segunda-feira, 22 de novembro de 2010

VIDA DE AVÓ É PLURAL










VIDA DE AVÓ É PLURAL


Aniversários, prêmios, vitórias, surpresas

Ontem, o dia foi curto prá tanta comemoração... Em nenhuma delas estive presente, de fato. Fiz agradável programação dominical, mas a existência do afeto nos leva e nos traz por caminhos simultâneos, não programados. Ganhamos o dom da ubiquidade!

Corações têm trânsito pleno, liberdade; esperanças inaugurais são tão boas como as renovadas.

Ser avó é também alcançar um estágio de absoluta doçura e celebração intensa. Da vida que pulsa que brilha nos olhos, no sorriso, e aparece até no choro desmensurado de toda manha infantil.

Tenho acompanhado com surpresas, e muito amor o crescimento de cada um dos quatro.

Aniversário duplo: Um neto e uma neta fazendo sete anos. Ô idade maravilhosa! Os aniversariantes são irmãos gêmeos. Temperamentos e travessuras bem diferentes. A menina bolou a coreografia do ballet moderno que dançou. Ficou bonito! O menino dedilha seu violão e se amarra num jogo de futebol. É rápido, agudo, certeiro.

Coisas de avó? Não eles são bons, alegres, saudáveis, criativos e...têm bons pais.Descubro a qualidade e a atenção do amor de avó, sinto-me um pouco sábia, tem uma plasticidade maior que o de mãe. Pelo menos comigo é assim. Vó é cúmplice. Sugere, não dá bronca e... Pasmem é ouvida.Sem você saber por que seus sentidos se alegram com uma pequena e única frase:

-Te amo vó!

É a declaração de amor mais passageira e verdadeira que se conhece!Faz sentido, eles crescem mudam os amores, mas você continuará parte dos afetos primeiros.

A primeira neta dedica-se com empenho ao que faz. E não faz pouco para seus oito anos... Estudo, piano, ballet, golfe, aulas, aulas. Tem tempo, ainda, para treinar com a bicicleta, escrever poemas, desenhar, ficar atenta as conversas dos adolescentes da escola.Ganhou quatro primeiros lugares, em torneios de golfe, nesse domingo encalorado.

A avó, nem sabia, estava solta na vida como diz a letra da juventude, do nosso Chico, aquele dos verdes olhos e muita poesia...

Querem saber? Ser avó é uma vocação.

Não, não esqueci da quarta neta a mais nova, a caçula...conquistou o segundo lugar em sua faixa de idade no golfe, mas conto aos que me lêem um caso. Em seus quatro anos ela atravessa plena crise por espaço, atenção de todos, resultando algumas de suas birras em proibições dos pais.

Depois de uns dias sem comer guloseimas, enfim, recupera esse direito sagrado, e logo se libera da privação, creio que de vez - desenha um lindo e colorido cartaz a que dá o nome: Chuva de pirulitos. E faz chover! chove do céu, das árvores, das mãos das crianças, em todas as cores e formatos de coração, espiral.

Continuo traçando planos bem variados para minha vida, na maturidade. Descobrindo ou valorizando anseios, mas as surpresas da abuelice são incontáveis e saborosas.São feitas de sonhos, sorrisos, lágrimas passageiras, situações cômicas; são dias de descobertas, muito aprendizado com os pequenos.

É de amor a tessitura desse quase retorno à infância.


Então, quem se habilita? O tédio não há de lhes visitar.

Abraços

Maysa

domingo, 21 de novembro de 2010

BÁRBARA PAIS - POESIA

foto delicate galeria Ezlost









Ilusão inalienável


Ora, quero lá saber de chuva,

Do vento que uiva lá fora,

Do rio furioso que transborda,

Dos raios, dos trovões,

De todas as intempéries!

Quero antes aquecer ilusões

À lareira, todos os serões,

De portas e janelas fechadas,

Para que as chuvas ácidas

Que afogam este mundo estranho

No meu mundo nunca entre nada!"



Assim


Se perguntam como vou

Nem sei se saberia saber dizer

que vou assim

como sei ir

sem pressas cada vez menos

sem pressas de chegar

a lugar algum

que saiba saber dizer

assim cada vez menos com um fim

sem pensar

somente a ver

com todos os sentidos

e a gostar

a gostar

( Os dois poemas estão in vida veritas, inédito, 2007)


À sombra das inscrições


Há nas sombras de todas as inscrições
ocultos medos de segredos
que se revelam à superfície da escrita

(in não sei falar de mim, inédito, 2008)

ooo

Um poeta amigo levou-me até a poesia de Bárbara Pais, poeta portuguesa. Agradeço aqui seu carinhoso gesto. Escolhendo algumas descubro um caminho cheio de surpresas, desafios de encantamentos e desesperanças.

Mais Bárbara Pais, no blog VER IN VERSO

http://www.verinverso.com

Um abraço e bom domingo para os que passam aqui n'O Ninho.

Que as chuvas ácidas fiquem suspensas, as tempestades se distanciem e o amor renasça e floresça dentro dos nossos corações amedrontados ...Aquecendo nossas ilusões .

Maysa


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

FLOR BELA ESPANCA- CONTO DE FADAS








Conto de fadas



Florbela Espanca

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o ungüento
Como que sarei a minha própria dor.

Trago no nome as letras duma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: "Era uma vez..."


Era uma vez ... quase sempre já aconteceu, mas seria bom repetir! Então, retomamos... O encantamento, a suavidade, o pudor, e o tempo irá se eternizando . As mágoas doerão menos, os sonhos voltarão e nós dormiremos serenos!

Maysa

terça-feira, 16 de novembro de 2010

PENSAMENTO PERSA











Há um caminho que vai do seu coração ao meu, e meu coraçao o conhece porque é claro e puro como a água. Quando a água esta plácida como um espelho, abraça a lua." Rumi,1307-87, Persia


domingo, 14 de novembro de 2010

DA MINHA INFÂNCIA SOBRAM LEMBRANÇAS...

