distração ou falta de oportunidade, ainda não foram... Corram, é só até Domingo. Para os que não residem no Rio posso afirmar: Perderam momentos de fina sensibilidade.
    O traço despojado, preciso, leve de Lucio Costa (1902-1998) reproduz volumes, côncavos e convexos, saídos da pedra, madeira, ferro... Percursos e buscas resgatados com técnica e poesia, nos cinco bloquinhos.
      Em instante comovido senti o transpassar do tempo que separa o momento inaugural, aquele do olhar e do fazer, desse da fruição do olhar, e, tudo, ainda, tão marcante.
      Essa busca, esse encontro, detalhes de sua obra, através de um tempo que mantém, esquece ou modifica lugares, pessoas e hábitos.
    Debruçado, solitário, há sessenta anos indaga, pesquisa sobre as raízes da Arquitetura no Brasil. Cria.
     Perdem-se os bloquinhos e nunca mais, Lucio, os reencontra. Depois de sua morte a entrega, o compartilhar para cada observador. Graças à dedicação das filhas, Maria Elisa e Helena, e do curador José Pessoa, que refaz o roteiro das viagens em 2011.

    A belíssima mostra fala da escolha, da pesquisa sobre as origens, e descobre a autenticidade em nossas soluções arquitetônicas.  Consagra essa releitura a legitimidade, com intensa poesia e precisa tecnologia.
      O olhar contemporâneo se debruça diante do solitário olhar de Lúcio, e agradece.

    Insisto não percam.

    Grande abraço

    Santa Teresa, 2 de agosto de 2012.
    Maysa

    domingo, 29 de julho de 2012

    ELA ESPIA E CEIFA - Maysa Machado









    Não há nada que possa remediar a perda de um amigo querido. O tempo, talvez, costure as feridas, uma às outras, e apresente a ilusão de curar o sofrimento. Perdas são provocações definitivas. Esse jogo entre a vida e a morte será que nos força ao crescimento constante? Há que conviver com perdas irremediáveis.
    Num átimo o fim arranca, ceifa toda conquista afetiva, soma de uma vida inteira.



    ELA ESPIA E CEIFA

                                               
    Maysa Machado


                                    Dedicado à AC.


    A tristeza arisca avança
    Fria ausência de troca e afeto.
    Mãos que se vão para sempre.
    Mãos afetuosas desfeitas.
    Desaparecendo no espaço...
    O que se vê ou se toca.
    Nada mais é.
    Ausente o gesto.
    Mãos, agora, intocáveis.
    Ausência sem forma de mão.
    Nem mais abraço.
    Possível só a lembrança.
    O sentimento brota.
    Por que tanta partida?
    Por que o fim se explica
    E não é aceito?

    O fim definitivo para tudo e todos
    ...Mas não é um.
    Todo dia é mais um.


    Santa Teresa, 29 de julho de 2012.
    Último Domingo de julho de 2012.
    Maysa 

    domingo, 15 de julho de 2012

    INVERNO CARIOCA - Maysa Machado


    Tina Modotti - Glasses














    Inverno Carioca


                                      Maysa Machado


    Um dia vai passar essa insônia.
    Essa agonia. Os dias vão ficar
    cinza, sem brisa no ar.
    Parados como a vida.
    A que se esconde ao visitante
    Ao curioso, ao passageiro.

    Um dia vai acabar. Os tristes dias
    de janeiro a dezembro,
    sem folga nem folguedo,
    escoam por fina areia. Calendário inquieto
    como só a solidão pode traçar.

    Buracos, vazios, medos, silêncios fora de hora.
    Esperanças quebradiças, frágeis desejos.
    O que mais nada transforma é, agora,
    soberano.
    Assume o poder de travar o amor e afugentar,
    de vez, a alegria.

    Santa Teresa, 15 de julho de 2012.


    Refletindo sobre o inverno...
    Abraço 
    Maysa

    quarta-feira, 27 de junho de 2012

    DE ÃO EM ÃO...Maysa M.
















    DE ÃO EM ÃO...
                                   
                                                    Maysa M.


    Aumentativos às vezes
    São menos que exageros.
    E bem mais que quantidade.
    Em outras nem aumentativos são.
    Com ãos faço sonhos acontecerem.
    Num simples juntar de mãos.

    Experimento sons e surge a canção...
    Faço o peito alegre e a leveza
     os pés saltarem ...do chão.
    O que a vida nos traz
    Ano após ano?
    Tecendo fios prateados e rios de expressão...
    Do bom e variado:
    Suaves emoções. 
    E inda assim, paixões de perdição.


    Santa Teresa, 27 de junho de 2012


    Abraço

    Maysa