" Brincando com os aneis da vovó." foto by cel fev.2010








DA MINHA INFÂNCIA SOBRAM LEMBRANÇAS.



Por Maysa Machado


Da minha infância sobram lembranças...

Não saudades.

Boas ou más. Curiosas, instigantes

Duras e acachapantes.As deliciosas

Da infância protegida

Por pai, mãe, única avó e madrinha.

Tia.

E muita fantasia...

Histórias do afeto

Encantamento com o mundo

Ainda não conhecido.

E depois... Metamorfoseado

Foi ficando pequeno

Igual ao pátio do jardim de infância

Revisitado.

Mundo que a 2000 não chegaria!

Da minha...

Sobram ensinamentos

Não certezas.

Somente alguns caminhos:

Ter coragem. Continuar lutando.

Ser digna, generosa.

Resistir à vilania.

Da minha infância sobram afetos

Misturados a ordens severas

Nem sempre bem cumpridas

Sobram culpas e tristezas

Mas fazer o que?

De saudades a minha infância não foi feita.

Elas não sobram. Foram todas reunidas

Num pacote único escrito:

Vida!



Santa Teresa, 14 de novembro de 2010


Com um abraço de Domingo!



Maysa

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

IPÊ AMARELO


Foto by cel Maysa Machado.11.2010





IPÊ AMARELO


Maysa Machado




Luzes e sombras

Do amarelo ao ouro

O Ipê se basta

Reluz tanto!

Seduz em seu canto.

Toma os verdes e azuis

Das terras e dos céus.

Singular entre tantos.

Vizinha a sombra

Guarda o frescor

Dos umbrais.


Santa Teresa, 11 de novembro de 2010.


Um abraço carinhoso aos que passam por aqui.

PS: Este IPÊ florido encanta a todos no Clube Itanhangá -Rio

Maysa

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

ROSE- MARIE MURARO FAZ ANIVERSÁRIO






ROSE MARIE MURARO

FELIZ ANIVERSÁRIO COMPANHEIRA!



Por Maysa Machado*


Mulher corajosa. Obstinada. Bem resolvida e bem humorada. Convivemos em meados dos anos setenta, quando muitas mulheres empunharam a bandeira do feminismo.
Fomos todas, igualmente, corajosas pois não havia liberdade, nem Direitos Humanos.
O bipartidarismo não dava conta das questões políticas, havia o partido dos golpistas - ARENA e o MDB, uma frente.
Lutávamos, ainda, pela redemocratização, pela Anistia aos presos políticos do regime militar brasileiro. Nossa luta específica e a luta geral.
Aqui no Rio, no primeiro grupo, fundamos o Centro da Mulher Brasileira (CMB).
Discutíamos, refletíamos, criávamos nossas pautas de reivindicações.
ROSE estava lá, criativa, inquieta, sedutora, um pensamento sedutor!
Juntas, reconstruíamos nossos papéis sociais, os papéis sociais femininos, a igualdade na diferença.
MOEMA, BRANCA, SANTINHA, JAQUELINE, DIVA, EUNICE, BIA, CARMEN, ELI, BETH,LOURDINHA, MAYSA, HELONEIDA, NEOMI, COMBA, LEONOR, LUCIA, ÂNGELA, RITA ANDRÉA, HILDETE, ANA, LÚCIA HELENA, BERENICE, BERTINE, EVA, ADÉLIA, MARIA PAULA, SUELY, MARIA THERESA e tantas mais se conheciam e se descobriam nos grupos de reflexão, informais. Nossos prenomes nos bastavam.
ROSE sempre ativa.
O Movimento Feminista participou, construiu e ampliou a proposta de transformação da sociedade.
Nos anos 80, os partidos políticos custaram, mas incorporaram nossas propostas. Fazíamos a cada eleição a divulgação, no auditório da ABI, do ALERTA FEMINISTA PARA AS ELEIÇÕES.
O movimento só apoiava os candidatos que se comprometiam, prèviamente, com a pauta das mulheres organizadas.
Lutávamos, éramos felizes na luta. O mundo parecia nosso.
Fui uma das poucas a participar da fundação do PDT. Companheiras do movimento feminista se encantaram com o, também recém criado, PT e muitas já filiadas ao MDB, continuaram no então PMDB, que abrigava a maioria das mulheres comunistas.
Mais tarde ROSE teve uma passagem curta pelo PDT, até saiu candidata, mas não logrou eleger-se. Dizia que foi o tempo em que “se sentiu homem”!

ROSE faz aniversário hoje! Onze de novembro. Oitenta anos!
Os tempos gloriosos em que sonhávamos, e acreditávamos estar mudando o mundo passaram! As lembranças não, tampouco as vivências.
O que temos hoje em matéria de campanha eleitoral exitosa é a supremacia vencedora dos marqueteiros!
O militante devotado é um dado em extinção! Entrou em cena o assalariado ao dia! Aquele que com semblante desvitalizado, despossuído, empunha parado nas esquinas, das grandes cidades, um cartaz imenso com a foto gigante do candidato (a).
Nossas pautas tão completas estão feitas desde àquela época. Ousamos propostas igualitárias, socialistas. O processo aponta avanços e ameaçadores recuos.
O mundo mudou, encaretou e se expandiu! O pensamento humano mostra essa mudança no individualismo, no alheamento, na excludente competitividade.
A geléia geral, não só confunde como se apropria de reivindicações da luta social e tenta apagar o processo de conscientização e as margens que já se tinha sido atingido.
Somos uma nação consciente ou um continente de consumidores ansiosos?
Estamos aí para ver.
Já temos uma Presidente Mulher! Desejo que nossos sonhos e nossas lutas, também, a acompanhem em suas decisões e compromissos, na investidura do cargo que ocupará.

Quanto a nossa companheira, aniversariante, mulher impossível, escritora, editora, ativista política, mãe, amiga e cidadã brilhante: À ROSE O QUE É DE ROSE.

Saúde, alegria, amigos, amor e muitos livros para ler e escrever.

Com meu abraço afetuoso,

FELIZ ANIVERSÁRIO ROSE-MARIE

Maysa
Santa Teresa, 11.11.10




*A autora é socióloga. Foi militante no movimento social de mulheres e uma das precursoras do Movimento Feminista, no Rio de Janeiro; é uma das fundadoras do Centro da Mulher Brasileira - CMB; do Partido Democrático Trabalhista - PDT; membro do Comitê Brasileiro pela Anistia - CBA; membro do Grupo Tortura Nunca Mais - GTNM-RJ.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF OU DONA VIVI FAZ 101 ANOS.





BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF

OU

DONA VIVI FAZ 101 ANOS.


por Maysa Machado


Está lá. Repousa no mesmo quarto do seu apartamento no Leblon. Cabelos lisos e alvos, arrumados num gracioso rabo-de–cavalo, no alto da cabeça. Toda de branco. Poucos gestos. Econômicas respostas.

Encontrei-a, nesta manhã, ainda dormindo. Depois sonolenta, não estava para conversas, ouviu-me, nada comentou, nem sorriu.

Senti saudade dos olhos castanhos atentos a tudo e a todos, do sorriso brejeiro, encantador. Da mulher inquieta, apaixonada. Senti falta até da severa interlocutora, uma comunista das antigas, que muitas vezes assisti e convivi.

Da poetisa que viveu de braços dados ora como Vivi, a menina, ora como Beatriz, a mulher. Corajosa, lutadora, espirituosa com uma pitada amarga. Mas sempre solidária.Nunca a vi indiferente aos sofrimentos humanos ou aos sonhos e utopias. Jamais omissa aos anseios de uma sociedade fraterna, igualitária, socialista.

Recolhida, os olhos fechados, uma figura anciã, absorta em seu mundo interior. Um rico mundo sabemos nós.

Pensei: Muitas vezes ficamos assim, quer ouvindo uma sinfonia ou mesmo repensando fatos, histórias. Nada daqui de fora pode nos interessar. Quem alcançou a marca de 101 anos. Um século e mais 365 dias... Pode tudo!

Fui atraindo-a com canções, histórias dos bisnetos, devagarzinho fui trazendo notícias:

- Dona Canô está com 103, Oscar ( Niemayer, seu amigo) também! Você sempre em boa companhia... Hein?

Nada. Silêncio. Então, indaguei:

-Você sabe que temos uma mulher Presidente?

Ela me responde, sem abrir os olhos, mas com voz firme:

-Não.

Discorri sobre o desfecho da campanha.

Ficou mais atenta.

Falei sobre a candidata vitoriosa, sua história de vida e luta. Ambas presas políticas.

Fiz conjeturas sobre o que poderá significar uma mulher na direção de nosso país.

Ouviu-me. Serena e ausente já não mais se agita pelos fatos corriqueiros ou ao que emprestamos importância.

Cumpriu com garbo, com coragem, o seu papel de cidadã, de brasileira, de militante comunista. Cumpriu com integral solidariedade os seus papéis de mulher, mãe, esposa, amiga, avó, tia, irmã. Professora, poetisa. Foi além: Transformou.

Não se queixa de nada, não se cansa por nada. Esvai-se, deixando plantadas sementes. Algumas recolhi.

As outras vão continuar se espalhando para os jovens recolherem e replantarem.

É de uma vida cheia de sonhos, poesia, ideais, perdas e coerência o legado de BEATRIZ VICÊNCIA BANDEIRA RYFF

Com curiosidade e alegria os cinco bisnetos - idades entre oito anos e quase dois anos- repetem:

- Minha bisa faz 101 anos!

Reforço a notícia com o delicioso detalhe:

-Ela diz que foi amamentada com música e alfabetizada com poesia.

Deixo para contar depois, junto aos meus netos, a história da menina ligada em poesia e em transformação social. A mulher-menina que conduziu granadas sorrindo. A última presa política, do período Vargas(1935), viva.

Amiga de tantas e tantas pessoas que amaram, como ela, seu país e lutaram por mudanças, por novos dias, por olhares de igualdade. Algumas deram suas vidas. Não erraram em suas escolhas, mas há muito por continuar a fazer.

Militante comunista, viúva do companheiro, de toda a vida, Raul Ryff. Apaixonada por ele tanto quanto por seus ideais. Uma mulher pioneira.

Assim, Beatriz ou Dona Vivi chega aos 101 anos.

Santa Teresa, 08 de novembro de 2010


A todos meu carinhoso abraço

Maysa





terça-feira, 2 de novembro de 2010

AUGUSTO DOS ANJOS - O FIM DAS COISAS -














O Fim das Coisas

de

Pode o homem bruto, adstrito à ciência grave,
Arrancar num triunfo supreendente,
Das profundezas do Subconsciente
O milagre estupendo da aeronave!

Rasgue os broncos basaltos negros, cave,
Sôfrego, o solo sáxeo; e, na ânsia ardente
De perscrutar o íntimo dorbe, invente
A lâmpada aflogística de Davy!

Em vão! Contra o poder criador do Sonho
O Fim das Coisas mostra-se medonho
Como o desaguadouro atro de um rio…

E quando, ao cabo do último milênio,
A humanidade vai pesar seu gênio
Encontra o mundo, que ela encheu, vazio!


É, Augusto dos Anjos , assusta e encanta nossos fantasmas. Quem de nós não ficou com a respiração ofegante em cada estrofe, em cada cilada que a vida arma e a vida desmonta?

Abraço neste feriado criado para a íntima reflexão.

Maysa

sábado, 30 de outubro de 2010

SEM MEMÓRIA - MAYSA MACHADO







Sem Memória


Maysa Machado



O vento forte aqui não sopra, nem uiva.

Bate portas, janelas, derruba plantas

Quebra-as nos frágeis vasos.

Levanta poeiras, dobra centenárias palmeiras

Subjuga, captura e agita

Pássaros em seus vôos.

Diverte-se, e como vingança

Empresta asas às folhas.

Recolhe num único instante

desejos e sonhos de liberdade.

O vento paralisa anseios.

Ciclone ou qual nome tenha

Está lá para os lados do alto mar.

Meu coração engalfinha-se

Turbulência passageira?

Vem a mim teu rosto

Semblante apreensivo

Tua voz ...só melodia.

A tarde de sábado se aquieta

Nublada como meus sentimentos

Recebe o conhecido canto.

Ousados pássaros

Repetem solitários: Bem-te-vi.

O fim de tarde se apronta

Suave e manso sem memória

Nem tormento.


Santa Teresa, 30 de outubro de 2010


Aos que por aqui chegam, um abraço amigo


Maysa

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

LOS HERMANOS - ATAHUALPA YUPANQUI




Essa canção de Atahualpa Yupanqui, sempre me comove. Creio que muitos outros sentem a mesma emoção.

Em tempos de ditaduras ela embalou nossos sonhos, e desejos legítimos de LIBERDADE.

Portanto, trago-a até ao Ninho, para lembrar que não mais se pode aceitar qualquer manifestação de intolerância ou patrulhamento, que tentam ressurgir nos tempos atuais - esses mesmos - de uma imperfeita democracia -, mas construída por todos nós, para não mais deixar o arbítrio entrar. A letra diz tudo que não podemos esquecer.


(Milonga)

Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
En el valle, la montaña,
en la pampa y en el mar.
Cada cual con sus trabajos,
con sus sueños, cada cual.

Con la esperanza adelante,
con los recuerdos detrás.
Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
Gente de mano caliente
por eso de la amistad,

Con uno lloro, pa llorarlo,
con un rezo pa rezar.

Con un horizonte abierto
que siempre está más allá.

Y esa fuerza pa buscarlo
con tesón y voluntad.
Cuando parece más cerca
es cuando se aleja más.

Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar.
Y así seguimos andando
curtidos de soledad.

Nos perdemos por el mundo,
nos volvemos a encontrar.
Y así nos reconocemos
por el lejano mirar,
por la copla que mordemos,
semilla de inmensidad.
Y así, seguimos andando
curtidos de soledad.

Y en nosotros nuestros muertos
pa que nadie quede atrás.
Yo tengo tantos hermanos
que no los puedo contar,

Y una novia muy hermosa
que se llama ¡Libertad!



quarta-feira, 13 de outubro de 2010

PONTO DE INTERROGAÇÃO

foto maysa by cel/flor da fruta pão/
manhã no caminho da Lapa/2010















Ponto de Interrogação



Maysa Machado



É tudo passado!
O sonho de ser feliz.
A coragem para mudar o mundo.
A bolsa de estudos em Paris
Está tudo no lixo. Do passado?

Tua vida fincou aqui mesmo
No Rio onde nascestes!
Emudecida, calada,
Exilada dentro do teu próprio país.
Na tua pátria amada.

Menina nova precisou
rápido ficar experiente.
Atenta, arisca, calada.
Assim, sem perceber
Foi tudo indo parar no lixo...

Casamento, família, amigos.
Mesmo desqualificada
A vida teima em voltar.
Brotar, brotar...Como assim?
Sem sonho, sem coragem, sem amor.

Sem fantasia?
Brotou.
E ainda brota todo dia.
Qualquer dia, sem nenhum favor.
Vai saber o que te reservou
...O Criador!

Santa Teresa, 01.03.08



Um abraço.

Maysa

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

INSTANTES

do meu pé de jasmin do cabo/maysa by cel/2010



Instantes

Maysa Machado





Preciso desse sorriso
Que não mostra os dentes
Mas a alma triste.
Preciso da tua pele
Ou mais ainda... das tuas mãos
Descobrindo meu corpo.
Desse olhar múltiplo e de esguelha
sonso, econômico...
Desses nãos
Em que são feitos os teus desejos
E os meus...
De tanto precisar e não dispor
Já não preciso mais.
Posso ir vivendo
Sem teu calor, sem tua presença
Invadida pela insônia
Por uma tristeza imensa
Fotografo a vida
Coleciono instantes
Deles não fujo
Só de mim.


Santa Teresa, 01 de outubro de 2010

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

ESTÔMAGO





Estômago



Maysa Machado


A náusea me incomoda há uma semana. Vem junto, não só o desconforto da dor, a fragilidade sem adjetivação.
Dói. O estômago grita! Me diz que quer repouso, um chazinho morno. Atendo ao pedido do meu corpo. No entanto consulto-o:
- Por que dói?
- ............
-É virose, bactéria, dor de amor ou de estar vivo, sem quimera?
Estômago fica mudo, amuado. Aparência de dia nublado, que não quer se explicar...
Minha vida vai tomando outro rumo.
Deixo as atividades combinadas, relego qualquer prazer ao lado, esquecido. Giro em função do desconforto... Que mantenho a pretensão de interromper.
Vida - não se quer perscrutada. Amores contrariados, sentimentos desencontrados?
Aí tem alguma coisa de... Errado! Mas o quê?
...........................................................................
Até podia ter gerado mais insônia, taquicardia. Vai , meu estômago é caprichoso, sensível. Aparece e dita minha semana de uma segunda à outra.
Paciência, ânimo me receito.
- Em vão!
Será que grita, por tanto absurdo visto, presenciado, sentido? Nos últimos dias...
Aliás, busca por sentido em meu caminho...é trabalho para toda a eternidade.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

SE É PRIMAVERA...É TEMPO DE BRINCAR DE AMARELINHA.




Junquilhos domesticados (2) foto by cel. Maysa 2010













ESTAÇÃO BACANINHA


Maysa Machado



Primavera, verinha,
Prima do Antonico, do veranico
E da joaninha ...
Primavera nossa parente
Vem bem chegadinha.
Traz flores, mel, sorrisos.
A paz feita em cores...
Sons, alegria.
Suaves trinados dos passarinhos
É tempo de brincar
Saltar na amarelinha.
Visita do agrado de toda a gente
Num tal e qual setembro
Mes que se adivinha
Quente e seco
Chuvoso e frio.
Coração e céu nevoentos.

Santa Teresa, 23 de setembro de 2010

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

LOUCOS POR MÚSICA



Sou louca por música. E vocês?
Se encantou minha infância aprender as letras de Caymmi, Noel Rosa, Luiz Gonzaga e muitas melodias que se ouvia nas rádios... Acompanhou as incertezas do coração e da cidadania, quando os anos sessenta chegaram.
Nossa cultura musical é rica. A bossa-nova e o choro entraram de vez na minha história. Aos dezesseis tentei aprender violão... Faltava às aulas para ir namorar escondido.
Fiz a escolha errada e fiquei no prejuízo. Não trouxe para minha vida a autonomia, a liberdade de sonhar, de criar que dá tocar um instrumento.
Nos dias de hoje, retornei às origens e estudo música na Escola Villa-Lobos.
Quer companhia melhor que música? Nas horas em que a tristeza vagabundeia por nossos corações, nos momentos de perdas afetivas, nas emoções mais sinceras...
Quando estamos alegres cantarolamos. Escolhemos uma melodia que expresse nosso estado de espírito.
Li de um amigo sua história com a música.
Fiquei mais feliz depois da leitura, encontrei nossa forte ligação ali representada. A música.
Nestes tempos de eleições e decisões sobre candidaturas, meu amigo é candidato, é músico.
Entre sua história tão corajosa e bonita de se conhecer, viveu e sobreviveu ensinando música.

Deixo, n'O Ninho, as dicas sobre a história vivida por Carlos Eugênio Clemente. Se amarem, como nós, música ...Cliquem aqui e aqui .
Se gostarem façam como eu o escolham. Ele se compromete, caso eleito, a lutar pela:

· " Pela valorização do músico;
· Direitos autorais a quem de direito;
· Contra o lucro excessivo e indevido das sociedades arrecadadoras;
· Aulas de música nos currículos das escolas públicas, com remuneração justa para os professores.



Que tal ouvirmos Nara cantando Canto Livre ?






Um carinhoso e sonoro abraço

Maysa

sábado, 18 de setembro de 2010

MÃOS GULOSAS, SENSAÇÕES PASSAGEIRAS, LEMBRANÇAS DURADOURAS.



Pitangas e beijos/arranjo: Ana W. R./foto Maysa by cel/2009

















Preparando a Primavera as pitangas explodem, exibem multivariados tons do vermelho sob, e diante, a sacada do meu balcão. Medieval, invento!
Já descrevi, por aqui, meu quarto não é um quarto é uma alcova. Não tem janelas. Maior luminosidade e ventilação são garantidas pela porta que dá para a pequena varanda.
Agora tudo floresce, como nas primaveras passadas: os dois pés de café, a pitangueira -flores e frutos- e um tanto atrasado, o jasminzeiro. Desculpem, sei que a forma correta é jasmineiro, porém, prefiro usar o jeito que trouxe da infância.
O tema é recorrente... A emoção, no entanto, renovada. É estimulante ter a companhia das flores e frutas miúdas, inunda os olhos, o olfato. O diálogo suave com os netos inunda o afeto.
Vida se renova nas pequenas alegrias, algumas indizíveis no momento mesmo em que acontecem.
Do júbilo instalado, em meu quase insensato coração, passo a degustar os doces e amargos sabores.
Colho as miúdas e reluzentes frutas do pé. Muitas já foram provadas pelos ligeiros pássaros. Não tendo asas chego depois, um tanto apressada, e escolho as mais vermelhinhas; procurando as doces encontro, vez que outra, as azedinhas.
Não fosse renovada, minha surpresa seria idêntica a de minha neta de seis anos, percebo em nossa conversa por telefone. A dela é inaugural, lá por outros pomares ou jardins, encontra-se
com um pé de pitanga; curiosa e gulosa vai à cata. Depois me conta:

-Vovó escolhi uma pitanga, bem vermelhinha, e ela estava azedinha!
- Querida, acontece... da aparência enganar a gente.
- Eu posso não ter visto direito, vó! Talvez, ela era cor de abóbora e, eu me enganei!
- Vovó também procura as bem vermelhas, certa de que estarão mais docinhas, mas minha mão gulosa se engana e colhe rápido, muita vez, as azedinhas!
-Vó, vou olhar bem direitinho!Vou procurar as cor -de -vinho!!
- Isso , querida experimentando você escolhe doçuras e os suaves sabores ...Não precisa ter pressa para saborear.

A primavera se prepara em flores, cheiros, sons, movimentos inesperados. Nós fazemos parte desses encontros e desencontros, traduzindo-os em relatos e vivências recorrentes, como as estações, mas únicos em cada acontecer.

Santa Teresa, 18 de setembro de 2010

Um abraço

Maysa

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

TRECHO de CELESTINA de Fernando de Rojas

Junquilhos domesticados/foto maysa by cel/fev.2010













"Na Espanha do século XV para o XVI, surge a história de amor entre Calisto e Melibéia. Ele um burguês, perdidamente, apaixonado por ela, filha de um nobre. Rejeitado procura Celestina, dona de um prostíbulo e casamenteira, e lhe pede ajuda. O tempo corre aliado às artimanhas da velha alcoviteira, em breve os dois jovens ficarão cegos pela paixão...

O trecho escolhido, é um diálogo entre Melibéia e Celestina:

Melibéia -Tia, se é assim, sofres muito pela idade que perdeste. Gostaria de voltar a ela?
Celestina - Louco, senhora, é o caminhante que, desgostoso com o trabalho do dia, quer voltar ao início da jornada, para chegar outra vez ao mesmo lugar.

Pois todas aquelas coisas cuja posse não é agradável é melhor possuí-las logo do que esperar por elas. Por que está mais perto do fim do mal quem está mais afastado do seu começo. Ao extenuado pela viagem não há coisa mais carinhosa do que a estalagem. Quer dizer,embora a mocidade seja alegre o verdadeiro velho não deseja voltar a ela. Só o desajuizado ama apenas o que perdeu.

Melibéia - Mas só para viver mais, ainda assim é bom viver.

Celestina- Senhora, tão depressa vai o cordeiro como o carneiro. Ninguém é tão velho que não possa viver mais um ano, nem tão moço que não possa morrer já.
Aí os jovens não nos levam vantagem."

Ontem, um fato inusitado me aconteceu e estas reflexões vieram bem à calhar. O livro tem tradução e adaptação do Millor Fernandes. Editado pela L&PM Pocket. Vol. 696- Junho de 2008

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

PÁSSARO ILUMINADO






Pássaros na noite recolhidos
pássaros se aninham...
ainda que sozinhos.
Penas macias descansam asas
adiam vôos,
arrulham apenas.

Só, o grande pássaro
cria do homem
banhado em tanta luz
Avança
Risca o céu e atravessa
o som nos ares
... ainda que sozinho
com o ronco do seu motor.


Maysa 01.09.10

segunda-feira, 30 de agosto de 2010

ARTE DE PORTAS ABERTAS - SANTA TERESA



Recado do querido artista plástico DONY GONÇALVES , compartilho com as visitas:

Olá Pessoal

Segue o convite do ARTE DE PORTAS ABERTAS.
Aguardo vocês na Coletiva do Parque das Ruínas e no meu atelier,
Rua Paschoal Carlos Magno, 07, nos dias 4, 5, 11 e 12 de setembro de 11h às 18h.
Abraços.

PS1: Então, nos dois próximos fins de semana Santa Teresa ferve, ladeiras e escadas... abaixo, acima. Vamos? Eu vou!
Abraços
Maysa
PS2: Cliquem em cima do convite para lerem os detalhes!

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

"O POEMA DA GATINHA"

photo by cel/2009/NISE














Sobre O POEMA DA GATINHA, publicado aqui no domingo, 18 de julho, quem leu gostou.
A menina que o escreveu diz:
Tenho outros mais! e faz planos... com os olhinhos castanhos sonhadores deixando escapar no ar um jeito precoce e inteligente.
Imaginação não lhe falta e o caminhante é quem faz seu caminho.

AGORA O POEMA TEM CASA QUASE PRÓPRIA!
Está reproduzido em novo endereço:

http://gatinhasfofinhasoblogdamabi.blogspot.com/

A casa está em início de organização. Sua dona, com tempo, vai colocar tudo do seu jeito e no lugar. Aguardamos boas mudanças. Se gostarem da visita repitam.
Um abraço
Maysa

"Caminhante, não há caminho, o caminho se faz ao caminhar."Antonio Machado, poeta espanhol.

UMA ORQUÍDEA FLORESCE E DUAS DESAPARECEM

Maysa/foto by cel. set./2009



Moro num condomínio de casas, em Santa. Para quem passa por aqui: No bairro de Santa Teresa, no Rio, na cidade Maravilhosa.

Sou feliz no sossego e no silêncio de um lugar diferente e bucólico, cheio de artistas, pessoas que amam a vida. Alguns estrangeiros descobrem o jeito de cidade do interior e vão chegando. De uns tempos para cá tem ficado com cara de Capri, isso mesmo, aquele frisson de lojinhas e compras do ponto turístico italiano, tal e qual. Os preços triplicaram. Serão estimados em euros?
Visitei uma casa que até vinhedo tem...Aqui são inúmeras as surpresas; guarda, ainda, alguma semelhança com Montmartre.
Bem, antes de concordarem, pensem no descuido clássico que as nossas autoridades mantêm com as vias públicas. As escadarias são os acessos de pedestres. Nunca presenciei manutenção, conserto ou coisa que o valha para nossos degraus.
O Morro resiste à violência urbana e à precariedade dos serviços oferecidos.


Herdei, sem escolha, duas gatas de um filho, há dez anos. Hoje, só uma me tira o sossego, a liberdade, e tenta me fazer companhia. Não faz.
Sou do tipo incapaz de maltratar um animal, mas não dependo deles para amenizar solidão.
Solidão é um acontecimento especial, artigo raro, se bem cuidada e aceita. Um luxuoso estado de espírito, requintado e para poucos, como eu, apreciarem.
Não reclamo e até sinto falta...se a invadem. Bem estávamos na gata, que tal qual um adolescente, não me faz companhia e tira minha liberdade.
Pois é, no cotidiano apressado, me reabasteço com a variedade aqui de perfumes, formas, cores, sons. Gosto de plantas, de flores e folhagens. Estas sim me fazem falta.
Gosto dos pássaros livres, vindo nos visitar toda manhã e à tardinha. Destaco meu encantamento com os beija-flores que dispensam qualquer comentário.
Outro dia, pela manhã, ouvia uns sons inquietos, no pequeno jardim da frente, onde está a pitangueira. Acreditando ser um novo trinado olhei curiosa!...Eram saguis, enlouquecidos de alegria em movimento de galho em galho, de fio em fio. Dei risada pelo meu forte componente urbano.
Nesse instante descobri a orquídea, que havia algum tempo pendurado no tronco do jasminseiro, começando a floração. Está lá , soberana e plena em sua beleza imaculada.
O êxtase sentido prejudicado pelo desaparecimento, misterioso e insólito, de dois vasos da mesma espécie. Foram levados do lugar onde, o zelador e eu, colocamos para um tratamento especial de carinho, luminosidade e fortalecimento.Um estágio de cura, em área comum, reservada aos moradores.


Moro num condomínio de casas, em Santa... Dois vasos de orquídeas foram levados, por algum vizinho que, identificando na etiqueta da planta sua origem, ignorou o amor e o cuidado por mim dedicados. Tenho muita dificuldade em lidar com quaisquer tipos de abusos...Prefiro imaginar:
Um caso de amor à primeira vista do gatuno de orquídeas ...ou as plantas eram fujonas?


Se alguém encontrar subindo e descendo ladeira ou mesmo a escadaria quebrada as duas orquídeas, ainda sem flores, avisem aqui no Ninho.





Abraços


Maysa

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

POR FALAR EM INSPIRAÇÃO...













Escritora já consagrada CLARICE LISPECTOR iniciou-se como entrevistadora. Muitas foram as personalidades escolhidas por ela. A Ed. Rocco , em 2007, publicou um livro delicioso, "Entrevistas". São conversas de abrir o coração, faz uma falta danada, hoje em dia, esse diálogo sincero com alguém, para compartilhar nossa visão de mundo.
Destaco um trecho em que Chico Buarque, entrevistado por Clarice , a entrevista: (Pag. 100)
C.B. - E como é seu trabalho?
C.L. - Vem às vezes em nebulosa sem que eu possa concretizá-lo de algum modo.Também como você, passo dias ou até anos, meu Deus, esperando. E, quando chega, já vem em forma de inspiração. Eu só trabalho em forma de inspiração.
C.B. - Até aí eu entendo, Clarice. Mas a mim, quando a música ou a letra vêm, parece muito mais fácil de concretizar porque é uma coisa pequena. Tenho a impressão de que se me desse idéia de construir uma sinfonia ou um romance, a coisa ia se despedaçar antes de estar completa.
C.L. - Mas Chico, aí é que entra o sofrimento do artista: despedaça-se tudo e a gente pensa que a inspiração que passou nunca mais há de vir.
C.B. - Se v. tem uma idéia para um romance, você sempre pode reduzí-lo a um conto?
C.L. - Não é bem assim, mas, se eu falar mais, a entrevistada fica sendo eu.(...)

Essa entrevista, suponho, foi decisiva na vida do Chico escritor.
Um abraço
Maysa

domingo, 15 de agosto de 2010

Ah! juventude onde foi que v. se escondeu?









Ah! juventude...que mal lhe fiz prá você se distanciar tanto de mim e dos amigos mais antigos? onde v. se escondeu?
Não, não adianta culpar o tempo. Isso faz parte da história e, ele é democrático, quando o destino deixa passa igualzinho para todos.
Mortais, bem sabemos há coisa pior que envelhecer... morrer cheio de sonhos e ilusões. Não viver!
Entretanto, a vida continua sem nós, tanto faz assistir ao que se desejou ou não ... doses duplas de espantos, em dias que se alongam, noites que não amanhecem...
Um aspecto da solidão é pior que constatar as rugas indeléveis... A insatisfação consigo.
A maturidade, quando se apresenta vestida em serenidade, fica bondosa e acolhe - com gosto -as mudanças físicas, emocionais, existenciais. É para saborear.
Aceitar a passagem do tempo e ficar distante daquela juventude impetuosa pode nos levar à outras descobertas, algumas revigorantes e muitas com o viço das novas floradas.


Ah! juventude onde v. se escondeu? Passou por nós tão rápido que fomos obrigados a inventar novos sonhos e desafios. A vida...continuará a nos encantar nas coisas boas que recebemos e deixamos.



Santa Teresa, 15 de agosto de 2010


Um abraço


Maysa

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A TERRA DOS MENINOS PELADOS - GRACILIANO RAMOS




A leitura é capaz de despertar mundos adormecidos, saberes esquecidos, alguns guardados na memória da infância.
Mas é possível que faça aflorar, em aprendizado insólito, lições perdidas pela vida à fora.
Reli, com muito saboreio, A terra dos meninos pelados, do velho Graça(1892-1953) referência carinhosa a que me acostumei, no tratamento dado pelos que com ele conviveram, parentes ou amigos.
Nesse livro, Graciliano Ramos, traz o tema da diferença.
"Havia um menino diferente dos outros meninos: tinha o olho direito preto, o esquerdo azul e a cabeça pelada. Os vizinhos mangavam dele e gritavam:
- Ó pelado!" (p.7)
A pungência da solidão humana é vista com os recursos da imaginação fértil , então, inventa um país: Tatipirun.
Aguardo, com certa ansiedade, o momento de sugerir essa leitura para meus netos.
As crianças irão aproveitá-la e saborear a narrativa peculiar de Graça. À começar por expressões e verbos empregados traduzindo o jeito nordestino de contar uma história universal.
A arte que tudo transforma, torna possível o sonho, abre caminhos para se acreditar num país onde a diferença não poderá jamais ser punida.
Impossível, deixar de revisitar minha infância, a de filha de pai alagoano. Aquele mesmo estranhamento provado pela menina urbana, ao ouvir os verbos "mangar, debicar, troçar, bolir, sapecar", aprendidos em casa, mas jamais ouvidos na escola.

"Isso é uma arenga besta!" (pag.54), no dizer de Caralâmpia, a menina princesa de Tatipirun. Homenagem de Graça feita à amiga e conterrânea Nise da Silveira, que tinha esse apelido na infância.
É a fala de sertanejo, apregoada e depreciada, tanto tempo, por caipira.
O inusitado prazer sentido ao reler as peripécias do menino Raimundo que inventa seus iguais. E deixa de ser olhado com desprezo, desconfiança.
Ou a troça com a velhice na fala da guariba paleolítica:

" - Como é, sinha Guariba? A senhora, com essa cara, deve conhecer história antiga. Espiche uns casos da sua mocidade.
- Eu não tive isso não, meu filho. Sempre fui assim.
- Assim coroca e reumática? estranhou Raimundo.
- Assim como vocês estão vendo.
- Foi nada! A senhora antigamente era aprumada e vistosa. Sapeque aí umas guerras do Carlos Magno.
-Eu sei lá! Estou esquecida. Sou uma guariba paleolítica.
- Paleo quê?
- Lítica "
(pag.59, 60)


O excelente projeto gráfico e ilustrações são de Roger Mello. Ed. Record, 37ª edição. 2008

Para os mais jovens deixo aqui como sugestão de bibliografia, sobre o autor, visitar o endereço: http://www.releituras.com/graciramos_bio.asp
Um carinhoso abraço
Maysa

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

O TEMPO... PASSA.

Tina Modotti- 1925-wires telephones











O TEMPO... PASSA. UM MES DEPOIS.








Maysa M.



Olhe em volta.
Movimentos atam e desatam.
Brotam, fecundam, ferem.
Mas desabrocham.

Sentimentos moldam felicidades
Recursos as conformam
... Ou tudo desaba.
É preciso começar do zero
Do zero?
Não acredite
Fica sempre algo escondido
Nos escombros
Sementes de vida...
Ou restos mortais de raiva.
Fato possível é ...
germinar uma nova
(... ) variada.
Lado direito e avesso
Tudo é
Tocar pra frente.
Acreditando ou não
Em parceria.
Como os fantasmas...
Só a gente insiste em desconfiar.



Santa Teresa, 24 de fevereiro de 2010


É ver para acreditar.
Um abraço

Maysa

quinta-feira, 29 de julho de 2010

URGENTE É A VIDA - ALCIONE ARAÚJO








Em 2005, a EMERJ Cultural ofereceu um Curso Livre." Eu - Mundo: A Aventura Poética da Descoberta". O escritor, dramaturgo e ensaísta ALCIONE ARAÚJO ministrou as quatro palestras, que durante o mes de outubro assistimos. Acabara de receber o prêmio Jabuti, na categoria Contos e Crônicas, com URGENTE É A VIDA.
Deste livro, retiro trechos da crônica A Vida é Urgente. Foram quatro encontros deliciosos, com traços da nossa cultura e diversos aspectos da condição humana, selecionados pelo escritor mapeando elementos da relação homem-mundo.

"A vida é urgente. Não se pode deixar escapar nenhum instante de prazer, de alegria, de humor. Sobretudo, não se pode perder nenhuma migalha de amor. Esses instantes nunca vão se repetir da mesma maneira, com as mesmas pessoas, no mesmo clima. Se é que se repetirão. Pode ser que sejam os últimos. A vida é urgente porque é finita.
Enredado nos seus paradoxos, o homem faz de tudo para se esquecer da morte. Sobretudo da própria morte. O adolescente ou o adulto jovem nem se consideram mortais. Falar de morte com eles é como falar de algo longínquo, incerto, quase desconhecido. A volúpia e a alegria da vida e a roda-gigante dos sonhos são tão intensas que eles se sentem eternos. E mais: sentem que podem ser o que escolherem, que podem ter o que quiserem, que podem, enfim, abraçar o mundo com as pernas. Nessa fase da vida,parece que não há limite nem limitação. É belo, emocionante e legítimo que se sintam assim. Afinal, suas vidas são constituídas de uma matéria chamada futuro. E o futuro ainda é uma folha em branco. Tudo poderá acontecer.
O problema surge quando, mais tarde, o adulto passa a esconder de si mesmo a própria morte. Finge que não sabe que a vida é urgente e finita.
.....................................................................................

Admitir a própria morte é difícil, quase impossível. Mas, enfim, é tratá-la como parte da vida. Revela a maturidade dos que já se perguntaram:" Afinal, o que é a vida?".....................................


In: " Urgente é a vida" , de Alcione de Araújo, Editora Record.2004. pgs 159/160

Selecionei uma entrevista do autor, se quiserem lê-la, é só clicar aqui.
Um carinhoso abraço
Maysa

quarta-feira, 21 de julho de 2010

SER... CARIOCA! EU SOU.



O que é ser carioca? Eu sou. Nasci aqui, não basta!
Vivo aqui, não basta!
Alguns passam por aqui, se apaixonam, não basta!

Aceitar a vida aqui na alegria e na dor, talvez seja o caminho...Mas ser carioca é como amar, não há definição que baste!

É para ser alegre ou triste... o intuito Guimarães Rosa já nos revelou (...) O coração mistura amores. Tudo cabe (p.204)

Ou (...) Somente com a alegria é que a gente realiza bem, mesmo até as tristes ações. (p.434)


Então? Vamos amar nosso Rio com os traços de alegria e tristeza aparecidos nas belezas perdidas; uma delas a tranquilidade de passear, de ir e vir. E voltar...e voltar. E ficar!
Queria que a cidade - e porque não todo o estado? - tivessem governantes cuidadosos, agindo mais que mal se apoiando em discursos falsos.
As ruas limpas , os jardins ...jardins, os corpos suados ou cansados sem perder os gestos educados e os sons... ah! esses sim, como seria bom parar... ouvir o canto dos pássaros.
Prá que buzina minha gente? E ainda por cima estridente!!
Motoristas atentos profisionais ou amadores, cedendo a vez , respeitando a velocidade permitida pelas leis.
Quanto às festas familiares: Não precisam mais comemorar aniversário ...dentro do sono do vizinho!
Sejamos felizes com a felicidade possível do outro!
Ah! Eu sou carioca, mas ando encontrando poucos!
(...)Viver é descuido prosseguido.(p 86)
Abraços
Maysa
PS: As citações de João Guimarães Rosa,em Grande Sertão Veredas, foram tiradas do catálogo da Instalação Grande Sertão:veredas, concebida por Bia Lessa para a inauguração do Museu da língua portuguesa, S.Paulo, março de 2006

domingo, 18 de julho de 2010

POEMA DA GATINHA - MABI RYFF










POEMA DA GATINHA


Mabi Ryff


Toda vez que acordo, escuto:
miau, miau, miau.
É a gatinha ronronando
querendo leite e mingau.
Tudo que ela quer pede miando.
Só não pede para tomar banho.
Quando saio é um grude
que não acaba mais...
Se meto o pé fora
ela corre atrás


Barra, 15.07.2010


PS: A autora do poema tem 8 anos. Adora escrever, ler , contar e ouvir histórias. Perguntou-me se podia publicar no blog seu Poema da Gatinha.
Com prazer e muito feliz , aqui, o trancrevo .

Abraços para quem passar.

Maysa